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CAPÍTULO DEZ:
꧁ Troca de lugar ꧂
Franzo a testa tendo dificuldade em colocar na cabeça aquelas runas malditas, mesmo que seja uma língua tão constante no nosso mundo, eu tenho preguiça do latim, odeio trabalhar com traduções, é sempre um tédio. Mudo a posição dos pés, jogando as pernas para o colo de Pamela que está ocupada, concentrada demais em sua lição de Herbologia para me criticar pela folga. Encosto meu ombro no se Nikolas que desenha uma flor carnívora por puro lazer.
Estamos no jardim aproveitando enquanto ainda dá, o calor do fim de tarde. Chegamos cedo, por isso conseguimos um canto só nosso perto das trepadeiras e da árvore mais majestosa daqui.
— Quais os efeitos colaterais por usar a Acáci para recuperar as energias?— Pam pergunta sem tirar os olhos do seu pergaminho. Eu paro para pensar um pouco.
— Espinhas, tosse e um pouco de febre, se não me engano.— digo.
— Não há febre, e sim soluços.— Nikolas me corrige e eu dou de ombros. Pamela molha a pena e volta a escrever— Devo destacar que não pode estourar as espinhas, pode causar uma infecção, mas elas não duram mais do que dois dias.
— Tá bem, eu só precisava saber de dois efeitos, dá uma segurada, nerd.— Pam diz e eu seguro o riso balançando a cabeça.
— Sua feia.— Nik reclama para a garota. Pamela apenas ergue o olhar para lhe mostrar o dedo e volta logo para sua tarefa. Eu amo esses dois patetas.
Eu estou morrendo de tédio. Coloco meus livros e pergaminhos de lado e luto para me levantar da grama como uma verdadeira sedentária.
— Ei, vai aonde?— Pam me pergunta enquanto eu limpo e ajeito meu uniforme.
— Banheiro, volto já.
— Não demora, você vai ter que me ajudar com a transfiguração!— Nikolas me cobra.
— Eu não, você não me ajudou nada com as runas!
— Essa tarefa é a coisa mais fácil do mundo, Thomas!— Nik grita para as minhas costas e eu sacudo a mão, o ignorando deliberadamente.
Caminho apressadamente pelos amplos corredores sem nada em mente, ouço meus próprios passos, as conversas de um grupo de amigos que passa por mim. Sorrio para aqueles que olham em minha direção e fico contente quando retribuem. Felizmente, o banheiro não é tão longe do jardim e eu posso me aliviar tão logo. Me enfio em uma das cabines, faço o que tem que ser feito e já me preparo para voltar para o jardim. Dou descarga, e vou para uma das diversas pias disposta em círculo. Eu não sou a única pessoa no banheiro, mas como estou ocupada lavando as mãos, nem olho na direção da outra garota que deixa sua cabine e vem para a pia do meu lado trazendo o forte fedor de cigarro. Prendo o fôlego momentaneamente e tento não fazer careta. Eu odeio cigarro, meu vô costumava fumar muito quando eu e Dacre éramos pequenos e tínhamos que ficar com ele para que nossos pais pudessem trabalhar. Levanto os olhos para o espelho. Não gosto de pensar nos dois. Sufoco as memórias do melhor jeito que posso.
— Com licença.— a voz da outra corta o silêncio e eu fecho a torneira antes de olhar para ela. Ah, é a garota-bonita-não-identificada dos gêmeos Weasley. Ela tem um decote ousado e uma cigarrilha pendendo nos lábios pintados de batom vermelho. É muito mais bela de perto. Ela cerra os olhos para mim e sorri com as sobrancelhas unidas— Você é Dakaria? Dakaria Thomas?— ela quer saber. Me surpreende que saiba meu nome, George teria lhe falado algo? Não faz muito sentido.
Fazem quatro dias que estou evitando George Weasley a todo custo, desde nosso encontro fracassado, eu não estou com a mínima coragem de encará-lo. Sei que posso estar exagerando já que o ruivo já deve ter seguido em frente, mas sei lá.... sinto vergonha só de lembrar o desperdício.
Nem sei dizer se ele sequer está me procurando, só sei que o mínimo vislumbre de uma cabeleira ruiva na multidão, eu estou correndo para o outro lado.
— Sim, sou eu.— eu sacudo a mão e seco na saia. Os olhos da garota descem pelo meu corpo e eu não sei se adoro a forma como ela me olha. Levanto a sobrancelha, mas sorrio— E você, quem seria?— cruzo os braços.
— Marla Caroline, eu sou a melhor amiga do George.— ela me imita e ergue o queixo— Sabe? Aquele que você afugentou na hora H.— ela ri e balança a cabeça como se fosse a coisa mais estúpida feita na face da terra.
Uno as sobrancelhas e passo a língua nos lábios.
— Foi assim que ele te contou que aconteceu?— pergunto, sentindo meu sangue ferver. Era justo a existência desse lado babaca de George que eu estava temendo. Eu simplesmente não acredito.
— É...— ela soltou um longo suspiro e tirou o cigarro dos lábios soprando a fumaça na minha direção— Mas fique tranquila, eu já consolei ele. Rapazes como George tem uma pegada e tanto, não concorda?— ela sorriu maliciosa e se olhou no espelho ajeitando os cabelos e admirando a própria imagem— Ah, é. Você jogou a chance fora.— ela me olha e faz beicinho como se tivesse peninha de mim. Aquela típica cara cínica que as garotas brancas fazem de melhor.— Garotinha boba.
