Capítulo 99 - Me chama de Tesseract
Me chama de Tesseract
Eduardo
— Cecília, eu não estou nem aí se você me indicou um restaurante ótimo — Romeu reclamou, enviando um áudio para a minha irmã, com Túlio apoiado em seu ombro. Fazia muito mais sentido agora que ele tivesse trazido um escondidinho de cará com proteína de soja para o jantar. — Eu não aceito esse vinho na sua carta. Se você quiser cozinhar com ele, ok, mas você não vai deixar ninguém beber isso. Eu já te sugeri pelo menos uns vinte melhores, aceita que é para o seu bem!
E aí ele enviou.
— Você sabe que o restaurante é dela, não é, Rommi? — Getúlio perguntou, erguendo os olhos para o marido.
— Mas ela pediu a minha ajuda, então vai ter que fazer direitinho — Romeu pontuou e Marcela deu risada, apoiando o cotovelo na mesinha de centro. — É sério, Cristal, vamos colocar a Cecília e a Celinha discutindo numa sala fechada? Tenho certeza que vai ser uma experiência sociológica que vai aparecer nos livros! Duas cabeças duras que acham que entendem mais sobre vinhos do que eu!
— Ei, por que você está me atacando? Eu só ri! — Marcela se defendeu, mas jogou uma borracha nele, que bateu no seu ombro e quicou para a bochecha de Getúlio antes de se perder em algum lugar entre as almofadas do sofá.
Romeu e Getúlio tinham aparecido no apartamento da engenheira com o jantar — claramente uma indicação de Cecília Senna, porque eu já tinha escutado várias vezes sobre o escondidinho de cará do GreenSoul — mais ou menos uma hora depois da nossa conversa, enquanto nós dois estávamos discutindo a possibilidade de reduzir a quantidade de aço da obra — Marcela achava que mais que 30% ia fazer tudo cair na nossa cabeça, mas eu estava mirando em 40% e confiava que nós dois podíamos fazer funcionar.
E também estava pensando em substituir parte da estrutura metálica por vidro, porque assim a luz natural seria mais bem aproveitada, mas não tinha contado isso para ela ainda. Má parecia muito obstinada fazendo e refazendo seus cálculos com os olhos semicerrados e os lábios apertados um contra o outro, então eu só a incomodaria caso ela estivesse pegando fogo e não tivesse se dado conta ainda.
Aparentemente, ela não confiaria nem a vida de uma suculenta a Marcos, quem dirá a revisão do seu trabalho, e era por isso que ela estava repassando o que tinha feito ao longo da tarde. Em defesa dela, eu não acho que Marcos saberia como cuidar de uma suculenta, porque ele tinha matado o cacto de Alice no primeiro mês dela na CPN colocando água demais nele — e foi Fernando quem deu outro de presente para ela.
— Porque você também gosta de ser tudóloga, Princelinha — Romeu esclareceu e Marcela subiu as sobrancelhas.
— Tudóloga especializada em engenharia, está escrito no meu lattes — ela gracejou e mandou um beijo para ele no ar. Túlio quem entregou, dando um beijinho na boca do marido, que fez carinho no seu cabelo antes de dar vários e vários beijos no rosto dele.
— É insuportável não poder discordar de você — Romeu disse e todos rimos quando Túlio mordeu seu queixo porque ele parou de beijar seu rosto. — Te amo, lindo.
— Eu também te amo, Rommi — Túlio respondeu e eles sorriram um para o outro.
Eles eram tão fofinhos!
— Um dia Ti e Chico vão ser assim também, Edu — Má disse, olhando para os dois também e deixando o ombro apoiado no meu. — Eles amam pudim.
Henrique e Tiago meio que já eram assim, mas não admitiam — na verdade, Henrique Francisco não admitia, porque se o dentista demonstrasse mais que estava perdidamente apaixonado pelo meu pretinho ele chegaria em casa com uma placa neon na testa, dizendo "ei, doutor, te amo e você não coloca logo um anel no meu dedo!".
