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Capítulo 98 - Vou até trocar meu hidratante labial

Vou até trocar meu hidratante labial


Eduardo

Era um sábado e eu sentia o meu cérebro fritando dentro do meu crânio, totalmente exausto de pensar e repensar com Marcela pontos importantes do projeto do estádio — nós tínhamos visto todo o plano de necessidades ao longo daquela semana, porém cada vez que eu olhava para ele tinha um detalhe que precisava de mais atenção ou que podia ser melhorado.

O sombreamento nas áreas próximas. O campo. A divisão dos setores. O acesso às saídas. A sala de controle. Os ambulatórios. O abastecimento de água e eletricidade. Vestiários. Anfiteatro.

Além de um projeto estável e seguro em si, tínhamos que pensar ainda em nos adequar ao Green Goal, uma iniciativa da FIFA que visava minorar os impactos ambientais do estádio e dos jogos — tecnicamente era um legado para Copas do Mundo, mas acho que tudo bem pensar grande, certo?

E, sinceramente, o desafio de conseguir diminuir a emissão de gás carbônico, reduzir em no mínimo 20% o consumo de energia e água e a geração de resíduos talvez fosse a minha parte preferida daquilo. Era a chance de provar, em larga escala, que era totalmente viável produzir algo lindo, funcional e ambientalmente correto.

Acho que até Marcela já estava levemente irritada com meu perfeccionismo, mas aquele era o projeto das nossas vidas e nós dois estávamos tão envolvidos quanto poderíamos e, por causa disso, meu dia tinha se resumido a nadar de manhã com Henrique Francisco e Vinícius (que ficaram amiguinhos demais para o meu gosto), almoçar com o Leandro e, depois disso, eu fui para o apartamento de Marcela e já tinha perdido completamente a noção das horas enquanto a gente debatia e desenhava e calculava para conseguir entregar aquele projeto o mais perto da perfeição possível e no prazo da licitação.

Felizmente, a empresa que estava financiando o estádio não tinha optado pelo critério do menor preço apenas, havendo um contrapeso com relação à qualidade técnica — e Marcela e eu decidimos apostar nisso, porque ser ambientalmente correto poderia sim ser um pouco mais caro, então provavelmente nossa proposta não seria a mais em conta, portanto, compensaríamos isso no critério técnico.

Ou, pelo menos, estávamos confiantes de que sim. Muito, porque nós tínhamos o hábito de sermos ótimos juntos.

De certa forma, acho que todas aquelas horas tinham compensado, pois algumas coisas estavam definitivamente decididas: trabalharíamos com traços rígidos; os pilares de sustentação para as arquibancadas e para a parede seriam de bioconcreto e aço (eu tive que dar o braço a torcer quanto ao bambu nas estruturas principais de sustentação, porque não havia estudos suficientes para comprovar que um material orgânico, ainda que tratado, fosse o ideal para uma construção tão grande e em uma zona litorânea, já que seria em Vitória); os pilares da cobertura partiriam dessa estrutura e as telhas translúcidas seriam tratadas com mantas termoacústicas, para evitar que a parte de dentro do estádio ficasse quente demais e para minimizar o vazamento de som para o lado de fora; aproveitaríamos a ventilação natural o máximo possível; haveria um sistema de reuso de água da chuva para abastecimento interno.

E nossa última decisão tinha sido que o abastecimento elétrico seria feito através de painéis solares fotovoltaicos. Dez mil painéis, para ser mais exato.

Eu meio que tinha que agradecer ao arquiteto do estádio Mané Garrincha, de Brasília, por ter feito isso antes de mim, porque eu me senti praticamente o advogado de defesa da energia solar enquanto argumentava que dava sim para usá-la naquele projeto — até porque Marcela não ia gostar mais da minha segunda opção, que era energia maremotriz combinada com energia eólica para aproveitar a quantidade de mar que existia ao redor da capital capixaba.

Claro que daria trabalho enfiar dez mil painéis em um estádio e ainda sair algo bonito, mas eu tinha que acreditar no meu potencial de fazer um design incrível, para ser tão lindo que fosse equiparável ao Morumbi, Allianz Arena, Century Link Field, ao Wembley Stadium ou...

— Eu não consigo me concentrar com você me olhando assim — Marcela disse, erguendo os olhos do caderno onde estava rabiscando números há pelo menos uns dez minutos, cantarolando para ela mesma a música que estava tocando no ambiente sem nem perceber.

Era visível que ela estava tão cansada quanto eu. Pequenas bolsinhas estavam abaixo dos seus olhos, um pouquinho mais caídos que o normal, seu cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça, do qual vários fios escapavam, apontando em ângulos diferentes, sua blusa estava com a manga pendendo em seu ombro esquerdo e sua calça de moletom tinha uma manchinha que supus que fosse antiga.

— Assim como? — perguntei, erguendo uma sobrancelha e assistindo quando ela rolou os olhos.

Ser petulante com Marcela era praticamente meu esporte preferido.

— Do jeito Eduardo — ela esclareceu, tamborilando o lápis no papel algumas vezes enquanto me esperava contestar.

O que exatamente "jeito Eduardo" queria dizer? Eu não sabia, mas julgando pela maneira que a engenheira estava me olhando, não parecia ser algo ruim.

Então eu apenas sorri, vendo um sorriso se esgueirando pelos lábios dela, mesmo contra a sua vontade, porque seu olhar ainda tinha um lampejo de repreensão.

— É que é muito difícil não olhar para você, Má — eu disse, empurrando meu caderno de projetos, com um primeiro esboço da planta baixa do estádio, para o meio da mesinha de centro. A folha onde os traços estavam tinha sido apagada tantas vezes que estava meio gasta e manchada de cinza grafite.

