Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 9
Volta teu rosto sempre na direção do sol, e então as sombras ficarão para trás.
-Desconhecido
Aquela era a pontada de alegria que nenhuma das meninas da suíte tinha a não ser Terra. Flora sorria sem parar, a ruiva temeu que o rosto da fada da natureza pudesse se rasgar. Ela estava verdadeiramente feliz.
Nyx se ajoelhou sobre o tapete puído o tecido grosso fazendo cócegas sobre suas pernas desnudas. O dia anterior se repetia em sua cabeça infinitamente, mas ela estava com suas amigas e aquilo, de alguma forma, lhe aliviava o coração. Claro, nada foi dito pela ruiva e nem mesmo por Sky, e ela era grata por isso. Se preocuparia a respeito mais tarde.
–Sério! Tem como convencê-las a não ajudar tanto? –Brincou Flora desempacotando uma das caixas.–Eu aguentaria mais seis meses sem arrumar.
–Mas aí encontramos Terra com uma lanterna, arrumando tudo sozinha durante a noite. –Rebateu Bloom cheirando um dos muitos potes com essências que Flora trazia.
–Flora viveu em todo lugar. –Comentou Terra ajeitando as inúmeras plantas. Nyx ainda ficaria presa naquele bioma que Terra e Flora estavam cultivando dentro da suíte, disso ela tinha certeza. –Meio selvagem pelo trabalho de seus pais. Já contei que temos o mesmo mindinho torto?
–Ainda que sejamos primas de segundo grau por casamento. –Acrescentou Flora apertando o mindinho de Terra com o seu.
Nyx riu, ainda que isso refletisse uma onda de dor pelo seu corpo. Saul não estava muito bem, mas pelos menos Nyx não sentia novos ferimentos invisíveis se formarem pela sua pele. A menina tirou de dentro da caixa um vidro, colocando-o ao seu lado. Seus olhos vagavam pela caixa, uma memória antiga brotando na menina.
–Está tudo bem? –Flora quis saber ao notar que a mesma estava quieta a muito tempo.
Nyx acenou em confirmação, sem energia o suficiente para dizer algo. Ela sentia um aperto no peito, estava com saudade de si mesma, saudade de Érebos e de Saul. Saudade de quando sua única preocupação eram os alunos de Alfea e o que eles pensariam dela. A fada da natureza se agachou ao lado da menina, remexendo uma das caixas.
–Aqui, para você. –Ela disse tirando da caixa um pacote amassado. Nyx não precisou abrir para saber o que era, o cheiro já invadia suas narinas a forçando a se inclinar para trás.
–Ah, eu não gosto dessas coisas. –Admitiu Nyx acenando a mão em frente ao corpo em recusa. –Da última vez que comi um dos bolinhos de Terra, com isso, eu fui caçar um queimado sozinha. E isso não terminou muito bem.
Flora franziu o cenho, afastando o pacote de Nyx. Talvez Terra não tivesse contado tudo o que havia acontecido para a prima, mas Nyx também tinha seus segredos. A fada de pele pálida passou a mão sobre o braço, procurando contato com as cicatrizes que circulavam, em aviso, seu pulso.
–Bom,eu aceito. –Brincou Bloom, arrancando a sacola das mãos da fada da natureza. –Sério, Flora, está salvando nossas vidas. A diretora tem feito vistorias quase todo dia em busca de maconha.
Flora apenas deu de ombros em um sinal simples de "por nada" antes de se voltar novamente a Nyx, seus olhos procuravam com cuidado algo que estivesse ferindo a menina, mas ela não encontraria nada nela, a menos que Nyx permitisse.
–Terra me contou o que houve. Não sei de tudo. –Se aditou a fada da terra. –Mas saiba que estou aqui para ajudar, de precisar, pode contar comigo.
–Obrigada, Flora. –Agradeceu a fada, notando de relance uma loira apressada passar pelo grupo de amigas. –De me der licença. –Pediu a ruiva já se levantando e indo em direção ao quarto da princesa.