Espera! Entendi o negócio do pudim! Agora fazia muito mais sentido que Chicão ficasse perguntando se Leandro e eu achávamos que ele amava pudim, porque ele achava que sim, mas estava com receio de não estar entendendo exatamente o que sentia sobre o pudim! E eu achando que ele estava falando de doce!
Virei para Marcela enquanto o casal no sofá fazia promessas de amor um para o outro.
— Acho que eles vão sim — disse, dando de ombros e sorrindo antes de sussurrar para ela: — E nós dois?
Marcela deu um peteleco no meu nariz, mas não conseguiu esconder o sorrisinho que subiu pelos seus lábios cor-de-rosa, deixando aquela fileira retinha de dentes brancos exposta para mim ao mesmo tempo que seus olhos buscaram os meus, cheios de carinho.
— Nós dois vamos construir um estádio — a engenheira disse, puxando seu caderno para mais perto.
Eu sorri, tenho certeza que com a maior cara de bobo da história.
— Você fica tão linda toda engenheira assim — gracejei e Marcela riu, colidindo o ombro com o meu e quase me fazendo cair no tapete porque fui pego desprevenido.
— E que tal você ficar todo arquiteto para eu ver se você fica lindo também? — Ergueu as sobrancelhas e apontou com o queixo para o notebook e os papéis que eu tinha deixado ali.
— Celinha, vamos esclarecer as coisas aqui — Romeu disse, após dar um último beijo na bochecha de Getúlio e ficar de pé. — O Cristal é lindo, eu sou lindo, você é linda, mas ninguém é tão lindo como meu Tutti — Getúlio meio ficou vermelho e meio derreteu quando o marido piscou para ele, antes de se voltar para nós dois. — Vocês já trabalharam demais hoje, chega!
E aí ele se jogou de forma dramática sobre a mesinha de centro, de modo que seu quadril ficou exatamente em cima das minhas folhas e sua cabeça sobre os cálculos de Marcela. Não sei exatamente como ele conseguiu pegar o lápis da mão dela, mas ele apontou para a engenheira com o objeto como se fosse uma arma e nem o rosnado dela o fez desistir de fazê-la dar um tempo.
— Rommi, a gente precisa fazer um estádio até o prazo da licitação...
— Vocês estão aqui desde uma hora da tarde e já são — ele olhou no relógio — nove horas. Aposto que vocês só comeram porque nós trouxemos comida e que, nesse momento, você nem consegue somar dois mais dois!
— É claro que eu consigo! — Marcela se defendeu, ao mesmo tempo.
— Eu comi, a Má passou a comida no rosto — eu disse.
— Mas não precisa, então para de discutir comigo uma vez na sua vida! — Romeu disse e buscou auxílio olhando para mim, como se eu fosse oferecer um argumento contundente que acabasse com aquela questão, mas eu apenas dei de ombros porque... Bem, ela erguia prédios até desacordada. E eu não queria que ela rosnasse para mim, a gente tinha passado dessa fase. Certo? — Cristal, me ajuda a te ajudar! Já basta um workaholic e ela nem vai te morder de verdade!
Getúlio começou a rir, deixando claro que aquilo provavelmente não era verdade. Não que eu precisasse de um aviso, eu sabia que Marcela Noronha tinha atentado contra a canela de Valter com uma prancheta e ele tinha marcas emocionais sobre o evento até hoje — e não acho que ela hesitaria em me acertar com um objeto próximo também.
— Acho que tudo bem se a gente deixar isso para segunda, conseguimos adiantar muita coisa hoje e, sinceramente, minhas costas já estão doendo de ficar nessa posição — eu disse, girando o pescoço e sentindo pontadas de dor na parte superior.
Marcela considerou por uns segundos antes de dar de ombros, puxando o caderno debaixo da cabeça de Romeu, que reclamou quando sua cabeça bateu secamente na madeira, e o colocou fechado sobre um assento vazio de uma poltrona unitária, preservando suas anotações, antes de se virar para mim.
