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CAPÍTULO TRINTA E NOVE:
꧁ Carma ꧂
Dakaria Saint Thomas
Acompanhar Pamela a cada movimento que ela fizesse estava virando rotina. Admito que me impressiona o quanto ela está segurando a onda, mesmo que tivesse gritado horrores com sua mãe noutro dia, não derrubara uma lágrima que fosse na minha frente ou na frente de Nikolas. Não parece estar com raiva de mim pela ideia que coloquei em sua cabeça, e eu acho que é um bom sinal, mas para não arriscar, eu não estou falando nada a menos que ela puxe assunto comigo, coisa que só tem sido o essencial. Desde que todos nossos amigos saibam do problema que ela está enfrentando, ela parou de fingir que está tudo bem.
Bem, eu espero que ela não fique chateada comigo, meu desejo era bom mesmo que a senhora McCartney nem tenha tido tempo para falar ou mostrar o que sentia, se se arrependia. Pamela não a deu abertura porque não está pronta para isso e eu entendo perfeitamente, acho que nenhum de nós alguma vez estaria pronto para perder a mãe.
Neste momento, pleno meados de dezembro, vê-la se sentando por livre e espontânea vontade ao lado de Fred Weasley e deitando a cabeça no ombro dele é algo que me choca e eu duvido piamente que eu seja a única a engasgar com a batata cozida. Ela parece cansada e nem se preocupa de olhar para mim ou para Nik, que estamos de frente a ela, do outro lado da mesa. Fred joga a mão na perna dela e junta suas cabeças. E, uau, eles formam um casal lindo, é o que eu processo em primeira instância.
Lino Jordan não deu as caras ainda, ele e Pamela tiveram uma discussão intensa logo que chegamos porque, para a minha surpresa, ele não conseguia entender como ela podia sentir raiva da própria mãe. Isso a chateou demais e era outra coisa que eu sentia ser culpa minha.
Pelo menos Pam nunca jogaria isso na minha cara...
Pouco mais de uma semana se passou e o acontecimento mais impactante é este, desde nossa viagem tão rápida para os Estados Unidos que teve a ajuda e a permissão do diretor Dumbledore.
Eu e George paramos de mastigar o almoço e trocamos olhares, o dele está mais para um "eu não falei?" do que para um "VOCÊ TÁ VENDO O MESMO QUE EU?!" que eu com certeza estava transparecendo.
Como não paro de tossir por conta do engasgo, Nik começa a dar tapinhas nas minhas costas. Eu o olho e ele sim está tão impressionado quanto eu. Ele apostava todas suas fichas em Lino enquanto eu estava tão dividida quanto nossa amiga. Luto para apanhar um copo de suco de maçã que George me oferece e não sei onde me enfio quando Pam e Fred me olham.
— A gente não está tendo nada, Karia.— Pamela diz, calmamente enquanto eu viro a taça.
Eu sorrio sem jeito, sem parar de tossir.
— N-não... do qu-que que você tá falando?— eu tenho vontade de rir de nervosismo e George me olha preocupado— Eu não falei nada.
— Sossega, cunhadinha, ela ainda está para cair na rede.— Fred diz com um sorriso de canto, tão convencido. Pamela levanta a cabeça e o encara sem expressão. Fred a olha de canto daquele mesmo jeito que eu o vi olhara para uma garota há tanto tempo atrás que eu já nem lembro o nome— Incrível como mesmo com essa cara de bunda, você fica linda.— ele aponta o rosto dela como um todo. Pamela cruza os braços, emburrando-se. Fred a puxa para debaixo de sua asa e volta a comer. Eu e Nik encaramos nossa melhor amiga, e eu tento não me engasgar de novo ao reparar a sombra de um sorriso nos lábios dela. Fred pega um pedaço de ganso e o ergue no ar— Olha, o trem está indo para a estação.— ele brinca, tentando levá-lo para a boca de Pamela que desmancha a carranca em um sorriso largo e empurra sua mão.
