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Prólogo

— Você está roubando? 

A garota de cabelos róseo ergueu os olhos das cartas que tinha em mãos, para observar a figura dos três homens corpulentos que estavam diante de si, torcendo a expressão em pura incredulidade. 

—  Não estou, não. —  Resmungou com certa ofensa, mesmo sabendo que eles tinham razão. 

A parte engraçada disso tudo, era que já estávam há exatamente três horas naquele jogo de cartas, onde ela os roubou de todas as formas possíveis. E só naquele momento eles tinham chegado naquela conclusão. 

Para um pequeno grupo de trapaceiros, eles eram muito lerdos em se tocarem de que estavam sendo enganados por alguém muito mais jovem que eles. 

Os três estreitaram seus olhos pra ela, e a mesma podia notar a tensão de seus movimentos e a forma como olhavam entre si e o conjunto de cartas que tinham em mãos, denotando que eles claramente iriam perder outra partida. E Tyche estava mais do que ansiosa para encerrar aquilo e pegar o enorme saco de ouro que estava ao lado deles.  

Floki, o enorme homem corpulento de cabelos longos e encaracolados em tons de laranja com olhos intensamente azuis, lhe lançou um brilhante sorriso, como se ele estivesse carregando todos os tesouros do mundo em mãos. Mas ela sabia que não estava, já havia contado todas as cartas deles e as que restavam na mesa. Aquela partida já estava mais que ganha por ela. O observou jogar suas quatro cartas de nypes sobre a mesa e alargar ainda mais o sorriso em seu rosto. 

Bera e Gimle se agitaram, gritando e batendo as mãos em punhos sobre a mesa, indicando que eles haviam ganhado finalmente, o que atraiu a atenção de todas as pessoas presentes naquela taberna. 

— Acho que desta vez nós ganhamos. —  Floki constatou com uma empolgação contagiante. 

Tyche sentiu até uma pontada de pena ao saber que estaria estragando a felicidade deles. Mas sinceramente, ela já estava muito cansada daquele jogo para prosseguir com aquela atuação de boa moça. 

Virou as cartas que tinha em mãos e as espalhou sobre a mesa diante dos olhos deles, mostrando todos os reis e rainhas que havia consigo, todas as cartas que havia roubado deles durante toda a partida, enquanto eles estavam ocupados demais concentrados em outra coisa. 

A expressão de alegria dos três mudou espontaneamente se tornando faíscas de puro ódio, com seus olhares brilhando em fúria para a menor. Mas o que não fora suficiente para intimidá-la. 

—  Desculpem, garotos. Mas não foi dessa vez, melhor passarem meu ouro pra cá. 

 Se levantou e inclinou o corpo sobre a mesa para capturar o enorme saco de moedas de ouro que estava ao lado de Bera, mas o som de um estalo fez com que ela parasse no meio do caminho. Pelo canto do olho pode ver o cano de um revólver apontado na direção de sua cabeça, carregada por Floki que não parecia nem um pouco feliz em saber que teria todo seu ouro levado. 

— Você roubou, nenhuma dessas partidas valeu até agora. Você não vai levar nenhum centavo de nós, pirralha. —  O homem ralhou, praticamente cuspindo nela com seu hálito podre. 

—  Não seja chorão, vocês três são conhecidos por trapacearem em todos os jogos e roubarem todo mundo que frequenta está taberna, só porque encontraram uma garota mais esperta que vocês, agora querem apelar para armas? —  Um pequeno sorriso despontou em seus lábios, enquanto ela ainda permanecia na mesma posição, tendo seus dedos há poucos centímetros de distância do saco de moedas. 

—  Então você confessa que nos roubou. —  Bera rosnou, acertando o punho fechado sobre a mesa e fazendo com que todas as cartas caíssem no chão. 

—  Eu não roubei. —  Inclinou a cabeça na direção do loiro irritadiço. —  Vocês passaram tanto tempo tentando olhar debaixo da minha saia, que nem perceberam que estavam me mostrando suas cartas. Eu não tenho culpa se vocês são idiotas.  

— Ora, sua pirralha. Você não tem medo de morrer? —  O cano da arma foi pressionado contra sua tempora, fazendo com que Tyche novamente voltasse seu olhar para Floki. 