— Deixa eu sentir suas costas, Edu — Má pediu e Romeu ergueu as sobrancelhas ao mesmo tempo que eu, mas mesmo assim eu me virei de costas e deixei que a engenheira tateasse meus ombros e minha coluna.
Suas mãos eram delicadas e seus polegares pressionavam vários pontos em busca e nós de tensão, fazendo uma massagem que me fez morder os lábios para não g...runhir, porque era deliciosa, mas não sei quão bem eu disfarcei o som que queria sair pela minha garganta, porque Getúlio me deu um sorriso e piscou um olho só para mim — e eu tenho quase certeza que fiquei vermelho, mas pisquei de volta para ele porque era óbvio que eu adorava aquela mulher me tocando.
— Acho que o Cristal já está ficando ótimo — Getúlio disse e Romeu riu e falou "ai" depois de um segundo. Pela ausência de uma das mãos de Marcela, com certeza ela tinha acabado de agredir seu melhor amigo.
— Não achei nós, Edu — Marcela disse, dando um tapinha no meu ombro como um incentivo. — Deita de bruços que eu vou estalar.
— Eu vou fingir que não estou vendo uma coisa dessas! Na frente do médico! — Getúlio disse, colocando as mãos na frente dos olhos, mas deixando uma fresta entre entre o dedo médio e o anelar de ambas, cobrindo um total de 0% da sua visão. — Não força e nem coloca muita pressão, ok, Celinha? Eu não quero ter que socorrer ninguém! Mas não se preocupa, Cristal, eu fiz um juramento na minha formatura e vou te socorrer se precisar.
— Assim inspira muita confiança mesmo — eu disse, levemente arrependido de estar realmente deitado com o peito apoiado no tapete, vendo apenas os pés com meias azuis com patinhos amarelos do Dr. Alves.
— Deixa a tudóloga trabalhar, eu sei o que estou fazendo, como sempre — Marcela gracejou, ficando de pé e tirando as crocs. Ela deixou perto de onde nós estávamos, mas Romeu delicadamente as chutou para longe, porque nem a Princelinha podia fazer uma coisa dessas. — Me fala onde está doendo, Edu.
E aí ela colocou o pé em mim e arrepiou até os pêlos da minha nuca, porque mesmo sob a camisa, dava para sentir que estava gelado. A engenheira foi trocando cada ponto de contato, pressionando devagar com seu dedão e, com o tempo, acho que eu comecei a gostar do toque gelado.
E eu tinha que concordar com Leandro: fazia cócegas. Talvez até o Alecrim Dourado merecesse um voto de confiança depois desta experiência.
— Bem aí — eu disse quando ela pressionou o ponto exato que fez aquela sensaçãozinha de dor correr pela minha espinha.
— Ok. Eu vou subir em você — ela disse e eu senti a planta do seu pé inteira nas minhas costas e depois o outro, aumentando o peso sobre mim.
— That's what she said — Romeu gracejou, ainda deitado na mesinha, virado para o nosso lado para observar de camarote.
— Literalmente foi isso o que ela disse, meu bem — Tutti observou.
— E vou colocar um pouquinho de pressão...
— That's what she said! — Tutti entrou na brincadeira e eu tenho a sensação de que ele fechou as frestas dos dedos na frente dos olhos quando Marcela enviou olhares cortantes para ele, mas, de verdade, eu não consegui realmente prestar atenção na dinâmica das coisas porque ela realmente colocou pressão e a minha coluna estalou.
Ou se partiu ao meio, das duas uma.
Todavia, como num toque de mágica, aquela dorzinha chata que tinha ficado comigo ao longo da tarde desapareceu.
Romeu me cutucou com o lápis, bem na panturrilha.
— Tá sentindo isso, Cristal? — Tutti quis saber, incentivando seu marido a me furar para testar a sensibilidade dos meus membros inferiores. Eu tenho a sensação de que Romeu Sampaio estava se divertindo com a situação.