Então eu apoiei as costas no sofá e estiquei as pernas, me dando conta de que elas tinham ficado dormentes e agora estavam formigando para reestabelecer a circulação. Eu acho que eu fiz uma careta, porque Marcela começou a passar as mãos pelo rosto, como se estivesse procurando alguma coisa.

— Tem brigadeiro no meu rosto de novo, Eduardo? — perguntou, passando os dedos pelo queixo e ao redor da boca. — Eu disse para você me avisar!

Ela tinha mesmo me pedido mais cedo, quando nós tínhamos feito nossa única pausa para comer depois de horas de trabalho. Eu tinha levado um bolo de cenoura com cobertura de brigadeiro da Panificadora Pão-de-ló, que era uma perdição, nas palavras de Tiago Lira — e se o dentista corria o risco de ter uma cárie por aquele bolo, por que Marcela e eu não correríamos? Provavelmente valia a pena.

Eu não me orgulho de dizer que a deixei com brigadeiro na bochecha por uma hora e meia até que ela mesma percebesse o fato, porque eu só ficava olhando e rindo, achando Marcela a criatura mais linda do universo.

E eu ri mais ainda porque ela fez uma vídeo-chamada com Thales naquele meio tempo — eu teria avisado sobre o rosto sujo, mas eu só vi que era uma ligação em vídeo quando ela atendeu e o rosto dele apareceu na tela após um "Noronha!" muito animado e meio risonho.

Em minha defesa, ele também não avisou!

E se Thales mandou um print do belo rosto de Marcela com chocolate no grupo do churrasco de Galileu, que tinha se tornado o grupo não oficial da CPN e nunca realmente tinha se desfeito, a culpa não era minha!

E muito menos era culpa minha se Andreia tinha colocado o print como ícone do grupo e que todo mundo tivesse uma piadinha para falar que Marcela Noronha era um docinho com cobertura, mesmo que eu quem tivesse começado perguntando onde estavam Lindinha e Florzinha, porque a Docinho já tinha se apresentado.

— Nem toda vez que eu te olho é porque tem chocolate na sua bochecha — esclareci, observando enquanto ela também apoiava as costas no sofá, mesmo que suas pernas ainda se mantivessem em posição de índio. Tombei meu rosto para olhar para o dela. — Às vezes é só porque você é linda demais pra eu olhar para outra coisa.

Eu pisquei um olho só para Marcela, que mordeu o cantinho do lábio antes de empurrar meu ombro sem muita delicadeza, me fazendo tombar para o lado oposto do qual ela estava.

— Ei, docinho! Assim vai fazer o curso de reatividade pela oitava vez! — gracejei e Marcela me empurrou de novo quando eu me ergui, mas dessa vez com menos convicção porque estava rindo junto comigo. — Davi deve mesmo estar com saudade do seu rostinho no canto da tela. Eu estaria.

— Eu não sei como, eu não sei quando, mas eu vou me vingar desse brigadeiro, Cristal — Marcela disse antes de ficar ereta de novo, olhar para seus cálculos inacabados e desistir de brigar comigo. Ao contrário, ela simplesmente me entregou sua xícara vazia e piscou várias vezes para mim, o que me fez erguer as sobrancelhas. — Chá? Earl Grey é ótimo para estresse e concentração. E se você não estiver aqui para me olhar desse jeito, é um plus. O estádio não vai ficar de pé em um passe de mágica, então eu preciso conseguir focar e está sendo muito complicado.

— O que exatamente está tirando o seu foco, Marcela? — perguntei, vestindo a maior feição de inocência que meu sorriso nem-tão-bom-moço-assim me permitiu. — Meus olhos? Meu sorriso? Minha boca? Da última vez que você ficou desconcentrada perto de mim em uma mesinha de centro...

Ela sorriu de novo e ajeitou uma das mais ou menos quatorze mechas de cabelo que tinham se desprendido do seu coque. Mesmo se ela não estivesse maravilhosa com o cabelo espetado para todos os lados, o que ela estava, eu não podia falar nada, porque tinha certeza que dava para fritar um ovo na minha cabeça naquele exato momento, pois eu tinha a mania irritante de ficar passando as mãos ali enquanto trabalhava.

— Você está agindo exatamente do mesmo jeito que agiu quando achou eu tinha armado um plano para te arrastar para o cruzeiro comigo — avisou, finalmente desistindo de arrumar seu coque e soltando o cabelo para refazer o penteado. — Narcisista e convencido.

— É para eu acreditar que não era um plano? Você estava de branco e louquinha para me beijar — eu disse e Marcela riu, provavelmente se lembrando da mesma cena que eu, nossos narizes se encostando e nossos lábios tão próximos pela primeira vez dentro do meu carro, com aquele vestido branco que foi oficialmente nosso primeiro sinal, mesmo que ela negasse esse fato veementemente há meses. — Até usou o Leandro para me fazer ciúmes.

Eu usei o galã? — ela perguntou, achando graça e erguendo as sobrancelhas. — Você se ofereceu para ir comigo!

— Porque seu plano funcionou perfeitamente, já que Leandro não resiste a ser talarico e você sabe disso, então eu caí como um patinho — eu disse, dando de ombros e pegando minha xícara também para levá-la para a cozinha.

— Eu não tenho culpa se você ficou com ciúme porque o Lê se ofereceu para passar sete dias comigo — Marcela gracejou, puxando o cabelo de volta em um rabo de cavalo e passando o elástico várias vezes pelos fios enquanto eu olhava para ela. — Ficou sem argumentos?

