8: £"Crianças desobedientes não merecem doces"£
[29/11/2022- terça-feira]
A visão do pôr do Sol vista a mais de dois mil pés do chão era algo único de se ver. Não ardia tanto assim olhar para o astro quando ele já é pequeno e laranja. Porém o senhor Daemonium, dono do jato branco com poucos meses onde ele estava sentado, já não dava tanta importância aquela vista. Estava farto daquela bola brilhante e quente que, inversamente, personificava o ser que o tinha feito e mandado ao Mundo.
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De: Elon, Camoren
Para: Daemonium, Valac
Data: Ter, 29 de novembro, 2020, às 17:06
Porque é que eu não pude ficar com o Kuma? Ele esteve doente este fim de semana, e vai logo na terça feira viajar? Imagina que ele vomita de novo? E por favor dá-lhe uma pastilha para ele não ficar com os ouvidos entupidos.
Se algo acontecer com o meu menino, Valac, nem vale a pena voltares para casa.
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De: Valac Daemonium
Para: Elon, Camoren
Data: Ter, 29 de novembro, 2020, às 17:08
Mana, por amor do Sol, achas que eu vou deixar que algo aconteça ao meu filhote? Ele está comigo, e além do mais estamos com o Noah, o meu segurança. O dever dele é proteger-me e seguir as minhas ordens. Por isso é que lhe pago.
E eu só trouxe o Kuma porque eu não confio em mais ninguém nessa casa.
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De: Elon, Camoren
Para: Daemonium, Valac
Data: Ter, 29 de novembro, 2020, às 17:08
Nem em mim?
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De: Valac Daemonium
Para: Elon, Camoren
Data: Ter, 29 de novembro, 2020, às 17:10
Eu em ti confio, e sabes disso. És a minha mana mais nova. Porém sei que tu entrarias em pânico se o Kuma ficasse em perigo. Não sabes o que fazer quando alguém que tu amas está mal. Tenho de te relembrar o que aconteceu há 2 anos atrás?
No senhor Alois também confio e no Soren também, mas são ambos humanos e todos os humanos são fracos.
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"Senhor Daemonium." Noah tossiu. "É proibido utilizar o telemóvel no avião, já lhe avisei." Cruzou os braços, não queria ter de tirar o aparelho das mãos dele. "Por favor, desligue-o, ou pelo menos, meta no modo de avião."
"Noah..."
"Não é Noah."
"Senhor Alba."
"Senhor Daemonium."
Ambos falar com o timbre mais grave. Noah queria ter uma viagem 100% segura, sem ter com o que se preocupar e o Valac gostava de se meter com os outros. Mas mesmo assim desligou o telemóvel e revirou os olhos. O Noah tinha razão.
"Contente?"
"Muito. Obrigado."
"Quanto tempo é que falta?"
"Uma hora e meia talvez."
"Pai?" Fora a primeira vez, talvez, que o Kuma tinha dito uma palavra corretamente. Ele tinha dificuldades na fala, não sabia acentuar bem as palavras, parecia que a língua se enrolava toda na boca.
"Estou aqui." O pequeno saiu dorminhoco do sofá de couro branco e calambeou até à coxa do seu progenitor. "O que foi?"
"Sono."
"Acabaste de dormir, Kuma."
"Tinha de sair ao pai." Noah disse antes mesmo de fechar a porta da cabine de comandos do avião.
"Estás a insinuar alguma coisa?" Arqueou a sobrancelha direita e pegou o menino pelos ombros, pondo-o em cima das suas pernas cruzadas.
"Claro que não, senhor Daemonium." Gritou do outro lado da porta antes de cair em gargalhadas baixas.
☀☀☀
A aterragem do jato na pista privada do hotel ARA sucedera sem quaisquer problemas. Não houve vento ou chuva que atrapalhasse o Noah de demonstrar mais uma das suas habilidades: pilotar. Estavam todos ansiosos para pisar terra firme, depois de uma viagem de quase cinco horas, principalmente o Kuma, que odiava estar confecionado a um espaço pequeno e fechado. Noah, porém, só queria descansar e deitar numa cama qualquer, na sua de preferência, cuja estava a milhares de quilómetros a nordeste daquela cidade, Daco.
Daco era uma cidade quente e pouco ventosa, húmida e tropical. O que mais a caracterizava era a sua temperatura constante e amena: eram raros os momentos em que faziam pouco menos do que 28º Celcius.