— O único que vai morrer aqui serão vocês se não abaixarem a merda deste revólver. 

Ela não pode esconder o enorme sorriso em sua face ao reconhecer aquela voz. Benn estava logo atrás dos três, com sua espingarda apoiada sobre o ombro, numa expressão tão intimidadora que a simples presença dele fez com que a taberna inteira se mantivesse em silêncio. 

—  O que pensam que estão fazendo com a minha filha, seus marginais? 

Oh não, definitivamente não era a presença de Benn que havia feito com que todo o local se prostrasse num silêncio assustadoramente profundo. 

Até mesmo ela pode sentir seus ombros tensionarem quando a voz do Ruivo se fez presente por todo o local, e sabia que ele não estava usando seu Haki, mas a simples presença dele já era o suficiente para abalar todas as paredes daquele estabelecimento. 

O revólver que Floki segurava caiu sobre a mesa e a rosada pode ver apenas o vislumbre dos olhos dos três homens a sua frente que pareciam tão apavorados quanto alguém que tinha acabado de ver um fantasma. 

As vezes era difícil de acreditar que a presença do Ruivo realmente causava aquele tipo de assombro nas pessoas, talvez fosse pelo fato dela o conhecer, ser sua filha e ter crescido com ele, que isso sempre soava extremamente dramático.  

Aproveitou que os três estavam petrificados na sua frente e finalmente agarrou o enorme saco de moedas de ouro, ele pesava bastante, mas não lhe impediu de puxar contra o peito e abraça-lo, enquanto se virava para seu Capitão e o restante da tripulação que estava atrás de si. 

— Olá, pai. —  Sorriu para o homem que apenas maneou a cabeça na sua direção. 

—  Você não nos disse que era filha do Ruivo. —  Bera proferiu quase num fio de voz, se não fosse todo o silêncio do local ela quase não teria ouvido. Nem parecia que ele era o mais esquentadinho do grupo, parecia um gatinho acuado ali diante da tripulação do Ruivo. 

 — Vocês não perguntaram. — Balançou os ombros e estendeu o saco de moedas para seu pai que o pegou com seu único braço sem demonstrar muito esforço. — Dinheiro pro saque. — Completou com um enorme sorriso de satisfação. 

O sorriso no rosto dele também despontou de forma espontânea e a garota sentiu o carinho apenas pelo seu olhar, ele nem precisava tocar nela para a mesma saber que se sua mão não estivesse ocupada, ele teria bagunçado seus cabelos em sinal de orgulho. 

— Alguém aqui tem mais algum problema para resolver com a minha filha? — Shanks encarou os três homens ainda petrificados atrás da mesa, que apenas manearam a cabeça para os lados. — Ótimo, vamos arrumar uma taberna menos movimentada para torrarmos esses beries, querida. 

Assentiu prontamente e sai andando logo atrás do ruivo, enquanto que Benn seguia logo atrás dela como um guarda costas, ainda mais com aquela postura toda rígida e sua espingarda apoiada sobre o ombro. Ele parecia um caçador prestes a matar sua caça, talvez fosse por isso que ele era considerado o primeiro imediato do bando, porque ele estava sempre disposto a matar em nome do Ruivo. Mas apesar de sua expressão frigida e sem emoção, Tyche o conhecia bem suficiente para saber que ele não era toda aquela casca grossa que mostrava pro mundo. 

Dando um passo para o lado, passou a andar no mesmo ritmo que o Beckman, passando seu braço pelo dele de forma que o homem lhe conduzisse pelas ruas estreitas de Okolnir. 

Fazia uns dois dias que havíam aportado no cais daquela ilha, ela não era tão diferente como as outras ilhas que constituíam a Grand Line, mas haviam pessoas com alguns costumes bastante diferenciados de qualquer outro lugar que eu já tivessem visto antes. Os moradores usavam roupas que aparentemente eram feita de peles de animal, fora que não havia uma pessoa se quer que não tivesse uma arma na mão, ou pendurada na cintura, até mesmo as crianças andavam armadas, com machados, espadas, facões, raramente uma arma de fogo. As mulheres usavam vestidos longos e justos no corpo, com casacos de pele feita de algum animal da ilha. Todos os homens tinham cabelos longos, a maioria eram trançados, raramente havia um que os mantivesse soltos. Fora que também não eram nem um pouco gentis com visitantes. Não que tivéssem sido ameaçados por serem Piratas, eles não pareciam se importar com isso, apenas não eram bem atendidos em nenhum estabelecimento, todo mundo sempre parecia estressado com alguma coisa. 

