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Capítulo 92 - Até quando não usa nada

Até quando não usa nada


Marcela

— Então você consegue me passar semana que vem um cronograma do projeto? Precisamos entregar a submissão para participar até dia trinta e é um prazo um pouco apertado — Thales disse entre um fôlego e outro enquanto o Thales Júnior continuava o berreiro do outro lado, quase como uma sinfonia de terror.

— Primeiro eu tenho que conversar com o arquiteto, sabe? Eduardo Senna, gerente do setor de Construção Sustentável? Ele ainda nem faz ideia e nem sabemos se ele vai topar — eu comentei, passando minha mão pelos meus cabelos e sentando-me no sofá ao olhar para o papel que estava no meu colo.

Eu tinha medo de olhar para o celular na minha mesinha de centro e descobrir que estávamos conversando fazia mais de uma hora e meia, porque isso me tornaria a pessoa mais inconveniente da história, visto que Thales estava com um bebê brincando de roxinho e eu estava apenas brincando de divagar sobre engenharia com ele. Eu até tentei desligar, porém sempre que eu começava a dizer "boa noite, até amanhã", ele prendia a respiração e falava "Noronha, o que acha de...?". Normalmente eram ideias muito boas, de verdade, por isso que o assunto estava rendendo mais do que o moralmente aceitável.

Juro que eu estava tentando organizar todas as nossas ideias e planos para dominar o mundo, mas eu nunca sabia exatamente o que fazer quando Thales utilizava o termo "prioridade zero". Isso significava que ele não tinha nenhuma prioridade ou que aquilo era prioridade máxima em relação a todo o restante? Quero dizer... era uma expressão muito ambígua, não era?

— Segunda, Marcela, segunda pela manhã — ele me garantiu e eu o ouvi murmurar algo para sua esposa como "não você, querida, a que trabalha comigo".

— Lembre-se disso antes de me cobrar um projeto na segunda pela tarde, pode ser? — eu soltei delicadamente e me arrependi no mesmo instante, fechando meus olhos e mordendo os lábios para que eu não falasse mais nenhuma besteira.

Não era assim que você deveria falar com o Chefe-Supremo da sua empresa, principalmente quando ele havia te escolhido para um projeto incrível e estava te apoiando em todo o processo.

No entanto, ao contrário do que eu havia imaginado, Thales apenas riu sobre o que eu disse e o choro do Júnior diminuiu exponencialmente. Eu podia jurar que havia uma risada gostosa de bebê do outro lado substituindo os berros e eu sorri com aquilo.

— Pode deixar e eu juro que vou me controlar para não falar sobre trabalho no churrasco do Galileu — ele me prometeu e eu queria gravar aquela conversa para usar como trunfo, mas ultimamente eu estava completamente sem moral.

Na semana anterior, eu havia ligado as duas da manhã quando estava assistindo um documentário sobre a construção da Grande Ponte Danyang-Kunshan, que conectava Pequim e Xangai, e nós dois até debatemos durante um tempo sobre as tensões residuais e químicas de uma ponte desta extensão a longo prazo para ver se faria sentido algo do gênero para ponte Bahia-Itaparica.

Eu me orgulhava disso? Não muito, mas eu amava falar sobre engenharia e Thales me dava a brecha para conversarmos por horas sobre o assunto, já que ele também era viciado no assunto — dois workaholics em contato era uma receita pronta para conversas extensas e surtos permitidos a qualquer horário.

— Combinado, então — eu me deitei no sofá e respirei fundo, contando uma pausa de dois segundos para entender que o assunto havia morrido pela noite — acho que é isso, Thales. Nós nos vemos amanhã no trabalho e boa noite com o filhote, espero que a cólica melhore.

— Obrigado e boa noite para você também, Noronha — ele desligou antes do Thales Jr. voltar a desafiar a barreira do som com seu choro estridente.

Era neste tipo de momento que eu tinha uma admiração gigantesca por Samantha quando ela começava a falar sobre enxoval e ultrassom e chá revelação, porque, às vezes, parecia mais uma história de um alienígena sendo exorcizado do seu corpo do que uma transformação na vida de uma mulher.

Zero animador quando ela começava a falar sobre hidratantes, pés inchados e vontade de tomar vitamina de abacate, manga e páprica — acho que até mesmo a Cele ficou assustada com aquela mistureba, então pelo menos eu não estava sozinha naquele surto.

Eu fechei meus olhos e estiquei meu pescoço para esquerda e depois para direita, sentindo meu ombro tenso com alguns nós se formando, mas eu sorri mesmo assim, porque eu acho que eu nunca estive tão animada para começar um projeto quanto eu estava para começar o estádio.

