Eu prometo!...
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Já é tarde. Érika entra pela na porta dos fundos do bar carregando a bicicleta, cuidando para não ser vista. Não quer ter que dar satisfações, mesmo sabendo que mora na casa de Eddy e lhe deve isso.
Encosta a bicicleta em qualquer lugar e sobe as escadas rápido, direto para o quarto. A única satisfação que quer dar no momento é para a pequena Lucy, que tirou sua concentração praticamente o dia todo.
Ao abrir a porta devagar, suspira desanimada ao vê-la sentada na beira da janela, olhando para a rua com uma coberta sobre seus ombros. Lucy percebe que ela entrou ao olhar para trás. Mas volta a olhar a rua novamente.
Érika caminha à passos lentos em sua direção pelo quarto escuro, se aproximando dela e senta ao seu lado. O silêncio prevalece por alguns minutos. Lucy olha de lado e suspira antes de dizer:
- Achei que eu tivesse alguma importância pra você, assim como sempre me disse... Mas vi que não - diz Lucy, em um tom triste, abaixando a cabeça.
Seus olhos vão sendo tomados pela amargura. A solidão que outrora se fazia sempre presente, acabou retornando ao seu peito.
- Não é tão sincera comigo, quanto eu sou com você... - Se mostra magoada.
- Mesmo que não credite, eu me preocupo, sim, com você! Só que no momento em que eu decidi esconder a verdade, me pareceu a melhor opção. - O olhar de Érika, é desanimado.
- Eu me senti uma idiota na frente do Jack.
Lucy se levanta e se afasta dela, caminhando pelo cômodo escuro:
- Meus pais já me deixaram em último plano quando me abandonaram e fui parar em um orfanato! Talvez eu fosse um fardo muito pesado pra eles. Acho que ser deixada em último plano é mais normal do que parece pra mim... Deve ser a minha sina. Eu não quero mais ser uma pessoa amargurada, mas também não queria ter tido tantos motivos para chorar.
Lucy suspira, e a tristeza arde em seu coração.
- Eu nunca teria feito isso com você, se soubesse que te magoaria! - Érika caminha atrás dela.
- Era você... quem o Jack, queria o tempo todo... - deduz Lucy, de forma pensativa e percebe Érika desviar os olhos dela, com jeito incomodado. - Eu já tinha até falado algumas pequenas palavras só pra ver a reação dele! Ai, droga! - Ela pressiona os olhos e cobre com sua mão - Como eu sou trouxa!
- Não! Você não é trouxa! - nega Érika.
- Eu não sou tão bonita quanto você, mas pelo menos eu iria me arrumar e tentar falar com ele, agora pensando bem, pelo menos não tomei um fora! - Ela se vira, sem jeito.
- Índia. Não fala assim, você é linda, meiga e delicada... Olha só pra mim?! Eu sou... toda desengonçada, grossa e cheirando a cigarro!... - diz brava consigo mesma.
- Não adianta tentar fazer eu me sentir melhor, Érika. - Lucy a interrompe.
- Mas é a verdade! - Afirma olhando fixo para a baixinha - Eu sabia de quem o Jack gostava, mas quando você começou a falar desse interesse por ele, não parecia ser tão sério quanto agora! Sei que errei te escondendo isso, mas o único motivo era para não te ver triste. Porém eu falhei como amiga... Espero que me perdoe por isso.
Érika olha sem jeito, colocando as mãos nos bolsos de trás da calça jeans.
- Eu sei que erro sempre que tento proteger as pessoas de tudo o tempo todo. E quer saber, você não precisa se arrumar pra ninguém! Seja você mesma, e vai encontrar alguém que goste de você, do jeitinho que é. Se quiser se arrumar, faça por você! Lembre-se, você é nova, linda, pode fazer tudo o que quiser, antes de pensar em correr atrás de alguém que não... Tá nem ai. Faça alguma coisa que te deixe feliz, estude, viaje para outro lugar, refaça a sua vida. E um dia vai encontrar alguém que te mereça o tanto quanto você vale, porque pra mim você é uma garota maravilhosa e merece o mundo!
Conclui Érika e Lucy se vira procurando seus olhos, seu jeito vai mudando.