Não era mesmo esse o problema. Não foram os argumentos que eu perdi, na realidade.

Foi a concentração.

— Você está esperando que eu negue? — Ergui minhas sobrancelhas e Marcela me imitou, levemente intrigada com a minha resposta, notei, porque uma das sobrancelhas ficou no mesmo lugar de antes e apenas uma subiu. Acho que não havia mais ponto em negar o óbvio para ela, porque claramente... — Eu fiquei mesmo.

Marcela entreabriu os lábios, em uma feição levemente surpresa enquanto compreendia o que eu tinha acabado de dizer. Acho que, quando aconteceu, tanto tempo atrás, nem eu sabia que o que eu tinha sentido para praticamente me entregar como uma oferenda tinha sido ciúme, mas agora era tão óbvio que parecia até improvável que ela não tivesse ligado aqueles pontos ainda.

E aí o celular dela vibrou como uma britadeira em cima da mesinha, fazendo com que nossos olhares se desconectassem.

O nome de Thales brilhava na tela e ela apenas me olhou com uma feição que dizia que tinha que atender, subindo o canto dos lábios em um pedido de desculpas que não tinha razão de existir, afinal, Fernando Nogueira já tinha me ligado umas quatro vezes também ao longo daquela tarde — e, ok, ele gostava de entregar projetos em cima da hora, mas aquele cara definitivamente não trabalhava nos finais de semana.

Esse era o poder de um projeto que colocaria a construtora em outro patamar.

— Vou buscar o chá — eu disse, me levantando quando ela passou o dedo pela tela e novamente o rosto de Thales apareceu ali, com Thales Junior ao fundo no colo da Marcela, sua digníssima esposa.

Eu ouvi que eles estavam falando sobre cálculos e constantes de segurança quando fui até a cozinha e abri o armário suspenso, onde eu sabia que ficava o bule — a quarta porta da direita para a esquerda — e coloquei a água para ferver.

Depois fui direto para a porta onde ficavam os sachês de chá e peguei a caixinha do sabor que ela queria, lavei e sequei as nossas canecas, colocando um sachê de Earl Grey dentro de cada uma delas.

Puxei uma banqueta e me sentei, observando com familiaridade os detalhes do cômodo, porque eu meio que me sentia em casa ali, não como a visita que eu sabia que era, provavelmente porque já tinha estado ali diversas vezes quando Marcela e eu estávamos juntos. A mesma paleta de cores (branco e cinza, basicamente), as banquetas altas, a fruteira sem frutas e cheia de parafernálias — reconheci um anel de prata que não era dela, quatro canetas que eram brindes da CPN, um bloquinho de folhas recicláveis que costumava ser meu antes de eu esquecê-lo ali, um pendrive, um hidratante labial, pilhas, várias presilhas de cabelo... Eu tenho quase certeza que aquele pacote de Trident era o mesmo que estava ali desde a última vez que eu tinha ficado para dormir, antes de nós brigarmos.

Mas acho que não era exatamente o fato de me lembrar das coisas o que me fazia sentir bem ali. Era Marcela. Sua presença pequena e marcante e sua voz falando animada com Thales, mesmo que fosse um sábado à noite, com aquela entonação que declarava que ela amava o que fazia — mesmo em horários inoportunos que nenhum de nós dois tinha certeza que seriam devidamente remunerados.

E eu sorri, apoiando meu cotovelo no tampo de granito e o queixo no punho, ao ouvir que ela estava repassando os detalhes que nós dois tínhamos combinado para um Thales extremamente curioso e metódico, que não aceitaria de nós dois nada menos do que a perfeição. E talvez fosse justo, uma vez que a trindade tinha confiado àquela obra enorme a nós dois.

O novo cartão de visitas da CPN era nosso.

E isso era... incrível.

Olhei para o fogão, notando que o bule ainda não estava soltando vapor. Chicão sempre dizia que não precisava deixar a água ferver para fazer chá, mas eu sempre deixava porque pelo menos ficava quente por mais tempo — e aí ele só não me olhava com desgosto porque eu era seu Eduardinho e ele nunca faria isso.

E quase em uma conexão mental, como se tivesse sentido que eu estava pensando nele, meu celular vibrou no bolso e foi o nome do meu oftalmologista favorito que apareceu na tela, logo depois o de Leandro, e o dele de novo...

Henrique Francisco: Como vai meu estádio?

Henrique Francisco: Eduardo*********

Henrique Francisco: (figurinha)

Leandro: Eu não acredito que alguma coisa ficou mais importante que o Eduardo para o Chicão

Leandro: E eu achando que ia ser a Loira Odonto quem ia conseguir esse feito

Leandro: Se eu estivesse beijando a boca do Titi, ele não ia ser o terceiro item na minha lista de coisas importantes atrás do Edu e de uma obra

Henrique Francisco: Ele ia ser o décimo, atrás do Edu, eu, lençóis, aquele buster facial da Estée Lauder...

Leandro: (figurinha)

Em defesa de Henrique Francisco, eu acho que ninguém (e aqui incluo Marcela e eu) estava tão feliz com aquele projeto quanto ele. Chico estava tão empolgado com a ideia de que eu projetar um estádio e Marcela ia executar a obra que já estava escolhendo qual jogo nós iríamos assistir lá, decidindo de antemão que o jogo da inauguração ia ser do Atlético Mineiro e que ele ia ter que conseguir fazer uma cirurgia no olho do dono do estádio para ter a chance de dar o primeiro chute na bola no dia que isso acontecesse.

E nós nem tínhamos vencido a licitação ainda.

