Herr Steiner
Quando acordou, o Knight estava num lugar mal iluminado e em meio àpenumbra, ainda bastante atordoado, custou a se lembrar do que haviaacontecido na Tea House. No entanto, pouco a pouco, como se seusubconsciente lhe "oferecesse a resposta de bandeja", uma certa recordaçãocomeçou a dominar seus pensamentos com uma intensidade fora do normal.
Primeiramente lhe veio ao pensamento o rosto de Ai, a bela neta de Yamada-san, gerente da Tea House. A seguir, lembrou-se também de que a graciosajovem de gestos gentis lhe servira uma deliciosa e reconfortante xícara dechá-inglês. E ao se dar conta disso, seus olhos se ejetaram, em continuação aum súbito acesso de raiva.
Então, com o corpo apenas parcialmente erguido sobre uma espécie de divãforrado de couro, desferiu um soco enfurecido contra o leito improvisado.
— Bruxa! Como é que fui cair nesse golpe ridículo e deixar essa sonsa eaquele velho maluco me doparem? — Perguntava-se para si mesmo,indignado com a própria ingenuidade. — Como se eu nunca tivesse ouvidofalar no "boa noite Cinderela"!
A seguir, já um pouco menos indignado consigo mesmo, compreendeu queera necessário agir rápido. Descobrir onde estava e, se possível, encontraruma maneira de fugir daquele lugar.
Olhando em volta, percebeu que curiosamente não havia nenhuma janelanaquele cômodo e toda a iluminação provinha de uma única porta que,entreaberta, deixava a luz vinda do corredor penetrar naquele ambientesoturno.
Levantando-se do divã, então, deu uma nova olhada ao redor, desanimadopor não reconhecer de maneira alguma o local onde estava. Para ele, maisparecia uma espécie de escritório ou biblioteca particular de algum figurãosnobe, com luxuosas estantes de mogno cheias de velhas edições de livros.Mas a questão era: Quem raios seria o dono desse lugar?
Assim, à medida que seus sentidos foram se apurando e muito mais pelanecessidade de encontrar uma solução para o empasse em que se encontrava,o Knight percebeu o som de vozes que sussurravam do outro lado dasparedes que o cercavam. Correu então para a porta, mas decidiu ficar paradoao lado dela, na expectativa de descobrir a razão de o terem levado paraaquele lugar e o que conversavam seus raptores.
Primeiramente ele pode ouvir uma voz feminina que se exprimia num tomexcessivamente baixo, mas que ainda assim dava conta de certa tensão porparte da interlocutora, quase como se ela suplicasse alguma coisa:
— (...) Não convém que ele seja informado de certos detalhes, por isso estouaqui, para garantir que as coisas não se precipitem...Depois de um pequeno silêncio, surgiu então uma voz masculina grave comum sotaque alemão bastante carregado, muito semelhante à do estranho quelhe fizera a ligação na noite anterior:
— Imagino o que Yamada-san pode pensar, mas acho desnecessário quevocê se envolva de perto nessas questões.
— Não importam as suas objeções, é inevitável que eu interfira, — insistiu amulher, agora num tom firme e decidido. — O que eu peço encarecidamenteé que você se contenha nesse momento, Herr Steiner, ou tudo secomplicará...
— Tolices de um velho que te contaminaram. Para mim, são apenasnegócios...
— Esse é um modo limitado de apreciar as coisas. Mas já me cansei de vertudo simplesmente ir por água abaixo, somente por causa da ambiçãohumana...
— Hahaha! — gargalhou o homem. — Fala como se tivesse mais de cemanos, jovenzinha!
E depois de uma pausa, mudando do tom jocoso de antes para ganhar certagravidade, continuou:
— Não é tanto uma questão de ambição, minha cara! Saiba que o Duke estáatrás dele e, se você continuar ao lado desse rapaz, só chamará a atenção. Oque posso dizer é que o tempo urge! Temos que agir rapidamente, mas vocêdeve ficar de fora desse assunto até tudo estar acabado.
A voz feminina se calou, mas o Knight ainda pode ouvir um longo suspiro,seguido de um silêncio desconfortável, o qual só foi quebrado pela vozpoderosa do alemão:
— Por que não sai daí, garoto, e não se junta a nós?
Ao ouvi-lo, o rapaz sentiu um calafrio percorrer sua espinha.— Vamos! Venha para cá, Knight! Deixe-me vê-lo enfim, rapaz!
Depois do choque de ter sido apanhado espiando, o Knight apresentou-sediante de seus misteriosos raptores. Um deles, o hacker não teve trabalhopara reconhecer: tratava-se da neta de Yamada, Ai. Ao vê-lo, ela pareceu umtanto constrangida.
O outro raptor, entretanto, era um senhor de barba grisalha e roupaselegantes, o qual certamente jamais havia visto.
— Vamos, não seja tímido, rapaz! — insistiu o homem, num tom gentil. —Estávamos esperando que despertasse. Aproxime-se de nós finalmente!Como lhe disse ontem, temos assuntos do seu interesse a tratar!
Quando o misterioso interlocutor disse isso, o Knight não pode deixar delembrar-se da ligação que recebera em seu apartamento pedindo que sedirigisse à Tea House. Afinal, pensou o jovem, estava prestes a conhecer omotivo da estranha convocação que recebera na noite anterior.
Num tom um tanto solene, o homem se apresentou a ele:
— Meu caro, eu me chamo Adolf Friedrich Steiner. Sou o presidente daSteiner und Liebe Corporation. Sente-se aqui! — Disse-lhe apontando umapoltrona ao lado da sua e de frente para Ai, que tinha um semblantepreocupado.
— O que você quer comigo? — perguntou bruscamente o hacker.
— Ora, ora! Acalme-se, pois o assunto que trataremos exigirá bastante a suacondescendência...
— Que assunto tenho com você?O homem riu.— Bom! Então sejamos mais diretos... Recentemente você participou de umaengenhosa operação criminosa que arrecadou uma grande importânciafinanceira. Sua ação me chamou a atenção por dois motivos: O primeiro éque entre os bancos que sofreram o ciberataque do chamado vírus K estava oBanco Graal S&L, do qual sou o maior acionista hoje.
Diante dessa informação inusitada, o Knight ficou totalmente pálido,compreendendo em parte o vespeiro ao qual havia se metido. A verdade eraque desde que se tornara um hacker jamais havia sido pego e isso certamente significava o seu fim no mundo do crime e, talvez, até mesmo o fim de suaprópria vida. Ponderou o rapaz, lembrando-se que Steiner havia dito que omotivo do convite que lhe fizera era "uma questão de vida ou morte".
— Sim! Mas o segundo motivo... — prosseguiu Steiner. — O segundomotivo é que você revelou uma incrível habilidade que me seráextremamente útil.— Olha, Herr Steiner — disse o hacker, interrompendo o interlocutor, — seespera recuperar o seu dinheiro, a verdade é que eu apenas fiz esse trabalho apedido de certa organização e eles ficaram com a maior parte...
— Não é isso que quero — cortou sua explicação o velho banqueiro, — peçoque não tome nenhuma conclusão precipitada. Estou bem informado de tudoe sei que quem estava por trás de suas ações criminosas foi uma ordemsecreta chamada de Clavis Magistra.
O rapaz ficou ainda mais pálido. Naquele momento, em sua cabeça não havianada além de uma imensa perplexidade. Afinal com quem estava lidando?Quem era o misterioso Steiner que parecia conhecer tão bem seus passos?
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