Era o completo oposto de Aska, a cidade onde o demónio vivia.
No entanto, naquele dia a temperatura máxima não alcançava os 20º, o que confundia os metrologistas daquela cidade. Um erro nos seus programas? Não, claro que não. Era o que o Valac fazia ao tempo, inconscientemente. Por onde ele passasse a temperatura descia. E isso dependia muito do seu humor.
"Daemonium."
Uma mulher de cabelos brancos e cinza saiu de uma limusina, que só agora os homens oriundos das terras frias tinham reparado. Ela usava um batom preto extravagante. Toda a sua roupa era negra, desde o vestido social com mangas meio transparentes -que partia do pescoço e descia largo, mas apertado na cintura e só parava nas coxas brancas- até aos sapatos de salto alto.
Ela aproximou-se de Valac. Pelo menos tentou. Aquele sorriso aberto e ganancioso mexia muito com os instintos protetores do Noah. Não conseguiu negar os movimentos das pernas e, intensionalmente, meteu-se no seu caminho, já com a rifle negra nas mãos e o rosto gelidamente fechado.
"Noah." Valac tocou-o no ombro, queria tranquilizá-lo. Não havia motivo nenhum para aquela proteção toda. "Está tudo bem. Esta é a pessoa com quem vou negociar."
Pelo que entendeu aquela mulher era a Ana Aranea, a dona do hotel ARA e da empresa ARANEA, empresa essa que quer fazer negócios com a ICEFIELD. Não eram assuntos que o Noah sabia muito, mas pelo que a Camoren tinha dito, a ARANEA queria uma grande encomenda de armas para o treino dos seus recrutas.
Aquela empresa tinha o objetivo de treinar agentes para as forças militares, agências privadas, seguranças, até o próprio exército. Nas muitas reuniões em que o Noah fora com o Valac, ele já tinha visto um representante daquela empresa, mas nunca a diretora.
Suponho que seja esta.
Kuma pediu colo. Mais 15 kilos em cima do meu corpo protegido por um colete à prova de balas e a rifle que não era nada leve? Noah não conseguia negar. Pegou o pequeno no colo e sentiu a sua cabeça descansar no seu ombro e brincar com a coronha da arma.
"Eu reservei um quarto somente para você, Daemonium, não esperava que viesse tão bem acompanhado."
Não me importo de dormir na mesma cama do meu segurança, senhora Ana, pensou em dizer.
"Há alguma possibilidade de arranjar mais um quarto? Eu pago se for preciso."
"Não será necessário. O hotel é meu. Eu dispenso mais um quarto. Algum problema se a criança ficar consigo, senhor Daemonium?"
"Nenhum."
Ana sorriu.
"Por favor, siga-me."
☀☀☀
O hotel era gigante. 16 andares, 80 quartos por cada andar, sem contar com as duas cozinhas, o refeitório enorme e as 6 salas de jogos e uma sala de cinema. Haja dinheiro para construir aquilo tudo. Haja imenso dinheiro, porque parecia que todos os corredores tinham uma fina parte de ouro nas suas paredes. Kuma corria de um lado para o outro, cumprimentava cada empregado e cada cliente com saltos e sorrisos que ecoavam pelo espaço todo. Nem no elevador ele parava quieto, mesmo com os avisos do seu pai. Estava sempre aos pulos contente por explorar um lugar tão amplo.
"Estão aqui os seus cartões. As suítes 409 e 410."
"Obrigado."
"Vemo-nos amanhã, senhor Daemonium." Sorriu de novo para todos os três convidados, despedindo-se, e apertou o botão -2 assim que eles saíram do grande elevador cinzento.
Assim que as portas do aparelho se fecharam, Valac deixou-se ser domado- uma pequena parte apenas- pela raiva gerada pela desobediência daquela criança.
"Kuma, agora chega!" O pequeno não teve tempo de correr de novo e dar a volta aos corredores mais uma vez. Valac pegou-o pela prega da sua camisola branca e puxou-o para perto de si. "Eu já te mandei parar mais do que três vezes!"
"Me deixa!" Rosnou e tentou se largar daquele aperto, mas as mãos eram hábeis de mais e logo o pegou pela barriga. Kuma agora parecia um cachorro a tentar fugir das mãos que o pegaram. Tentou morder ou arranhar, mas a pele do Valac era grossa demais para que ele sinta um pingo de dor.
"Kuma Daemonium, está quieto."