— Como que ela sempre consegue tanto dinheiro assim? — Lucky questionou quando finalmente se encontraram com o restante da tripulação que os aguardava perto de uma ferraria. 

Era fim de tarde e haviam combinado de passar a noite bebendo juntos em alguma taberna, antes de finalmente irem embora no dia seguinte pela manhã, considerando que ali não havia nada que realmente tivesse os prendido a atenção. Nem mesmo as bebidas eram tão boas assim, a cerveja era doce e não agradava nem o paladar de Tyche e nem de seu pai, que sempre reclamava que parecia estar bebendo mel com querosene. Não poderia dizer que era exagero da parte dele, porque ela havia provado e tinha de concordar, era horrível. 

— Ela fica com as pernas abertas e os caras sempre tentam ver a calcinha dela durante o jogo. — Shanks explicou de modo simples, balançando os ombros de forma despojada. 

— Isso é maldade, pequena Tyche. — Yasopp riu. 

— Ela só ta fazendo bom uso do que agrada os homens. — Foi Bonk quem saiu em defesa dela. 

— Exatamente, eu não tenho culpa se eles querem ver a minha calcinha. Assim fica bem mais fácil de tirar o dinheiro desses otários. 

Todos riram da resposta da mais nova, até mesmo Benn a quem ela ainda estava enroscada soltou um sorriso, deslizando o cigarro por seus lábios. 

Benn Beckman era definitivamente o tipo de cara com quem Tyche teria algum relacionamento, isso se ela não o visse como um tio, não por ser mais velho que ela, mas por ele ter ajudado Shanks na sua criação, junto do restante do bando, que ela também via como a sua família. Mas também não poderia ignorar o fato que ele tinha charme, só não arrumava uma mulher porque era mal humorado demais para conseguir sustentar uma conversa com uma que não fosse uma prostituta a quem ele pagaria para ouvir suas reclamações. 

— Eu soube que tem uma taberna no final dessa rua que as pessoas gostam muito, lá vendem uma tal de bebida chamada Hidromel, a gente podia experimentar. — Yasopp explicou com empolgação, enquanto apontava na direção certa do local. 

— Eu espero que realmente seja, tô cansado de beber essas cervejas horríveis. E o nosso estoque de bebida no navio acabou na semana passada, se não acharmos algo para abastecer, vamos morrer de sede. 

— Você não vai morrer de sede, pai. — O corrigiu, vendo o ruivo torcer sua expressão de forma ainda mais dramática. — O restante da tripulação ainda lembra o que é água, diferente de você. 

— Meu corpo já é constituído por cinquenta por cento de água. 

— Setenta. — O corrigiu mais uma vez. 

— Viu só, é mais do que eu imaginava. Não preciso beber água quando meu próprio corpo me abastece. 

— Alguém vai contar pra ele? — Yasopp sussurrou na direção da garota.  

— Melhor não. — Riu baixinho. 

Yasopp saiu na frente guiando uma boa parte da tripulação que estava ali, todos estavam ansiosos para encher a cara e se divertir um pouco, considerando que fazia seis meses que não pisávambem terra firme. O cansaço dos mares já havia dominado a todos e até mesmo ela tinha de admitir que precisava relaxar um pouco. Andava tão cansada nos últimos tempos, que as vezes acabava saindo fora de si. 

Sua cabeça andava um caos nas últimas semanas, lembranças que ela não tinha há muito tempo, retornaram como um turbilhão de enxurradas que consumiam suas noites e impossibilitavam que ela tivesse uma boa noite de sono. Tyche andava tão perturbada, que nem ao menos conseguia se alimentar direito. Um fato que não passou despercebido por seu pai. No seu terceiro dia já sem dormir direito ou conseguir se alimentar, Shanks lge abordou alegando que ela estava pálida, que precisava comer e que tinha olheiras tão profundas que já estava parecendo um cadáver. Ele chegou a levá-la até o médico da tripulação, mas seu diagnóstico já era algo ao qual ela esperava. 

