E o que o ser humano mais aspira é tornar-se ser humano.
-Clarice Lispector

   Saul acordou num solavanco. Que merda era aquela?

   Tinha passado a noite naquela cela repugnante tremendo de frio, até que seu corpo finalmente caiu em um sono leve.

   No entanto, ele ainda não compreendia seu sonho. Se é que aquele sonho era seu. Não sabia nem mesmo se era um sonho.

   Estava dentro do banheiro. Alguém do lado de fora gritava e chutava a porta. Ele poderia ter aberto a porta e enfrentado quem quer que fosse. Mas ele se sentia fraco, frágil e incapacitado.

   Silva sentou-se passando a mão pelos cabelos úmidos pelo suor.

    Será que Nyx estava bem?

   Agora que suas vidas estavam conectadas ele sentia-se mais calmo sabendo que ela estava segura, entretanto não era apenas um fio que os conectava.

   Sangue, alma e mente. Qualquer dor que um sentisse o outro também sentiria, como um reflexo. E se um deles morresse, o outro estava fadado ao mesmo destino.

–Aí, seu almoço chegou.–Disse um dos guardas segurando um prato de plástico.

   Silva quase riu. Sabiam do que ele era capaz, sabiam que ele poderia muito bem matar todos ali tendo apenas um prato quebrado.

   Mas ele não faria nada, não quando sua vida não era mais sua apenas. Seria arriscado tentar fugir.

–Você deve estar com fome.

   Saul se manteve sentado sob o colchão fino jogado no chão sem se atrever a olhar para o homem.

   O soldado provavelmente sentiu-se ofendido porque com um sorriso irônico soltou a comida e parou bem em frente a Silva.

–Acho que você ainda não entendeu né? Nós vamos fazer da sua vida um inferno.

   Foi quando o homem segurou os cabelos de Saul jogando seu joelho contra o nariz do especialista.

   O antigo diretor se levantou cambaleante, sangue escorrendo pela sua boca e pingando no chão sujo.

–Esqueci de contar as novidades.–Grunhiu o carcereiro.

   Silva posicionou sua perna direita à frente, pronto para se defender. Mas não foi o golpe que o atingiu, mas as palavras que se seguiram:

–Você vai fazer uma viagem. Você vai ser mandado para Polaris.

   Nyx esticou o braço observando a sombra que se formava com o a luz do sol. Algumas folhas caíram, dando um aspecto calmo, o que contrastava com o clima tenso de todas ali. Mas ela era uma ótima mentirosa e mentiria até ela mesma acreditar que estava tudo bem.

   Ela e suas amigas estavam sentadas abaixo de uma das muitas árvores que rodeavam Alfea.

   Nyx fechou os olhos por um instante, degustando daquele momento. Mas parecia que o mal a perseguia porque seu descanso foi interrompido por uma dor aguda no nariz.

–Argh!

–Nyx! Tá tudo bem?–Quase gritou Terra que estava bem do seu lado.

–Porra! MERDA!–Gemeu a garota apertando o nariz, contendo um sangramento que não viria.

–Ela está com dor.–Sussurou Musa se aproximando da ruiva.

–Ah, sério? Que bom que você me explicou.–Ironizou a fada da terra.

   Musa apenas ignorou segurando a mão enluvada de Nyx.

–Não posso tirar sua dor, mas você precisa ficar em silêncio Nyx._ Não podem saber._

–Tudo bem.–Gemeu Nyx.– Só me dá um segundo.
 
   Musa se afastou dando espaço para Nyx respirar.

–Droga.–Murmurou Terra.–Silva não está bem.

–Não mesmo.–Concordou Bloom surgindo com Stella.

–Vão mandá-lo para Polaris.–Falou Stella se escondendo sobre seu casaco preto. E por um momento, a dor latejante do seu rosto sumiu, sendo substituída por medo.

–Não podem!–Exasperou Musa.

   Nyx sentiu os músculos de suas costas enrijecerem. Ela só não sabia se era culpa de Saul ou do nervosismo que se espalhou pelo seu corpo como fumaça.

–O que é Polaris?–Ela se atreveu a perguntar.

–Um lugar frio e totalmente congelado. Chamam de Norte Glacial. Alguns prisioneiros de perigo extremo são exilados lá. Nenhum nunca chegou a sobreviver.–Explicou Musa.

–Então é uma sentença de morte.–Murmurou Nyx entendendo a gravidade da situação.

   Bloom pareceu notar porque sentou-se ao seu lado e apertou sua mão enluvada com carinho antes de dizer calmamente:

–Vamos soltar Silva.

–Como? Vai acontecer amanhã. Andreas vai liderar a transferência.–Explicou a loira.

–Historicamente, abaixo-assinados se demonstraram muito eficazes.–Começou Terra balançando a mão de um lado ao outro.–Mas levam tempo…

–Eu não to pensando em nada nesse estilo de escrever cartas. Eu to pensando em algo com um pouco mais de ação.

   Musa se virou, voltando a se alongar.

–Em termos criminais, enfrentar Solaria em bem pior do que tudo que fizemos antes.–Disse a fada da mente.

–Enfrentar Solaria não é brincadeira. Mesmo que a gente quisesse, a Guarda de Solaria é brutal. Eles são focados e treinados desde a infância…

–E é o Silva.–Cortou Bloom.–E Nyx também…

   A fada engoliu em seco se odiando por ser tratada como se não estivesse bem ali. Escutando a sua própria sentença de morte.

–Por favor, não façam isso. Eu tenho certeza que as cartas de Terra podem dar certo. Talvez uma distração possa atrasar…

–É arriscado demais.–Disse Bloom, seus cabelos queimando.–Silva vai ser enviado amanhã. Nem mesmo uma distração vai impedi-los. Nós temos que fazer isso. Ou então, você e Silva vão ser…

    Nyx abraçou os joelhos, como sempre fazia quando estava nervosa. Se Érebos estivesse aqui, ele com certeza estaria rindo de sua cara…

   Como será que seu irmão estava?

–Só pra esclarecer, a gente tá falando de tirar ele da prisão, né?–Indagou Musa voltando sua atenção para a fada do fogo.

–Não podemos contar para Aisha, já que ela vai tentar nos impedir.–Comentou Stella fechando seu casaco pesado em torno do corpo.

–É, na verdade a Bloom já me contou.–Disse a de tranças surgindo por trás da fada da luz.–Quero deixar claro que isso é idiotice, mas se eu planejar… vai dar certo. E aí? Vamos partir pra magia?–Brincou a fada se virando para Stella.

   A fada da luz riu fraco sabendo exatamente o que teria que fazer.

    Nota da autora:
Oii, como vocês estão?
Espero que gostem.
♡