Capítulo 1
Epígrafe
"Os perversos serão destruídos pelos próprios pecados, mas os justos, até na morte encontrão refúgio"
Provérbios 14:32
Capítulo 1
...
"Próton?..."
...
Nenhum desconforto impedia o garoto de continuar como uma âncora do próprio sono. Boca e olhos meio abertos não eram referências maiores do que o ronco, mesmo que não muito alto.
"Pode me ouvir?"
Não necessariamente acordado, ele sorriu.
"Próton, responda...! Como é possível que você ainda esteja dormindo?!"
— Uma voz relaxante não deveria ficar assim de uma hora pra outra.
Próton percebeu devagar que a voz dentro de seu ouvido não era parte de um sonho. Depois de abrir os olhos, considerou fazer parte de um pesadelo.
Era uma perspectiva de muita informação, até para alguém bem desperto: luminosidades vermelhas numa escuridão de pequenos seres em movimento, vistas de cabeça para baixo.
A perna direita de Próton estava presa a uma corrente, soldada ao teto de uma caverna. O metal rangeu ao oscilar do início de desespero. Mesmo parado, Próton transpirava tanto pelo nervosismo quanto pelo calor.
"Próton, acorda!"
Se não fosse pelo contato, talvez Próton nem percebesse que estava com um fone de um rádio. Nada familiarizado com o aparelho, ele buscou pelo botão de comunicação. E, como se lesse pensamentos, a voz o avisou:
"O PTT fica atrás da sua orelha."
Próton acionou o botão.
— Como vim parar aqui?! Que lugar é esse? E o que são essas baratas-vagalumes do tamanho de pão francês? Aliás, quem é você?!
"Me chame de Dandelion. Não temos tempo pra grandes explicações agora. Você tem que sair daí logo, senão essas coisas vão te devorar vivo. Vou te guiar, mas não vou poder te resgatar."
— Espero que suas palavras ajudem mais do que confortam...
Sem qualquer sinal prévio, a corrente cedeu um pouco. Sensação de queda livre numa desprezível fração de segundo. Um susto para Próton gritar e comprimir as pálpebras, antes de notar que ainda estava pendurado. Ao espiar por um dos olhos, se sentiu o maior alvo de lasers do mundo.
"Essas criaturas são atraídas por sons altos e súbitos. O laser vermelho na cabeça é uma espécie de visão rastreadora: uma vez que elas te identificam, podem te achar em qualquer lugar. Então, não faça barulho."
— É meio tarde pra isso, Dandelion.
Nos três segundos que Dandelion levou para dizer alguma coisa, Próton teve certeza de que ele tinha praguejado.
Depois que sua mão encontrou uma empunhadura, o que explicava o sobrepeso nas costas, Próton puxou e admirou o enorme machado negro.
— Eita preula...
"A saída deve ser um túnel estreito. Você consegue ver?"
A passagem ficava na parede, a pouco mais de dois metros do chão. Fácil de localizar.
— Sim.
"Você tem que chegar lá sem deixar que essas criaturas te alcancem."
— É muito fácil falar, sabia?!
A corrente cedeu um pouco mais, como um dispositivo de tortura. Ao mesmo tempo, as pequenas predadoras começaram a se amontoar. Subiam umas às outras para alcançar a presa mais rápido.
"Presta atenção. Sempre tem um jeito, ainda que não pareça."
Aquelas palavras foram mais bem processadas do que Dandelion poderia esperar. A autoconfiança de Próton não costumava o beneficiar acima de otimismo. Naquele momento, isso era somente mais uma particularidade.
"Você deve estar armado."
— Estou.
"Então, só sai daí. Você consegue."
Impulsionando o corpo para cima, através de habilidade não autoavaliada, Próton agarrou e escalou a corrente que o prendia. Então, golpeou um dos brutos elos. Tarefa cansativa. Seu braço tremia por conta do peso do machado.
— Sei que isso não tem lógica... — disse Próton para si mesmo, ignorando as faíscas que os ataques produziam —, mas, com essa ambientação conspirando contra minha sanidade, vou fazer o que eu quiser!
O mais intenso golpe acendeu o machado em energia azulada e transformou o elo em carvão, antes de rompê-lo. Próton prestou mais atenção em sua queda do que naqueles detalhes absurdos. Afinal, ele tinha meio segundo para realizar outro ato absurdo.
Quanto tempo um instante pode durar na cabeça de alguém?
Um gato é capaz de cair de pé, de determinada altura. Próton pensou nisso ao subir pela corrente. O mesmo pensamento se reforçou durante a queda.
O machado reacendeu com mais vigor, afastando as criaturas com a força emergente. Quando a lâmina tocou o chão, formou uma rachadura, levantou poeira e aglomerou as oponentes num círculo três metros distante do alvo. Cobertas por faíscas elétricas, a maioria delas teve os lasers inativados.
Assim, Próton chegou à conclusão de que até uma metade de segundo às vezes pode durar bastante.
Sem perder tempo, Próton se ergueu da aterrissagem estranhamente perfeita e devolveu o machado à bainha nas costas, repleta de tecnologia que ele nem fazia questão de tentar entender.
Restou alcançar o amplo buraco que se encontrava na parede natural. Alguns dos insetos mutantes tornaram a se mover quando Próton chegou à saída.
— E agora?
"Você conseguiu?"
— Sim.
"Ótimo. Siga em frente. Você vai encontrar uma granada no caminho. Você deve explodir a passagem no ponto mais estreito do túnel, pra não ter que se preocupar com companhias indesejadas."
Enquanto Dandelion falava, um objeto atraiu a atenção de Próton. Lá estava a tal granada.
— Mais alguma coisa?
"Sim. Estamos próximos. A gente vai se encontrar logo. Mas antes você deve encontrar outros dois caras. Não brigue com eles e não os incentive a brigarem com você."
— Não sou de brigar...
"Tenta não demorar muito. Me avisa se vir alguma coisa irregular."
Com o indício de pausa na comunicação e uma olhadela no local onde estava, Próton não segurou um resmungo.
— Não sei o que esse cara entende por coisa irregular.
Encontrar o local para bloquear a passagem não foi difícil. O objetivo era causar um pequeno desabamento, não ser soterrado. Portanto, Próton considerou dignos os minutos gastos para ter certeza.
O estrondo da explosão, entretanto, levantou o receio de ter calculado mal. Próton correu para fora do túnel e esperou, sem abrir os olhos, até o barulho parar.
À frente, um ambiente mais espaçoso se apresentou. Próton respirou fundo ao adentrar. O som de uma lâmina afiada sendo desembainhada logo o parou. A ponta se sustentou rente à nuca, enquanto o portador o ameaçava sob sua voz familiar.
— Não se mexa.
🔥😈🔥
Olá, leitor(a)! Faz um tempão desde a última vez que posto algo no Wattpad... Que saudade! 🤗💕
Quem ousa ameaçar minha Bela Adormecida?
Sem um prólogo, muita coisa precisa (urgentemente) ser explicada, mas tenham calma.
Enquanto isso, vote e comente a vontade no pouco que temos até então. 😁⭐
Muito obrigada mesmo por sua leitura. ❤
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