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Legado

 Viver é um processo de mudança, em que tudo flui, todos morrem, e no fim tudo o que importa é o que você deixou.

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Meu avô me falava sobre legados.

Eu nunca havia entendido bem. Eu sempre achei que legado era só algo que você deixava para trás quando partia, algo físico e palpável. Demorei a perceber que legado é tudo. Um pensamento, uma mudança, alguém que você tocou de verdade de alguma forma. Legado é o que marca a sua existência na terra, não importando se para milhares de pessoas, ou apenas uma, é o que faz com que tudo tenha valido a pena. É o que te livra do total esquecimento quando você morre.
Meu avô dizia que eu era um legado do meu pai. Antes, eu pensava que se devia a eu ser filho dele, e parecer tanto com ele, mas não era isso. Eu era um legado dele, porque eu carregava ensinamentos dele, mesmo que tenha sido tão breve ter estado com ele, tudo o que meu pai me ensinou, eu carrego comigo, e esse é seu legado para mim. O amor por aviões, por palavras. Meu pai vive em mim, e na minha mãe, e em todos que ele tocou de verdade, que ele penetrou em sua vidas, e não apenas passou por elas deixando como obra o esquecimento.
Eu só fui entender o que realmente era legado, naquela tarde, naquele lugar cheio daquelas pessoas recém conhecidas, ao lado dos meus melhores amigos e com Hinata.

Ali, ela me ensinou que o que as pessoas mais deveriam temer era o total esquecimento, irem embora sem nada deixar de importante. Nenhuma marca, se tornando apenas uma fotografia esquecida em um álbum de alguém. Você entrar na vida é ir embora sem deixar nenhum passo, é triste, e a coroa da obra de quem nada fez.

Eu aprendi sobre legados ali, e hoje eu sei que sou um legado de Hinata também. Foi ela que no breve momento em que esteve comigo me ensinou de fato o que era pensar, o que era ver. E quando você abre sua mente para o mundo, fica impossível de fechá-la uma segunda vez. No momento em que te arrancam da zona de conforto, ela se torna pouco para que você queira retornar. Você passar a querer deixar sua marca. Você passa a querer deixar algo além do esquecimento.
Sim, foi ela que me mostrou o poder dos legados.
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No rádio tocava The Smiths.

A janela do carro aberta, o sol da tarde batendo por entre as árvores sendo filtrado por entre o caminho verde que ladeava ambos os lados da estrada. Ela estava do meu lado no banco de trás, o vento bagunçando seu cabelos, jogando no rosto, enquanto cantava "Please, Please, Please, Let Me Get What I Want". Eu estava espremido entre ela e Neji, que apenas olhava pela janela com um sorriso leve, a ouvindo pensativo, de vez em quando falando apenas para instruir o caminho. Sasuke dirigia, um braço na direção, o outro segurando a mão de Sakura que estava a seu lado no banco da frente, o cabelo rosa voando com a brisa enquanto assobiava por cima da música.
Logo atrás estava a caminhonete preta de Shikamaru com Sai, Lee, Chouji e Ino, além de Kiba e Akamaru na traseira. De vez em quando eles emparelhavam com a gente para perguntar algo ou apenas fazer graça, e eu podia ver o cachorro grande com a língua do lado de fora, parecendo totalmente feliz ali.
Era um daqueles momentos. Um daqueles vários que eu vinha tendo desde que aquilo tudo começara. E então começou a tocar "Sheila Take A Bow".
Sorri feito bobo e encontrei o olhar de Sasuke pelo retrovisor em mim com um sorriso de canto, pequeno. Ele apertou a mão de Sakura e ela virou o rosto e olhou para mim, sorrindo largo.
Aquela era a nossa música. A música que soava alto no galpão do meu avô enquanto a gente corria por entre os aviões antigos, se escondendo. Eram os melhores momentos da minha infância, os nossos melhores. Me lembrava da minha mãe e a mãe de Sasuke aparecendo no fim da tarde, o sol tocando o campo largo que ficava atrás, perto da pista de pouso, minha mãe no nosso Ford desbotado com uma calça jeans velha e uma blusa xadrez, os cabelos vermelhos soltos e a tia Mikoto sempre com um sorriso pequeno no banco ao lado, trazendo suco e bolo. As vezes Itachi vinha também e se tornava arbitro das brigas minhas e do teme, impedindo que Sakura nos matasse por encher muito ela.

E ali, com aquela música, me veio tudo isso.