Eu fiz que sim, ainda sentindo Marcela de pé sobre as minhas costas e sem me importar que ela ficasse ali pisando de um lado para o outro como se esperasse o momento que eu ia gemer de dor, testando seu próprio tratamento alternativo. Chicão dizia que estalar as costas era apenas um placebo, já que a dor era muscular e não óssea ou nas articulações — aparentemente o som do estalo fazia o cérebro pensar em alívio e haviam estudos sobre a liberação de endorfinas.
— Talvez demore um pouco para você sentir as pernas, porque eu sou fenomenal — disse ela, cheia de si, após concluir seu exame sem que eu reclamasse de nenhuma dor.
Romeu e Getúlio começaram a rir.
— That's what she said — eu ergui a cabeça para provocá-la e Marcela me fez encostar a bochecha no tapete de novo me empurrando contra o tapete com seu pé. Lado bom? Meu pescoço estava se movendo normalmente e não como se eu estivesse com o pior torcicolo da história!
— Vocês são ridículos! — Marcela disse, apoiando os pés no chão e eu rolei para ficar de barriga para cima, me sentindo como uma tartaruga quando tentei ficar sentado e caí de volta.
A engenheira me ofereceu as mãos e eu peguei, deixando que ela me puxasse para cima até que eu estivesse sentado de volta no tapete. Aí eu comecei a mexer os dedões dos pés, só para testar um negócio... Ok, eu ainda tinha os movimentos das pernas.
— Agora que você curou o Cristal do jeito que assusta a medicina tradicional, nós podemos fazer alguma coisa? — Túlio perguntou, mexendo no pé de Romeu com a mão e fazendo o marido rir, mesmo que não estivesse propriamente fazendo cócegas. — É sábado à noite e a gente ficou assistindo a Celinha quebrar o Cristal. Quer dizer, vocês, eu não vi isso. Eu teria receitado paracetamol e citrato de orfenadrina como os médicos fazem para alívio rápido.
— Sabe o que eu queria? — Romeu disse, olhando para o teto e depois para a melhor amiga: — Uma bebida e um joguinho para a gente dar risada.
— Chá gelado de maçã e gengibre e "Eu Sou?"? — Marcela sugeriu, batendo uma palma animada.
— É por isso que eu amo essa mulher! — Romeu exclamou, mandando beijos para ela. — Celinha, você me entende como se nós tivéssemos cérebros gêmeos!
— Me ame vindo me ajudar a preparar então, Rommi, e aproveita para sair de cima da minha mesinha — a engenheira disse e pegou as mãos dele, o puxando para cima, o que se provou meio inútil quando Romeu apenas parecia uma gelatina pouquíssimo disposta a cooperar. — Romeu!
— Você é quem sabe fazer!
— Eu te ensinei a fazer direitinho! — ela disse e ele riu. — Quem falar "that's what she said" pode se considerar um homem morto!
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Eu descobri que amava chá gelado de maçã e gengibre no momento em que Romeu me entregou um copo e eu vi o gelo, fatias fininhas de maçã, canela em casca, cravo da índia e anis estrelado boiando dentro do líquido amarelado, que tinha um sabor suave e levemente picante.
E também descobri que Marcela com um papel escrito "bambu" colado na sua testa com fita adesiva era algo absolutamente lindo de se ver e até teria tirado uma foto se ela não tivesse tomado meu celular quando eu tentei fazer isso. Porém, acho que Romeu tinha feito isso por mim e, do jeito que ele piscou completamente no meu time, eu sabia que teria aquela foto em breve.
Enquanto Romeu e ela tinham feito o chá, eu fui incumbido da tarefa de organizar seus papéis, porque depois de anos juntos eu tinha aprendido que não deveria tirar nada de ordem e apenas juntar e mover, e foi exatamente o que eu fiz, colocando tudo junto na poltrona onde ela mesma tinha colocado seu caderno.