Cansaço extremo. 

Seu pai não sabia que as lembranças haviam voltado, que novamente ela estava sendo abordada por imagens do que pareciam ser previsões do futuro. E ele nem sequer poderia sonhar com isso. Depois que o ruivo fora  buscá-la há seis anos atrás, jurou para si mesma que faria de tudo para ser uma criança normal e não causar alvoroço no navio, ela não queria ser abandonada mais uma vez, não queria que eles a encarassem como se fosse uma aberração. E enquanto ela pudesse esconder aquilo deles, o faria. Nada iria mudar, não desta vez. 

Adentram a taberna ao qual não havia muito movimento, ela era maior que a anterior onde ela estava e a maioria das mulheres que transitavam ali pareciam ser prostitutas. Os rapazes se espalharam pelo local e Shanks seguiu com Yasopp e Bronk até uma mesa mais afastada para se sentarem, começando a gritar para as moças que queriam provar do tal de Hidromel que tanto falavam naquela ilha. 

— Você deveria comer alguma coisa. — A voz de Benn fez a garota recordar que ela ainda estava com seu braço entrelaçado ao dele, a fazendo encara-lo, piscando um tanto confusa com o que escutara. 

Seu cérebro não andava processando muito bem as informações mais simples. Era até uma grande ironia acreditar que ela ainda conseguia dar golpes em jogos de azar, sendo que mal conseguia se manter focada nas coisas. 

— Eu estou bem. — Garantiu, forçando um pequeno sorriso. 

— Tyche, você está pálida. Eu só sei que não está morta, porque estou sentindo o calor da sua pele, fora isso, você está parecendo um cadáver ambulante. 

— Você é tão delicado com as palavras, Benn. É por isso que ainda não arrumou uma namorada. 

— Não estamos falando sobre mim no momento, você precisa se cuidar, garota. 

— Certo, certo. — Afastou seu braço do dele e ergueu as mãos em sinal de rendição. — Eu já irei procurar algo para comer, pode ir lá com os outros, encontro vocês depois. 

— Estarei de olho, se não a ver comer nada, você não vai beber. — Benn a advertiu antes de dar as costas e seguir até a mesa onde Shanks e a Yasopp gritavam em comemoração pelas canecas de bebida que haviam acabado de receber. 

Tyche torceu uma careta de mal grado antes de me virar em direção ao balcão de atendimento. Ela sabia que o Beckman tinha razão, mas isso não lhe dava o direito de a tratar como se ela fosse uma criança. Já era uma mulher crescida e podia muito bem se virar sozinha, apesar de não querer e ser uma grande mimada, mas sempre conseguia se manter de pé até mesmo quando já tinha passado muito mais da dose no álcool. 

Sua barriga roncou pela primeira vez aquele dia, a recordando que ela não havia ingerido nenhum alimento desde que acordará aquela manhã. Apesar de ter tido uma boa noite de sono, ao qual não tinha há semanas, seus sonhos foram bombardeados por cenas catastróficas e tão desumanas que eu se viu vomitando assim que acordou. E o café da manhã pareceu a coisa mais nojenta para seu paladar tão sensível. 

O estômago dela doeu e teve de conter para não se curvar ali diante do balcão, até porque sabia que Benn estaria de olho nela. E a última coisa que eu queria era que ele fosse ao seu socorro. 

Ergueu a mão para chamar a atenção do único atendente que estava ali do outro lado, um jovem de cabelos loiros e compridos e olhos escuros que aparentemente estava flertando com uma das prostitutas que estava escorada de frente pra ele contra a superficie de madeira. Mas seus movimentos congelaram quando sentiu a onda de poder se alastrar por cada fibra do seu corpo, os pelos do seu braço se eriçaram, assim como na minha nuca, uma corrente de eletricidade pareceu percorrer cada fibra em si e precisou fazer um grande esforço para que suas pernas não cedessem, considerando que o ar pareceu ter se tornado extremamente rarefeito e pesado, deixando seu corpo mais debilitado do que já se encontrava. 

Ela conhecia aquele poder, não precisava estar totalmente consciente de seus atos para reconhecer toda aquela energia intensa e assustadora. 