Se isso acontecesse, eu ia ter que contar para ele dentro de um hospital, porque o risco de infarto fulminante era real.

Eduardo: Eu não acredito que você perguntou primeiro sobre o estádio, Henrique Francisco

Eduardo: Vou beijar só o Lê quando eu chegar em casa, você que lute

Leandro: OPA

Leandro: Credo, que delícia

Leandro: Digo, que absurdo

Leandro: Tá amarrado, meu sonho

Leandro: Vou até trocar meu hidratante labial, porque infelizmente ganhei um da marca da pedra preciosa e amei e estou usando

Leandro: Desculpa pela traição, Edu, mas meus lábios estão tão macios

Leandro: Você deveria mesmo beijá-los, é uma experiência única

Leandro: (figurinha)

Leandro: (figurinha)

Leandro: (figurinha)

Leandro: (figurinha)

Henrique Francisco: Eu não acredito que você usa um hidratante labial da Ágata!

Henrique Francisco: Que desgosto, Leandro

Eduardo: Eu sinceramente não me importo, então pode usar

A verdade era que, talvez, seis meses atrás eu provavelmente fosse achar a maior traição do mundo alguém usar algo da marca de Ágata Moura, mas, sinceramente, eu não fazia a menor questão disso agora — pelo menos era uma marca vegana e cruelty free, não é?

Até porque eu tinha desbloqueado minha ex do meu instagram e nós tivemos uma breve conversa, na qual ela me pediu desculpas por tudo, eu pedi desculpas por tudo, e nós desejamos que o outro ficasse bem e que fosse feliz.

Nós seríamos amigos? Não. Marcaríamos um dia para tomar um drink? Não. Mas pelo menos saberíamos que a gente não se odiava e que tudo entre nós estava superado.

E aparentemente eu tinha falado algumas coisas pouco educadas para ela na noite em que fiquei extremamente bêbado de absinto — eu não lembrava exatamente o quê, mas realmente me sentia mais leve com relação àquele assunto.

Cada dia eu descobria uma coisa nova sobre aquela noite e a perspectiva era assustadora.

Eduardo: O que eu me importo é ser segunda opção e perder meu #1 no seu coração para um estádio, Henrique Francisco

Eduardo: Como posso fazer um estádio direito agora se eu estou com ciúmes dele?

Eduardo: (figurinha)

Henrique Francisco: Pelo amor do Atlético Mineiro, você e a Má vão fazer o estádio mais lindo do Brasil!!!!!!!

Henrique Francisco: Você acha que eu ia bloquear a Marcela porque ela deu um jogo de ferramentas para um estádio?

Henrique Francisco: NÃO

Henrique Francisco: Mas por você? Eu bloqueio até o galã

Eduardo: (figurinha)

Leandro: Se engana não, Edu, ele pode ter até bloqueado a Má por você, mas desbloqueou porque vocês tão fazendo o Maracanã capixaba

Leandro: CONTO MESMO! ME BLOQUEIA AGORA, DOUTOR

Henrique Francisco: Eu vou te remover do grupo de novo, galã!

Leandro: Agora, sobre me beijar, Edu...

Henrique Francisco: Por que vocês estão querendo se beijar de novo?

Henrique Francisco: Chega!

Henrique Francisco: Só queria saber que horas vc vem pra casa, Edu, mas estou apenas recebendo hostilidade

Henrique Francisco: Sendo um bom amigo, pra saber se peço delivery pra você também

Eduardo: Não precisa pedir nada para mim, não sei que horas eu vou pra casa, mas obrigado por lembrar, coisa linda

Espera aí.

Eduardo: (digitando...)

Espera aí.

Eduardo: (digitando...)

De novo?

Eduardo: (digitando...)

Isso pressupõe que já tinha que ter acontecido, não é?

Só que... Não tinha? Eu acho?

Leandro: Tá tão emocionado que não sabe nem o que dizer, efeito Leandro Lamas

Eduardo: Como assim de novo?

Eduardo: Quando foi que teve uma primeira vez que o galã e eu nos beijamos?

Leandro: (figurinha)

Henrique Francisco: Vocês não se beijaram na noite da begônia?

Henrique Francisco: Porque acho que eu vi isso

Henrique Francisco: Mas também acho que vi uma estátua viva na nossa sala de estar, então não sei

Eduardo: EU NÃO SEI

Eduardo: Galã?

Leandro: Uma dama não conta seus segredos

Leandro: (figurinha)

Eduardo: Ah, pronto

Eduardo: Vai fazer a misteriosa agora?

Claro que mais nada de útil saiu daquela conversa, porque Leandro e Chicão apenas começaram a se provocar com figurinhas e, obviamente, minha pergunta não foi realmente respondida, então eu apenas aceitei que teria que arrancar a verdade do galã de revista em um momento posterior e enfiei meu celular no bolso, me levantando para pegar o bule com água fervente e, na sequência, enchendo as xícaras.

Quando voltei para a sala, Marcela estava novamente debruçada sobre seus cálculos e cantarolando, baixinho, a música que estava no ambiente.

Coloquei sua xícara em frente ao seu caderno, em um espacinho que havia entre as folhas, sua calculadora, seu notebook e seu celular. Marcela ergueu os olhos para mim após rabiscar uma sequência de mais ou menos uns dez números.

— Obrigada — ela disse e pegou a xícara enquanto eu contornava a mesinha e me sentava do lado oposto, assistindo-a tomar um gole do chá como se fosse a melhor coisa da sua vida.

— De nada, Má — eu disse, vendo a engenheira fechar e abrir os olhos devagar. — Você deveria fazer uma pausa, sabia? Achei que ia rolar uma com o Thales, porque normalmente vocês ficam uma hora e meia em cada ligação.