Havia algo de diferente nele, talvez por não ser essencialmente funcional, mas ao mesmo tempo a geometria tinha que ser perfeita para que ele cumprisse sua função de anfiteatro futebolístico — era um misto de firula e praticidade, o que combinava muito bem com Eduardo e comigo.

Meu celular vibrou duas vezes e eu espiei a tela, notando que era quase uma da manhã, para depois ver que Tutti estava me mandando recomendações de séries para maratonar no Netflix depois que eu disse que não estava conseguindo me prender a nenhuma nos últimos tempos.

Getúlio: Amigas Para Sempre

Getúlio: Dash & Lily

Getúlio: Doces Magnólias

Getúlio: The Bold Type

Eu copiei aquelas sugestões para um dos meus blocos de notas do celular, junto com as outras sete que Romeu havia me mandado antes, porque eles estavam mesmo empenhados em me retirar da minha ressaca seriada.

Eu tinha uma regra: se eu não me interessasse pela série nos primeiros quinze minutos, eu desligava e tentava uma nova. Nenhuma surpresa que eu havia "zerado" o catálogo do Netflix e nada me interessava mesmo assim.

Nem livro, nem revista, nem mesmo podcast.

Minha cabeça estava rejeitando prestar atenção nas coisas.

Ou talvez eu estivesse apenas com a mente descarregada e aquele fosse um sinal do meu corpo de que eu precisava dormir mais e melhor? Eu não estava me sentindo muito cansada e mesmo que eu quisesse um belo cappuccino com canela, eu sabia que perderia o sono por completo se o fizesse, então comecei a pensar em outras opções.

Será que tomar um chá me ajudaria? Acho que chá nunca atrapalharia, então talvez fosse uma resposta positiva.

Eu coloquei água para ferver no fogão e me deparei com o casaco de Eduardo na bancada da cozinha, como uma doce lembrança daquela noite que me fez tombar o meu rosto para o lado, apoiando meus cotovelos no mármore frio enquanto eu a encarava, querendo que ela me desse mais respostas do que me deixasse confusa.

Porque era assim que eu me sentia naquele momento, com um bando de minions correndo em círculos dentro da minha cabeça enquanto só a recordação da mão quente do Edu contra minha barriga me fazia entrar em combustão na hora — por um momento eu jurava que minha calcinha havia saído voando quando ele se aproximou de mim, o que seria uma pena, já que ela era rosa e nova e combinava com o meu sutiã.

— O que você está fazendo comigo? Por que eu não consigo querer ser apenas sua amiga? — eu deixei meus dedos deslizarem pelo couro sintético e recuei quando senti a sua maciez — por que eu continuo querendo você?

Agora, depois de mais de duas horas que eu estava em casa, ela já não estava mais tão quente quanto antes, mas o seu perfume continuava se infiltrando no meu apartamento inteiro, no começo apenas como uma brisa e agora como se fosse uma essência que se espalhava cômodo por cômodo. Tomando tudo o que estivesse ao seu alcance e não deixando nada intocado.

Eu soltei um grunhido alto e abaixei minha cabeça contra a pedra com um pouco mais de força do que o esperado, ecoando um "tump" que quase me nocauteou — será que eu precisava disso para voltar a pensar racionalmente? Acho que não, porque meus dedos envolveram a jaqueta mesmo que eu não quisesse fazê-lo, afinal era mais forte do que eu.

O que eu sentia por ele era ridiculamente mais forte do que eu.

— O que eu estou fazendo? Falando com a sua jaqueta enquanto você está em um encontro com a Nath e as suas mil e uma tatuagens maravilhosas e aquele sorriso de quem sabe que é incrível e... — eu grunhi mais uma vez, enfiando minhas unhas no tecido e querendo desesperadamente que fosse a pele dele, que eu pudesse puxá-lo para mais perto de mim e nunca mais soltá-lo.

Eu sentia falta de tê-lo ali no meu apartamento, reclamando do meu lixo não reciclável, das minhas louças sem graça e da quantidade absurda de vinho que estava encaixotada embaixo da minha cama por não caber na adega. Eu só queria me deitar no sofá e sentir os seus braços ao redor do meu corpo, me puxando para mais perto a cada novo inspirar. Eu queria apenas poder apenas ficar com ele. Só isso. Não era pedir muito, não é?

Eu soltei a jaqueta a contragosto e coloquei água em uma das minhas xícaras, pegando um sachê de Mistério Oceânico e o infusionando ali dentro.