As meninas continuaram a desempacotar todas as milhares de caixas que Flora trazia junto com ela enquanto Nyx se certificava de como Stella estava. Provavelmente nada bem, elas já tinham ouvido sobre o incidente da noite anterior e a princesa não era o tipo de pessoa que se expressava, ela costumava guardar tudo para si, ainda que não houvesse necessidade.
–Stella. –Chamou a ruiva, abrindo a porta do quarto. A loira estava sentada na cama, de costas para ela, ainda assim, Nyx podia ouvir o som de um choro fraco.
A ruiva nada disse ao fechar a porta atrás de si e se sentar ao lado da fada na cama macia. Stella também não se deu ao trabalho de explicar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto. Palavras não eram necessárias, ambas sabiam o motivo de tudo aquilo, mas nenhuma delas sabia uma solução.
Nyx ajeitou as luvas, observando a grande janela a um frente, as cortinas rosas estavam fechadas e era quase impossível observar os raios solares vindos em sua direção. Stella secou uma das lágrimas, a vergonha lhe tomando a face pálida.
–Eu tenho um pai. –Começou Nyx, sem saber ao certo porque estava contando aquilo para a garota. –Ele se chama Marcus. Também tenho uma mãe, Teresa. E um irmão, Érebos.
Stella se voltou para a fada ao seu lado, os olhos estreitaram-se. Nyx fechou os olhos lembrando-se do cheiro de sua casa. Do cheiro amargo e apimentado dos cabelos de sua mãe, do cheiro de nozes queimadas do pai sempre que ele entrava pela porta da sala, do cheiro de frutas silvestres do irmão quando ele ia se deitar com a irmã, assustado.
–Irônico nossos nomes, não? –Riu Nyx puxando um dos fiapos que desfiavam de sua camiseta rosa. –Minha mãe que os escolheu. Ela fazia arqueologia. Até conhecer meu pai.
"Não sei o que eles sentiam um pelo outro naquela época. Mas sei o que eles sentiam quando eu nasci. Não era bom. Eu rezava todas as noites para que eles se separassem." Continuou Nyx apoiando os pés em cima da cama, abraçando os joelhos, a saudade lhe invadindo a alma. "Então meu irmão nasceu. E eu parei de rezar. Não havia ninguém para me escutar, então eu prometi a mim mesma que eu escutaria ele ao menos."
A ruiva balançou a cabeça em negativa.
–Eu abandonei ele, –Chorou a garota, as palavras travando em sua garganta, a dor espremendo seu coração contra o pulmão. –com medo de que fosse machucá-lo mais se estivesse com ele. Ele deve me odiar, eu deixei ele para trás, eu deveria ter ficado.
–Me dê sua mão.
–Como? –Indagou a ruiva secando as lágrimas que insistiam em cair.
–Me dê sua mão. –Pediu a fada novamente.
Nyx estendeu o braço, o tecido comprido cobrindo cada centímetro da sua pele. Stella segurou os dedos enluvados de Nyx, seus olhos fixos no da ruiva.
–O que mata alguém não é o abandono. É a indiferença. –Explicou a fada da luz pousando um anel dourado na palma da mão da ruiva. –Não seja indiferente, Nyx. Se você o ama. Então ame-o. Mas nunca mais faça prova que não sabe se pode cumprir.
–É o anel de sua mãe… como você conseguiu? Achei que tivesse dado a ela.
Stella deu de ombros ajeitando os cabelos, agora curtos.
–Eu sempre consigo o que eu quiser.
Nyx riu.
–Você nunca duvida de si mesma, não é?
–A todo momento. –Disse a loira, se levantando e alisando as roupas. –Eu apenas não demonstro.
Nota da autora:
Oi, pessoal.
Quanto tempo né? Ksks
Desculpa pela demora, mas estou voltando aos poucos.
Espero que entendam.
♡
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