Estou aqui para te salvar. Estou aqui para te arruinar
Sou bastante doce embora eu possa ser um pouco perigoso, certo?

Você me perdoará? Se eu estiver te arruinando, mesmo assim me perdoará, porque não posso viver sem você.

(Bts - Pied piper)

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Érika chega parando a bicicleta, encostando sua bota preta na calçada e passa os olhos no movimento em frente à janela por onde saem as entregas.

Caminha devagar empurrando a bicicleta e encosta no canto da parede, depois cumprimenta Ricardo. O dono do estabelecimento que é amigo do Eddy, há muito tempo.

- E aí, seu Ricardo? - cumprimenta, se aproximando da janela, colocando as mãos nos bolsos da jaqueta preta com capuz.

- Érika! - o homem alto e meio forte lhe responde, mais animado. - Que bom que veio hoje!

- "Tô" por aqui, qualquer coisa só chamar.

A garota se afasta caminhando até a ponta da calçada, acende um cigarro, enquanto observa o movimento e o número de pessoas que vieram trabalhar nas entregas também. Mas para a sua surpresa logo seu nome é ouvido.

- Érika! - chama Ricardo, a procurando pela janela da lanchonete.

- Droga! - ela reclama, dando um último trago apressado no cigarro novinho que acabou de acender. O joga no chão, o amassando com sua bota, sentindo dó por ter o feito - Tô indo!

Assopra a fumaça rápido para o lado, caminhando apressada em direção da janela.

- Saiu entrega pra você. - Ricardo coloca as sacolas de papel sobre o balcão fazendo a garota estranhar. Os lanches exalam um cheiro tão bom e a garota se lembra que ainda não jantou.

- Mas eu acabei de chegar. E os entregadores que chegaram primeiro? - ela aponta para o canto da rua com olhar confuso.

- Mas essa pessoa te conhece - Ricardo lhe entrega o papel com o endereço. - Ele ligou e deixou claro que não quer que ninguém mais vá entregar além de você.

Érika abre o papel e vê que a entrega é no endereço de Anthony. Ergue os olhos com jeito pensativo, depois suspira imaginando que o rapaz tenha feito o pedido no intuido de vê-la, por isso exigiu que somente ela fosse entregar.

- Ok... Eu vou - decide, pegando as sacolas junto com os refrigerantes de Cola. Então caminha até sua bicicleta, ajeita tudo com cuidado e parte em direção do condomínio.

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O vento frio de inverno até que está menos severo essa noite, mas mesmo assim, ela coloca o capuz da jaqueta sobre a cabeça. As ruas estão movimentadas e bonitas.

Após seis ou sete minutos pedalando, finalmente chega em frente ao condomínio de Anthony. Mas assim que vai se aproximando da portaria, o vê encostado à sua espera. Érika para lentamente a bicicleta perto dele, com calma.

- Chegou no horário - ele olha em seu relógio franzindo o cenho de forma dissimulada e divertida. - A entregadora merece uma bela gorjeta pela pontualidade.

Mas Érika se mostra séria, perante sua brincadeira.

- Me diga por que? - pergunta confusa. - Como sabe onde eu trabalho e por que me fez vir aqui, hoje?

- Eu perguntei para o Eddy - afirma ainda com jeito animado pegando as sacolas das mãos dela. - Além disso, pedi dois lanches enormes de frango frito e não vou poder comer tudo sozinho. E sim. Estou te convidando para jantar comigo, no meu apartamento.

- Quer que eu largue o expediente, pra jantar com você? - Se mostra confusa.

- Eu já dei um jeito nisso conversando com o dono da lanchonete. Sua noite de trabalho está paga por hoje, tudo bem?...

Pergunta olhando de lado, meio incerto em relação a resposta.

- Espero que não se importe que eu tenha feito isso para poder jantar com você, mesmo que seja um simples lanche de frango frito com refrigerante - ele levanta a sacola a olhando de forma adorável.

Érika segue perdida. Ela quer muito estar em sua companhia, isso a faz sentir bem, porém não tem certeza se isso seria realmente bom para ambos, já que suas vidas andam muito conturbadas. Fica parada o olhando apenas, tentando digerir tudo. Mas com aquele olhar adorável é praticamente impossível pensar em algo.

Ainda nem acredita que esse homem lindo, está parado em sua frente sendo tão gentil como no primeiro dia em que se conheceram. E o melhor de tudo, está querendo passar algumas horas em sua companhia. Mesmo usando aqueles óculos redondos dourados e um suéter verde escuro, horrívelmente ridículo.