Sasuke olhou um pouco melancólico para fora cantarolando baixo e Sakura afagou seu braço. Ele devia estar lembrando daquilo também, e da mãe quando viva. Ele estava quase sempre nos calcanhares dela ou de Itachi quando não estava com a gente.
– Pegue sua direita na próxima. - Neji falou de repente ao que Sasuke assentiu com um suspiro.
– Hana amava esse cheiro. - Hinata falou fechando os olhos, seus cabelos voavam em seu rosto quando a olhei, o sol batendo de leve na pele branca, a deixando luminosa. Fiquei hipnotizado sentindo meu coração acelerar, a mão dela tocou a minha no banco.
– Ela sempre foi estranha. - Neji falou atrás de mim com um resmungo, mas havia um tom carinhoso em sua voz. - Pegava o carro no meio da noite para vir pra cá.
– Hana? - Sakura perguntou e sai do transe balançando a cabeça.
– Hanabi, nossa irmã. Ela estuda música em Jiulliard há dois anos. - Hinata respondeu. - Começamos a vir aqui por causa dela. - Sasuke virou na estrada e avistamos uma casa no topo de uma colina, era em estilo antigo e inglês, grande com uma varanda larga pintada de branco e com um lindo jardim na frente e mais dos eucaliptos que provinham aquele cheiro bom a margeando.
– É aqui. -Neji avisou. - Pare o carro no sopé e caminhamos lá para cima. - Ela apontou para o caminho ladeado com um gramado verde e com cercados brancos o demarcando, com pedras que pareciam ser de rio formando a escadaria rustica até em cima. Paramos logo sendo seguidos pelo outro carro. Neji desceu e se postou na porta de Hinata, a auxiliando enquanto eu a seguia a seu lado. Sasuke desceu e estava com a mão ainda grudada na de Sakura.
No sopé havia uma placa branca escrita "Fundação Kazuna."
– O que tem exatamente aqui? - perguntei curioso, ainda segurando a mão de Hinata que não parecia se importar.
Ela me instigou a andar a seu lado, na frente subindo as escadas, puxando uma bengala que até então não havia a visto usar. A minhas costas vinha Neji, seguidos por Sakura e Sasuke, e logo os demais.
– Havia um escritor. Mas do que isso, ele era um artista completo, e um homem excêntrico, segundo falam. Nossa mãe era fã dele. Ele morreu aos 60 anos de um problema cardíaco, mas deixou um legado enorme. Não só por seus livros, mas ele tinha uma mania peculiar de usar outros nomes, assumir novas identidades e sumir no mundo, fazendo novos amigos. Ele os tinha, muitos, e de verdade, já que não eram pela sua fama, mas por quem ele era. Ele buscava assim, descobrir sobre as pessoas, conhecê-las, dizia que era a melhor forma de conhecer a si mesmo. Ele era ávido por saber as histórias delas, suas vidas. Ele dizia que era a forma de livrá-las do esquecimento, que aquilo era um ultraje, tantas histórias maravilhosas se perderem. Muitos o tachavam de louco, mas isso pouco o afetava. Hiroku Kazuna foi um de seus nomes, e ele viveu alguns anos em Konoha, nessa casa. Quando ele morreu, ele a deixou para ser um lar para pessoas idosas. Muitas deles, que moram aqui, o conheceram, estiveram em seu ciclo de amigos. Se você perguntar para alguns quem são, muitos não lembram, mas se perguntarem quem foi Kazuna, terá relatos incríveis. Ele marcou a vida de todos. Deixou sua obra aqui. E onde passou.
– Nunca ouvi falar dele. - admiti.
– Ele foi uma lenda. - Neji resmungou atrás. - Você não tem cultura.
– Neji! - Hinata repreendeu. - Nomes diferentes, talvez você tenha lido coisas dele, mas não saiba seu nome.
– Então ele deixou um legado, mas não o assumiu? - perguntei confuso tentando entender a história. - Pois, se não sabem quem ele é de fato, o nome dele...
