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CAPÍTULO 4

Já haviam quase três meses que Sara tinha começado a diálise...

Estava fraca, cansada.
Mas continuava linda.

Eu sempre ia escondido encontra-la. Ela não queria que a família soubesse. Eu preferi respeitar.

Durante a sessão ela não poderia ter visitas, eu passava o tempo todo do lado de fora, esperando. A sua mãe diversas vezes esteve a meu lado, mas sem saber quem eu era. As vezes ela saía, e a mãe já estava lá.
Eu não podia nem beija-la ou abraça-la.

Transamos nesse período só duas vezes, por que ela precisou parar de trabalhar.

Patricia veio buscar suas coisas num dia que eu estava aqui no hospital. Não falou nada, não deixou um bilhete. Só o cartão da advogada dela. Foi melhor assim.
Eu ia ao hospital ver Sara chegar, e ficava vendo-a de longe.

Hoje a mãe dela se despediu.
— Eu volto as 17h vai precisar me esperar um pouquinho. OK? Amo você.

Beijou a Sara, que estava sentada na recepção aguardando sua vez, e se foi.

— Você não desiste?

— Não me passa pela cabeça desistir de você.

— Cláudia, vai embora. Olha como eu estou...

— Continua linda!

— Me deixa vai! Por favor.

— Sara eu não sei o que é. Mas eu quero estar do do seu lado. E é o que tenho feito. Alterei minha grade de aulas e passo as tardes que você vem aqui te olhando de longe. Você não me atende mais, não me responde no whatsapp. Poxa...

— Cláudia eu vou morrer! Entenda!

— Eu também Sara. Todo mundo vai. Mas eu quero estar do seu lado. Eu quero cuidar de você.

— Eu não vou ter forças pra lutar...

— Eu estarei do seu lado. Mesmo de longe.

— Ninguém vai aceitar. Por favor, vai embora.

— Vou esperar você...

A enfermeira veio com a cadeira de rodas e a levou.

— Vai embora, por favor

A enfermeira seguiu e eu falei alto para que ela ouvisse: 

— Sara! Eu te amo!

Quando me virei pra sentar, a mãe dela estava atrás de mim.
Acho que pela primeira vez na vida eu não soube o que fazer.

Puta que o pariu.

Ela ficou me olhando séria.

— O que foi isso?

Eu não sabia o que dizer

— Você... Você e minha filha? – Falava com a voz trêmula. — Quanto tempo?

— Há uns meses. – Sabia o que ela gostaria de saber, respondi de cabeça erguida. — Há algum tempo.

— Você seduziu minha filha?

— Não. Aconteceu... Eu a amo.

— Eu te via aqui todos os dias. Nervosa. Era Sara que você esperava?

— Sim... Espero todos os dias para vê-la um pouquinho, saber como ela está.

— Não estou entendendo... Ela não me falou.

— Está com medo e vergonha.

— Ela me contava tudo... Não acredito que não confiou em mim.

— Sara está com medo da reação da família. Ela pensou que a senhora fosse expulsa-la de casa.

— Certamente não me é agradável ver minha filha com outra mulher, ainda mais vestida assim como você. – Ela tinha uma calma na voz. Era uma mulher serena e castigada pela vida. — Mas eu passei esses dias observando você aqui tão nervosa, em pé várias horas olhando através do vidro da sala. Eu pensava: "nossa! Ela deve estar muito preocupada. Deve gostar muito de quem está lá". –Respirou fundo e engoliu seco. — E era minha filha. Você esteve aqui todos os dias.

— Só pra olha-la de longe... Porque não podia me aproximar por causa da senhora. O fato de eu usar roupas mais masculinas não me desmerece em nada. Sou uma pessoa igual a todo mundo.

— O pai dela vai querer mata-la.

— Por favor não conte nada. Sara me pede há dias pra esquece-la. Mas eu faço questão de vir ver como ela está.

Ela ficou muda e pensativa...

— Não... Só por favor... Não a deixe OK? – Me encarava séria. — O restante a gente vê como faz.

— Obrigada. a senhora não tinha um compromisso? Ouvi falando para Sara que tinha que sair.

Ela olhou pro relógio.