E aí eu juntei as minhas coisas junto com Getúlio, liberando a mesinha de centro.
— Eu sou verde? — Má perguntou, com o bloquinho que costumava ser meu nas mãos, porque Marcela Noronha era competitiva demais para não ser racional com um jogo de pistas e estava anotando suas dicas ali, em colunas de "sim" e "não".
Basicamente o jogo consistia em todos nós perguntando sobre quem nós éramos, porque havia um papelzinho pregado em cada testa, mas a própria pessoa não sabia o que estava escrito no seu e tinha que descobrir.
Marcela era bambu — e, incrivelmente, aquilo não tinha sido escolha minha.
Romeu era José Bezerra, o melhor príncipe da Disney.
Getúlio era brigadeiro de churros.
E eu não fazia ideia do que estava colado na minha testa, mas fazia Romeu e Getúlio rirem toda vez que olhavam.
— Pode ser, mas também pode ser amarelado, então depende — foi o que Túlio respondeu, de cabeça para baixo no sofá, com a cabeça ao lado da de Romeu, que tinha decidido sentar no tapete também.
O rosto do médico estava começando a ficar vermelho e ele agitava os pés por trás do encosto do sofá, o que era bonitinho de se ver, mas eu não tenho absoluta certeza se era saudável.
Marcela anotou a informação.
— Eu faço parte de uma animação? — Romeu perguntou, apoiando a bochecha na de Getúlio.
Eles estavam calçando meias exatamente iguais e isso era brega e fofo na mesma proporção.
— Sim — Getúlio e eu respondemos juntos, mas foi o pediatra quem continuou: — Eu sou um doce?
— Claro que sim, no jogo e na vida real — Romeu gracejou e seu marido sorriu como se tivesse acabado de ganhar o dia e nada mais importasse para ele, mesmo que alguns minutos antes eles estivessem em um debate acirrado sobre quem tinha perdido o botão do punho da camisa verde preferida dos dois (sim, porque aparentemente a camisa era deles, não de um ou do outro) e eles não conseguiam encontrar um igual para substituir.
A discussão acabou quando eu mandei uma foto do dito cujo para Leandro, que claro que tinha dos mesmos junto com os aviamentos que ele mantinha em casa por segurança — o galã ficou mais que feliz em poder ajudar e já queria ele mesmo pregar o botão.
— Sua vez, Cristal — Getúlio disse, alisando o cabelo de Romeu para o lado oposto do natural, fazendo uma bagunça ali.
— Eu sou uma planta? — perguntei e os três responderam que sim.
O jogo prosseguiu, como todos tentando descobrir primeiro o que eram. Getúlio tinha suspeitas fortíssimas de que ele era palha italiana e Romeu estava um tanto confuso, acreditando que ele era algum super-herói. Marcela suspeitava que era a bandeira do Brasil e Retúlio já tinham cantado trechos do hino nacional em coro para ela duas vezes.
Eu só sabia que eu era uma planta e não era uma suculenta. Nem uma flor. E eu perdi uma rodada repondo o chá de todo mundo, então eu era o único que tinha o direito de perder com honra ali.
— Tutti, você está ficando da cor de um tinto, que tal virar de cabeça para cima de novo? — Romeu pediu, olhando para o marido que, de fato, estava começando a ficar vermelho demais.
— A gente nunca deu um beijo que nem Homem Aranha e Mary Jane — o pediatra disse, segurando o rosto de Romeu e dando um selinho nele.
— Ok, crianças, virem para lá porque eu vou beijar o Peter Parker. O do Tobey Maguire, o do Tom Holland é muito jovem — Romeu avisou e esperou que a gente virasse antes de colar a boca na do seu marido de ponta a cabeça.
