Aos cuidados
(Leia com carinho ❤️)
Tudo na noite é superficial
Aprisionei minha mente naquela agitação, quis sentar-me nas estrelas pra vislumbrar a cidade, me vi cercado pela solidão.
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O carro segue pela avenida com os vidros fechados, está aquecida. O balanço é gostoso e o banco confortável. No rádio toca "Gilrs Just Want To Haver Fun" em volume baixo.
Érika estranha, ele ouvir esse estilo de música tão antiga, mas até que a batida a fez sentir uma sensação boa, mesmo não sendo o tipo de música que ela ouviria, então manda uma mensagem para a Lucy avisando que teve que ir com o rapaz, por motivos de força maior.
Seus olhos passeiam pensativos, através do vidro molhado, sobre os bares cheios. Suas fachadas tão brilhantes, algumas pessoas caminham sob a garoa fina, com as mãos nos bolsos, por causa do frio que os castigam.
O cheiro e o barulho da chuva, fazem seus pensamentos se perderem por alguns segundos, lembra de sua mãe e sua irmãzinha. Sempre em noites chuvosas como essas, se reuniam para ler e tomarem chocolate quente.
Pensa nelas todos os dias, porém não tem coragem de voltar, não por enquanto. Aquele era o melhor lugar, até acontecer toda aquela reviravolta.
Admira as luzes dos prédios altos, ali dentro, cada um vive seu universo enquanto ela, já nem sabe mais onde é seu lugar nesse mundo. Agora esse lugar movimentado tem sido o seu lar depois que se viu obrigada a sair de casa e aparecer só uma ou duas vezes por mês. Mas sempre se pergunta se fez realmente a coisa certa.
- Você ficou quieta de repente, nem parece a mesma garota de minutos atrás.
Comenta Anthony, fazendo sua voz macia quebrar o silêncio do carro, enquanto segue com os olhos na pista. Érika parece ter saido de um transe.
- Eu... Só tava aqui lembrando de algumas coisas. Mas nada que eu queira compartilhar. - Ela olha mais uma vez antes de desviar para a janela.
Érika se surpreende ao se deparar com a fachada do prédio em que Anthony entra. Eles sobem o elevador, logo Anthony destranca a porta, com calma.
Enquanto entra vagarosamente, ela passa os olhos ao redor de todo ambiente e começa a encher os olhos com tudo o que consegue ver. Tenta disfarçar para não parecer uma idiota, mas desiste rápido. Parece abismada com a primeira impressão do apartamento, nem imaginava que ele tivesse tanto dinheiro. Tapetes encorpados, persianas diferenciadas e móveis de aparência luxuosas, porém ela não deixa de notar o quão largado está esse lugar. Tudo parece fora do lugar e desorganizado além do clima melancólico rodear o local.
Anthony tira seu casaco caramelo e vai até seu quarto. Logo volta com uma caixinha nas mãos e agora ele usa seus óculos dourados de modelo redondo.
- Sente-se aqui - pede ele, indicando o sofá.
- Você é médico? - Érika passa os olhos nele, com jeito desconfiado.
O rapaz a encara por alguns segundos e Érika tem a impressão de que o motivo seja sua pergunta.
- Não... - responde, parecendo desconfortável. - Mas estudei medicina por alguns anos - seu jeito se torna ainda mais sério.
- Cara!... - Ela bufa, preocupada. - Eu não posso deixar você costurar a minha cara!
- Olha. Sei que não nos conhecemos, e isso tudo é bem insano, mas te garanto que já suturei, ferimentos antes - explica Anthony, porém nota Érika parecer relutante por alguns segundos. - Ok, se quiser, o enfermeiro do pronto socorro, que você provavelmente também nunca viu na vida, pode fazer isso. E vai dar na mesma. Mas você precisa confiar em mim, pois seu corte está sangrando muito!
- Hospital?...
Érika se vira, com olhar pensativo, tira o lenço e o vê completamente tomado por seu sangue.
- Estou evitando aparecer em hospitais, enquanto eu ainda posso ir com minhas próprias pernas. É bem capaz de eu sair de lá direto pra cadeia... Quer saber... - respira fundo sentindo-se derrotada. - Faz isso logo!