— Acho que perdi. Voltei correndo pra deixar o telefone dela que estava na minha bolsa e vi vocês. Cláudia não é? – Ela me estendeu a não e retribui.

— Sim. E a senhora?

— Joana. Quer tomar um café? Vai demorar.

— Eu gosto de ficar aqui olhando pra ela...

— Vamos tomar um café. Você terá tempo pra conversar com ela hoje. Aproveite pra me fazer entender tudo isso. Ainda estou perdida. – Observou-me de cima a baixo. — E você é bem mais velha que ela.

— Mas eu a Amo Joana. Um amor puro que foi crescendo a cada dia.

Passamos uma hora conversando. E infelizmente as notícias não eram boas.

Nenhum doador compatível. Até alguns amigos fizeram exames e nada. Eu contei a mãe dela que Carlinhos era meu amigo, e sugeriu que eu também fizesse os exames. Acabei indo pra casa após a nossa conversa.

No fim da Hemodiálise a enfermeira levou Sara de volta.

— Já mãe? Não ia voltar tarde?

— Acabou mais cedo. Que está procurando?

— Nada. Estava só olhando.

— Consegue andar? – Sara acenou com a cabeça.

Elas desceram no elevador, e foram embora.

a mãe dela parou o carro na minha porta.

— Mãe o que está acontecendo?

— Por que não me contou?

Ela começou a chorar.

— Desculpe mãe. Não queria te magoar. Eu já mandei ela sair da minha vida.

Joana pegou o tefefone e mandou uma mensagem pra mim.

— Você poderia ter me contado. Sempre fomos amigas.

Ela só chorava.
— Por favor mãe, o que vai fazer? Eu já pedi pra ela me esquecer

— Ela não vai te esquecer. Ela te ama.

Eu cheguei na porta do carro, do lado de Sara. Abri a porta.

— Vai... Vocês tem muito o que conversar.

Abracei Sara como há muito tempo eu queria.

— Joana. Por favor. Vem também. Tenho uma coisa pra te contar.

Na minha sala estava Carlinhos, sentado no sofá, que se levantou pra cumprimenta-las.

— Boa tarde dr. Como vai?

— Bem e a senhora ?

— Joana, o Dr Carlos é meu amigo há mais de 20 anos.  E nós queremos conversar com vocês. Eu só precisava muito de um minutinho a sós com Sara. Se a você permitir.

— Claro.

— Carlinhos?

— Pode deixar, eu vou servir um café pra nós.

Sara estava calada, sem entender, estendi a Mão pra ela e a levei pro quarto.

— Dá pra me explicar o que aconteceu?

— Sobre? – Fiz-me de desentendida..

— Não se faça de besta! O que eu perdi pra estar aqui na sua casa com minha mãe e meu médico na sua sala?

— Você pode me dar um beijo? Estou morrendo de saudades de você. Quase três meses que espero estar contigo de novo.

Eu a puxei pra mim, para abraça-la. Correspondeu meu beijo, mas logo se afastou.

— Por favor Cláudia... Olha como eu estou! – Realmente ela estava extremamente abatida, olheiras fundas e bem mais magra.

— Pra mim você está sempre linda!

Ela baixou a cabeça.

— Sara... eu te amo! Inexplicavelmente não sei mais viver sem você.

— Sinto muito, vai ter que aprender.

— Mas nunca vou deixar esse amor morrer. Acredita em mim.

— Você nem me conhece... Eu não estou bem, estou doente. Por favor.

— Sara...

Eu levantei seu queixo, olhei bem fundo em seus olhos. Ela estava tão cansada e abatida. Mas ainda tinha aquele brilho no olhar. Algo que me fazia vidrar nela.

— Eu te amo! 
Eu disse, frisando bem cada palavra. E a beijei. Dessa vez ela correspondeu. Eu acabei chorando durante o beijo, não sei que me deu.

— Pode me explicar como minha mãe veio parar aqui?

— Mais tarde ok? Vamos voltar pra sala. Não posso deixar minha visita ilustre me esperando.

Fui caminhando de mãos dadas com ela.  Ajudei-a sentar-se ao lado da mãe.

— Desculpe gente, mas eu precisava desse minutinho com ela. Joana, obrigada, você é uma mãe incrível.