No mínimo.

Ela riu e eu notei que seu cabelo já estava caindo do elástico de novo. Segundo Cecília, era muito errado prender o cabelo apertando os fios, o que talvez explicasse o que estava acontecendo ali.

— Não é tanto tempo assim! — ela se defendeu sem muita convicção, porque nós dois sabíamos a verdade sobre esse assunto. — Ok, Thales Junior não parava de chorar e ele disse que me ligaria depois. E algo sobre chamar o Fernando para segurar o bebê que deixou Marcela bem irritada, mas, aparentemente, o Junior gosta de ser segurado pelos braços como o Simba, ou então gosta de quando o Fernando faz isso.

— Você deveria pegar umas dicas com ele — eu disse, esticando minhas pernas por baixo da mesinha de centro e ela ergueu as sobrancelhas. — Não é possível que você esteja considerando deixar Marcele ser a tia legal da Marcely ou do Marcelu. O tio legal claramente vai ser o Patrício, mas eu estava confiando no seu potencial para a vaga feminina.

Marcela tirou as pernas da posição de índio e esticou-as por baixo da mesinha também, apoiando as costas no sofá. Ela estava meio assoprando o chá e meio me encarando com um olhar desconfiado e surpreso, como se tentasse fazer a matemática sobre como eu tinha a informação sobre Marcelo e Samantha grávidos, afinal, não foi ela quem me contou aquilo.

— Patrício te contou, não foi? — ela acusou. — Que fofoqueiro!

Eu neguei com a cabeça, sem entender exatamente de onde vinha aquele leve adocicado do chá, porque eu não tinha adoçado.

— Incrivelmente, não foi ele dessa vez — eu disse, dando de ombros sob o olhar de Marcela. — Eu soube... Foi na quarta-feira que a Sam completou três meses de gestação e o Marcelo postou o story da polaroide do primeiro ultrassom, não foi?

— Para os melhores amigos, só! — disse ela e eu ergui minhas sobrancelhas. Sua boca se abriu em um "o" perfeito. Eu, Eduardo Senna, estava na lista de melhores amigos de Marcelo Noronha e descobri isso na quarta-feira e nem sei se fiquei mais emocionado pelo filho do casal ou por saber que tinha ganhado o coração dele. — Quando foi que isso aconteceu? Como? Marcelo!

— Acho que foi em algum ponto entre o cruzeiro e eu mandar para ele uma foto de uma hortênsia e deixá-lo explicar que elas mudam de cor de acordo com a acidez do solo — contei e Marcela riu, apoiando a xícara nos lábios por um segundo, mesmo sem realmente beber nada.

— Chico já sabe que você está todo amiguinho do Marcelo agora? — perguntou.

— Ele ainda está tentando superar minha amizade com o Patrício, acho que temos que fazer uma coisa de cada vez, porque não quero ser o motivo do colapso do meu melhor amigo — disse eu, dando de ombros e a engenheira riu. — Falando em Patrício, como estão os preparativos do casamento? Ele me disse algo sobre taquinho e sobre salmão e coral serem absolutamente iguais e as pessoas insistirem que não, mas sempre rola uma tensão quando o assunto é mencionado.

— Acho que está tudo nos conformes, porque Bruna, Val e mamãe estão ajudando — contou ela, após passar a língua devagar pelos lábios e capturar uma gotinha que estava escorrendo ali. Gotinha sortuda. — Bruna está levemente irritada porque eles vão casar antes dela, então proibiu outros casamentos de Noronhas em 2022.

— Enzo deve ser a personificação da felicidade nesse momento — brinquei, porque não importava o quanto ele amasse Bruna, ela nunca o converteria em um amante da firula que rolava nos casamentos e com certeza, para ele, bastava assinar uma folha no cartório.

— Certeza que chora no banho pensando em quantas vezes ela já mudou a cor da gravata que ele vai usar, mas apaixonado demais para reclamar. — Marcela sorriu, provavelmente se lembrando de alguma coisa, mas não compartilhou.

Então ela começou a falar deles todos, com tanta empolgação que acabou entornando chá no tapete e riscando o rosto com a caneta que estava na sua mão. Com orgulho, anunciou que Valentina era a editora do jornal de sua escola; falou sobre Adriel ter decidido cursar gemologia e todo mundo estar tentando convencer tia Marília de que ele não estava tentando seguir os passos do Indiana Jones para se meter em situações perigosas, porque ele ia estudar pedras preciosas e não paleontologia; falou sobre Marcelo conversar todos os dias com a barriga ainda inexistente de Samantha (que jurava que a única dobrinha que havia ali era um panetone que ela comeu inteiro com doce de leite no natal) e que tudo o que o bebê ia saber sobre seu pai ainda no útero é que ele murmurava e fungava porque Marcelo apenas chorava de felicidade.

Depois ela perguntou sobre a minha família. Eu contei que finalmente meu pai tinha aceitado ser coordenador do curso de física da faculdade onde dava aula e que tinha se cortado com durex uns dias atrás; que minha mãe tinha feito a caponata de berinjela e uvas passas dos Noronha e distribuído para todos os seus pacientes porque, segundo ela, tradições de família sempre ajudava a abrir o coração; mencionei que Cecília tinha testado uma sopa de alho três dias atrás e ela própria tinha se tornado um repelente de vampiro. Ou simplesmente uma pessoa muito temperada.

Eu amava esses momentos. Nós dois, sentados lado a lado, sendo o motivo do sorriso um do outro, com as nossas xícaras largadas sobre a mesinha, apenas conversando. Rindo. Sendo Marcela e Eduardo.

