Ninguém é culpado por amar.

Quer dizer... Talvez eu seja, talvez eu seja culpado por amar.

Amar a pessoa errada, amar a pessoa que me odeia, amar a pessoa que mais tem motivos para me odiar. Sim, eu sou culpado por amar.

Severus Snape, eu sou culpado por amar Severus Snape.

E talvez eu seja louco, sem noção, rei das ideias sem sentido. Estou plantado em frente à sua casa, com consciência de que ele é um Comensal da Morte e não alguém que eu deveria amar (não, eu não deveria saber onde ele mora sem entregá-lo). Estou com uma carta nas mãos gélidas, com poucos casacos e com a neve caindo ao meu redor. Eu estou parado, sem saber como me mexer, tremendo da cabeça aos pés, mas não de frio. Estou tremendo de medo.

A carta é clara, imbecil. James, por que você está fazendo isso?

Caro Severus, não jogue esta carta fora

Perdão é uma palavra complicada... Não, você não deve me perdoar, jamais pediria por isso. Eu não me perdoaria. De qualquer maneira, não estou escrevendo para te pedir perdão.

A verdade é difícil, eu não quero aceitá-la. Creio que isso é um castigo por todos aqueles malditos anos. Lily me acharia louco se descobrisse, creio que ela me culparia... Me culparia muito, e de repente voltaríamos a ser aqueles adolescentes idiotas. E ela provavelmente vai me culpar quando eu terminar com ela daqui a alguns dias. Eu acho que ela sabe que vou romper... Sim, ela sabe, aquele olhar não mente. E eu acho, Severus, que você, se estiver lendo esta carta, está revirando os olhos e amassando o papel com as mãos. Você não passou por tudo aquilo, para mim e Lily não continuarmos (sim, eu sei, pensaria assim também se fosse eu no seu lugar).

Não, Severus, também não estou escrevendo para contar que eu vou terminar com Lily. Para dizer a verdade, estou escrevendo para dizer que eu nunca estive apaixonado pela Lily.

Sim, Severus, tudo aquilo não passou de algo falso. Eu realmente achei amar ela, por um tempo achei ter certeza. Mas não, eu apenas achei estar apaixonado por ela, quando na verdade estava apaixonado por você. NÃO AMASSE ESTE PAPEL!

Eu notei, descobri mesmo depois de Hogwarts, mas com todo o trabalho, eu fingi amar Lily. Mas ultimamente não faz sentido, eu não consigo mais fingir, Severus. Eu sempre amei tudo em você, tudo! Mas que idiotice! Eu o amava, então por que o tratava tão mal? Acho que eu não queria admitir amar um garoto. Ainda mais sendo você, o pobre garoto esquisito, oleoso, narigudo, grosso e amigo de uma garota linda.

Merda, eu queria ficar perto de você, mas não ser o seu amigo (porra, eu não queria ser visto com você, não queria mesmo). Eu não deveria me importar com aparência, não deveria me importar com status, e eu não me importava, não tendo Remus e até mesmo Peter como amigos... mas você, você eu não conseguia, eu não conseguia imaginar, não no primeiro ano, não com você sendo da Sonserina. Eu odiava a Sonserina. Mas depois, quando cogitei mesmo a ideia de ser o seu amigo, já era tarde e o estrago já havia sido feito.

Foi no sexto, para o sétimo ano, que o sentimento ficou mais forte. Eu não conseguia mais ficar perto de você o tratando mal, não depois de ter tirado Lily de você. Então eu parei, só parei de correr atrás de você. Mas eu sempre o observei, Severus. Sempre.

E eu não sei, não sei mesmo, Severus, por que eu escrevi esta carta. Acho que foi porque eu não consigo, eu realmente não consigo, continuar vivendo sem você saber a verdade.

E essa é a verdade. Eu sempre amei você, porra!

Sinto muito.

Ass, James Potter.

Quando deixei a carta embaixo do tapete, desejando silenciosamente que o vento o levasse para longe ou a neve a tornasse ilegível, eu não esperei que dias depois fosse receber uma resposta. Mesmo antes de abri-la, eu sabia.

Era Severus Snape quem responderia... O que eu poderia esperar além do óbvio?

James,

Eu o odeio e juro que se um dia você tentar ter contato comigo novamente, eu o mato.

Ass, Severus Snape.

E talvez eu tenha chorado. E talvez eu tenha me odiado.