— Cláudia, eu acompanhei você cada dia na porta daquela hemodiálise. Não havia como não reconhecer que o que sentes é real.

— E é demais. Eu não sabia o que sentia por Sara até sair do consultório de Carlinhos. Com o tempo fui deixando esse amor crescer em mim.

— Não é amor Cláudia, é pena. Você tem pena de mim! – Sara reclamou.

— Não linda! Eu lhe tenho amor. Você conquistou esse amor em mim a cada dia. A cada vez que você entrava e eu não podia beija-la antes de ir, nem conforta-la ao sair. Carlinhos mesmo pediu que eu não me apegasse a você, mas já era tarde. E eu sabia que poderia ajuda-la de alguma forma.

—  Você é maluca.

— Não. Não sou. Algo em mim dizia que eu teria algo a mais na sua vida, que eu não desistisse de você. Quando Carlinhos me contou que nenhum dos exames de seus familiares foi compatível com você, eu resolvi fazer também, mesmo sabendo que a chance de eu ser compatível era muito pequena. Nosso tipo sanguíneo é o mesmo, havia uma chance de eu ser doadora compatível. Mesmo sendo mínima.

— Não vais me dizer que...     –Joana  se afligiu

— Quando chegaram os resultados dos exames eu nem quis abrir. Levei direto ao consultório. Carlinhos abriu, temos cargas genéticas bem parecidas.

— Mas ela não pode ser sua doadora Sara. Infelizmente a semelhança não foi tanta para que isso fosse possível.
–dizia Carlinhos- A esperança de Cláudia se dissipou. E ela ficou desesperada.

— Mas você só pode ser maluca mesmo, como poderia achar que seria minha doadora?

— Sara, eu tinha certeza que isso tudo não foi em vão. Não sabia o que fazer, eu não poderia deixar você morrer aos poucos.

— Cláudia, chega! Aceite. Eu vou morrer!! Que inferno!

— Eu não compreendo... era isso que queria nos contar? Que não temos esperança?  – Joana segurava o choro.

— Não. Realmente eu entrei em desespero. Fiquei perdida, eu jurava que poderia te ajudar. Era muito forte isso em mim. Conversei com minha filha, ela aceitou fazer os exames, mas mais uma vez nada. Não era possível!!! E esse sentimento de que não nos encontramos por acaso? Não podia ser só sensação.

— Para Claudia, chega. Desiste.

— Eu desisti. Realmente desisti.

Baixei a cabeça, pois a vontade de chorar era imensa.
Eu estava perdida.

— Pra piorar minha situação, Patrícia, minha ex esposa, veio do Rio pra buscar suas coisas, Eu não estava em casa, por que estava contigo no hospital. Ela tentou me ligar, mas não queria falar com ela, acabei dormindo alguns dias num motel, pra não cruzar com ela. Pois Ela veio aqui 3 dias seguidos. Mas eu sempre estava lá esperando você ou no motel. Até que ela achou um cartão do Carlinhos sobre a mesa.  Nós três nos conhecemos na faculdade.

— Sério mesmo que eu vou ter que saber a história de vocês? – Sara irritada ralhava.

— Sara, escute... a Patrícia me ligou. E perguntou de Cláudia, expliquei toda a situação a ela. Contei que estava contigo no hospital e estava desesperada por não poder ajudar. Patrícia gosta muito dela, o amor de esposa acabou, mas há uma amizade ali.

— Meu Deus, por que eu preciso ouvir isso?

— Porque eu contei a ela que a Filha de Cláudia também fez os exames. E ela ficou com isso na cabeça. Antes de voltar pro Rio, e sem ver a ex esposa, ela foi no meu consultório e pediu pra fazer exames também. Eu claro, recusei, disse que era loucura, e a probabilidade era ínfima.

“mas eu quero fazer por Cláudia. Pra mostrar pra ela que não tenho mágoa. Faço os exames e vou embora, deixo aí com você, já que ela não quer falar comigo, ao menos mostra o que sinto.”  — Carlos relembrava a frase que ela disse.