Se ajeita sobre o sofá macio. O rapaz se aproxima, ficando de frente para ela, abre a caixinha e tira um tecido azul. E ao abri-lo, a garota vê pinças, tesoura e mais algumas coisas. Começa a limpar seu corte dela com soro, depois pega um algodão e passa um produto anestésico.
- Isso pode doer um pouco... - avisa ele e Érika resmunga, apertando os olhos.
Depois de uns minutos, ela abre os olhos, devagar e vê Anthony, bem concentrado na sutura. Percebe que ele é tão focado que se nota saber bem o que está fazendo, isso a deixa mais calma.
Sente-se tentada a admirar sua pele limpa e bonita, descendo para seus lábios rosados e bem feitos. Observa seus olhos verdes atentos nela, através de seus óculos dourados e redondos. Ela se dá conta de que esses óculos combinam perfeitamente com sua personalidade culta.
Ela ainda admira seus cabelos acastanhados e charmosamente cheios. Seu perfume toma conta do olfato dela, um cheio bom, a fazendo lembrar madeira com toques doces.
- Então... Porque saiu da faculdade? - pergunta, quebrando o silêncio.
O rapaz, segue sério e concentrado, enquanto cuida do corte.
- Esse... é um assunto que não estou a fim de compartilhar.
E usou as mesmas palavras dela, há minutos atrás. Mas um ar misterioso toma seu rosto, Érika sente que ele se incomodou com sua pergunta, então prefere se manter calada dessa vez, enquanto ele termina.
...
- Pronto... Ficou um pouco inchado! - Anthony, olha mais uma vez antes de se afastar. - Peço que abuse de gelo, vai ajudar a desinchar e cicatrizar logo.
Pede, enquanto tem os olhos presos na organização de seus "instrumentos médicos"
- Vou buscar um remédio para dor.
Enquanto ele vai até o quarto, a garota caminha devagar, passando os olhos e admirando tudo. O apartamento é bem espaçoso. A decoração realmente linda. Tons de madeira, uma iluminação baixa e aconchegante. Mas logo ela nota algo marcante, uma mesinha com garrafas de bebidas diversas ao lado do sofá. Mas outra coisa também a chama a atenção.
Uma enorme estante repleta de livros. Se aproxima com olhar interessado, passa os dedos com suavidade em cada um deles na prateleira. Seu olhar fica triste, seu pensamento vai em sua casa novamente. Mas logo abaixa a mão quando vê Anthony, aparecer na sala.
Disfarçadamente, passa os olhos nele quando lhe entrega o remédio. O calor da lareira acesa, é o suficiente para ele não ter colocado o casaco. Percebe seus braços e peito bonitos, através da camisa branca. Nota que suas roupas são de marcas caras, sem contar o quanto ele é atraente. Isso é inegável.
- Você tem muitos livros. Seria idiotice eu perguntar o quanto você gosta de ler - Érika pega a cartela e lê o nome do remédio antes de tirar um.
- Sim, eu leio bastante, apesar de fazer tempo que eu não pego num livro. - Anthony parece levado por seus devaneios, seus olhos ficam distantes, mas logo volta a si, piscando rápido. - E você, gosta de ler?
Um sorriso singelo se forma na face da garota ao lembrar:
- Meu pai sempre me trazia livros da biblioteca onde ele trabalhava.
Ela passa os olhos pelos livros, mas repentinamente sua expressão muda. Engole em seco e se vira, com um ar melancólico.
- Parece que você ficou triste quando falou do seu... - O rapaz franze o cenho, com olhar curioso.
- Eu prefiro não falar sobre isso! - ela corta a conversa.
- Bem. Já está tarde. - Anthony suspira pesado. - Se quiser, tome um banho e descanse em um dos outros quartos.
Érika nota o jeito que o rapaz a olha desde que se encontraram na rua. Ele tem um olhar atraente, mas seu ar misterioso a incomoda.
- Obrigada, mas eu já tomei banho, minhas roupas não sujaram tanto, não precisa se incomodar - avisa caminhando até o sofá e sentando-se nele. - Eu vou ficar aqui na sala mesmo, se não se importar. Esse sofá é bem confortável e... bem longe do seu quarto, então... Quando você começar a dormir eu já "vazo" daqui
O tom de sua voz se mostra incomodado.
- Suas roupas estão úmidas pela garoa lá fora. Você não pode dormir assim. - O rapaz se aproxima devagar.