Seu primeiro impulso foi virar a cabeça na direção da mesa onde os rapazes estavam. Shanks havia sentido, ele estava paralisado com a caneca estática próxima de seu rosto, seus olhos arregalados numa expressão de horror e surpresa que provavelmente deveriam ter sido as mesmas que ela fez quando a sentiu. 

Ela estava na ilha. 

A Assassina de Piratas. 

Pânico. 

A única coisa que conseguia sentir naquele momento, era o mais puro pavor e pânico. 

Shanks havia sentido a presença dela. 

Sinceramente, Tyche não ficaria chocada se a ilha inteira também não tivesse sentido toda aquela pressão atmosférica. 

Ela estava ali e claramente não estava se esforçando nem um pouco para passar despercebida. Ela queria ser notada, mas Tyche não poderia permitir que Shanks fosse até ela. Não, ela havia feito uma promessa no passado de que faria o impossível para manter esses dois longe um do outro. E ela não estava nem um pouco afim de quebrar a promessa naquele momento. 

Viu pelo canto do olho o exato momento em que o ruivo fez menção de começar a se levantar. Olhou ao redor um tanto atônita, havia uma jovem moça caminhando pelo centro da taberna com uma expressão sorridente enquanto olhava para os piratas do bando do Ruivo. Correu em sua direção, se colocando em sua frente no mesmo momento em que puxava um saquinho de pano cheio de moedas de ouro, uma parte das suas economias de emergência. 

— Ei, você quer ganhar esse saco cheio de moedas de ouro? 

 Os olhos dela brilharam encarando a trouxinha num tecido escuro sobre as mãos da rosada. 

— Claro que quero. 

Ótimo, alguém que claramente topava tudo por dinheiro. 

— Ta vendo o ruivo ali no centro da mesa? Preciso que distraia ele o restante da noite, não me importa como, encha ele de cerveja, o arraste para um quarto, mas não permita que ele saia daqui por nada. Entendeu? 

Tyche estava de costas para a tripulação de seu pai, mas observou a loira de olhos cor de mel olhar na direção deles e sua expressão animada se contorcer em algo confuso e curioso. Ela virou a cabeça para todos os lados e depois a encarou novamente. 

— Que ruivo? 

Foi involuntário, seu corpo se virou automaticamente e a única coisa que pode ver foi o acento entre Yasopp e Bronk vazio. Benn olhou na sua direção e balançou a cabeça de forma negativa. 

— Droga. — Girou sobre os calcanhares e se dispos a correr para fora daquele local, atravessando a porta mais rápido que um tiro e encarando as ruas cobertas pelas luzes de algumas lamparinas. 

Olhou ao redor buscando encontrar ao menos a sombra do ruivo, ou qualquer vestígio daquela mulher. Mas não havia nada, simplesmente nenhuma onda de poder, era como se ela nem estivesse ali. Mas não tinha mais como fugir, não depois daquele aviso claro de sua presença. 

Ponderou entre qual direção seguir, considerando que estava se sentindo totalmente cega naquela situação. Respirou fundo e tentou seguir seus instintos, correndo para a esquerda, em direção ao cais da cidade. As ruas e vielas eram estreitas, mas por sorte todos já deveriam estar em suas casas e ela não perdia seu tempo tentando passar por uma multidão de pessoas, como costumava ser durante o dia.

Okolnir estava banhada no mais breu e puro silêncio, parecendo até mesmo uma cidade fantasma. 

Seus pés começaram a cessar os passos de sua corrida quando alcançou a terceira rua, mais duas a frente e ela poderia ver o mar. Seu coração batia violentamente no peito, tão alto que não conseguia ouvir mais nada. Absolutamente nada. E esse era o problema. 

Tudo estava silencioso demais. 

Não era só a noite que causava aquele estranho e mórbido cenário na ilha. 

Um arrepio se espalhou por sua nuca e sentiu uma leve brisa bagunçar seus cabelos. Os pelos dos seus braços se eriçaram, num claro sinal de perigo. Seu corpo inteiro disparava ondas elétricas e sinais de que ela não deveria ficar ali, deveria se virar e sair correndo o mais rápido que eu podia de volta para aquela taberna.  Mas não podia recuar, por mais que seus pés começassem a lhe trair e tentassem arrastá-la de volta pelo mesmo trajeto que eu chegara até ali.