— Essa foi a resposta dela pra mim. Dei-lhe os pedidos dos exames, que colheu num laboratório de Campo Grande no dia que ía voltar pro Rio. Eu tinha até esquecido disso, quando ontem o Boy do laboratório deixou o malote com minha secretária. Assim que abri, liguei pra Cláudia pra contar o que Patrícia havia feito, pois eu tinha até esquecido de falar com ela, já que quase não nos falamos mais. Como ela estava com sua mãe, e já tinham combinado de você vir pra cá, eu achei melhor vir também, e dizer pessoalmente.

Ele estendeu um envelope pra Sara.

A minha porta foi forçada. Eu tinha fechado com trinco somente, não passei a chave.

— Só um minuto!
Fui atender. E  pra minha surpresa era Patrícia.

— O que está fazendo aqui?

Ela olhou por cima do meu ombro.
— Presumo que estejam falando de mim... E não é legal falar pelas costas.

— Eu pedi que ela viesse Cláudia.

— Você fez o que?

— Liguei pra você e em seguida pra ela. Pedi que viesse ao Mato Grosso novamente.  Que se possível pegasse o primeiro avião. Mas nem imaginei que fosse tão rápido.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? – Sara impaciente.

— Sara, essa é Patrícia. Minha ex esposa. Quer dizer, ainda não somos ex, mas seremos em breve.

— Que eu tenho a ver com isso?

— Tem a ver que os exames dela foram totalmente compatíveis com você. – Carlinhos concluiu.

Os dias se passaram.

Patricia fez todos os outros exames, assim como Sara. Estava tudo certo para o transplante.
Joana ainda não tinha contado ao marido sobre nós. Ela sempre deixava Sara um pouco lá em casa, após as sessões de Hemodiálise.

Não tinha condições de ter sexo, pois ela estava bem fraca, mas ficávamos o tempo todo abraçadas, trocando carinhos.

Um desses dias que Sara estava um pouco melhor, Joana ficou de deixa-la dormir comigo, pois seu pai estaria viajando.

Ela chegou por volta das 18:30h.

Ela estava bem mais disposta, acho que a proximidade do transplante deixou-a mais animada. Estava na cozinha preparando uma janta pra nós.

— Quer ajuda?

— Não linda. Já está tudo bem adiantado...

— Ahhh quero ajudar.

— OK. Ponha a louça então.

Indiquei o armário.

— O que é isso?

Disse ela pegando uma louça branca, de formato diferenciado.

— o que?

Eu disse ainda de costas, quando me virei, ela estava com minha quartinha* na mão.

— Sara... Me dá isso, por favor, não pode mexer.

— mas o que é?

— Depois eu te explico.

— Não... Nada de depois. Você ficou tensa. O que é? Parece uma dessas urnas de defunto.

— Isso é uma quartinha. Uma louça ritualística, que usamos em religiões afro.

— Não entendi...

— Linda, Eu sou umbandista. Uso essa louça no terreiro ou para cuidar das minhas coisas espirituais. – Tentei explicar de forma que ela entendesse.

— Terreiro?

— Sim. Um centro de Umbanda. Uma religião. Na verdade a única religião genuinamente brasileira. Cultuamos os Orixás e guias.

— ESPERA AÍ!!! VOCÊ E MACUMBEIRA???? – gritou e se afastou um pouco.

— Sara, eu sou umbandista. Macumba é um instrumento. Por favor...

— por favor??? Como assim por favor?? Você cultua o demônio!!! Saia de perto de mim.

— Sara está maluca?? A Umbanda é uma religião que prega a caridade, o amor ao próximo. Cultuamos os Orixás, a natureza, os guias... O demônio nem existe para nós.

— Não fale desses demônios perto de mim. Eu quero ir embora.

— Sara você não deixa nem eu falar. Como pode ser tão preconceituosa? Eu já lhe fiz algum mal?

ela foi andando em busca de suas coisas

— Sara me escuta. Por que está tão transtornada?

a segurei pelo braço

— TIRE AS PORRAS DAS MÃOS DE MIM!!! EU SEI BEM QUE VOCÊS FAZEM O MAL NESSAS MACUMBAS. MATAM BICHOS, FAZEM COISAS HORRÍVEIS. ME DEIXA!!! QUERO IR EMBORA.