– Um nome é só um nome. - Ela falou suavemente. - Se você se chamasse Sharon, Misui, não importa. Você seria você, e você mostraria as pessoas quem você é. Seus amigos saberiam seu sorriso, e suas palavras seriam suas. Ele escrevia sobre a vida dessas pessoas, de pessoas que todos ignoravam. Ele viajava o mundo, fazendo amigos, e gravando suas histórias, porque achava que eram geniais demais para serem esquecidas. Mas, assim, ele gravou a própria história nelas, e não foi esquecido. Talvez não saibam seu nome, mas eles lembram seus feitos. Eles tem seu legado. Ele nunca vai morrer de fato. Ele deixou sua marca, e isso é fascinante.
Nós havíamos chegados no topo e nos vimos de frente a uma casa enorme de madeira, com a varanda pintada de branco. Havia um cheiro bom, de chá, café e flores por todo o lugar, e na varanda de frente a uma mesa um grupo de idosos jogava cartas, duas senhoras estavam sentadas em cadeiras de balanço conversando e havia som de violinos de dentro da casa.
– Encontramos esse lugar durante um passeio para acampar. - Hinata continuou enquanto eu guiava ela para lá. - Na verdade, Hana encontrou. Ela se perdeu da gente.
– Tipico. - Kiba falou e alguns concordaram rindo.
– É verdade. - Hinata falou rindo. - Hanabi sempre foi meio aérea. Ela se perdeu da gente, e depois voltou falando desse lugar, nosso pai quase arranca a cabeça dela por ter nos preocupado enquanto passava a tarde comendo chá com bolo e conversando com senhores simpáticos. Mas mamãe ficou fascinada e voltou aqui com ela e comigo. Se tornou uma coisa especial.
– Depois elas me obrigaram a vir também. - Neji falou com enfado.
– Você adora que eu sei. - Hinata provocou e ele bufou.
– E todos vocês vem sempre? - Sakura perguntou fascinada.
– Um de nós sempre vem. - Ino falou tomando a frente quando um garoto ruivo saiu de dentro da casa de braços dados com uma senhora vestida em roupas de festa e conversando algo a ele com um sorriso coquete. - Gaara!
O ruivo ergueu a cabeça e sorriu brevemente, os olhos muito verdes passeando por nós e se fixando em mim, de forma curiosa.
A Senhora me olhou também sorrindo. Ela tinha olhos negros e os cabelos tingidos de vermelho. Parecia ter sido linda quando jovem e tinha aquela pose nobre no corpo magro. Estava maquiada e carregava uma pequena bolsa prateada.
– Vocês estão aqui para a festa? - ela perguntou docemente diretamente para mim, e antes que eu pudesse responder o ruivo falou com a voz rouca.
– Sim Emi, eles vieram prestigiar o seu baile.
O olhar confuso da mulher se iluminou.
– Você está linda Emi. - Ino falou ao lado da mulher lhe beijando o rosto e sendo recebida com carinho.
Hinata me incentivou a andar enquanto eu tentava entender toda a situação. Os outros já haviam passado minha frente e entravam na casa, já se ouvia algumas risadas enquanto Kiba sentava na mesa para jogar cartas, Shikamaru sentava na cadeira de balanço perto das senhoras e voltava a dormir, ou algo assim. Alcancei a varanda sempre sob o olhar da senhora com roupas de festas e ela me sorria.
– Que bom que veio Liam. - Ela me falou e olhei confuso. Ainda assim a beijei no rosto quando ela fez o gesto. - Demorou muito.
– Desculpe, eu...
– Venha Emi, não terminou de se arrumar ainda. -Ino falou. - Depois vocês conversam.
A mulher assentiu de forma elegante e seguiu com os dois adolescentes me deixando confuso para trás.
– O ruivo é Gaara, a mulher é avó dele, mas ela não lembra disso. Ela não lembra dos filhos, apenas do marido, pensa que ainda tem 18 anos quando o conheceu. Ela vivia na Inglaterra na época. A família de Gaara voltou para lá, mas ele ficou morando em Konoha com os irmãos, e passa muito tempo aqui com ela.
– Liam é...
– Era. Era o marido dela. Morreu há muitos anos. Mas, pelo o que Gaara nos contou, ele tinha olhos azuis e cabelos loiros.
– Entendo.
– Venha Naruto .- Hinata falou solene, me encarando com aqueles olhos opacos e carinhosos. - Vou te mostrar como eu viajo pelo mundo sem um avião.
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Foi uma melhores tardes da minha vida.