Um cheiro forte tomou conta do ar, não sabia reconhecer que tipo de aroma era aquele, mas era doce, atrativo e se parecia muito com o odor de alguns tipos de venenos raros que eram considerados os mais mortais em toda a Grand Line.

O som de um grasnar a fez saltar e levar a mão até a boca para evitar que o  grito irrompesse alto demais por seus lábios. Seu coração errou uma batida de forma que sentiu uma dor se alastrar pelo seu peito. Ergueu o olhar e encontrou um corvo empoleirado sobre uma das lamparinas, onde as chamas brilhavam com intensidade. Ele estava olhando na sua direção, como se a conhecesse, ou pior, como se pudesse ver tudo o que se passava em sua mente naquele momento.

Ela tinha plena noção de que sair sozinha para ir atrás da Assassina de Piratas, estava na lista de piores decisões que poderia tomar na vida. Mas não poderia permitir que ela machucasse Shanks, ou que fizesse algo muito pior.

Se virou lentamente esperando encontra-la atrás de si. Mas não havia nada, ela estava completamente sozinha naquela rua silenciosa. O novo grasnar do corvo a assustara novamente, mas desta vez conteve o grito, apenas agitando seus ombros em sinal de desconforto. Olhou na direção do pássaro e suas asas estavam abertas numa imagem quase assustadora, devido às sombras que se projetavam contra a ponta de suas penas que pareciam ser afiadas demais para uma ave como aquela. A sua sombra parecia apontar numa outra direção, ao qual seus olhos percorreram até encontrar a entrada de um beco bem mais escondido por entre duas lojas.

Caminhou ate o meio fio da calçada, sentindo seu coração voltar a bater muito mais forte no peito e a respiração começar a se tornar mais pesada. Não havia pressão atmosférica, não havia sinal de nenhum poder ali, mas Tyche sabia que era onde ela estava, porque seu sangue parecia correr mais rápido pelas veias e todos os sinais de alerta de perigo estavam quase fazendo com que seu corpo entrasse em pane.

Olhou para dentro da passagem escura, há poucos metros dela pode ver uma figura com um longo manto sobre seu corpo e um capuz lhe cobrindo a cabeça. Ela a olhou de lado e reconheceu de primeira o brilho de seus olhos azuis,  tão frios como gelo que a fizeram recuar um passo.

— Pare de enrolar e venha comigo. — O som de sua voz era tão frio e cortante quanto suas iris,  mas não conseguiu se mover até ela voltar a falar novamente. — Acredite, nenhuma de nós duas quer que eu tenha um encontro com Shanks está noite. Então, eu sugiro que você colabore.

Shanks... Sim, era exatamente por causa dele que estava ali. Para evitar que ele fosse morto por aquela mulher.

Selene lhe deu as costas e começou a caminhar para o mais fundo da escuridão daquele beco. E a única coisa que Tyche pude fazer foi correr em sua direção, seguindo a mulher até que ela parasse diante de uma porta de acesso aos fundos de uma das lojas. Ela entrou e a garota a  seguiu logo atrás. Não sabia se era a noite quem estava gelada, ou se era seu medo que fizera seu sangue esfriar, mas ali do lado de dentro estava  bem mais quente. O que talvez se derivasse do fato de haver muitas lamparinas em um cômodo tão pequeno.

Seus olhos percorreram todo o local, haviam espadas e machados pendurados na parede, junto de algumas cabeças de animais estranhos. Vários caixotes de madeira e no centro de tudo aquilo, uma mesa com uma enorme cesta cheia de uma fruta com um formato bem peculiar, mas que pareciam bastante atrativas e mais uma vez aquela noite fez sua barriga roncar e lhe lembrar que ela ainda não havia comigo nada.

Observou Selene se sentar em uma cadeira do outro lado e Tyche se sentou de frente pra ela, tendo apenas a mesa e a cesta de frutas as mantendo distante o suficiente para que ela soubesse que a lâmina de sua espada não a alcançaria ali. A mulher abaixou o capuz e pode ter uma visão melhor de seus cabelos longos e negros como a noite, seu rosto palido, os lábios tão vermelhos como sangue e aqueles olhos azuis que sempre pareciam brilhar de uma forma assustadora, como se ali, carregassem a imagem da morte.