— Sara porra!!! Que inferno. Não faço nada disso. Tá maluca?!? Alguma vez te fiz mal? Fiz algo de bizarro?  a umbanda não faz nada disso... Pregamos o amor

— Vá se foder Cláudia!!! Você fez macumba pra me amarrar a você não é? Pediu a seus demônios pra me prender a você.

— Sara você está fora de si.

— Quero ir embora!!! – Discou um número no celular.  — mãe!! Mãe...

Tomei o telefone da mão dela e desliguei.

— Escuta aqui garota!!! Acho bom você me ouvir! Não sou esse monstro que você pinta. Que porra!!!! Você tem medo do que desconhece. Mas também não se abre pra entender. Nunca podia imaginar que você era tão preconceituosa e ridícula.

O telefone na minha mão começou  vibrar. Era Joana retornando...

— Sara como você pode ser tão preconceituosa??? Não estou acreditando.

— Eu não sabia que eras macumbeira.

— Eu... Sou... Umbandista. – Falei cada uma das palavras bem devagar, com raiva, pra não perder a cabeça.

— Qual sua religião?

— Não te interessa!!!

— Só pode ser crente. – Desdenhei.

— Quem tem preconceito aqui mesmo??

— Desculpe. Realmente isso é preconceito. Olha Sara, eu tenho amigos evangélicos, judeus, budistas, candomblecistas, até ateus, e todos nós nos damos bem. Um respeita o outro. Aliás, não sei se você sabe, seu médico é de candomblé. Também é macumbeiro, como você diz.

— Me da meu telefone. Eu quero ir embora.

Estendi a Mão pra ela.

— Mãe... Vem me buscar por favor. Quero ir embora. Não... Nada... Só quero ir embora.

— Sara... Você pode pelo menos tentar me entender? Tentar?

— Não. Me deixa. Por favor.

— Sara... Você é muito cabeça dura. Por que não tenta ao menos entender?

— Não quero saber dessas loucuras...

— Sara meu amor...

— Não me chame assim!!!!!

— Você está sendo boba. Eu te amo. Estou fazendo de tudo por nós...

— Não quero nada que venha de você!!!!

— Nem o rim da Patricia então... – Acabei sendo cruel.

— Não seja idiota, desde quando o rim é seu?

— Não é meu. Mas é da mãe de santo que é minha ex esposa.

A buzina tocou.

— Me esquece...

Ela foi embora. Eu fiquei puta da vida.

Como ela pôde ser tão imbecil????

— QUE CARALHO!!!!!!

joguei as panelas na pia.

— Filha da puta imbecil. Não parou nem pra me ouvir. Vagabunda!!!! Como pôde ser tão infantil? Que minha religião tem a ver com ela??? Porra... Era só ela me respeitar e eu a ela.

Já eram quase meia noite. Ela não deu sinal de vida.

Cláudia: tá mais calma?

Sara: por favor me
deixa quieta.

Cláudia: Sara me deixa
pelo menos te explicar
como é minha religião.
Se você  entender que
não é nada do que falou,
pode ver que não
faço nenhum tipo de maldade.

Sara: não quero mais
tocar nesse assunto. Me deixa

Cláudia: você tem medo
porque não conhece.

Sara: você recebe santo?

Cláudia: sou médium sim.

Sara: recebe?

Eu respirei fundo antes de responder...

Cláudia: a palavra não
é bem essa. Mas trabalho
com alguns guias.

Sara: me esquece

Cláudia: quer saber?
Vai pró inferno!
Você é uma idiota
preconceituosa. Babaca.
Não sei como fui me
apaixonar por você.

Cláudia: eu recebo santo sim.
Sou macumbeira sim.
Visto branco sim.
Se você não aceita, foda-se.
Problema é seu. 
Não vou mudar
porque você quer. Enfia seu preconceito no rabo então.