Marcela passou suas belíssimas pernas por cima das minhas coxas, apoiando a cabeça no meu ombro, me olhando com seus olhos cansados e uma carinha de sono, e eu fiz a única coisa que podia fazer: passei meu braço direito por trás de suas costas, envolvendo-a até que minha mão estivesse na sua cintura, e deixei a outra mão pousar nas suas panturrilhas, aceitando aquela proximidade e fingindo costume como se meu coração não ficasse em estado de calamidade pública quando ela ficava tão perto.
E a gente ficou se olhando, porque Retúlio estavam levando a sério a coisa do Homem Aranha. E porque a gente queria, eu acho.
— Ei — eu disse, olhando para ela daquele novo ângulo.
— Ei — ela respondeu, com aquele sorriso fácil nos lábios. Eu sabia que o sorriso de Marcela Noronha não era fácil, mas eu sabia agora que ela sorria quando me olhava e isso era uma das coisas mais maravilhosas que alguém fazia para mim. Sorrir só porque eu era eu. — Você vem sempre aqui?
Ergui as sobrancelhas. Então ela era quem estava me cantando agora? Eu podia trabalhar com isso.
— Menos do que eu gostaria, na verdade — disse eu, apontando devagar para o chá com o queixo. — Mas tem canudos de metal, então acho que eu posso voltar mais vezes. Gosto de pensar que estou salvando as tartarugas.
Marcela apoiou a mão no meu peito e, dessa vez, quem deu um sorriso líquido fui eu.
— Uma vez Capitão Planeta, sempre Capitão Planeta — Marcela gracejou. — Capitão Poluição está perdido.
E aí um dos dois pigarreou, Getúlio já sentado como a física exigia para que seu sangue não fosse parar todo na sua cabeça. O olhar de Romeu encontrou o meu após ele registrar a posição em que Marcela e eu estávamos e ele nem precisou dizer nada para que eu soubesse o que ele queria dizer:
Você disse que ama a Celinha? Você disse! Não disse? AI MEU DEUS A PRINCELINHA! Me fala que vocês finalmente estão juntos para eu poder gritar que sempre soube!
Eu apenas movi a cabeça em negativa e Romeu ergueu as sobrancelhas, tentando entender a matemática complexa entre nós dois abraçados e a ausência de uma declaração e amor, mas acho que eu não conseguia explicar via olhar que a gente estava indo devagar e que não tinha como ir devagar e falar para Marcela que eu sabia que a amava desde antes da nossa briga.
E aí eu reparei que estava havendo uma conversa entre Marcela e Túlio também e, aparentemente, algo estava dando certo ali, porque Getúlio estava sorrindo de orelha a orelha e Má estava toda vermelha com a bochecha espremida contra o meu tronco.
Eu puxei meu copo e dei um gole nas últimas gotinhas remanescentes de chá gelado que havia ali.
— Ok, eu preciso dizer que nossos papéis caíram e agora o Tutti já sabe que é um brigadeiro de churros e eu o José Bezerra — Romeu contou, apoiando a mão no próprio peito. — O melhor príncipe da Disney, achei uma homenagem muito justa, Celinha.
— O Naveen também deveria ser considerado, eu acho, mas fica difícil porque a gente sempre tem uma queda pelo macho de índole duvidosa — Getúlio disse, colocando a mão sobre o peito e suspirando. — Ai, ai, Loki. Me chama de Tesseract e eu te levo para o multiverso, deus da trapaça!
— Ai, Tutti, vamos ter que discordar. Thor com aquele martelão na mão não é a coisa mais linda que você já viu? — Foi a vez de Romeu suspirar. — Só perde para você e para a cena dele chegando em Wakanda em Guerra Infinita.
Olhei para Marcela enquanto eles debatiam sobre o herói mais bonito, que claramente era o Capitão América, e apontei vagamente para a minha testa.
— Nós deveríamos apenas tirar isso ou... — perguntei.
— Dica sobre quem você é: eu quase nunca aceito — Marcela disse e um sorriso travesso apareceu no seu rosto.