— Aposto que não me chamou aqui para conversar sobre o clima. — Começou ao perceber que ela não diria nada. Suas mãos estavam suando e ela as enxugava constantemente na barra de sua saia.

— Continua tão petulante quanto eu costumava me lembrar, Tyche. — Ela sorriu, de uma forma que para a garota soou mais como uma ameaça. — Nem parece que eu consigo sentir o cheiro do seu medo há quilômetros de distância. 

— Diga logo o que quer, Selene. — Rebateu num tom mais alto, sentindo seu corpo inteiro se agitar com aquela atitude.

— Você lembra muito a minha filha. — Ela se endireitou na cadeira, enquanto sustentava aquele sorriso petulante.

Sim, a filha dela. A única filha que ela tivera em toda sua vida e que Tyche evitava imensamente que Shanks soubesse da existência. Só a simples menção dela já a fazia sentir um nó no estômago em pura repulsa.

— Por que não vamos direto ao ponto? Você não quer se encontrar com Shanks e eu muito menos quero que isso aconteça. E ele está te procurando por toda está ilha, seja breve antes que ele nos encontre. — Tentou fazer com que sua voz soasse o mais firme possível,  mesmo que ainda balançasse a perna embaixo da mesa num claro sinal de nervosismo.

— Claro. — Ela balançou a cabeça concordando, pode ver um leve sinal de resistência em seus olhos. Selene odiava a menção do nome do Ruivo, tanto quanto odiava ser obrigada a proferi-lo. — Eu quero que me acompanhe até o Novo Mundo. 

— O que?

— Você ouviu muito bem.

— Ouvi sim, mas ainda estou tentando processar o absurdo dessa frase.

— É um convite.

— Minha resposta é não.

— E se for uma ordem?

— Continua sendo não. — A viu se inclinar pra frente numa expressão intimidadora. Seus dedos apertaram a barra da saia com mais força, enquanto Tyche se esforçava para sustentar aquele olhar. — Você pode até ameaçar me matar, mas eu não vou trair o Shanks.

— Não? — Selene arqueou uma sobrancelha, o sorriso em seus lábios se alargou um pouco mais. — Vamos, Tyche. Não é como se você já não o tivesse traído antes.

Engoliu em seco tais palavras, desviando o olhar dela para me focar nas cabeças de animais penduradas do outro lado da parede. Uma pontada em seu peito e no segundo seguinte meus ombros estavam pra baixo, numa postura mais acuada.  Ela se sentia um animal indefeso e Selene era o caçador, tão sádica e cruel com suas palavras quanto era com suas atitudes.

— Como você sabe? — A  encarou de volta depois de longos segundos.

— Não importa. — Selene agitou a mão no ar e reencostou as costas no apoio da cadeira. — O fato é que, eu sei o quanto você ama o Shanks. E sei o quão decepcionado ele ficaria com você quando descobrisse as coisas que escondeu dele.

— Pretende me chantagiar para que eu vá com você?

— Não é chantagem, estou tentando fazer negócio.  Você tem um grande potencial e fica perdendo tempo brincando de ser pirata,  deveria pensar mais no seu futuro, além de prestar atenção no futuro dos outros.

— O que te faz pensar que eu me aliaria a uma mulher que mata Piratas por toda a Grand Line a troco de nada? — Suas palavras saíram tão ásperas e cortantes que ela mal percebeu que já estava tremendo de raiva enquanto se mantinha intacta diante dos olhos da outra — Eu nunca mataria um pirata, eu não sou como você, Selene. A filha bastarda e abandonada pelo...

Ouviu o som de uma lâmina afiada cortar o ar, mal conseguiu piscar quando a ponta da espada dela alcançou seu queixo, pressionando a lâmina cortante em sua pele de forma que Tyche pudesse sentir uma leve ardência. O pânico se chocou contra seu corpo, tremeu diante da espada e dos olhos brilhantes que a avaliavam como se ela fosse ser a sua próxima vítima.

— Eu acho melhor você pensar bem antes de falar comigo, garota. Eu não sou seu pai para tolerar a sua afronta.