Cláudia: só pra você não ficar na ignorância, e na falta de conhecimento, vou te explicar,
leia se quiser.
Umbanda é uma religião brasileira formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo ou espiritismo juntando ainda elementos da cultura africana e indígena. Assim como o candomblé tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos. Não fazemos mal, na minha casa não se mata um único bicho. Trabalhamos por amor e caridade, atendendo pessoas que precisam, por motivos de doenças, emprego, Família e outros problemas. NÃO EXISTE AMARRAÇÃO NA UMBANDA.  Se você se amarrou a mim, é porque me ama. Você ME AMA. ASSIM COMO EU TE AMO. Mas você não está presa a mim.  Aceite. Minha religião não muda meu amor por você. Mas eu não vou mudar porque você quer. Eu te respeito e sempre lhe respeitarei.

Sara: me deixa quieta.
Por favor.
Não quero falar com você.
Vou desligar o telefone.

— Filha da puta!!!! Não é possível... Que possa ter tanto preconceito.
Será que ela vai querer o rim da macumbeira???   – Acabei pensando besteira de novo.

Abri uma garrafa de vinho, e depois outra. Passei a noite inteira pensando nela. Pensando em como ela pôde ser assim... Pensei que a amei a toa. E pior Patricia justamente só aceitou doar o rim pra ela, por que recebeu um recado no centro que poderia seguir adiante. Ela é medrosa, mas foi confortada e orientada pelos guias espirituais dela. Só por isso aceitou.

— meu Deus! Como vou contar isso a Patrícia? – Eu seguia falando sozinha. —  Acho melhor nem contar... Periga ela nem querer doar. E Sara morrer por uma imbecilidade dela mesma.

Eu já estava conversando comigo mesma há horas. Passava das 5h. tinha aula as 9h.

— Que se foda. Vou dormir. Não posso ir assim.

Acordei mais de 10h, com muita dor de cabeça.

Cláudia: bom dia!
Cláudia: como você está?


Ela visualizou e não respondeu...

— Ainda não acredito no que está acontecendo... Que inferno!!!!

Mandei várias mensagens ao longo do dia. Ela lia e não respondia.

Por volta das 19h, entrei no carro e fui até a casa dela.

Toquei a campainha...

O pai dela veio atender, vestido de terno e gravata.

— Vá embora! Sara não quer lhe ver. Aliás, você nunca deveria ter entrado na vida dela. Ela é uma moça de família. Você é uma pervertida. Pederasta demoníaca. Senhora Não vou me exaltar. Quero que deixe minha família em paz. Você e sua corja. Incluindo o viado do médico seu amigo.

— Senhor... A Sara precisa internar essa semana pra operar. O Dr Carlos já organizou tudo... A doadora vai internar depois de amanhã.

— Vá embora. Nós não precisamos de vocês.

— Não Estou acreditando no que estou ouvindo! O senhor é louco? É a única chance da sua filha se salvar. Prefere deixa-la morrer?

— Se for o que Deus espera pra vida dela, que seja, com licença.

Ele fechou a porta.
Eu fiquei sem ação, a minha vontade era meter o pé na porta e pega-la a força, mas não havia o que fazer.

Ainda fiquei um tempo parada na porta da casa dela. Sem ação, sem reação. Sinceramente, não sabia nem pra onde ir.

— Como podem ser tão intolerantes? e mais que isso, ignorância.

Liguei pra Carlinhos. Pedi pra ir até sua casa. Patrícia estava lá. Cheguei completamente desnorteada.  Ela me abraçou forte, e ficou comigo um bom tempo assim, até eu me acalmar.

— Quando foi que nosso amor acabou hein?  – Eu disse a ela.

— Nosso amor não acabou minha vida. Apenas se transformou. Eu continuo te amando, sempre te amei. Mas nossas vidas tomaram rumos diferentes. Sabemos que não dá mas pra ficarmos juntas, mas eu quero sempre ser sua amiga.

Ela me apertou nos seus braços.
— Acho tão bonitinho, você assim tão forte, tão masculina, fica tão sensível as vezes. Sempre foi uma menina doce.

— Você sempre me deu os melhores colos, de esposa, amiga e de Mãe.

— Pois é... quem diria que o fato de eu também ser sua mãe pudesse te fazer sofrer tanto...

— Não diga isso – eu a soltei. — Nada a ver. Nossa religião é escolha única e exclusiva nossa. Eu acompanhei todo seu processo até ser Zeladora. E eu escolhi ser sua filha de santo. Poderia ter buscado outra casa, mas confio em você. E a religião é coisa de cada um. É preciso respeitar, a Sara não soube entender isso.