Noah tentava segurar as gargalhadas que estavam presas na garganta. Não queria ser o alvo daquelas mãos fortes também. Mordeu o lábio de baixo e caminhou em frente, á procura dos quartos que se abriam com aqueles cartões.
"Larga!"
O meu filho de 4 anos a tentar mandar em mim?
Valac olhou-o, era o último aviso- o olhar frio como a temperatura daquele corredor naquele segundo apenas-. Kuma engoliu em seco, mesmo com as feições zangadas e em reprovação.
"Kuma. Está. Quieto."
"Não." Disse também forte.
Ah, meu pequeno, nem sabe o que te espera.
Seguiu o Noah até ao quarto 409 com o Kuma entre o braço e o dorso. Tinha o preso pela cintura. Desobedecer o Valac Daemonium? Ninguém sai impune a isso. Nem mesmo o próprio filho. Sentou-o na poltrona que tinha num canto, virado para a parede e sussurrou no ouvido dele: "Só te viras quando eu der permissão.", fazendo com que a temperatura descesse.
Os instintos protetores do Noah quiseram despertar, mas o consciente falou mais alto e deixou o seu chefe educar a criança da maneira dele.
Abriu a mala, que tinham sido entregues aos empresários do hotel, cuja estava em cima da cama de casal. Tirou um saco transparente com coisas redondas, coloridas e cheirosas.
Doces.
O mais pequeno queria se virar. Queria comer. Como qualquer criança ele adorava doces. E naquele saco estavam os seus preferidos: Twix, snicker, M&N's, KitKat, gomas e Kinder.
Valac deitou-se na cama, de pernas abertas, com as costas apoiadas às grandes e fofas almofadas daquela suíte. Conseguia ver o Kuma ainda virado para a parede. Sentado de pernas cruzadas, com o rosto triste e irritado.
"Que foi, Kuma?" Abriu devagar o pacote dos M&N's, deixando que cada estalo soasse sozinho e que o cheiro invadisse as narinas presentes. "Porquê essa cara triste?" Comeu o primeiro.
Kuma não respondeu.
Orgulhoso.
"Ao tempo que eu já não comia isto, meu Sol." Enfiou mais três na boca e mastigou bem devagar. "O chocolate está muito bem concentrado. Quem fez isto merece um Óscar." Kuma rosnou. "Queres um, filho?"
"Não." Disse baixo. Tentou fazer a voz tão grave quanto a do seu pai, mas não chegou nem a metade do seu timbre maléfico. Valac riu pela sua tentativa.
"Queres tu, Noah? Já que o meu pequeno não quer, fica metade para cada um." Piscou o olho e bateu levemente no colchão, ao seu lado, pedindo para que ele se sentasse ao seu lado.
Noah cedeu. Era chocolate e ele amava chocolate. Os amargos eram os seus favoritos. Sentou-se ao lado dele deixando de parte o seu lado profissional. Riu-se fraco, mas riu-se.
"É bom, não é?" Valac concentrou-se no movimento dos lábios do seu segurança à medida que os viam a envolver um pouco dos Twixs. Queria-os de novo nos seus.
"É ótimo."
"Derrete na boca."
Kuma virou a cabeça e viu aqueles dois a comerem os seus doces. Tentou ser manso, queria também.
"Dá..." Sussurrou baixinho.
"Queres, meu pequeno?" Pegou num KitKat e esticou o braço ao encontro dele.
"Sim." Saiu do banco, contente e ansioso pelo sabor que do chocolate invadindo os seus sentidos, e correu contra o doce. Todavia, antes mesmo de o pegar, Valac rapidamente tirou o doce do alcance pequeno da criança.
"Não, pequeno. Crianças desobedientes não merecem doces." Riu alto da cara de desiludido do seu filho. Os olhos que outrora eram brilhantes de alegria, estavam molhados de tristeza. "Quem é que mandou desobedecer o pai?"
E comeu o chocolate que o Kuma jurou ser para si.
Aquilo era maldade pura contra uma criança. Privar-lhe o chocolate, aquilo que o pequeno mais queria, doía até no coração frio e sereno do Noah.
"O pai é mau."
Fora uma das frases que o Soren e a Camoren tinham ensinado ao mais pequeno naqueles poucos dias. Mesmo com poucas palavras dentro do vocabulário fechado da criança, conseguiam-na utilizar para irritar o único ser na Terra que nunca deve ser irritado.
