Eu tenho a luz do sol num dia nublado.
Quando está frio lá fora, para mim é mês de maio.
Eu não preciso de dinheiro ou fama.
Tenho todas as riquezas que um homem possa exigir.
Eu acho que você perguntaria o que me faz sentir desse jeito?
(Minha garota) (Minha garota)

                                 - My girl -

                      'The Temptations'

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Já é noite. O belo carro grande de cor branca, parece não ter pressa de chegar, como se passeasse por uma das avenidas mais movimentadas da Cidade. Dentro do carro, Anthony observa as fachadas dos vários comércios bem iluminados, mas logo seus olhos mudam, focando atentos no final da rua. Logo se vê um singelo sorriso satisfeito, brotar nos lábios do rapaz, ao se aproximar na frente do bar do Eddy, finalmente.

Ele para vagarosamente, e o homem que trabalha estacionando os carros, se aproxima rápido, parando de frente a porta do carro. Anthony desce do mesmo, entregando a chaves para o homem, ainda trazendo seu olhar sério de sempre.

E sua ansiedade de ver Érika novamente atravessa seu peito, ao mesmo tempo em que entra pela enorme porta dupla, de madeira escura. Ele procura por ela, ansioso, em meio ao grande fluxo de pessoas, bem vestidas e ao som de uma música alta. E assim como ela, mesmo havia lhe tido, o lugar está cheio.

Ao levar seus olhos em direção do balcão, ele observa belos e grandes lustres de cristais, bem iluminados, com luzes amareladas, enfeitando a fileira de cadeiras de madeira escura, com estofado vinho. E logo ali, ele encontra sua garota, finalmente.

Érika está sentada bem perto de Eddy, que trabalha do outro lado do balcão, esbanjando todo o seu entusiasmo, junto aos seus funcionários. Pois ele fazia sempre questão de continuar a preparar as bebidas para seus companheiros antigos.

Anthony se dá conta de como ela está realmente linda e radiante, ele nota quando Eddy, o vê primeiro, então o veterano, se aproxima rápido da garota, a avisando que sua companhia acabara de chegar. Érika vira o pescoço logo em seguida, e um sorriso animado toma sua face ao encontrar os olhos de Anthony, a admirando, mesmo que de longe.

A garota se levanta apressada e caminha ao seu encontro, em meio as pessoas, mas aos olhos de Anthony, esse caminho se torna quase que eterno, enquanto o rapaz continua a admirar fascinado. Ele observa o deslumbrante vestido longo e preto de paetê, que cobre o corpo dela de brilhos.

Érika caminha, deixando aparecer a tatuagem sobre a pele de uma de suas coxas, através da enorme fenda, em um dos lados do vestido. Tem alças finas e um decote em v. Ficando à mostra, uma bela tatuagem em seu ombro.

Ao subir os olhos por seu busto, o rapaz nota que está enfeitado por uma linda corrente fina, com uma pequena joia na ponta. Terminando com um coque bem feito e preso no alto dos cabelos castanhos dela, deixando duas mechas soltas na frente. Uma maquiagem, finalizada com o vermelho pintado em seus lábios, bem feitos.

Érika para de frente para o rapaz, que colhe uma das mãos dela, devagar. Ele levanta até seus lábios, deixando um selar carinhoso e demorado sobre seu dorso, enquanto fecha os olhos, ao sentir seu perfume adocicado.

Ele nota apenas o mais puro perfume adocicado que tanto lembra a baunilha, e dessa vez, sem a mistura do cigarro.

- Cheguei a imaginar que você faria isso - comenta ela, referindo-se ao gesto carinhoso ao cumprimenta-la. - E aí? Fiquei gata?

- Você está, simplesmente... Magnífica! - Anthony lhe sorri, de modo gentil.

Enquanto eles ainda trocam olhares, uma de suas melodias preferidas, a antiga "My girl" começa a tocar pelo ambiente. Anthony leva seus olhos em direção ao balcão, e nota que Eddy lhe sorri. Logo se dá conta de que ele pediu para colocarem a música para os dois.

- Então... Você aceita dançar comigo? - Lhe estende a mão, esperançoso e Érika logo aceita.

Eles caminham até pista e unem seus corpos, bem juntos, numa dança lenta.

- O Eddy me traiu, eu queria que primeiro, você tocasse no piano - reclama a garota, com olhar desapontado, porém irônico.