— Para, garoto idiota!— ela reclama e todos nós rimos, George aperta minha coxa e atrai meu olhar para si, mas ele não estava me chamando. Encaro o ruivo calmamente e admiro seu lindo sorriso, aquela perfeição ruiva que nem deveria ser considerada humana. Ele me olha de volta e eu viro o rosto como se tivesse ficado envergonhada de ser pega no flagra.
Hoje é um dia bom, um ótimo dia.
[...]
Com o fim das aulas e depois de deixar George em sua torre para que ele pudesse tomar um banho, eu me encaminho sozinha de volta para a minha pensando o que é que farei com a lição de casa e com a preguiça absoluta que estou encarando.
Ando balançando os braços e com os olhos no teto no mais profundo tédio quando um toque no meu cotovelo atrai minha atenção. Por um segundo achei que veria George porque ele sempre esquece de me avisar alguma coisa e corre atrás de mim quando estou no meio do caminho, mas não.
Encaro meu melhor amigo e ele força um sorriso, entrando na minha frente para me fazer parar de andar.
— Dakaria, oi.... você pode me acompanhar ali fora um segundo?— Nikolas pede e eu acho graça. Ele está vestindo a mesma roupa de ontem, ele não costuma ficar se repetindo, quando foi que se trocou?
— Oi, Nik, está tudo bem?— pergunto, confusa porque ele nunca me chama pelo primeiro nome mesmo depois de anos de amizade.
— Está, está sim.— ele está estranho, não me olha nos olhos, fico preocupada— É só que eu queria falar a sós com você um momento.— ele estrala os dedos, sem jeito. Nunca o vi fazer isso, mas não dou importância.
— Ok então, vamos lá.— assinto e enlaço meu braço ao seu para que a gente caminhe junto na direção do jardim, mas o garoto me puxa na direção oposta.
— Por aí não.— ele resmunga. Fico receosa, mas não resisto, mais algum problema que eu não percebi? Nikolas parece tão bem esses dias! Ele está quase flutuando de tão excitado que se sente por finalmente ter beijado Luna Lovegood. Foi mais um selinho de boa noite, noite passada, mas ainda está valendo.
Eu não sou nem de perto tão observadora quanto pensava.
Enquanto caminhamos em silêncio para a frente do castelo, eu fico tentando adivinhar o que pode ter de errado com Nikolas. Diferentemente de Pamela, ele tem uma ótima relação com os pais então duvido que seja problemas em casa, até porque nem faz parte de seu feitio compartilhar o que acontece na residência dos Black. Nunca houve nenhuma reclamação, muito pelo contrário, Nikolas é perfeitamente mimado, assim como eu. Algum problema aqui dentro da escola? Mas como eu não reparei em nada? Os rapazes o provocam muito, mas eles não chegam a ultrapassar os limites para ser considerado bullying, eu acho. É mais uma relação de irmãos mais velhos com seu mais novo por mais que tenham a mesma idade.
Mordendo-me de curiosidade, assim que estamos perto do lago negro congelado, solto o braço de Nik e dou mais uns quatro passos para frente. Observo a Floresta Proibída coberta por uma camada grossa e branca de neve como um bolo de baunilha que reluz sob a luz do entardecer. A cabana de Hagrid à minha direita solta uma fumaça pela chaminé, mas acho que está longe o suficiente para que ele não possa ouvir nossa conversa — ainda que eu desconfie que Hagrid esteja dormindo pois sempre gosta de puxar o ronco depois do almoço. Olho pouco para o enorme Lago congelado à minha esquerda e me volto para meu melhor amigo com prontidão.
Fico confusa quando o vejo acender um cigarro entre os lábios rosados.
— Que porra é essa, garoto!?— arregalo os olhos, descrente. Avanço em sua direção com a vontade de bater na sua mão, porém recuo quando ele aponta a varinha para mim.
Há um segundo que o mundo todo para. Olho nos olhos de Nik, vejo seus olhos azuis, seus cabelos negros sob a touca de crochê listrada, seu rostinho de garoto de catorze, mas não o vejo.