— Claudia, agora vou te falar como mãe. Como zeladora. As pessoas tem medo do que não conhecem.

— Eu sei, inclusive disse isso a ela.

— Então... perdoe, e tente entender, não sabemos como essa menina foi criada, o quanto de ódio foi plantado em seu coração por familiares e quem sabe por sua própria religião. Ela tem medo, porque foi assim que explicaram a ela, com base no medo e em horrores. Como sempre fazem com nossa umbanda e com o candomblé.

— Eu até entendo o medo com o candomblé, por que há a matança e tal.

— Claudia, você falando assim, com certeza as pessoas terão medo, e por sua ajuda. A Imolação, ou a matança, como você disse, no candomblé tem fundamento, nós não concordamos com essas mortes na umbanda, mas é uma religião muito antiga. E o sacríficio, inclusive, é algo bíblico. Quem não se lembra da Passagem da Bíblia, onde Abraãao Ergueu a faca para sacrificar o próprio filho, em nome de Deus? Isaaque seria oferecido em Holocausto, quando Deus o pôs a prova, o ato não foi consumado, pois o anjo do senhor se apresentou, e o impediu, só depois que teve certeza que Abraão temia a Deus e para isso mataria seu próprio filho. Sendo assim, o indicou um cordeiro para o sacrifício.

— As vezes essa bíblia é meio confusa...

— Não estamos aqui para julgar o que é certo ou errado, estou te explicando que para tudo na vida há um fundamento. “Eles” criticam o candomblé pela imolação dos animais, mas não se lembram que isso é inclusive bíblico.  Enfim, as pessoas precisam entender, que esses sacrifícios não são para o mal, mas oferendas a suas divindades, aos orixás. Assim como era para Deus. Lógico que existem casas que não são corretas e mexem com magias baixas e tal, mas o candomblé em si, é uma religião linda. Os animais usados servem pra alimentar toda a comunidade da casa de axé. Apenas os miúdos e algumas partes deles são usadas nas oferendas.

Eu a olhava interessada. Não havia pensado que eu também estava sendo preconceituosa.

— Não é por que eu sou contra a “matança”, como você diz, que eu não posso compreender e aceitar dentro da religião deles. Eles vivem a vida deles, nós a nossa, os judeus as deles, e assim vai... É preciso respeitar. E esses animais que são usados, a sua carne é consumida em refeições nos terreiros. Ou você come animais vivos?

— Não sabia... Não sabia que eram usados pra comida também... seria tão mais simples se todos pensassem assim... Cada um na sua.

— Verdade.

— Posso interromper?  
Era Carlinhos que estava tomando banho.

— Meu amigo! Como e bom saber que posso estar com você. Como o destino foi bom pra mim. –Disse abraçando-o.

contei a ele como foi na casa de Sara, e ele me falou que Sara desistiu do tratamento com ele, que buscaria outro médico.

— Como assim?? Ela já tem doadora. A chance de ela ter outro doador compatível é mínima.

— Claudia não podemos fazer nada. Ela é maior de idade. Ela tem o livre arbítrio. Tem o direito de não querer se tratar se quiser. Só poderíamos interferir caso ela fosse menor ou incapaz.

— Não é justo. Essa menina não pode morrer por tamanha ignorância.

— Claudia tenha calma. Deixe o Tempo agir...  – Patricia estava tranquila.

— Não tenho como ter calma. Ela está grave. Saía cada dia mais fraca da hemodiálise. Emagreceu, está pálida... com as pernas inchadas, ela está morrendo...

— Minha amiga, não temos o que fazer. Tente se acalmar.

— Porra... vocês não entendem

Peguei minhas chaves

— Aonde você vai?

— Não sei... esfriar a cabeça.

— Claudia, não saia assim, fique aqui. Vai fazer besteira.

Não dei ouvidos, bati a porta. No carro eu só sabia chorar, fiquei perdida.  Dirigi até o campo de estudos da faculdade, já era bem tarde, não tinha noção da hora. Os animais noturnos faziam sua ronda normal, deixei o carro totalmente escuro para não incomoda-los. Fazia bastante frio, eu estava só de camiseta. Deitei-me no capou do carro. Fiquei ali um bom tempo observando a noite. Seus sons são bem incômodos quando estamos sozinhos.