- Eu discordo. O Eddy fez muito bem, eu acho não iria conseguir tocar, Érika, sou muito tímido para tocar qualquer coisa que seja, para um número tão grande de pessoas.

Ele passa os olhos por todo o local e seu jeito fica meio apreensivo, só de imaginar.

- Mas posso tocar o que quiser, quando chegarmos no meu apartamento. - Seu tom de voz fica mais baixo, e malicioso, enquanto aproxima os lábios bem perto do ouvido da garota.

Érika apenas lhe sorri de leve, em consentimento, já sabendo o que ele pretende fazer nas próximas horas.

- Então? Como anda a convivência com sua família, depois que mudou sua rotina, Anthony?

Aquele olhar animado de segundos atrás, vai deixando o rosto dele, aos poucos, ao notar que Érika, conseguiu mudar os rumos da conversa, totalmente. Logo ele respira fundo, ficando sério e pensativo.

- Depois da terapia. Eu... descobri que não precisava me vingar de meu pai, o afligindo de alguma forma. - Seu olhar se torna distante. - Eu estava lutando contra a correnteza, dando murros em ponta de facas. Descobri que tudo o que eu precisava, era... de evolução.

- Quando aceitamos evoluir, tudo fica mais fácil, Anthony. Foi assim comigo. Acho que no fim das contas, estávamos sendo egoístas. Fazendo vista grossa aos nossos problemas mal resolvidos e empurrando com a barriga, vivendo em nossa zona de conforto.

Érika sente-se profundamente orgulhosa de si mesma, ao lhe declarar as próximas palavras.

- Agora estou estudando Letras. A Lucy está trabalhando, e quase namorando um rapaz da faculdade. Minha mãe e Elza estão muito bem.

- Fico feliz que esteja tudo bem com você, sua família e com Lucy! Mesmo você nunca falando muito sobre seus desejos do passado, eu já fazia ideia de que você um dia gostaria de cursar Letras.

- Quem sabe tendo uma profissão, eu consiga me candidatar para a vaga de sua noiva para os seus pais. Me diga onde eu envio o meu currículo?

Anthony sente um belo sorriso tomar seus lábios, se divertindo com o jeito dela e agora ele sente-se mais a vontade ao seu lado, como se o prazer pela vida estivesse ficando completo agora que Érika retornou.

- Mas você não precisa mais falar com meus pais sobre compromissos comigo, pois eu já me sustento agora. E já posso tomar minhas próprias decisões - explica erguendo as sobrancelhas e jeito calmo.

- Que bom, então não vou me preocupar em ouvir eles dizerem que eu deveria estar cursando outra coisa, uma que dê mais dinheiro.

- Não, já fico feliz em te ver voltando para suas origens, tendo valores diferentes. Voltando a pegar em livros, assim como seu pai tanto sonhava.

- Eu amo cursar Letras. É o que eu faço de melhor Anthony, não posso me comparar com você que é bom em tudo o que faz. Eu sou péssima em matemática, sabia? Não sei nem qual é a raiz quadrada de... Sei lá! Cento e quarenta e quatro!... - Ela sorri, sem mostrar interesse na resposta.

- Doze... - A voz de Anthony sai baixa, mas foi o suficiente para Érika ter ouvido, já que eles estão bem próximos.

- O que disse? - Érika ergue os olhos com jeito confuso, tentando entender melhor.

- A raiz quadrada de centro e quarenta e quatro... É doze... - responde ele, olhando sem jeito, logo em seguida.

A garota o olha surpresa por uns segundos. Depois solta uma gargalhada de satisfação.

- Viu? É disso que eu tô falando! - Os dois riem, enquanto ela ainda fala. - Você é nerd. E eu nem acredito que me apaixonei por um nerd! Mas não qualquer um, só o mais lindo do mundo, sabia? E eu não pretendo te dividir com ninguém, ouviu? E já que eu não sou boa em divisão também, não te divido nem mesmo com a Alície.

- Ok. Posso ser todo seu se... Você quiser, já que... Acabou de se declarar pra mim já exatamente... Cinco segundos atrás. - Ele sorri de canto, e um olhar vitorioso toma seus grandes olhos.

- Seu bobo! - Érika sorri sem jeito, erguendo uma mão e empurrando de leve seu peito.