Uma chave gira em minha consciência e eu baixo os olhos para sua varinha. Esse não é meu Nik. Fico tensa, apreensiva, e procuro por minha varinha no meu bolso de trás o mais discretamente possível enquanto ele fuma com calma.
— Nik, o que pensa que está fazendo?— pergunto buscando manter a calma.
— Ah, nada demais, gatinha, estou só me livrando de um lixo.— ele responde. É sua voz, seu rosto, seu corpo magricela, mas não é ele. Não é o seu jeito de agir nem de falar.
— Do que você está falando? Quem é você?— não insisto em fingir que acredito que algum dia Nik falaria dessa forma comigo.
— Seu melhor amigo, ora.— ele sorri maliciosamente de canto e eu começo a ficar ansiosa por não encontrar minha varinha em nenhum dos meus bolsos— Procurando por isso?— ele a exibe como se estivesse lendo meus pensamentos, engulo em seco e o vejo atirar minha varinha no chão e jogar um pouco de neve sobre ela com o pé, escondendo-a.
— O que acha que está fazendo?— pergunto novamente ao impostor e olho para a cabana de Hagrid pensando em gritar por ajuda.
— Eu já te disse.— ele revira os olhos soprando a fumaça em minha direção. Outra chave se vira. Marla. Ela é a única pessoa que fuma que eu já tive o desprazer de ter contato.
A raiva faz minhas mãos tremerem. Logo agora que eu pensei que poderia viver sem essa garota enchendo o saco.
— Ah, é? E qual sua ideia brilhante, senhorita Caroline?— pergunto e ela ri. No corpo do meu melhor amigo, isso foi um golpe muito baixo. Ela é a única garota que tem o ódio declarado por mim. Só pode ser ela.
— Quer ver?— ela sugere depois de uma longa tragada. A impostora joga o cigarro no chão e me olha de um jeito que Nikolas jamais olharia— Levicorpus!— ela diz e automaticamente sinto algo agarrando meu pé direito e sou erguida abruptamente, segurada de ponta cabeça como uma boneca de pano nas mãos de uma criança traquina.
— Que acha que vai acontecer com você independentemente do que faça comigo, Caroline!?— eu grito com ela, agoniada para me libertar, mas ciente de que minha queda não será nada bonita. Sinto um frio intenso na barriga quando ela me levanta mais um pouco— Para com isso ou eu vou matar você, garota!
— Ah, ela tem garrinhas, que fofa.— aí ela começa a me empurrar na direção do Lago e eu esperneio no ar— Tente o que quiser, eu estou deixando Hogwarts hoje. Considere isso meu presentinho de adeus.
— HAGRID! PROFESSOR!— eu grito, desesperando-me. Não, não, não.
Nãonãonãonãonão. O Lago não. Só prevejo que não houve tempo o suficiente para que o gelo ficasse minimamente firme na superfície. Se eu cair, eu vou afundar.
— Caroline, por favor!— imploro querendo chorar, o nervoso correndo cada centímetro de minha pele— Marla, eu não sei nadar!
— Cala a boca, preta imunda!— ela me afasta ainda mais da margem e o único lapso racional que tenho é de estourar minha corrente e libertar Liam.
— Ache o George!— assim que liberto a pequena coruja prateada, sinto a corda invisível me largando e a queda é tão rápida que não tenho nem tempo de gritar.
Eu poderia quebrar o pescoço nesta brincadeira, mas consegui colocar o braço na frente e sobrou para meu ombro. A dor fora imediata e aguda, meus olhos não demoraram a se encher de lágrimas.
— Ah!— eu grito levando a mão ao ombro direito sem saber dizer se tinha deslocado ou quebrado a clavícula. Doía tanto que eu tinha certeza que estava quebrada.
Começo a chorar e sentir frio, mas antes que eu processe qualquer coisa, paro de me mover e até de respirar quando ouço o som inconfundível de gelo rachando sob meu corpo.
⋆
Nota da autora:
Acho que nunca senti tanta raiva de um personagem que eu mesma escrevi. Estou no ódio aqui, espero que também estejam.
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