- Você acha mesmo que eu posso fazer uma dessas coisas? - Mostra-se mais animada e um pequeno sorriso aparece em seus lábios.
- Já disse que pode fazer tudo o que quiser - Érika caminha até ela sorrindo - Além de ser a índia mais linda que eu já conheci!...
Lucy se aproxima dela a abraçando apertado e suas lágrimas caem.
- Obrigada por tentar me proteger. Mesmo se enrolando toda - sorri ainda agarrada a ela.
- Prometo que estarei sempre com você... - termina Érika, se afastando e procurando seus olhos negros.
- Então vamos fazer isso, Érika? - Lucy se afasta com jeito preocupado - vamos sumir da vista do Heitor e refazer nossa vida?
Érika fica pensativa com as palavras de Lucy.
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A manhã chega e o sol fraco vem aparecendo discreto por entre as nuvens. Érika desce as escadas vagarosamente em direção do bar, ainda com cara de sono e se apoia no balcão:
- Oi Eddy, me vê um café. Preciso acordar.
Enquanto Eddy, prepara a bebida, tem os olhos presos nela com jeito curioso.
- O que tá olhando, Eddy? - ela ergue uma sobrancelha, estranhando.
- Aquele rapaz do condomínio, o Anthony, parece interessado em você - comenta tentando esconder um pequeno sorriso.
- Ah, isso... - Ela desvia os olhos para o chão - É. Ele é gente fina - diz apenas.
- E pelo jeito, você também parece gostar dele. - Já não consegue esconder sua curiosidade.
- É aí que mora o problema, Eddy - Ela gira um pouco o corpo na cadeira - Ele é um cara com estilo de vida totalmente diferente de mim. Imagina nós dois envolvidos? A família dele me colocaria pra correr igual eu coloco o Teddy, quando ele apronta. - Ela ri, imaginando a cena.
- Às vezes nos acontecem coisas que parecem tão erradas, mas lá na frente, até que podem parecer certas. - Explica, terminando de lavar uns copos na pia. Érika fica pensativa.
- E por falar em coisas erradas... Eu vou tentar fazer direito dessa vez com você. Não quero comprometer nem você nem seu bar, por erros meus. Sei o quanto isso tudo é importante pra você.
Eddy lança um sorriso singelo em sua direção. E o olhar de Érika se abaixa pensativo.
- Bom, eu vou nessa - avisa pegando o café no balcão e andando rápido.
...
Érika segue pela calçada da avenida principal, observando o movimento das pessoas, enquanto vai bebericando seu café. Hora ou outra, passa os olhos nas vitrines, pensando no que Eddy lhe disse. Mas logo sai de seus pensamentos quando Jack para de frente para ela:
- Ah. É você!... - Ela revira os olhos se mostrando impaciente.
- Ainda tá brava? - pergunta ele. E Érika olha firme em seus olhos.
- Você não deveria ter ficado quieto quando Anthony lhe acusou sobre o que sente por mim! Porque não negou? - Lhe cobra, franzindo o cenho.
- Esse é o motivo de estar assim desde ontem? - A olha incrédulo.
- A Lucy ficou mal com o jeito como descobriu!
- Mas não é da Lucy que eu gosto! Já "tô" cansado de esconder isso pra ela! - ele se defende com jeito firme.
- Ela não merecia ouvir daquela forma, Jack! Foi tão injusto!
- Injustiça é o que acontece comigo! - Ele encosta o dedo no peito com indignação - Eu fiquei esperando sua atenção por tanto tempo, mas de repente, aquele riquinho aparece e de uma hora pra outra você fica caidinha por ele! - reclama incomodado.
- Já disse que meus sentimentos são problemas meus! - diz alto, caminhando rápido e Jack caminha junto dela.
- Eu sei que não tenho nada pra te oferecer, assim como todo o luxo que ele tem, mas prometi te fazer feliz com o que tenho e apoiar no que você precisasse desde o começo!
- Escuta, Jackson - Érika para e se vira em sua direção:
- No começo eu prometi pensar em seu pedido de namoro, mas depois isso ficou fora de cogitação para mim. Eu já deixei claro que somos apenas amigos. Sei que você me trouxe pro bar do seu tio e pediu pra me deixar ficar, mesmo sabendo que a Lucy já morava aqui. Mas se você quiser mesmo me apoiar no que eu precisar, faça pela nossa amizade, pela consideração que eu ainda tenho por você. Me apóie nas minhas decisões!...