Eu pude entender o que Hinata falou sobre aprender com a história de outros. A maioria das pessoas que moravam ali tinham uma veia artística e nenhuma família viva, ou, como Emi, a possuíam, mas eles não queriam ser responsáveis.

Haviam antigos músicos, escritores, e alguns que lutaram na segunda guerra. Muitos não lembravam em que ano estavam, mas lembravam de todos os outros fatos do passado, e era atrás disso que Hinata e os outros iam. História. Como se refazendo e continuando o trabalho do estranho escritor, eles ouviam, gravavam e copilavam tudo.

E tudo era fascinante, todas as histórias, coisas que nunca imaginei serem possíveis. Apenas naquela tarde eu conheci a velha Inglaterra com Emi que ainda achava que eu era seu Liam, e fiquei honrado em ser por aquela tarde. Conheci o antigo Japão, a Irlanda e a Segunda Guerra Mundial pela visão de um antigo piloto japonês.
Eram legados. Aquelas histórias. Muitos não tinham parentes, e provavelmente morreriam sem deixar uma marca, uma lembrança, mas aqueles malucos estavam mudando isso. Pois alguém leria suas histórias. Eles estavam os livrando do total esquecimento.
– Hanabi começou isso. - Hinata falou a meu lado, sentada no piano tocando uma música que eu não conhecia, parecia ser tradicional do Japão. - Quando eu era mais nova, eu vivia doente e raramente saia de casa, eu não conhecia muitas coisas, a não ser pelos livros. Então nós encontramos esse lugar, e na tarde que passei por aqui eu conheci o mundo, realizei o sonho que nunca poderia realizar de fato. Quando mamãe morreu, eu não vinha mais aqui. Então ela voltava, ouvia as histórias, gravava e levava para mim quando eu não podia sair de casa. Depois Neji vinha também, e logo nossos amigos, por mim, e depois por eles até que fiquei melhor.
– É incrível. - falei olhando seus dedos rápidos no teclado.
– Sim, é. Ela sempre fazia tudo que eu não podia. Era como se estivesse vivendo a vida que eu não podia por mim, por nós duas. Como ir para Jiulliard, por exemplo. - Ela falava de um modo doce da irmã. E eu me peguei fazendo uma imagem mental de como ela seria.
– Essas pessoas aqui. - Ela continuou. - Elas por vezes representam o ciclo normal da vida. Sobre como as pessoas nascem, vivem e morrem. Mas é mais fundo que isso, é sobre o que acontece no processo. O que elas fazem entre esses estágios. O que você faz durante tudo isso, quantas pessoas toca. Aceitar que viver é um processo de mudança. E que tudo flui, todos morrem, e no fim, tudo o que importa é o que você deixou.
– Minha mãe me falou uma vez. - falei timidamente. - Que somos personagens entre épocas. Que sempre vamos ceder nossos papéis depois de cumprir o que viemos fazer. Cumprir a tarefa de esquecer, ser esquecido.
– Ou lembrar e ser lembrados. - Hinata falou suavemente.
– O loirinho dos fogos.
A voz chamou minha atenção e virei o rosto, Hinata parou de tocar virando também em direção a voz. Vi o cara do cais da noite do festival atrás de mim, de pé entre as poltronas da sala de música me olhando de um jeito divertido. Sorri também, surpreso e ele veio andando até nós. Podendo o ver melhor agora, ele devia ter seus trinta anos, cabelos pretos e um sorriso estranho. Usava roupas escuras com uma jaqueta negra, seus olhos virando de mim para Hinata e depois para mim ao bagunçar meus cabelos. Empurrei sua mão.

Cara estranho.
– Vejo que está bem melhor loirinho. O que faz por aqui?
– O mesmo que você, eu acho. - respondi. Hinata continuava calada a meu lado.
– Estou visitando meu velho. É um cara rabugento que só fala da segunda Guerra mundial.
O olhei em dúvida.
– Madara-San. - Hinata falou a meu lado.
– Isso aí. - Ele a olhou de forma analítica. - E você deve ser uma Hyuuga. Lembro de vocês.
– Não conheço sua voz. - Hinata falou de forma curiosa.
– Faz muito tempo. Voltei a cidade apenas há alguns dias. - Ele se recostou no piano e puxou um cigarro o acendendo.
– Ei cara, não fuma aqui dentro.- reclamei tossindo e ele riu me encarando de cima e soltando a fumaça no ar.
Ele riu de mim.
– Então ficou pela cidade. Você me deve uma história, Uzumaki. - Abri a boca para protestar e me interrompeu. - Não aceito um não. Eu te contei sobre minha vida triste.
Aquele cara era muito estranho, muito mesmo. Eu não sabia o que falar.
– Dobe, está na hora.
Viramos e vi Sasuke no umbral da porta. Ele encarou as pessoas na sala, os olhos caindo no estranho.