- Eu não sei. - Érika passa a mão pelos cabelos castanhos, sem jeito, olhando para os lados. - A Lucy não tá falando comigo desde a confusão que você e o Jack arrumaram hoje pela manhã.

- Sei que aconteceu alguma coisa com vocês. Sei também que sou um dos culpados por vocês terem saído bravas. Mas quero me redimir, podemos conversar a respeito?

Mais um pedido inegável. Érika se dá conta que não tem mais tanto controle quando está ao lado dele, e agora pensando melhor, quer muito ficar em sua companhia:

- Tá tudo muito confuso, e pra piorar eu ainda esqueci de trazer a maquininha de cartão! - Ela esfrega a testa com jeito perdido.

- Suba enquanto eu vou ao caixa eletrônico? - Ele levanta as chaves em sua direção. - Teddy vai ficar contente em te ver.

Um belo sorriso de dentes perfeitos finalmente aparece em sua face, assim que Érika resolve pegar as chaves de sua mão, com os olhos nele.

- Ok - ela suspira mais relaxada. - Se a minha noite de trabalho está paga, pra que eu trabalhar? Ainda mais uma janta grátis! Quem sabe assim, eu te vejo sorrir mais vezes, já que isso é uma raridade, né!

Erika fala gentilmente e o sorriso satisfeito de Anthony se abre ainda mais. Coisa que ele faz muito pouco.

- Se importa de eu pegar sua bicicleta emprestada? - Anthony, pega no guidão, passando os olhos e prestando a atenção no belo modelo.

- Caso não se importe de usar uma bicicleta roubada... Por mim tudo bem! - Érika se vira com olhar divertido ao perceber a expressão dele mudando, parece assustado.

- Também roubou isso de alguém!? - ele lhe lança um olhar preocupado.

- Relaxa! Eu prometo devolver... Assim que eu souber de quem é - ela abre o portão, sem olhá-lo.

- Espera!...

- Você não vai usar? - Dessa vez, a garota não segura sua risada, pela expressão dele. - Ok. Se isso te deixa feliz, eu prometi devolver, tá? - ela tenta amenizar a situação, erguendo as mãos em rendição - , mas você também deveria se preocupar em andar por aí com esse suéter lindo!

Érika passa os olhos pelo corpo dele, colocando uma mão na cintura e erguendo uma sobrancelha.

- A pessoa que te vendeu esse suéter deve estar rindo até agora.

Enquanto ela ri e se diverte, Anthony abaixa a cabeça puxando sua blusa de lã, observando melhor. Depois suspira, mas não se importa realmente com a implicância dela com suas roupas.

- Já disse pra relaxar! - pede ela, mais uma vez antes de entrar.

Enfim ela abre a porta do apartamento, ansiosa para ver o pequeno Teddy. Depois, prepara a mesa, enquanto espera o rapaz chegar.

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Durante o jantar com o lanche, Anthony coloca mais um pouco de refrigerante, fazendo pequenas bolhas subirem pelo copo de vidro alto e bonito que está sobre a mesa de jantar. Depois repousa a mão sobre a bochecha ao observar Érika.

Parece intrigado com o jeito da bela garota à sua frente, que já termina de comer seu lanche e mesmo ela tendo comido tão rápido, Anthony ainda parece fascinado com esse jeito dela.

No rádio toca uma música de Michael Jackson " Ben " das mais antigas. O som baixo ecoa pelo ambiente pouco iluminado, de forma calma e mesmo assim, Érika o encara se mostrando incomodada.

- Porque você gosta tanto de ouvir músicas antigas? - ela quebra o silêncio antes de dar um gole em seu refrigerante direito na latinha.

- Gosto das coisas antigas e clássicos. Me levam à uma época boa da minha vida.

- Não pode viver sempre preso no passado, Anthony - a garota lhe cobra, com olhar cabisbaixo.

O jeito do rapaz fica distante, mas não quer falar sobre isso.

- Me perdoe se causei alguma discórdia entre Lucy e você. Porém não faço ideia porque o Jack e eu somos os culpados por Lucy ter ficado chateada. - Ele se mostra confuso.

- Na verdade, você não fez por mal. - Ela pega um guardanapo e limpa os lábios e os dedos. - Mas esse assunto é meio complicado de falar agora...