— Então, em resumo, se Cecília não casar com o Sandrinho, meu pai casa — eu disse, fazendo Marcela rir de novo. Eu já estava sentindo minha barriga doendo de tanto rir com ela depois de todas as histórias. — Ele vai ser da minha família de qualquer maneira, porque ganhou o coração de Fábio Senna no primeiro uso de uma chave de rosca.

— Esse é o critério para conquistar o coração dos Senna? — ela perguntou, apoiando o rosto no estofado do sofá e dobrando as pernas. — Saber usar ferramentas?

O que eu podia dizer? Minha mãe sabia fazer reparos bem melhor do que o Senna original, meu pai, (o que não era difícil, já que bastava saber usar uma pistola de cola quente), Cecília estava apaixonada pelo Sandro, eu estava apaixonado por Marcela... Acho que era seguro dizer que sim?

— Tendo em vista que nós não sabemos, é algo a ser considerado — eu contei e o sorriso que Marcela me deu ficou meio torto porque sua bochecha estava espremida a almofada do assento. — Mas eu considero algumas outras coisas também.

— É mesmo? — ela perguntou e eu assenti, observando aquele sorriso lindo que ela tinha. — Discorra sobre.

— Bom, no meu caso... Limitar o número de beijinhos curativos pelo tamanho do machucado, fazer listas para não se esquecer de nada, olhar a vida passar na sacada quando não consegue dormir, ser um ás do volante — Marcela me deu um empurrão por causa da implicância com suas habilidades automobilísticas, mas expandiu o sorriso e eu, quase inconscientemente, ergui minha mão até sua bochecha e deslizando meu dedo ali para tirar a marquinha de tinta azul e ela fechou os lábios, deixando seus olhos se perderem nos meus —, ser uma mandona com pernas lindíssimas é considerado um diferencial.

Passei meu dedo pela sua bochecha de novo, vendo a linhazinha praticamente desaparecer e aí a mão dela cobriu a minha, apertando de leve.

— O que você está fazendo? — ela perguntou, mantendo seu aperto ali e eu parei de passar o polegar no seu rosto.

— Você tinha um risco. De caneta — expliquei enquanto ela afastava a minha mão do seu rosto, mas entrelaçou os dedos nos meus. — Tudo bem? Eu não...

Eu comecei a afastar minha mão da dela, sem querer forçar a barra, porque talvez... Bom, no churrasco do Galileu tinha havido um quando, um momento na piscina que pareceu que as coisas não tinham mudado e depois, quando nós demos as mãos, simplesmente... Fez sentido. Nós dois.

Mas talvez ela não estivesse sentindo a mesma coisa? Ou talvez tivesse mudado de ideia? Ou...

Só que Marcela segurou minha mão junto com a sua, encaixando nossos dedos e que suas bochechas estavam ficando rosadas, cada vez um pouquinho mais.

— Não, Edu, não... Não se afasta — ela começou e seu polegar deslizou pelo dorso da minha mão na mais singela das carícias que ela já tinha me feito, seus olhos suplicando para que eu não me precipitasse e entendesse as coisas de forma errada. — Não é esse o problema, é que...

Ela mordeu o lábio inferior, deixando-o preso entre seus dentes por um segundo e eu prestei atenção nos seus movimentos, tentando entender o que ela não conseguia falar, vendo que ela estava ficando mais vermelha.

Ergui minhas sobrancelhas, porque ela estava com a mesma expressão no rosto de quando ficava em dúvida sobre algum projeto ou quando seu plano A não funcionava e ela precisava de um B, refazendo a rota, buscando outra ideia.

Ou então ela simplesmente estava...

— Eu vivi para ver Marcela Noronha tímida — eu brinquei, sorrindo para Má, que me devolveu um sorriso e um beliscão na mão para que eu parasse de fazer gracinha. Em minha defesa, acho que tinha quebrado aquele gelo que estava se formando entre nós dois. Eu não gostava nada dele. — Eu posso esperar você escolher como quer me dizer o que está se passando na sua cabeça, mas lembra de que eu sou só o Eduardo, tá? Não precisa se complicar.

Marcela tirou as costas do sofá, voltando a se sentar em posição de índio, mas dessa vez de frente para mim. Sua mão não soltou a minha.

— Acho que podemos partir daí. Você não é só um cara qualquer — Marcela declarou, ao mesmo tempo em que inclinava a cabeça ao me olhar de um jeito que fez um calafrio percorrer toda a minha espinha, só que de um jeito bom —, você é uma pessoa maravilhosa e importante para mim.

Eu não era um cara qualquer. Isso era bom, não era?

Então por que caralhos eu senti que minha mão começou a tremer?

— Você está me elogiando, eu estou assustado. — Foi o que eu disse para ela, em tom de brincadeira, quando Má colocou sua outra mão sobre a minha.

Marcela sorriu e eu puxei minhas pernas, me sentando em posição de índio também e ficando de frente para ela, vendo que ela estava procurando meu olhar como se eu fosse um oceano e ela estivesse desesperada para se afogar. Ou talvez isso fosse o que eu sentia?

— No churrasco, nós dois... — Ela passou a língua pelos lábios, devagar, e eu notei que não era a minha mão que estava tremendo. Eram as dela.

— Eu passei do ponto com você? — perguntei, me lembrando de que fui eu quem a pressionou contra a borda da piscina, quem beijou seu pescoço, quem criou toda aquela situação. Ela correspondeu, é claro, mas, mesmo assim... — Eu não queria criar uma situação desconfortável nem nada assim — comecei a explicar, porque eu não queria fazer algo que ela não quisesse, mas a engenheira me interrompeu.

