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03 ─ Saw? It didn't even hurt

𝐌𝐀𝐄𝐕𝐄 𝐉𝐎𝐍𝐄𝐒

📍Charlotte, NC - 9 de agosto

Levantei com dificuldade porque minhas pernas ainda doíam e fiz o que eu faço todos os dias. Fiz minhas higienes e vesti roupas de moletom largas que não marcassem meu corpo e não mostrassem as marcas e cicatrizes que meu próprio pai fez em mim.

Dói tanto chegar na frente do espelho e só enxergar marcas de estupro, agressão e meu cansaço e tristeza estampados na minha cara.

Peguei minha mochila, coloquei meu capuz e fui caminhando pra escola.

Cheguei lá e fui direto para a biblioteca que já estava aberta e peguei um livro qualquer. Fui pro fundo e me sentei para saborear o livro. Era bem interessante mas acabou ficando chato na metade da história.

Subi até o meu armário e guardei alguns livros.

- Oi, sem nome. - uma voz disse do meu lado e eu me assustei. Era o tal do Payton.

- O que foi?

- Qual o seu nome? - ele encostou nos armários.

- Você já sabe.

- Como eu vou saber se você não me diz?

- Porque todos os seus amiguinhos disseram quando me viram ontem.

- Ok, eu sei o seu nome. Mas eu queria ouvir de você pra ser meio que uma apresentação, entendeu?

- Primeiro: saindo da minha boca ou da dos outros continua sendo Maeve Jones. E segundo: eu não sou apresentadora.

- Viu? Nem doeu. - sorriu metido e eu revirei os olhos.

Eu tenho que admitir. O sorriso dele era bem bonito. Tipo, bem bonito.

- Agora que você já sabe o meu nome, pode parar de me perseguir. - fechei meu armário e comecei a caminhar deixando-o para trás.

O sinal tocou e eu fui pra minha sala. Me sentei na penúltima cadeira da fileira do canto e peguei meu material.

- Parece que o destino quer que eu te persiga. - Payton sussurrou quando passou do meu lado e se sentou na cadeira atrás de mim.

Tantos lugares pra ele se sentar e tinha q ser justo atrás de mim?

- Bom dia pessoal! - a professora entrou na sala.

- Bom dia! - a turma respondeu junta.

- Bom, vamos começar a nossa aula!

- Ou. - Payton sussurrou atrás de mim e eu ignorei. - Psiu. - continuei ignorando. - Jones. - ele disse e eu percebi que não teria sossego.

Porque diabos ele me chamou de Jones?

- O que foi caralho? - me virei pra trás e disse baixinho.

- Me empresta uma caneta?

- E essa aí na sua mão? - arqueei a sombrancelha.

- Na minha mão? - ele perguntou confuso e olhou pra própria mão. - Ahhhhh. Essa caneta aqui. - riu nervoso. - É-é... Ela não está funcionando! - ele gaguejou e eu arranquei a caneta de sua mão. Fiz um traço no caderno dele com a caneta que funcionava perfeitamente. - Parece que ela funciona. - ele sorriu nervoso e eu revirei os olhos voltando minha atenção à aula.

Quando eu disse que não teria sossego, eu infelizmente estava certa. Passaram-se 5 minutos e o garoto voltou a me chamar.

- Ei, Jones. - ele sussurrou.

- Para de me chamar de Jones.

- Porque? É tão legal.

- Isso é meio que um apelido e nós só chamamos as pessoas por apelidos quando temos intimidade com elas e tudo que nós dois não temos é intimidade. - expliquei impaciente.

- Porque nós não temos intimidade?

- Garoto, eu nem sabia seu nome até ontem!

- Essa doeu.

- Maeve e Payton, querem dividir algo com a turma? - a professora perguntou e todos os olhares caíram sobre nós.

Droga.

- Em minha defesa, foi a Maeve que me chamou! - Payton disse e eu o olhei indignada.

- Eu te chamei? - eu ri ironicamente. - Faça me favor!

- Eu não quero saber quem começou. Quero que vocês parem. - ela disse e nós assentimos.

Antes eu apenas achava Payton egocêntrico e necessitado de atenção mas agora eu odeio ele.

- Jones. - ele me chamou e eu fechei os olhos tentando ignorar mas o bichinho é insistente viu! - Jones. Ou Jones. Jones. Jones.

- Escuta aqui garoto, se você me chamar mais uma vez eu vou.. - acabei sendo interrompida.

- Payton e Maeve, por favor se retirem da sala. Vocês estão atrapalhando minha aula! - a professora pediu e a minha única vontade era de enfiar um tapa bem no meio da cara de Payton.

Guardei meu material e saí da sala furiosa.

- Jones, me espera! - a voz do garoto ecoava atrás de mim.

Ele fingia de burro ou realmente era burro?

- Qual o seu problema ein?! - me virei pra trás.

- Nenhum porque?

- Você colocou a culpa em mim e ainda me fez ser expulsa da sala!

- Eu só queria conversar. Porque agora nós somos amigos!

- A gente é amigo? - perguntei e dei uma risada alta que pra ser sincera não foi nada forçada. - Me poupe! Nós não somos amigos e mesmo se fôssemos, eu não ia querer um amigo que coloca a própria culpa em cima de mim!

- Olha, me desculpa. Eu disse sem pensar! Mas nós ainda podemos ser amigos né?

- Você é patético. - eu disse e comecei a andar mas ele segurou meu braço me fazendo virar bruscamente. O que resultou em um curto espaço entre nós. Quando eu digo curto é do tipo que eu já conseguia sentir sua respiração e seus olhos estavam vidrados nos meus. - Me solta!

- Me diz que não quer mais conversar comigo. - ele disse e eu fiquei confusa. - Diz olhando nos meus olhos que não quer mais falar comigo e eu nunca mais te procuro. - ele disse sem cortar o nosso contato visual e o silêncio pairou no ar.

Essa situação é totalmente estranha mas eu sentia uma calma que não conseguia explicar quando ele olhava nos meus olhos, e ao mesmo tempo fazia meu coração esquecer de bater. Isso era estranhamente confuso.

- Me solta! - pedi e puxei meu braço.

Saí dali sem dizer mais nada e fiquei refletindo.
O que esse menino quer?
O que ele quiz dizer com tudo isso?

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