Porém o olhar do rapaz muda rápido, ficando extremamente sério. Suas íris brilham profundas, penetrando fundo no acastanhado olhar de Érika. A deixando completamente sem chão, ao mesmo tempo em que sente as batidas aceleradas no peito, enquanto eles dançam calmamente.

- Finalmente esses olhos estão somente em mim de novo, Thony. Me fazendo esquecer como se respira mais uma vez. Assim como no primeiro dia em que esbarrei neles! E depois daquele dia, era onde eu queria estar sempre. Dentro desses olhos! Não sabe como eu senti falta deles.

Ao ouvir tal declaração, Anthony apenas levanta devagar sua mão e encosta sobre o rosto dela, acarinhando-a, sem quebrar o contato visual. Érika já imagina o que esperar, no momento em que ele traz seu rosto bem próximo ao dele, cada vez mais.

O desejo incontrolável de ter aqueles lábios vermelhos e bem desenhados, nos seus, ultrapassa até mesmo sua timidez, mesmo que na frente de tantas pessoas ao seu redor. E finalmente, ele encosta seus lábios aos dela.

Anthony é breve no beijo, já que ele tem consciência de que o local está cheio e não sente-se a vontade para tal ação. Já Érika pelo contrário, não gosta muito de sentir sua boca solitária novamente. Mas entende o jeito acanhado dele.

- Dessa vez, sem cheiro de cigarro, Anthony - avisa satisfeita.

- Eu já havia percebido - declara ele. - Fico feliz em saber. O único aroma que senti desde que você se aproximou de mim, foi do seu perfume marcante de baunilha. E quanto a mim?

- Também não senti álcool algum. Se bem que eu até que gostei do leve gosto de álcool no nosso primeiro beijo, mas foi especial. Aí droga! Não quero que sinta vontade de beber só pelo que eu te falei! - Érika parece preocupada. - Não! Definitivamente não posso te levar para o mal caminho, não agora que você está indo tão bem!...

- Érika. Se acalma! - O rapaz a interrompe erguendo as mãos e segurando as dela. - Sei que você nunca faria isso. Pelo contrário, você sabia o estado em que eu estava, quando me conheceu. E mesmo com os seus tantos problemas, com esse seu jeito único, nas suas condições, você ajudou a me tirar do estado que eu estava. Veja, Érika, você conseguiu.

A garota sente seu peito mais aquecido com palavras tão lindas vindas de seu amado.

- Então quer dizer que você quer mesmo ser todo meu, como disse agora a pouco? Me diga como que um médico, vai querer a companhia de uma garota como eu, Anthony?

Anthony a observa calado por alguns segundos.

- O que eu disse, está dito, Érika - confirma se mostrando sério, dessa vez. - Quero estar ao lado desta garota que está prestes a graduar em Letras. Que mudou os rumos tortuosos de sua vida, e me deu forças para eu sair das minhas ruínas. E por fim, que cumpriu a promessa de que voltaria para me ver vencendo.

Ele respira fundo antes de lhe fazer a próxima pergunta:

- Você aceitaria vir, comigo?

- O-o que? - Érika engole em seco, não conseguindo conter as batidas tão aceleradas de seu coração.

- Quero saber se está disposta a ficar comigo, mesmo sabendo que eu pretendo viajar de tempos em tempos, para o exterior, fazendo trabalhos médicos voluntários às pessoas que precisam muito?

Érika sente uma lágrima surgir e lhe escorrer sobre a bochecha de forma rápida, não dando tempo de ela tentar segurar sua emoção, para que ninguém veja.

Então ele quer mesmo ficar comigo para sempre depois de tudo?

- Eu não posso te deixar ir para longe, Érika. Não de novo...

Mas a garota para, por um momento e pensa, lembra-se que sua mãe já havia lhe avisado que isso aconteceria. As coisas começam a ficar um pouco confusas. Ela sabe agora qual os desejos de Anthony e ele está a incluindo nisso. Ela precisa se decidir, mas no momento não vai conseguir. Mas sabe que independente de seus planos, ela vai incluir Anthony neles. Isso é fato.

Anthony a olha fixamente e estranha, ao perceber ela se calar.

- Vem, Anthony, vamos sair daqui! - A garota o puxa pela mão, apressadamente.

- Aconteceu alguma coisa? - ele se deixa ser levado por ela, meio preocupado.

- Não. Só... Preciso tomar um pouco de ar. Aqui tá muito cheio!

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- 2008 palavras -