Sopro uma risada fraca e jogo os cabelos por cima do ombro, erguendo o queixo. Nunca deixe que façam pouco caso de você, a voz de meu pai ressoa em meus pensamentos.
— Que bom que eu chutei ele para que você pudesse ter algum restinho para aproveitar, né?— espeto ela com a melhor arma que encontro e vejo o brilho saindo do seu olhar, meu sorriso aumenta ao passo que o seu se esvai— Foi um prazer conhecê-la, senhorita! Até mais ver.— então eu me retiro e tento não ficar chateada com a imagem linda do meu encontro com George sendo desfeita como uma fotografia sendo despedaçada em milhões de pedacinhos. Ainda bem que eu nem molhei o pé nessa piscina tão rasa.
Ah, mas que droga, essa vaca acabou com o meu dia.
⋆
Não há ânimo maior do que aquele que a maioria de nós tem ao nos depararmos com a primeiro aula sendo a de Severo Snape. Ele é literalmente o único professor para quem eu não desejo um bom dia, a única pessoa de autoridade nesta escola que eu não tenho o mínimo respeito.
Estou sonolenta enquanto ando de mãos dadas com minha melhor amiga para o lugar de sempre, no meio da sala. Pamela solta um bocejo e eu tiro a mochila do ombro com a mão livre, pronta para jogá-la sobre minha mesa. O que me surpreende quando chegamos perto, é ver que o meu assento já está ocupado. Mais ainda, por quem.
Eu e Pam paramos do lado da nossa mesa e o garoto ruivo se encosta na cadeira, voltando-se para mim com um sorriso debochado nos lábios.
— Quem é vivo sempre aparece, não é?— ele solta com uma pitada de insolência. Eu olho para cima e respiro fundo, qual é a dele? Sua amiguinha está ocupada consolando outro, por um acaso?
— Garoto, vaza.— Pamela estala a língua, já perdendo a paciência.
— Sentem-se.— exigiu o professor ao entrar na sala fechando as janelas e acendendo as velas com acenos com a varinha, nós éramos as únicas de pé.
— Senhor Snape, este garoto está no meu lugar.— Pamela reclama. O professor, em sua típica cara de bunda, nos mira com pouco interesse.
— Sentem-se.— ele repetiu, friamente. Pouco lhe importa onde nós sentamos. Pamela infla as narinas e olha ao redor, soltando minha mão.
— Tem um lugar do lado do meu irmão, se quiser.— George oferece, tão solidário. Eu reviro os olhos e ele franze a testa para mim, claramente intrigado. Me recuso a olhá-lo.
— Prefiro cortar os pulsos e me jogar em um mar cheio de tubarões famintos.— ela retruca.
Mas o único lugar vazio é ao lado de Fred Weasley. Pamela me disse que ele pediu desculpas quando a seguiu, mas ela não demorou a iniciar uma discussão e os pombinhos viraram verdadeiros inimigos. Do jeito que Fred a olha, acredito até que ele a empurraria do penhasco. Eu e minha amiga trocamos olhares, eu não quero ficar com George, ela não quer ficar com Fred. Só tem um jeito para isso dar certo. Empurro minha amiga para que ela fique e ajeito a mochila no ombro indo para o fundo da sala onde Fred está sentado atrás de Lino Jordan e outro garoto aleatório que pouco me interessa. Sento-me ao lado do ruivo, pouco olhando na sua direção e já lutando para me acomodar. O rapaz relaxa do meu lado e até muda a postura, mas eu não quero ver nenhum rosto minimamente parecido com o de George...
Espera aí...
Eu paro de mexer na minha mochila e uma luz se acende sobre minha cabeça, como se em um estalar de dedos minha intuição começou a apitar tarde demais. Fechei os olhos e deixei os ombros caírem. Eu não os olhei direito. Quando abro os olhos, encaro o Weasley do meu lado e ele já está me olhando com um sorriso divertido nos lábios, está mastigando um chiclete e parece bem orgulhoso de si. O formato de seu rosto, este é George, não Fred.
— Sempre funciona.— ele comenta como se soubesse que eu tinha desvendado sua trama. Não acredito que caí nisso! Malditos gêmeos idênticos!
Pego meu livro e o bato na mesa com um pouco mais de força do que o programado. George ri e se debruça sobre a mesma, inclinando-se na minha direção.
— Por que está me evitando, princesinha Thomas?— ele me pergunta em voz baixa.
— Por que pensaria tal coisa?— ironizo. O ruivo cerra os olhos verdes para mim e umedece os lábios. Ele me olha como se eu fosse um pedaço suculento de carne— Para com isso.— censuro.
— Com o que?— ele não para.
— Eu vou querer um trabalho em dupla.— a voz do professor ecoa na sala e eu desvio minha atenção do Weasley que continua me encarando. É um pouco difícil simplesmente ignorá-lo.— Relatório e poção na minha mesa até daqui duas semanas. Não vou aceitar antes, muito menos depois.
— Seja minha dupla.— George me pede e eu franzo a testa.
— Por que eu faria isso?
— Porque é meio que o único jeito agora, princesa. Você está sentada comigo.— ele fala e eu tenho vontade de enfiar minha cara na mesa. É típico dos professores nos obrigarem a manter a dupla com quem nos sentamos.
Pelo amor de Deus, isso não vai dar certo.
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