Engoliu em seco. Por mais que soubesse que ela não iria lhe matar, aquilo não a impedia de se sentir apavorada com o que Selene poderia fazer com ela, uma tortura talvez fosse o mínimo. E Tyche não era muito chegada em sentir dor.

— Desculpe. — Sussurrou de volta, vendo a lâmina abaixar aos poucos diante de meus olhos.

A Assassina de Piratas voltou a se sentar em sua cadeira e guardou a espada na bainha. Ela só queria deixá-la amedrontada. E tinha conseguido.

Mesmo com medo, sentindo o suor escorrer por minha nuca, sua barriga roncou novamente, a alertando de que já estava há tempo demais sem ingerir algum alimento.

— Pegue uma fruta. — A mulher empurrou a cesta na direção da mais nova.  — Eu odeio ver uma criança com fome.

O tom de voz dela soava de forma tão terna e afetuosa, que nem parecia que ela tinha colocado a espada em sua garganta poucos segundos antes.

Observou as frutas no cesto, por mais que quisesse recusar, sua boca se encheu de saliva e sua barriga reclamou mais uma vez. Pegou uma delas, tinha um formato engraçado que se parecia bastante com um abacate, mas era menor e mais redonda de cor turquesa. Deu uma generosa mordida, o sabor se mesclou a sua saliva e o gosto amargo escorreu por sua garganta depois de mastigar duas vezes. O gosto era tão ruim, que seus olhos lacrimjeram, mas engoliu com um pouco de esforço, voltando a encarar a fruta em sua mão.

— Isso tem um gosto horrível. — Protestou, se recusando a morder outro pedaço.

— Interessante. — Selene sorriu animada, havia um brilho alegre em seu olhar e por mais que aquilo parecesse algo bom, Tyche sentiu que aquilo a assustava de certa forma. — Sempre ouvi dizer que as frutas escolhiam seus usuários. Aparentemente isso não é um mito, considerando que você pegou a certa em meio a tantas outras iguais.

— Do que está falando? — Trocou olhares entre a mulher na sua frente e a fruta que ainda tinha em mãos. Seu cérebro demorou longos segundos para que ela finalmente pudesse processar aquelas palavras, até que a soltou, deixando cair no chão, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. — Não... Não... Isso não pode... Estar acontecendo.

Uma sensação de claustrofobia começou a tomar conta de si, era como se o ar daquele cômodo tivesse ficado escasso, não conseguia respirar,  seu coração batia tão forte que ela jurava que ele pudesse parar a qualquer minuto. E tudo isso se derivava do assombro que estava sentindo, o pânico que dominava cada parte do seu ser. Não tinha como aquilo ter acontecido, ela não podia ter comigo uma Akuma No Mi.

Olhou para Selene mais uma vez que permanecia com uma postura tão impassível, a única coisa que desejava naquele momento era poder mata-la. Sacar a sua espada da bainha e cortar sua garganta pelo que acabara de fazer com ela. 

Amaldiçoada,  estava completamente amaldiçoada.

— Selene? — Ela reconheceu a voz de Shanks, mas parecia tão distante, como se pudesse ouvi-lo em sua mente. Virou a cabeça na direção da porta e ele estava ali, parado com sua postura inabalável. Mas seus olhos eram frios, de uma maneira que ela nunca o vira antes. Seu maxilar estava travado e ele olhava diretamente para a Assassina de Piratas como se Tyche não estivesse ali. — Por que quebrou nosso acordo?

— Pai? — O chamou quase num fio de voz, seu corpo inteiro estava trêmulo e a sua cabeça estava ficando pesada demais. — Pai,  o que tá acontecendo comigo?

Tinha algo de errado, ela sabia disso. Sua cabeça estava girando e ainda sentia como se pudesse ouvir seu coração diretamente em seus ouvidos. Tentou dar uma passo na direção do ruivo, mas suas pernas vacilaram e se viu caindo, batendo com os joelhos no chão e mal podendo sustentar o peso do próprio corpo.

— O que você fez com a minha filha?

O grito de Shanks soou tão baixo pra, mas ela ainda podia ver um borrão de sua imagem que ele parecia desesperado. 

— O que você deveria ter feito há muito tempo.

A resposta de Selene ficou ecoando na mente da garota enquanto sua visão se tornava cada vez mais escura, até que ela não pudesse ouvir ou sentir mais nada.

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