Obito soltou o cigarro no chão pisando em cima e sorriu para mim.
– Nos vemos na cidade loirinho, vou cobrar.
– Mas eu não prom -
– Até mais Hyuuga.
Ele se despediu trocando um olhar estranho com Sasuke ao passar, que o seguiu com o canto dos olhos pelo corredor até entrar na sala.
– Sujeitinho estranho. - Sasuke resmungou.
Eu não tinha como discordar.
Hinata apenas continuou calada.
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Nós desviamos o caminho, mudando a direção e fomos para a costa. Na Austrália, eu sempre ia para as praias. Eu gostava do calor, eu amava o calor, o sol. Mas eu nunca as ia no Japão, desde que era criança. Foi bom sentir o areia nos pés descalços, o sol de fim de tarde, e até mesmo o frio. Foi bom ter meus amigos a meu lado. E ter Hinata me narrando como via o mar enquanto eu ouvia de olhos fechados, deitado na areia a seu lado, ouvindo o som das gaivotas e das ondas.
Ouvi o som de latidos e o grito de Sasuke xingando, e depois areia voou para cima da gente enquanto eu soltei palavrões abrindo os olhos e vendo Sasuke correndo atrás de Akamaru com um pedaço de madeira nas mãos irritado, enquanto o cão parecia estar carregando seu sapato, e Kiba vinha atrás dos dois gritando.

