Enzo deixa D-DOG livre, pelo calçadão.

O cachorro sai correndo, curtindo a liberdade. Enzo está com um saco plástico na mão direita para os dejetos orgânicos e na mão esquerda a coleira, com uma vasilha tendo trezentos e cinquenta mililitros de detergente líquido, para as urinadas do pequeno.

A noite está agradável, com seus vinte e sete graus.

Enzo, está usando uma bermuda branca, com uma faixa vertical em cada lado laranja, e que desce atá a altura do joelho por baixo de uma camisa Dri-Fit preta que absorve o suor, de marca Nike, e nos pés uma sandália Crocs, também branca.

A lua está cheia.

Ele, para e começa a admirar a lua. O cãozinho está há uns três metros dele. Porém, D-DOG, sai correndo sentido à praia, pela areia.

Enzo, com receio dele se perder ou levar um revés de um cachorro de médio ou grande porte, sai correndo atrás dele, e o segue até ele parar perto de um outro cão, mas, da raça Cocker Spaniel inglês.

— Boa noite! Desculpas já estou o pegando. — Explica-se para a moça com feição oriental.

— Sem problemas, — Fala a moça sentada na areia, agora olhando para Enzo que está em pé ao seu lado e continua: — Mas, seria bom tomar cuidado, e não deixá-lo sem a coleira.

— Verdade. —  Ele sinaliza um pedido de desculpas com o olhar. —Vamos bonitão, nada de incomodar as damas. — Enzo, se abaixa para pegar D-DOG, que está arrodeando a cadela, o pega e vai saindo.

— Qual o nome dele? — Pergunta a moça, que está usando um short de Cotton preto e uma camisa rosa, bem clarinha, também Nike.

— D-DOG.

Ela olha para Enzo, e sorri.

Ele olha para seu cachorro e diz:

— Bonitão, — Suspende o cachorro até ficar frente seu rosto. — Você viu o sorriso lindo que recebemos? Agradeça a gentileza.

D-DOG late para a moça, se treme na mão de Enzo e funga o focinho.

A moça ri, agora, acanhada pelo elogio de Enzo.

— Qual o nome dela? — Enzo, se abaixa para alisar a cadela com a mão direita. A Cocker retribui o carinho.

— Nika.

— Nika? — Enzo pergunta surpreso. — Cacete, que nome lindo. Como você chegou nesse nome?

— Ah, não sei. Olhei para ela e veio um insight com esse nome.

— Meus parabéns pelo seu insight.

— E como você chegou no nome do seu amigão?

— Boa pergunta... Achei ele com uma cara cretina, que me transmitia: "Me leva com você!", então aqui estamos. A próposito, Eu sou Enzo e qual seu nome?

— Daniela. Muito prazer.— Responde a moça.

Enzo, aperta a mão de Daniela e os dois se beijam no rosto.

— O prazer é todo meu, — Fala ele e volta-se para a Cocker Spaniel, estende sua mão para Nika, que dá a patinha para ele.

Ele sorri um pouco mais alto e diz:

— Daniela, ela é linda!

— Obrigado, mas ela está muito assanhada... Deu a pata para você.

— Não diga isso! Ela é educada, bem criada e amorosa. — Enzo dá uma piscadela para Daniela. — E recentemente eu li, que o animal de estimação, reflete seu dono, logo, parabéns a você.

— Escutou Nika? Você foi super elogiada! — Ela faz um carinho no focinho do animal.

— Namorando a lua?— Pergunta Enzo.

— Sim e não.

Enzo franze o cenho.

— Como poderia ser sim e não?

— Sua cara foi ótima. — Daniela puxa Nika mais para perto do seu corpo. — Eu cheguei aqui na areia, para pensar sobre a vida, mas, olhei para a lua e não consegui mais deixar de olhá-la.

— É, lembrei de um poema de Vinicius de Moraes. —Fala Enzo olhando junto com ela para a lua.

— Qual? — Ela, pergunta mais desconfiada se Enzo de fato sabia de uma poema, do que, propiamente, por curiosidade.

— "São demais os perigos desta vida. Para quem tem paixão, — Enzo vai falando e olhando para Daniela. — Principalmente, quando uma lua surge de repente. E se deixa no céu, como esquecida. E se ao luar que atua desvairado. Vem se unir uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado, Porque deve andar perto uma mulher. Deve andar perto uma mulher que é feita de música, luar e sentimento. E que a vida não quer, de tão perfeita. Uma mulher que é como a própria Lua: Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.

Daniela errou, havia pensado que só haveria beleza na aparência do rapaz... E não caberia ali dentro dele um pouco de cultura e se fascina por ele gostar também do Vinicius.

— Você, andou decorando Vinicius de Moraes para fisgar garotas desavisadas?

Enzo gargalha e diz:

— Pütz! Fui descoberto! Agora estou sem jeito!

Daniela sorri com a forma cínica, e deliciosa que ele fala.

— Seu bonachão. — Ela faz um meio sorriso com a boca.

— Minha mãe adora Vinicius de Moraes. Cresci escutando suas músicas. — Enzo senta ao lado dela. — Aos dez anos fiz minha primeira letra para uma musica, sonhava que um dia, faria o maior sucesso, e que tocaria em todas as rádios.

— Um homem "cult"...

— Notei um leve tom sarcástico?

Daniela para seu olhar no dele... Nunca pensou que iria sorrir um pouco naquela noite.

— Quando a luz dos olhos meus, e a luz dos olhos teus resolvem se encontrar. Ai que bom que isso é meu Deus. Que frio que me dá o encontro desse olhar. Mas se a luz dos olhos teus. Resiste aos olhos meus só p'ra me provocar. Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar. Meu amor, juro por Deus, que a luz dos olhos meus já não pode esperar. Quero a luz dos olhos meus, na luz dos olhos teus sem mais lará-lará. Pela luz dos olhos teus.
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

— Vinícius de Moraes. — Daniela fala o nome do poeta, como quem faz uma prece.

— Daniela, eu tenho uma reunião agora a noite, e quando chegar em casa vou fazer uma massagem relaxante em D-DOG, como uma forma de agradecê-lo por ter corrido na direção de Nika, por que se ele não tivesse feito isso, não teria conhecido você.

Daniela continua calada. Gostou do que ouviu, pelo menos não houve arrodeios. Enzo continua:

— Mas, antes de ir aceitaria uma água de côco?

Enzo, levanta-se, estende a mão para Daniela, para ajudá-la a se levantar.

Ela, oferece sua mão e ele a ergue com carinho, a puxando pela mão e cintura.

— Obrigado.

— Eu que agradeço.

Os dois saem em direção à uma barraca de côco próxima dali... A do "seu Ligeirinho", ele é chamado assim, por que quando fecha a barraca, sai correndo todos os dias para casa dele, uns vinte quilometros dali.