- Já disse pra não se preocupar... "Tá" vendo? - ela se levanta, desabotoando seu casaco xadrez, ainda meio úmido e o pendura em uma das cadeiras de veludo, da enorme mesa de jantar.
Anthony não gosta muito de ver sua cadeira de veludo, sendo usada como varal. A garota percebe, mas parece não se importar. Então ele vai até seu quarto e logo volta, trazendo uma camisa social azul de mangas cumpridas.
- Eu posso colocar para secar enquanto você usa isso - ele lhe entrega.
- Tá bom, se isso te deixa feliz, eu coloco minhas roupas pra secar, tudo bem!? - ela força um sorriso, mas sem humor.
Pega a camisa das mãos dele e caminha em direção do banheiro levando seu casaco molhado.
- Coloque suas roupas na secadora da lavanderia.
- Ok... - diz ela, ainda caminhando.
Assim que ela abre a porta do banheiro, quase tem um troço. Arregala os olhos e abre a boca totalmente surpresa.
- Mas. Que. Banheiro. É esse?!
O mesmo, belo, porcelanato no chão e nas paredes. E o mais importante; a banheira linda que está no canto.
Mas que merda! Se eu soubesse como o banheiro dele é lindo eu tinha aceitado! Nunca tomei banho de banheira antes!
Ela abre um enorme sorriso satisfeito, cruzando os braços, enquanto passa os olhos por tudo.
- Ô, se tinha!... Se eu tivesse uma vida dessas iria desfrutar de tudo o que pudesse e mais um pouco!
Ela coloca a camisa social, azul, de Anthony e sorri de frente para o espelho ao notar que ficou igual a um vestido. E assim que chega na lavanderia, outra surpresa. Encontra um cãozinho, filhote de raça Beagle.
Um sorriso aponta em seus lábios ao se abaixar para pegar o cãozinho, que balança o rabo rápido e lambe seu rosto a fazendo levantar a cabeça.
...
- Porque deixa o cãozinho preso?
Érika aparece na sala com o filhote nos braços e Anthony se vira, surpreso ao ver a cena.
- Você não sabe a bagunça que ele consegue fazer sozinho. Por isso quando saio, o deixo na lavanderia.
O rapaz vai em sua direção e pega o cãozinho dos braços dela, ao mesmo tempo em que nota que ela já está usando sua camisa. E sem perceber, ele desce os olhos pelo o corpo dela vagarosamente.
Vê que ela tem pernas bonitas. Algumas tatuagens aparecem por suas coxas, imagina que sua pele seja macia e suave.
Observa seus cabelos castanhos, agora soltos. Se surpreende por serem enormes e cheios. Se dá conta de que ela é uma garota realmente linda, além de diferente das que está acostumado a ter contato.
- Obrigada por me fazer parecer o porteiro do seu prédio com essa cor horrenda de camisa!... Fala sério, azul porteiro? Você tem um péssimo gosto pra roupas, sabia? Com tanto dinheiro, você deveria, sei lá, comprar looks mais descolados. Mas pra mim, você se veste com jeito meio desleixado.
Érika cruza os braços e caminha admirando todo o ambiente, sem notar que o rapaz ainda tem os olhos nela.
- Mas com certeza a camisa ficou bem mais interessante em você, do que nele!...
Sua voz sai num tom mais baixo e silêncio toma conta da sala. A garota fixa seus olhos nele, ficando sem jeito, mas ele logo se dá conta do que disse:
- Bem. Eu vou levar o Teddy para a lavanderia. - Ele muda de assunto, ficando sem graça. - Coma o que achar na cozinha. - Se retira apressado.
Érika caminha até a cozinha, vai até o micro-ondas e acha uma caixinha de comida. Abre e vê que é lasanha ao molho branco. Ainda está meio morno.
A impressão que teve é que Anthony pediu comida mas não teve fome. Ia acabar enchendo a cara no bar do Eddy. Mas ela procura não se envolver nos problemas dele. Afinal, isso não era conta dela.
- Desculpe Sr. Anthony, mas eu vou arrebentar nessa lasanha - sorri tirando uma latinha de refrigerante da geladeira com um enorme sorriso nos lábios.