Loucos.
– Você não me falou sobre sua lista, o que tinha nela. - Hinata disse a meu lado voltando a deitar.
– Ah. - cocei a cabeça, envergonhado e ainda sentado olhando para o rosto suave dela, os cabelos espalhados pela areia, e novamente meu coração disparando de um jeito estranho. Fiquei assim como um bobo até perceber que ela esperava uma resposta. - Hum... são coisas meio bobas.
– Estou ouvindo. - Ela comentou se virando para mim,como se pudesse me ver. Suspirei e voltei a deitar.
– Hum, eu queria ver o festival Takayama Matsuri. Eu sempre quis ver lá, mas sempre adiava. E queria ver as Sakuras desabrochando de cima de um avião em Okazaki- Comecei.
– Sakuras são lindas. Sabe Naruto... - ela falou de forma suave. - Eu pude enxergar por uma semana uma vez, digo, enxergar como os outros enxergam.
– Como assim? - perguntei confuso. Ela havia me dito que seu problema havia vindo de nascimento.
– Hanabi. A gente tinha 16 anos. Ela me doou sua córnea direita. Eles falaram, os médicos, que podia não dar certo, mesmo assim ela arriscou sabe. Ela tomou toda a responsabilidade, brigou com meu pai.
– Então, você poder enxergar se...
– Não deu certo, você pode ver. - Ela falou ainda suavemente. - Por uma semana só, então tudo voltou a ficar escuro. Ela sabia que podia acontecer, mas ela queria mais do que eu que eu visse o festival das Sakuras.
– O que aconteceu?
– Meu problema é complicado, nenhum médico sabe exatamente o que me impede de ver, o que eu tenho. É como se meu sistema atacasse meus olhos, por isso eu fiquei assim de novo. Mas foi uma semana incrível.
Eu ouvi ainda surpreso. Os minutos se passaram enquanto a gente ficava em silêncio. Até que a ideia se fixou em minha mente. Ela se assustou quando toquei seu rosto, mas logo sorriu.
– Ei, eu posso te dar.
– O que? - ela perguntou curiosa, segurando minha mão em seu rosto.
– Meus olhos. Eu posso te dar. Eles estão bem, o problema não são eles. Eu posso dá-los a você.
Ela abriu bem os olhos opacos, surpresa. E então sorriu.
– Qual a cor deles? - perguntou divertida.
– Azuis-violeta. Tipo Elizabeth Taylor. São lindos. - Ri também, mas então fiquei sério. - Estou falando sério Hinata.
– Eu sei. - Ela se sentou em silêncio, de frente para mim, como se me visse, me enxergasse. Os olhos opacos nos meus, me prendendo. - Não vai funcionar mais Naruto, mesmo que fizesse isso, não funcionaria. Mesmo assim, obrigada. - Ela falou com fervor, escorregando as mãos por meus rosto e o prendendo. - Obrigada. De verdade.
– Por que não funcionaria? - sussurrei e ela me sorriu de forma doce. Eu segurava suas mãos em meu rosto.
Hinata não respondeu, apenas suspirou.
– Eu posso dá-los. - repeti. - São seus.
– Eu sei que você faria isso. - ela concordou.
E eu faria. Eu realmente faria.
– Eu queria que você visse meu mundo, como você está me mostrando o seu. - sussurrei ainda, sem me conter.
– Isso é fácil, apenas me conte Naruto. Me fale sobre ele. - Ela pediu e então largou meu rosto e se deitou em meu colo, como se não fosse nada. Nada meu coração disparando daquela forma absurda, meus olhos muito abertos seguindo seu rosto, minha mãos indo de forma automática para os cabelos lisos sujos de areia. Ela apenas estava deitada ali, a cabeça em minhas pernas, e eu tendo uma sensação estranha de que apesar de toda a bagunça na minha vida tudo daria certo. Nem mesmo a sensação de que os outros nos olhavam, nada importava. Eu estava bem.
– O que quer saber? - perguntei hesitante, ainda tentando entender o que sentia.
– O que quiser que eu veja.
– Bem...Eu queria que você visse o céu de dentro do avião. Como é a sensação de entrar dentro de uma nuvem. É como se o mundo se tornasse branco de repente, tudo branco, e é assustador, mas incrível. Você não sabe que direção seguir. Você tem por segundos a sensação de que nunca vai sair de lá... Eu vou sentir falta disso. - Suspirei.
– Sempre que sentir, lembre da sensação, e então você estará no céu, dentro de uma nuvem. - Ela disse baixo. - As vezes quando me concentro, eu lembro da cor das Sakuras, eu lembro delas margeando o caminho. E assim eu não sinto melancolia, eu me sinto feliz porque pude vê-las, assim como você se sentira por ter visto e sentido o que sentiu. Assim, você vai enxergar com o coração e me mostrar também. Assim como todas as pessoas que você conheceu hoje fazem, elas enxergam o que viveram, e eu enxergo através delas. Assim eu sei como é um lustre, como é escalar uma montanha. E agora, como é estar dentro de uma nuvem.
– São pensamentos apenas. - Argui.
– Pensamentos sim, e são pensamentos que denotam a existência. "Cogito ergo sun". Como um ser que 'não pensa' poderia acreditar em sua existência? Assim como se você não me contasse como era estar dentro de uma nuvem, você morreria com essa sensação para você. Agora eu sei, posso contar para outra pessoa que vai saber também. Que vai imaginar e pensar como é estar dentro de uma nuvem. Vai fechar os olhos e ver o imensidão branca. E esse vai ser mais um legado. Por isso acho que os artistas são imortais. Eles compartilham sua existência, partem suas almas e dividem, e nunca morrem. Se você deixa um legado, você não morre.
– Você é incrível. - falei baixo ainda olhando para ela. Hinata apenas riu.
– Conte-me mais Naruto. Me fale mais. - Ela pediu. - Fale-me sobre a Austrália.
Comecei a contar, o tempo passando, e cada vez que me via contando a ela, me via mergulhando em cenas que eu já havia esquecido. Sobre a cor lilás dos jacarandás em Brisbane. Sobre a cor do céu durante uma tempestade de verão. Sobre a cor verde das águas de Noosa, e azulada de Byron Bay. Sobre os Recifes, a barreira mais famosa do mundo, e como era pular de pára-quedas, em que segundos você parecia voar. Ela sempre pedia detalhes, os puxava, e eu vivia tudo de novo.
– Você os deu para mim. Obrigada. - Ela falou ao cabo de instantes em que eu terminava de falar. O sol já havia descido no horizonte, e os meninos estavam organizando as coisas para irem embora enquanto nos erguíamos, limpando a areia dos corpos.
– O què?
– Você me deu seus olhos essa tarde Naruto. - Ela falou com a mesma voz suave. - Como queria me dar.
O conhecimento do fato me fez sorrir.
– Eu poderia dá-los fisicamente. A oferta está válida.
– Vou lembrar. - Ela brincou me dando a mão. A apertei. Eu daria meus olhos, eu daria tudo. Assim como ela tinha meu coração.
E mais esse conhecimento me fez sorrir.
Porque eu sabia agora o porquê do coração disparado. Hinata havia me ensinado sobre legados aquela tarde, sobre "cogito ergo sun". Eu havia lhe contado sobre Austrália, sobre nuvens.
E agora eu sabia, simplesmente sabia, que estava apaixonado por ela.

Ela tinha meu coração.

O que eu não sabia, na época, é que meu coração nunca mais ficaria inteiro novamente após ela.

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