"O pai dá-te um chocolate se fores tomar banho." Noah tentou acalmar a situação, com alguns chocolates na boca. Aquilo era mesmo bom. "Não é, senhor Daemonium?"
"Pode ser. Se fores tomar banho, eu dou-te os chocolates todos que quiseres." Valac apenas concordou com aquela ideia, pois sabia que o Kuma odiava tomar banho.
☀☀☀
Kuma saiu da casa de banho irritado e enraivecido por ter molhado os seus maravilhosos cabelos negros. Ele abominava água na cabeça. Tomar banho era uma perda de tempo na cabeça dele.
Valac já o esperava, ainda deitado na cama, à espera do sono depois do seu próprio banho com o resto dos doces que tinha guardado para o pequeno.
"Vais fazer o que o pai manda a partir de agora?"
Kuma ainda assim não quis ceder, o orgulho era em demasia, mas o desejo do açúcar e cacau era maior. Mordeu o lábio antes de falar, sem o olhar. "Sim."
"Olha para mim e diz outra vez."
Kuma rosnou de novo, mas obedeceu. Tentou fazer o olhar tão frio quanto o do seu pai, mas sem efeito. Nada batia a frieza daquele homem. Olhou-o de volta.
"Sim..."
Valac derreteu-se ao ouvir aquela afirmação acompanhada pelo olhar fofo e cedido do seu pequeno. A sua mandíbula, que antes estava cerrada, tinha relaxado e as sobrancelhas que estavam arqueadas para mostrar o quão estava chateado tinham se amolecido.
Agachou-se na frente do Kuma e arqueou os braços. Queria um abraço para lhe dizer que estava tudo bem. O corpo do mais novo estava quente e vermelho pela água fervilhante que ele sempre punha em cima da pele.
"Quando eu digo que é para parar, é para parar, okay?" Sussurrou no ouvido dele e beijou a sua bochecha com carinho.
"Sim..." Brincou com a gola larga da camisa branca do mais velho e beiçou os lábios. Finalmente, tinha mostrado o seu arrependimento e engolido todo o orgulho. "Te amo."
"Também te amo, filhote. Agora vai comer os doces e ver televisão." Por fim, entregou os doces. "Eu vou tomar banho."
☀☀☀
Noah tinha deixado o seu lado profissional e o rigor do lado esquecido da sua mente quando o Valac tinha entrado na casa de banho para tomar banho, deixando o seu segurança sozinho na suite.
Foram vinte minutos de pura ansiedade.
Noah queria imenso saber o porquê daquele beijo naquela noite. Não se importava muito com a origem da pergunta um tanto estranha, pois já tinha consciência de como o seu chefe era.
Mas aquele beijo...
Merda.
O pior era que ele tinha gostado...e queria de novo. Daemonium beijava muito bem e parecia saber todos os pontos fracos dele, mesmo sem tê-lo tocado daquela maneira. Nunca. Ou o Noah era uma presa fácil, ou o Valac sabia todos os segredos do mundo. Noah dizia-se uma pessoa difícil de abater em todos os sentidos, mas naquele momento tinha sido domado- pelo desejo, pelo beijo, pelo Daemonium-.
Tinha de fazer a pergunta. Pelo menos a razão daquilo tudo tinha de saber. Por muito curta que a resposta fosse, ele tinha o direito de saber. Tinha ficado horas- horas!- naquele dia a tentar encontrar uma resposta enquanto tocava nos seus lábios, relembrando-se do toque, da língua, dos sons, do cheiro negro e fresco daquele homem.
O chuveiro parou de emitir qualquer som.
Era agora.
"Senhor Daemonium." Não o deixou responder. "Posso fazer uma pergunta."
Mordeu o lábio. Queria voltar a trás, já se tinha arrependido.
"Pergunte."
As mãos tremeram junto às costas. A boca ficou seca. Tinha de ser agora. Cala a boca, Noah. Não. Respirou fundo, mordeu a língua e fechou os olhos.
"Porque me beijou?"
Ele não tinha como não acertar o tempo certo para fazer aquela pergunta. No momento em que calou a boca e o arrependimento crescia cada vez mais no seu sangue, Valac Daemonium saiu da casa de banho.
Os segundos pareciam ter abrandado naquele momento. Valac estava apenas com uma toalha negra a tapar o seu sexo.
Minha Lua.