— Edu, você não criou uma situação desconfortável. Eu queria aquilo. Você. Nós dois — ela disse, um pouco sem jeito, mas ainda assim exalando certeza. Meu coração errou toda uma sequência de batidas que eu tenho certeza que faria qualquer cardiologista chorar, mas eu apenas perdi as palavras. — E ainda quero.

Acho que eu demorei alguns segundos assimilando o que ela tinha dito.

E

Ainda

Quero

Marcela Noronha, a mulher por quem eu estava perdidamente apaixonado, tinha acabado de dizer que me queria. Eu, Eduardo Senna, arquiteto, emocionado, pisciano chorão, que nem conseguia formular uma frase coerente naquele momento.

Em algum ponto da minha vida, eu tinha lido que nosso cérebro tem dois lados: o hemisfério esquerdo, racional, que controla os pensamentos lógicos e analíticos e o hemisfério direito, emocional, intuitivo, criativo.

E os meus pareciam estar em guerra com aquelas três palavras.

E

Ainda

Quero

O lado emocional queria saltar em cima de Marcela, dizer que a amava, segurar sua mão, dançar uma música qualquer, beijar sua boca, tirar sua roupa e se perder nela por todo o tempo que pudesse, porque ela ainda me queria e a recíproca era tão verdadeira que parecia uma marca gravada em ferro quente na minha pele, que ficaria ali para sempre.

O racional, noutro giro, queria entender, sabia que havia variáveis. Complicações. Consequências. E que precisava de todas as informações, projeções e pormenores antes de deixar o lado emocional dominar tudo.

Tudo bem que este lado não estava funcionando tão bem assim, porque, se estivesse, provavelmente eu teria feito mais do que abrir a minha boca.

— A questão é, Edu, que a gente já fez isso antes. Sabe? Sentiu e pulou de cabeça e deixou as coisas acontecerem sem pensar muito sobre elas — ela prosseguiu, calmamente, testando o terreno. — E eu não me arrependo, porque foi maravilhoso. Você e eu e tudo o que a gente viveu. Exceto a parte que deu errado, porque... Depois de tudo, foi horrível ver que nós dois não conseguíamos mais olhar nos olhos um do outro, cheios de mágoas e ressentimentos, mesmo depois de sermos amigos e... Algo mais.

— Má, eu...

— Eu acho que quando a gente começou a se envolver, a gente nunca parou e considerou o quanto nós estávamos nos envolvendo de fato, sabe? — ela deu de ombros de leve, deslizando seu polegar pela asa da sua xícara — acho que a gente nunca parou para pensar no quanto nós poderíamos machucar um ao outro.

— Eu nunca vou me perdoar por...

— Eu estou falando de mim, Edu, do quanto eu te magoei — eu levantei meus olhos até os dela. A mão que estava por cima traçou a forma da minha, os dedos passando pela minha pele. — Eu só acho que nós dois não deveríamos fazer exatamente a mesma coisa e esperar que o resultado seja menos catastrófico.

Eu mordi meu próprio lábio, porque fazia sentido. Ela podia me querer, mas nós tínhamos acabado extremamente machucados quando tentamos ser mais do que amigos. Tanta coisa tinha se perdido no meio da insegurança, dos problemas, da nossa incapacidade de conversar... Fazia todo o sentido que ela estivesse me falando que, por mais que ela ainda sentisse alguma coisa, ela não queria arriscar quebrar a cara por minha causa. De novo.

E eu não pediria para ela se arriscar, de toda forma, mas...

— O que eu quero dizer, Edu — ela prosseguiu, fazendo uma pequena pausa para inspirar uma grande lufada de ar e de menear a cabeça, tombando-a para o lado antes de seu olhar encontrar o meu, como se soubesse exatamente no que eu estava pensando —, é que eu amo o que nós tivemos. Mas acho que, agora, a gente podia ir com calma e ver aonde quer chegar de verdade.

— Você...?

Ela fez que sim com a cabeça, devagar.

— Acho que depois do churrasco é seguro dizer que você também... Sente? Isso? — Ela apontou de mim para ela e vice-versa de forma lacônica, mas eu entendi que ela não estava realmente falando sobre nós, mas daquela coisa intangível que existia quando nós dois estávamos no mesmo lugar. Aquela sensação. Aquele calor. Aquele sentimento de que o mundo nem estava tão caótico assim. — Porque se você não sentir, a gente finge que essa conversa nunca aconteceu.

— Eu sinto, Má — eu disse, levando minha mão livre para cima do seu joelho, simplesmente porque eu queria tocar em Marcela Noronha. — Eu sinto isso para caralho.

Um sorriso brincou nos seus lábios, deixando visível a fileira perfeita de dentes que ela tinha. Ela também sentia. Não sei se do mesmo jeito, não sei se a mesma coisa, mas algo em mim mexia com algo nela e ela gostava disso — era o que seu rosto me dizia naquele exato momento.

— Então a gente pode, sabe... — Seus dedos brincaram os meus e eu senti suas unhas contra a minha pele, de leve, apenas passando de raspão, e aquilo fez os pelos do meu corpo inteiro se arrepiarem e eu fiz um total de zero questão de esconder o fato de Marcela. — Ir devagar? Eu sei que nós dois pulamos algumas etapas da primeira vez e que pode parecer esquisito ir com calma depois disso, mas eu não acho que ir depressa seja a solução agora. Então, se você quiser fazer isso, a gente pode. Juntos.

Marcela estava me olhando em expectativa e eu sentia meu coração batendo descompassado no meu corpo inteiro, me fazendo sentir tão vivo quanto um ser humano poderia estar.