- Tudo bem se não quiser falar - diz com calma e o silêncio prevalece por alguns segundos. - Desculpe eu não ter oferecido uma janta melhor - Ele muda de assunto novamente.

- Tá brincando? O hambúrguer de frango frito, da lanchonete do Ricardo, é um dos melhores da região!

Ela sorri, pegando a latinha e tomando mais um gole. Sua expressão faz Anthony abrir um pequeno sorriso satisfeito.

- Mas aceito suas desculpas se tocar algo pra mim, sou fascinada por uma melodia de piano...

- E por que não me pediu antes!?

Anthony sorri mais relaxado e olhar animado. Pega em sua mão a levando para seu quarto.

- O que quer ouvir?

Ele para em frente ao belo piano preto, puxa o banquinho e faz sinal para que ela se sente primeiro. A atitude educada, faz Érika sorrir satisfeita.

- Toque alguma coisa que goste, mas nada muito triste! Eu sempre o vejo tocar coisas tão melancólicas.

Ele se concentra colocando os dedos longos sobre as teclas brilhantes, com delicadeza. Começa a tocar o solo da música " Cry for help " O som alto ecoa todo o quarto, fazendo um sorriso fascinado aparecer nos lábios da garota, sem que ela se dê conta.

Aquele clássico sendo tocado por ele no piano nunca pareceu tão mágico e reconfortante. Anthony vira o rosto e também sorri ao notar que ela está alegre.

O belo rapaz é levado pela melodia tão envolvente e fecha os olhos lembrando das épocas bonitas de sua vida. Érika não consegue esconder sua admiração por ele.

Começa a passar os olhos por seu rosto admirando cada centímetro, cada pinta de seu pescoço, enquanto se embriaga com seu perfume doce, ao som do piano. Mas como num piscar de olhos a melodia acaba.

A garota engole em seco, finalmente voltando a realidade. A triste realidade de ser sempre uma ninguém, que seu pai não se orgulharia. Tem consciência que deve deixar Anthony no canto dele, pois se envolver seria pior para ambos.

- Isso foi lindo! - elogia com um sorriso, sem graça.

- Rick Astley é muito bom - comenta satisfeito.

Uma tristeza toma o peito dela, se levanta incomodada. Caminha até a varanda do quarto, puxa a cortina branca e se encosta na grade olhando a cidade tão brilhante. Anthony observa calado, sem entender, depois se levanta e vai atrás dela. Se aproxima devagar e encosta o rosto em seus cabelos longos.

- O cheiro do seu cabelo é doce... lembra baunilha! - comenta atrás dela, com voz baixa, fazendo a garota se virar.

Seus olhares se cruzam. Mas doçura mesmo estava no tom de sua voz quando a elogiou.

- Aceitaria sair para jantar comigo num lugar legal de verdade? - seus olhos verdes, brilham intensamente. Mas a garota parece pensativa.

- Sabe que não podemos ficar andando juntos por aí, Anthony - avisa em tom desanimado.

Dessa vez, quem pensa é Anthony, desfazendo o brilho de minutos atrás. Érika percebe, mas sabe que isso vai ser melhor para os dois. E o silêncio toma conta.

- Mas se eu pudesse, iria com certeza... Eu escolheria o restaurante Califórnia! - ela abre um sorriso com olhar animador.

- Ou o restaurante, Little Jonny! - complementa Anthony, sorrindo animado de novo.

- Ótima ideia! - ela concorda.

- Achei que não conhecesse tantos lugares legais - seu olhar volta a ficar intrigado.

- Eu já conheci quase todos os lugares chiques dessa região, cara! Já fui com o Eddy, a Lucy e o Jack. E já fui com outras companhias interessantes... se é que me entende - ela dá de ombros - Eu colocava sandálias altas e vestidos chiques. Sabe como é, a ocasião pedia.

Declara sorrindo, com jeito pensativo e percebe um olhar presunçoso despontar no rosto do belo rapaz.

- Só não quer ir comigo... - reclama mostrando a sua necessidade de estar com ela.

- Mas é diferente. Eu me preocupo realmente com você e não me perdoaria se algo te acontecesse por minha causa - Érika se vira encostando as mãos sobre as grades da varanda fria, observando as ruas. O vento sacode algumas mexas de seu cabelo.