As coxas eram fartas, grossas ausente de qualquer pelo, os gémeos tensos. O seu abdómen bem formado e definido, nada estava fora do sítio ou escondido. Cada músculo estava quente, as veias mais realçadas contra a pele dos braços musculoso. E aquele peito... liso e sem qualquer pelo negro. A maçã de Adão bem definida, rodeada pelos músculos, mesmo que relaxados, definidos e grossos.
Foi quando a íris clara do albino cruzou a íris escura do moreno. Os olhos estavam semicerrados, as sobrancelhas franzidas em diversão. O sorriso fechado e tímido.
Eu avisei-te para calares a boca.
"Porque eu quis, Noah." Valac só abriu o seu sorriso safado quando se virou. Já esperava aquela pergunta, só não pensou que demorasse tanto tempo. Mas o momento fora certeiro. "Está a questionar as minhas ações?" Desprendeu a toalha e deixou-a cair no meio do chão.
Minha Lua...
Noah ficou petrificado ao ter aquela visão. Era uma bunda perfeita. Redonda, dura, musculosa, enorme. Ele só imaginava as suas mãos naquela massa, apertando-a, senti-la. Tudo nele tensou, o seu membro estava a dar sinais de vinda. A mandíbula estava outra vez dura, a língua entre os dentes. Tinha de se controlar.
Mas não deu.
Valac tinha entrado no jogo para ganhar.
O demônio sentou-se na cama, ainda de costas para o segurança e arqueou as costas, vestindo lentamente os boxers negros.
Quando o boxer tapou todo o seu íntimo, Valac não deixou de se apertar, mostrando que era maior do que aquilo que o Noah previa apenas com a visão.
Olhou-o de perfil. Por segundos não fez nada, estava a esperar o momento certo. sorriu, mostrando os dentes perfeitos e brancos. Passou a língua por todos eles, assim como fez com os lábios do Noah, no meio de tantos selos.
Era aquele olhar que desconcentrava cada célula do albino. Era o olhar, aquela cor laranja brilhante, o contraste que transformava o branco em vermelho. Só podia ser.
Lua, porque é que me testas assim?
☀☀☀
Valac tinha sido direto na sua ordem: Noah Alba iria vigiar o Kuma até ordem contrária. Parece uma ordem simples e fácil de fazer, mas isso tinha dois males: O Kuma de manhã e não ter no seu campo de visão quem jurou proteger para sempre. Não sabia qual delas era a pior.
Ele ainda dormir dentro dos lençóis grandes. Quis dormir ali, no meio do cheiro do seu pai, pelo menos era algo que ele conhecia, pois no resto daquele quarto- um lugar desconhecido- o sono parecia não chegar.
Porém Noah já estava na segunda ronda a roer as unhas. Nenhuma mensagem em duas horas de reunião. E se algo aconteceu?
"Vais ficar aqui, a cuidar do Kuma até ordem contrária." Foram palavras fortes, não as conseguia negar. E por muito que a vontade fosse forte, sabia que as consequências eram bem piores. Ele não era uma criança de 4 anos que tinha repreendimentos suaves, ele era um adulto, e além do mais, um empregado.
Era pago para obedecer.
Sentou-se ao pé do pequeno. A dormir, nem parecia o demónio que era quando estava acordado; as feições angelicais, a boca aberta, os olhos fechados, a mão por debaixo do rosto, as pernas cruzadas e dobradas contra o abdómen não mostravam o seu lado infernal.
O telefone tocou.
Senhor Daemonium.
"Diga." Escondeu toda a sua preocupação na voz séria e imparcial.
"Está tudo bem por aí? O meu pequeno ainda dorme?"
"Sim, senhor."
"E tu, Noah?"
Eram raras- raras não, raríssimas- as vezes em que o Valac se interessava pelo bem-estar de algum empregado. Ou talvez se importasse, mas não o demonstrava. Nem com palavras ou expressões. Ele guardava tudo para si, até o mais pulsante amor.
Não respondeu. "A reunião já acabou?"
"Estamos a dar os últimos retoques. A Ana só compra as minhas armas quando as vir em ação."
"Quer que eu as use?"
"Não. Eu farei a demonstração. Esta tarde, no campo de treino da ARANEA."
Noah definitivamente odiava aquela ideia.
"Tem a certeza?"
"Outra vez a questionar-me, senhor Alba?"
"Não, senhor."
"Ainda bem. Mais tarde passo aí. Estejam prontos e não admitirei atrasos da tua parte. Quero ver-me livre deste sítio o mais rápido possível."
"Sim, senhor."
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