— Impressão minha ou a gente falou muito de bambu hoje? — eu disse para a engenheira, que deu risada antes de descolar o papel da minha testa e eu vi que Romeu tinha colocado bambu em mim também (that's what he said!). — Sobre quem você é: mais forte do que o aço.
— Então a gente sabe com certeza que eu não sou bambu? — ela perguntou e mordeu o lábio. Eu estendi a minha mão até sua testa e descolei a fita adesiva antes de colocar sua plaquinha escrita por Getúlio na sua mão, para que ela pudesse lê-la.
— Aceita o bambu, Marcela! — disse baixinho no ouvido dela e acompanhei sua risada.
— Tudo deu errado nessa rodada, claramente — Túlio disse, encaixado entre as pernas de Romeu e com as costas apoiadas no peito do marido. — Vamos mais uma ou está na hora de encerrar a noite?
Eu olhei a hora no celular e por mais que eu quisesse passar horas enroscado com a minha engenheira preferida, falando sobre bambu com ela e seus melhores amigos, já estava bem tarde e Marcela cobriu a boca para bocejar, fazendo com que eu bocejasse também e seus amigos idem, como uma reação em cadeia que claramente era o sinal de que todo mundo estava com sono.
E a gente ia devagar, não era?
— A gente marca outro dia? — perguntei, abraçando mais a cintura de Marcela e a puxando para mais perto. Eu tenho perfeita ciência de que minhas palavras e minhas ações estavam em desacordo, mas, o que eu podia fazer? A pessoa apaixonada geralmente fica meio bocó mesmo. — Hoje já está tarde, eu ainda preciso dirigir e só consigo pensar em um banho, na minha cama e...
Alisei as panturrilhas de Marcela, que repousavam sobre minhas pernas, e ela beliscou minha barriga, me fazendo dar risada.
— Vamos marcar mesmo! Uma noite com você, Titi e Chico — Túlio disse e eu concordei. — E o Leandro, claro. Impressão minha ou ele ficou mais bonito ainda depois da tatuagem da borboleta?
— Você vai se tornar a pessoa favorita dele no mundo inteiro se disser isso na presença do galã — eu disse e Marcela tirou as pernas de cima de mim, girando o corpo. Soltei sua cintura para ficar de pé e pegar minha mochila.
— Pode ser providenciado, porque ele molhado no ano novo é algo que eu nunca vou esquecer. — Romeu suspirou e apoiou o queixo no ombro de Getúlio.
Eu realmente achei que Túlio ia olhar feio para Romeu, mas, ao contrário, ele apenas concordou que o galã molhado era uma belíssima visão. Bom, que atire a primeira pedra quem discordou, porque eu não fui.
Marcela esticou os braços para mim.
— Me levanta para eu te levar até a porta, Edu — disse e eu peguei as suas mãos, a puxando para cima para que ela ficasse de pé. Ela até olhou em volta em busca das crocs, mas desistiu delas e apenas arrumou o cabelo que estava no seu rosto.
— Até outro dia — eu disse para os rapazes.
— Primeiramente, se despede direito — Romeu disse, colocando o dedo na própria bochecha.
Eu me abaixei de novo para dar um beijo nele e outro em Túlio, porque eles não quiseram se levantar. Tudo bem, eles estavam fofinhos embolados no tapete e eu não ia desfazer aquela cena.
Mas Marcela mandou os dois pararem de serem folgados e Romeu tirou uma das meias para jogar nela. Ela não ficou muito feliz.
— Tchau, Cristal! — Os dois disseram em uníssono, mas foi o melhor amigo de Marcela quem prosseguiu: — Se comportem, viu? Mas se rolar mão boba do Cristal, a gente não conta para o Chiquinho. Ele teria um colapso.
— E se rolar mão boba da Celinha a gente finge que não viu, mas vai querer detalhes depois — Tutti gracejou e a engenheira jogou uma almofada neles com tanta força que eu desejei nunca ser alvo daquela reatividade.