Eu, a noite, os animas e meus pensamentos, na escuridão total. Só a lua liberava uma breve luz, mas era encoberta pelas nuvens vez ou outra. Acabei ficando até o sol começar a nascer.
Perdi a noção do tempo. Meus dedos dos pés estavam meio roxos e dormentes. Nem percebi. Sentia muita dor nas articulações. Passei muito frio.  Ainda não sabia pra onde ir, nem o que fazer. Não podia aceitar o fato de que ela iria morrer.
Eu precisava arrumar alguma solução.

Claudia: Bom dia,
fala comigo por favor.


Ela leu. Não respondeu.

Claudia: Sara, por favor,
não sei o que fazer sem você.
Fala comigo.

Claudia: vai ficar aí só lendo
minhas mensagens?
Por favor, fale comigo.

Claudia: se você morrer
eu vou morrer
aos poucos também.

Claudia: Porra Sara!!!!
Fala comigo!!!!

Claudia: *gravando áudio*


Sara: NÃO ME ENVIE AUDIO,
NÃO QUERO OUVIR SUA VOZ!

Cláudia: *áudio* Meu amor... por favor. Repense. Olha... você pode nunca mais querer me ver, você pode não querer ficar comigo, eu te respeitarei, mas por favor, repense seu tratamento. Deus te deu a chance de voltar a ter uma vida normal. Você está recusando a segunda chance de vida de Deus. Ele te deu uma nova chance, e você está jogando fora... por favor... por favor... o Deus que eu sigo é um Deus de amor, de compreensão, Ele não é intolerante, ele nos ama como somos. E somos todos iguais. O fato de nós sermos de religiões diferentes não nos torna diferentes. Somos todos filhos de um mesmo Pai.

Sara: eu não quero
ouvir sua voz

Claudia: não quer ouvir por
que sabe que minha
voz mexe com você.
Por favor, ouça.

Claudia: *gravando áudio*


Sara: Claudia, por favor,
desista...
não podemos ficar juntas

Claudia: *áudio*  meu amor por favor, repensa... sei que você não quer me entender, não quer conhecer mais de quem eu sou. Mas por favor repense o seu transplante... Por que não podemos ficar juntas? Só por preconceito. Porque eu sei que você me ama. Engraçado que enquanto eu era só a sapatão masculina que ia pra cama com você não tinha esse preconceito. Por que a minha religião me fez diferente pra você? Podemos viver bem com nossas diferenças espirituais, eu respeitarei você e você me respeita.


Claudia: *áudio* Eu entendo que você está assustada por tudo que deve ter ouvido, toda a sua vida. Mas esqueça tudo isso. Esqueça a nossa religião. Pense em como Deus quer te ver feliz. Você tem uma segunda chance. Ele te deu.  Por que vai jogar fora? Porque você acha que sabe todas as coisas? Por que você acha que “seu Deus” é diferente do meu? Não meu amor. Ele não é. É o mesmo Deus de amor e compaixão. Por favor... Continue o tratamento... faça o transplante. Se fosse um doador morto e você não soubesse nada da vida dele,  e só depois de operada, descobrisse que era um assassino violento de crianças, você arrancaria o rim que Deus lhe deu pra reconstruir a vida?

Ela não ouviu nenhum dos áudios enviados.

Claudia: Ouça por favor.
Só te peço isso.
Se depois de ouvir não quiser mais falar comigo, eu ficarei triste, e morrerei aos poucos,
mas é uma escolha sua.

Claudia: lembre-se,
eu amo você...
e você morrendo,
eu morrerei por dentro.


Sara: vc não me ama.
Não tem tempo pra isso.

Claudia: eu amo,
e vc Tb me ama.
Sabe disso.
Ouça por favor.

Guardei o telefone e fui pra casa. Não poderia faltar as aulas de novo. Me arrumei rápido e saí.
As 10h, no intervalo de uma das aulas, ela ainda não tinha ouvido os áudios.  Eu tive vontade de chorar... mas segui o dia. Era dia dela fazer nova sessão de hemodiálise hoje. Será que irá?



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