- Então, não vai me dar a honra de te ver dentro de um daqueles vestidos ao aceitar jantar comigo? Acredito que ficaria encantadora! - Sua voz sai mais baixa, num tom sedutor, enquanto se aproxima mais de sua nuca e bem próximo do corpo dela.

Aquela voz grossa faz a garota fechar os olhos e se arrepia dos pés a cabeça. Se vira de novo, voltando a admirá-lo agora bem de perto. Perto demais. Érika sabe o quanto ele é diferente dela. Quando conversa, come, se comporta e até nos elogios. Ele é fino e delicado.

- Eu estou bem envolvida e do mundo que eu venho, não dá pra sair fácil, Anthony. Eu teria que sumir de vez e nós não nos veríamos nunca mais. - Ela abaixa os olhos com jeito triste.

- Mesmo assim, saia!... - pede ele e percebe Érika ficar confusa com o que ouve. - Você é esperta, sei que vai conseguir se livrar deles, Eu temo que algo de ruim te aconteça. Você merece mais que isso. Vamos pensar em algo?

- Não é assim tão fácil! - diz rápido, com jeito agitado.

- Sei que não é fácil, mas sei que consegue. Você não faz ideia de como sua companhia me faz bem. Que o seu cuidado comigo foi real. Principalmente naquele dia que mostrou estar me ajudando sem interesse algum, diferente de todos que se aproximam de mim! Até mesmo das garotas que um dia gostei... Eu me sentiria bem melhor se pudesse te ter ainda mais perto nesses dias tão obscuros... É pedir demais se eu disser para não se afastar de mim?

Pede ele, com olhar necessitado e tão profundo. Quase que implorando por isso.

- Você não tem ideia do que está me pedindo! - Érika fecha os olhos sem acreditar.

- Ah, eu tenho! - afirma olhando firme. - Eu não fazia ideia que desejaria tanto ter você mais perto de mim, até saber como é te ter... Então, por favor. Não suma!

Anthony pousa as mãos sobre rosto dela com carinho, enquanto seus olhos verdes procuram o interior mais profundo dos olhos dela, se aproximando cada vez mais. Com a mais intensa necessidade de tê-la mais perto. Érika fica sem ação com tanta aproximação, mas no fundo, era o que ela mais queria também.

Sem esperar mais, Anthony finalmente encosta os lábios aos dela fechando os olhos. Em seguida junta seu corpo quente nela, pressionando-a na grade gelada da varanda, quebrando qualquer milímetro de espaço. As mãos dele descem e envolvem sua cintura com delicadeza.

Os lábios macios e carnudos dele buscam os dela, de forma extremamente delicada. Sua língua quente e sua respiração, causam arrepios avassaladores nela, que se iniciam na espinha e descem por todo o corpo da garota, de um jeito tão único. E por um momento, tudo já se parece tão certo, como num encaixe perfeito dos dois. Eles não se parecem mais tão distintos.

O beijo segue lento. Ela nunca imaginou que um beijo tão calmo e intenso, poderia lhe deixar completamente sem chão. Érika sente o gosto de álcool se misturar aos lábios dela e que de certa forma, faz seu coração martelar no peito pelo sabor e um arrepio forte sai de sua espinha e toma todo o seu corpo. Tudo o que ela quer agora é que esse momento nunca mais acabe.

Quando Érika sente que vai perder o controle, Anthony se afasta em busca de ar, respirando ofegante. Depois a abraça apertado contra seu peito, soltando um suspiro rápido, junto a um sorriso discreto.

- Estava mais que ansioso por isso... - comenta próximo ao seu ouvido.

- Espero que não se incomode com o bafo de cigarro - diz ela, ainda em seus braços. Mas sem imaginar, o rapaz solta uma risada.

- Essa era a última coisa que eu esperava ouvir.

Anthony procura seus olhos, sorrindo de forma adorável. E ter esse sorriso lindo tão perto dela a faz sentir feliz, como há muito tempo não sentia.

- Mas se isso te incomoda. Toma - ele tira do bolso um chiclete de menta e lhe entrega. - Agora eu, peço desculpas pelo cheiro de álcool, pois já tomei algumas doses antes de você chegar.

- Você me disse que não ia beber! - seu olhar é de reprovação.

- Isso foi há uns dias! - se defende sorrindo e erguendo o indicador. - Mas hoje eu não te prometi nada... ainda!

Ele lhe lança um olhar intenso antes de puxa-la para seus braços mais uma vez e provar seus lábios novamente.

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Finalmente o beijo 😘
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