E quando é que você entender que é dele que eu gosto, tá legal?!
Declara ela, alto e em bom som.
- Independente dele ter dinheiro ou não!
Após lançar um olhar firme, a garota se vira e vai embora, deixando Jack parado a acompanhado com os olhos, ela virar a rua.
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O dia passou rápido. Já começa a escurecer, e o frio vai prevalecendo aos poucos. Érika está sentada na cobertura do terceiro andar do Bar, olhando para o céu com jeito distante. Admira a lua cheia por trás das nuvens, logo a cima dos prédios altos. E assim como ela, aquela lua solitária segue esperando por dias melhores.
Ela tenta decidir sua vida e pensa no que Lucy disse. Seus pensamentos vão até sua mãe, seu pai e sua irmã. Talvez seja a hora de voltar para casa. Mas infelizmente lembra que iria encontrar com "ele" depois de tantos meses, um arrepio toma conta de seu corpo e não é pelo frio. Não queria nunca mais vê-lo novamente e suas decisões de voltar parecem vacilar agora.
É quando ouve vozes de alguém subindo na cobertura. E ao se levantar, vê que é Lucy e Anthony.
- Quer dizer que esse é seu refúgio? - Aquela voz inconfundível ecoa no silêncio da noite sendo levada pelo vento.
- O Eddy disse que eu te acharia aqui em cima. Bom, eu vou descer - avisa Lucy, antes de ir embora e deixar os dois a sós.
Anthony se abaixa e senta ao lado dela, acompanhado seu olhar para a lua brilhante, sem estrelas.
- A vista da cidade olhando daqui é bem interessante - admira Anthony, olhando firme para o horizonte.
- Fala sério! Não tem vista melhor da cidade inteira, do que do andar do seu prédio! - Reclama inconformada. Aquele lugar é um luxo - Lembra lançando um olhar presunçoso.
- Mas às vezes, isso não é o mais importante. A vista é ótima, porém olhar sempre sozinho não tem a mesma graça. - Diz saudoso.
Érika se cala consentindo, mas ao ver um embrulho na mão dele, muda de assunto:
- Você não deveria ter vindo Anthony. Sabe o quanto está se arriscando? - se preocupa olhando em seus olhos.
- Mas eu não consigo evitar... - Diz encontrando seu olhar profundamente, por um breve momento. - Isso é para você... - Anthony pega sua mão com delicadeza e deposita o embrulho sobre ela.
A garota respira fundo e abre. E parece não entender. Sente seu coração acelerar, colocando a mão na boca com olhar surpreso.
- É... aquele livro que te falei uma vez! - sorri de forma animada. - Onde o achou? - pergunta ainda sem acreditar.
- Deu um pouquinho de trabalho, mas fiz imaginando ver essa alegria esbanjando em seus olhos. - Ele sorri satisfeito - Sei o quanto esse livro tem um valor sentimental pra você.
- Eu... Nem sei como agradecer.
Seu sorriso sincero aquece o peito do belo rapaz. Mas ela fica calada por uns segundos. Sem imaginar seus olhos vão ficando marejados ao lembrar de seu pai.
- Mesmo que não tenha sido meu pai, fico feliz que tenha vindo de suas mãos. - Ela limpa uma lágrima que caiu rápido e tenta sorrir.
- Isso era o que o seu pai queria, Érika. Espero que isso a faça lembrar, sei que pode continuar de onde parou e sair de tudo isso! É o que eu desejo para você. - Seus dedos passam por uma mecha de seu cabelo comprido, com carinho.
- Eu... Não posso voltar - diz de forma dolorosa.
- Eu não sei o que aconteceu, mas eu estarei aqui quando quiser contar - seu olhar é preocupado.
A garota apenas consente, e sorri de leve sem acreditar em toda a força que sente para continuar, quando está perto dele. Levanta os olhos para a lua brilhante novamente e pensa:
- Lembro do dia que ele prometeu trazer esse livro. Ele fazia tudo pra ver um sorriso no meu rosto. Teve a vez em que ele pegou toda as economias para fazer minha festa de quinze anos. - Sorri ainda com o rosto molhado - Foi a minha primeira e última festa de aniversário... Mas foi incrível.