Por mais que eu quisesse apenas dizer que a amava e mandar a calma para a casa do caralho porque ela também sentia algo por mim, eu sabia que era o certo. Ir com calma. Ter certeza de cada passo para que ninguém saísse machucado simplesmente porque a gente pulou de cabeça em uma poça d'água achando que era uma piscina. Eu não queria mais ser o motivo do choro dela, do sofrimento dela, da dor dela. Nunca mais.

Ir devagar fazia sentido. Testar. Aprender a amá-la como ela merecia — com carinho, com cuidado, com compreensão. E deixar que ela descobrisse se estar comigo seria um bom plano a longo prazo, porque eu queria desesperadamente que fosse, pois ela era meu plano em longo prazo. O único plano romântico que meu coração tinha traçado, na verdade.

— Eu quero fazer isso, Marcela. — Deixei meus lábios e língua formarem cada uma daquelas sílabas com calma, assistindo a feição da engenheira se suavizando ao olhar para mim. Soltei suas mãos para me inclinar para frente e segurar seu rosto entre as minhas, sentindo aquela pele quente e macia contra as minhas palmas. — Com você. Devagar.

— Tem certeza? — Marcela perguntou, olhando nos meus olhos.

Eu sorri.

— Você pula, eu pulo — disse, simplesmente.

— Você está citando Titanic para mim? — ela perguntou, com as sobrancelhas arqueadas.

— E você sabe disso, o que só me faz ter mais certeza sobre ir com você para qualquer lugar — eu expliquei e Marcela riu, deixando nossas testas se tocarem. Suas mãos pequenas ficaram por cima das minhas, mas ela não as afastou de seu rosto, apenas respirou fundo quando nossos narizes se tocaram e apertou com carinho. — Você é maravilhosa.

Ela sorriu e seu nariz roçou no meu de um lado para o outro, em um beijo de esquimó.

— Me beijar é fazer exatamente o caminho oposto do que a gente acabou de conversar, Eduardo — ela me lembrou, em um tom de falsa reprimenda e eu sorri.

— Eu não estou pensando em beijar você agora — eu disse, embora meio que fosse mentira. Acho que eu sempre estava pensando em beijá-la quando ela estava assim tão perto.

— Ah, é? — perguntou ela, erguendo as sobrancelhas e eu sorri. — E no que você está pensando agora?

— Que seu perfume é bom, mas não é Good Girl. Que eu deveria ter lambido o chocolate da sua bochecha de forma completamente amigável — Marcela gargalhou e eu sorri. — Que eu provavelmente deveria trocar o plano de fundo do meu celular.

— Esse perfume é muito bom e foi seu novo melhor amigo que me deu de presente, sabia? — Ela estava falando de Marcelo? — E você definitivamente não deveria lamber minha bochecha, tipo, nunca. — Eu ri, pensando que definitivamente eu tinha que fazer isso. — E o que tem no plano de fundo do seu celular?

— Você. Com a minha jaqueta.

Ela tomou alguns segundos para pensar.

— Ok, eu aceito isso, pode manter — Marcela disse, simplesmente, e eu ergui minhas sobrancelhas.

Só que aquilo não fazia muito o feitio de Marcela Noronha. A não ser que...

— Eu sou o plano de fundo do seu celular, Má? — eu perguntei e ela me empurrou, desfazendo nosso contato, o que foi exatamente a confissão de culpa que ela não queria fazer. — Marcela Noronha!

— Meu casaquinho é meu plano de fundo, eu sinto falta dele. Se você por acaso estava na foto...

E eu sorri, como o perfeito bobo alegre que eu era naquele segundo. Apaixonado. Amando a ideia de que, em algum ponto entre nossas conversas bobas, nossos beijos, nossos sorrisos... Ela também.

— Ah, claro — desdenhei —, o casaquinho.

— O casaquinho. Você está sendo narcisista e convencido de novo, Eduardo — ela alertou, estreitando os olhos para mim e apontando a borracha do lápis que tinha acabado de pegar de novo para o meu peito. — E esse estádio não vai se erguer sozinho, então, acho que a gente deveria trabalhar.

Marcela se virou para a mesinha de novo, pegando seu caderno para voltar para seus cálculos. Ela assoprou alguns fios de cabelo que estavam no seu rosto e eu me endireitei na mesinha também.

— Será que dá para usar bambu como estrutura para os pilares do estacionamento coberto? — perguntei e Marcela me olhou por cima do seu ombro.

— Para de tentar enfiar seu bambu em mim! — pediu. — Eu não sou o Isaac da construção sustentável e não estamos construindo uma cabana no meio do mato! É um estádio!

— Eu concordei em deixar as estruturas principais com aço, mas e as paredes? Temos umas salas, um palco...— eu repliquei e ela rolou os olhos. — Aceita meu bambu, Marcela!

E aí a gente riu um para o outro.

Tudo ainda estava normal.

Só que melhor.

Definitivamente melhor.

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Oiee, sabadou por aqui!! Como está o final de semana de vocês?

MARDO ESTÁ ON FIIIIIIIIIIIIIIIIRE!!!!! Nosso casal está de volta, mais lindinhos do que nuncaaa!!!

E de quebra ainda tivemos um vislumbre que o Edu conseguiu finalmente colocar um ponto final no causo Pedra Preciosa (ou ouvi amem?).

Esperamos que estejam gostando! Tem coisa boa vindo ai, o que será que Libriela ainda tem planejado para CEM? hihihihi

Não se esqueçam dos comentários, das teorias e da estrelinha <3

Beijinhos, 

Libriela <3

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