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Já passa das três da madrugada. Érika sentiu sono devido ao remédio e acabou cochilando no sofá. Desperta se mexendo rápido e apreensiva. Leva seus dedos em seu corte que dói um pouco.
Mas logo percebe uma coberta sobre seu corpo e imagina que Anthony deva tê-la coberto em algum momento. Levanta a cabeça meio atordoada e no canto da sala escura, vê Anthony, sentado em uma das cadeiras, um perna cruzada, com um copo de bebida em uma das mãos.
- O que "tá" fazendo aí? - Érika pressiona os olhos, ainda sonolenta.
- Nada... - sua voz aveludada, ecoa de forma calma, pela sala escura.
- "Tava" me observando! - ela é direta.
- Na verdade, estava tomando umas doses - ele ergue o copo. - Se não percebeu, eu estava indo beber quando esbarrei em você. Não queria te acordar, mas as bebidas ficam aqui na sala, então...
Ele se levanta ainda de maneira calma, vai até a mesinha das garrafas e coloca mais um pouco de whisky.
- Mas isso não o faz negar que estava aí, no escuro me observando - ela mostra estar em alerta.
Mas percebe o canto dos lábios do rapaz se erguer num singelo e pequeno sorriso.
- Não tenho sono... Às vezes passo noites em claro. Mas fica tranquila, não vou te matar e tirar seus órgãos. Pelo contrário, estudei medicina por quatro anos no intuito de salvar vidas...
O rapaz caminha graciosamente pelo tapete cinza, com jeito pensativo pelo que acabou de dizer, enquanto toma uma generosa dose da bebida.
- Até aproveitei e trouxe suas roupas que estavam secas. - Ele termina de falar levando seus olhos em direção das roupas dela no canto do sofá.
A garota olha para as roupas bem dobradas no canto do sofá e depois o encara por alguns segundos.
- Obrigada... Você é bem metódico, isso é fato.
Ela pega seu casaco e o veste, sentindo-se sem jeito.
- Sei que minhas roupas não são nada, comparada às suas! Mas pelo menos eu tenho estilo - Érika tenta brincar e vê Anthony sorrir de novo, mesmo que discretamente.
Esse jeito de Érika, acaba causando certa curiosidade aos olhos dele.
- Você tem estilo Érika, isso eu não posso negar. Eu gosto de seus tênis preto, cano alto - Anthony aponta com a mão que segura o copo em direção dos tênis dela.
- Finalmente eu me sobressaio de você em alguma coisa - seu olhar parece mais relaxado.
Érika não quer admitir que gostou da preocupação dele, mas esse ar misterioso de fato a incomoda.
- Você vai continuar a manter o estilo de roupas com o dinheiro que pegou?... - Pergunta voltando a ser sarcástico.
A garota muda a expressão, ficando na defensiva novamente e jeito bem sério.
- Desculpe lhe informar, Anthony, mas isso não é da sua conta! - olha com firmeza.
- Onde vai!? - pergunta confuso, ao ver a garota pegar os tênis.
- Eu já vou indo... - Vi que só porque você me trouxe pra cá, acha que pode ficar me interrogando! O remédio pra dor já fez efeito e eu não sinto mais nada!
Avisa ela, enquanto coloca um pé do tênis.
- Vejo que pelo horário, você não vai dormir de jeito nenhum, não vou mais esperar você dormir pra vazar aqui!
- Ok!.. - Anthony levanta as mãos em rendição. - Eu não pergunto mais. Porém, ainda é muito cedo. Vou te deixar descansar mais um pouco e vou tentar dormir também.
Ele caminha para o seu quarto, deixando Érika parada o olhando. Sobe na cama e se deita, já sentindo-se meio tonto. Pensa por alguns segundos, mas por causa da bebida, pega no sono rápido.
(...)
O dia amanhece. Entra uma brecha de sol pelo canto da janela do enorme quarto de Anthony. Ele aperta os olhos e suspira, levando a mão na testa. Sente que a dor de cabeça já vem cedo hoje. Mas abre os olhos bem rápido assim que lembra de Érika.
Se levanta e caminha até a sala. Mas já não a encontra. Só achou sua camisa " azul porteiro" pendurada na cadeira e sua coberta fofa dobrada sobre o sofá. Ele fica pensativo.
(2627) palavras
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Me digam o que estão achando?
<Anthony>
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