Percebe os olhos de Anthony mudarem rápido, parecendo tocado por suas palavras. Ele não imaginava que Érika ficava feliz com coisas que para ele, eram rotineiras, como por exemplo, festas de aniversário. Isso tem um brilho tão diferente quando ela conta.
- Foi a festa perfeita. Só não tive direito a valsa com o príncipe, mas até ai tudo bem - sorri revirando os olhos e sentindo-se boba.
- Então quer dizer que não dançou a sua valsa de quinze anos com o príncipe?
Ele ergue uma sobrancelha com olhar sugestivo enquanto escolhe a música (You're Still The One) em seu celular.
- Quem sabe possa fazer isso agora? - Ele se levanta. - Isso é, se a Senhorita me der a honra - estende a mão em sua direção fazendo um aceno de forma irreverente.
Érika sorri satisfeita enquanto se levanta. Eles se aproximam, Anthony encosta a mão em sua cintura e a traz para bem perto do seu corpo, abrindo um sorriso discreto ao sentir o calor do corpo dela junto ao seu. A outra mão junta-se na dela.
Seus olhos se cruzam enquanto se movimentam devagar de um lado para o outro, embalados pelo ritmo calmo da música antiga, mas tão envolvente.
Erika fecha os olhos e se deixa levar pelo momento, deitando a cabeça em seu peito, sentindo as batidas de seu coração. O vento gélido bate nos dois sob a vista da cidade brilhante, apenas a lua solitária presencia o momento. Seus corações estão tomados pelo calor e não se importam com mais nada.
- Você aprende rápido - Comenta Anthony, em voz baixa bem perto de seu ouvido.
- Estou com o melhor professor de valsa - brinca, respondendo em voz baixa, também.
A música acaba, mas eles continuam ali nos braços um do outro sem cortar qualquer contado. Em um movimento calmo ele aproxima seus lábios dos dela fechando os olhos. Seus lábios quentes e macios buscam os dela de forma calma e acolhedora. Fazendo o corpo da garota reagir rápido, então ela se afasta com os olhos brilhantes de lágrimas e parece pensar em tudo na sua vida. Sente-se profundamente feliz naquele momento, como há muito tempo não sentia.
- Eu... prometo sair dessa vida, Thony!... - Diz finalmente com jeito apreensivo - Eu conversei com a Lucy, ela quer mudar os rumos da vida dela também - Então a agitação a toma - , talvez seja a hora de viajarmos para outro lugar ou quem sabe...
- Calma! - Ele a interrompe, colocando as mãos em seu rosto. - Vamos pensar em algo juntos, ok? - Diz preocupado com o jeito dela.
- Não! - nega, rápido - Por favor, você precisa ficar longe de mim, eu vou procurar o rapaz que faço trabalhos pra ele, o Heitor. E... Cara! Você não imagina o quanto ele é perigoso! Mas enquanto resolvo com clareza quais os próximos passos, não podemos mais nos ver, ok? E-eu não me perdoaria se algo te acontecesse por minha causa!...
- Calma, Érika! - A interrompe mais uma vez - Vai ficar tudo bem. E você não pode me pedir isso! Eu não quero mais estar longe de você! - diz com jeito necessitado.
- Mas...
- Você não entende que eu não consigo parar de querer estar cada vez mais perto de você? Vamos pensar em algo juntos.
Anthony puxa o corpo no dela mais uma vez num abraço forte. Depois se afasta procurando os olhos castanhos da garota, colocando as mãos em seu rosto, então junta seus lábios novamente.
Uma força avassaladora toma todos os sentidos dela, aquele beijo acolhedor é tudo o que ela precisava. Naquele instante, toda a sua inquietação se acaba e a única coisa que consegue pensar é que como uma pessoa pode a deixar totalmente sem chão.
Jack aparece na cobertura no bar, mas logo para com olhar surpreso ao presenciar Anthony e Érika, abraçados com os olhos na lua cheia que flutua próxima aos prédios altos.
Seu olhar fica distante e desanimado. Mesmo sabendo que isso estava mais do que óbvio, foi bem doído ver com seus próprios olhos a garota que sempre esperou ser sua, nos braços de outro.
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