Eles, por outro lado, apenas ficaram rindo, então acho que tinha valido a pena?
Marcela, como prometido, foi comigo até a porta, abrindo-a para mim e puxando a madeira maciça.
— A gente se vê depois? — perguntou enquanto eu enfiava o braço na alça da mochila e a jogava para trás.
— Claro — eu disse e coloquei minhas duas mãos nas suas bochechas, envolvendo seu rosto lindo e sentindo sua pele macia e quente contra as minhas palmas, a olhando. — Descansa, tá bom? Mentes brilhantes podem e devem parar às vezes, a gente ainda tem um prazo bacana para a licitação e eu tenho certeza que Marcos não vai ferrar com seus cálculos de novo depois do sabão que tomou da Renata.
— Descansa também, Edu — ela disse antes de passar os braços pela minha cintura e me abraçar. Eu, é claro, a apertei contra mim também, a abraçando de volta. — E me avisa quando chegar?
— Aviso, mas espero que Retúlio já tenham te colocado para dormir até lá — eu disse e ela ergueu o rosto para mim. Eu beijei sua testa, provavelmente por tempo demais. — Até depois, Má.
Ela sorriu e, relutante, nós dois nos desencostamos.
— Até depois — ela disse.
Marcela fechou a porta quando eu saí e eu ouvi um gritinho de Getúlio seguido de um de Romeu antes de entrar no elevador e descer para o térreo.
O percurso foi rápido, porque não havia quase nada de trânsito, eu gostava da música que a rádio tocava naquele horário e estava sem noção de tempo me sentindo feliz porque Marcela e eu íamos devagar para algum lugar.
Juntos, era isso que importava.
E quase como uma confirmação de que aquilo era certo e de que ela também estava pensando em mim, meu celular vibrou antes de eu enfiar a chave na maçaneta da porta do meu apartamento.
Marcela: 3x1
Marcela: (imagem)
Eu tinha esquecido mais um casaco na casa dela, era o que sua foto vestindo meu moletom preto me informava. Seu cabelo continuava uma bagunça, dava para ver por baixo do capuz, e seu rosto ainda estava sonolento, mas ela estava no quarto. Na cama.
E ficava mais bonita do que eu em todas as minhas roupas que já tinha vestido.
Eduardo: É oficial, vou ter que assaltar seu guarda-roupa
Eduardo: Nunca pensei que seria assim que eu perderia meu réu primário
Eduardo: Sempre achei que seria preso em um protesto pró-Amazônia
Ela estava digitando quando eu entrei em casa e Henrique Francisco e Tiago olharam para mim, virando-se de costas para a televisão e para seja lá qual fosse o filme que estavam assistindo.
Marcela: Tá vendo por que eu disse para a gente ir devagar?
Marcela: Nunca pensei que você tivesse planos sobre como iria se tornar um criminoso
Marcela: A gente nunca sabe com quem está lidando, mesmo depois de anos
— Olha a cara de bobo, Titi — Chicão comentou.
Eduardo: O único crime que estou planejando é roubar um coração
Marcela: Pobre Valter, nem vai ver o que o atingiu
E eu sorri.
Valter, claro.
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Quarta com jogos, chá, Retúlio e Mardo... só ficaria melhor de Chitiandro estivesse nesse rolê também hahaha
Quem mais está se derretendo de amores com Mardo sendo lindo e maravilhoso? Ver a evolução deles a cada capítulo é tãaaaaaaaaaaao apaixonante...
E quem mais já jogou esse jogo? Gabs e eu descobrimos que jogamos de maneiras bem diferentes hahaha como é na terrinha de vcs?
Esperamos que estejam amando!!! Não se esqueçam do surto, crítica e estrelinha!
Próximo capítulo vai acontecer um negócio bem... hum... surpreendente hehehe esperamos que estejam prontos!!!!
Um beijo, (não desistam de nós, vamos responder todos os comentários de vocês com amor e carinhos hihihihihihihi)
Libriela <3
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