Imediatamente a xícara ficou em um tom esverdeado com um aroma cítrico e eu senti que estava combinando com a minha alma cheia de ciúmes acumulado, porque eu queria estar em um encontro com Eduardo Senna, sendo o foco da sua atenção e podendo deslizar a minha mão no seu peito para abrir os seus botões e beijar a sua samambaia de cima a baixo.

Eu vesti a jaqueta, passando um braço e depois o outro, trazendo o seu cheiro para perto do meu nariz e fechando o zíper no meu corpo, exatamente como ele havia feito no banheiro dos Ardos, revivendo aquela cena de novo e de novo e de novo dentro da minha mente, querendo entender porquê ele não me beijou.

A oportunidade era perfeita e ele não me beijou.

De novo.

Será que só eu queria isso? Só eu estava com aquele desejo louco de colar minha boca na dele e mergulhar minha língua na sua?

Porque se ele quisesse também, ele teria abaixado os seus lábios e me beijado. Ele teria me puxado e passado minhas pernas ao redor da sua cintura e falado "dane-se" para a minha blusa manchada, apenas arrancando-a do meu corpo para me beijar por inteiro.

Mas ele não fez isso.

Claramente ele estava em um encontro com a Nath e eu era a pior pessoa do mundo querendo que ele me beijasse no banheirinho dos Ardos.

No banheirinho dos Ardos, baby Jesus!

Que tipo de pessoa eu havia me tornado?

Será que eu deveria avisar para ele que eu havia chegado bem? Quero dizer, ele pediu para que eu avisasse quando estivesse em casa, então acho que seria a coisa mais educada a se fazer mesmo que eu já estivesse fizesse há algum tempo.

Esse tipo de coisa não tinha um prazo de validade, né? Tipo, "ou você manda mensagem nos primeiros dez minutos que entrou em casa ou não manda nunca mais"? Normalmente eu era o tipo de pessoa que esquecia de mandar mensagem que havia chegado bem, mas naquele caso eu havia me lembrado.

Acho que duas horas era tempo demais, não é? Mas e se ele pensasse que eu e Retúlio tivéssemos sido sequestrados? Ele nunca saberia que eu estava bem se eu não contasse! Então eu estaria fazendo algo bom ao mandar uma mensagem, né? Eu acalmaria o Eduardo e ele não precisaria acompanhar o Cidade Alerta para saber se eu estava viva ou não. Era basicamente um dever cívico.

Ou eu poderia mandar uma mensagem para ele pelo simples fato de nós sermos amigos e ele genuinamente se preocupar comigo e eu querer mandar a mensagem. Simples assim.

Eu só... agora precisava pensar no que eu iria escrever.

Marcela: Cheguei faz um tempo, mas estava com o Thales no telefone

Eu deletei tudo no primeiro momento antes que eu tivesse um surto e resolvesse mandar aquela atrocidade.

Marcela: Ei, só para avisar que estou em casa

Não, não, não!

Marcela: Em casa! Tudo certo!

Pa-té-ti-co

Marcela: Saí do telefone com o Thales agora, desculpa não mandar mensagem antes

Marcela: Espero que também tenha chegado bem em casa!

Marcela: (e sem blitz hihihi)

Infelizmente eu mandei a última mensagem antes de me arrepender e larguei o celular no chão sem querer — Desculpe, Seu Agenor!!! — me jogando no sofá e rezando para o Eduardo não ter lido...

Ou eu poderia apagar!

Eu poderia muito bem apagar!

Sempre havia uma segunda melhor opção (a primeira era não ter mandado para começo de conversa)!

Eu peguei o celular em um supetão e deletei a última mensagem para nós dois, vendo que quatro segundos depois ele ficou online.

Oh Deus, será que ele havia visto a mensagem pela barra de notificação e agora eu seria a otária que deletou uma mensagem?

Bem, se fosse para realmente pensar no panorama atual, eu estava usando a jaqueta dele enquanto ele estava em um encontro com outra pessoa, então digamos que eu não estava no meu auge.

Então meu celular vibrou e eu deixei cair um pouco de chá na minha perna, praguejando palavras pouco educadas sobre aquele momento enquanto eu desbloqueava o aparelho com o meu rosto.

Eduardo: Thales precisa te dar espaço

Eduardo: Quase pior que o Fernando

Eduardo: Será que é um pré-requisito para ser sócio da CPN mandar mensagens e e-mails em horários pouco convenientes?

Eduardo: (figurinha)

Eu mordi meu lábio, rindo, e olhei para o teto, querendo ter uma luz para me iluminar em relação à figurinha do "Deus leu o que você apagou". Como você deveria responder isso? Existia algum manual para retrucar figurinhas com agilidade? As minhas pareciam que estavam todas bagunçadas e eu só usava as mais recentes por preguiça de desbravar aquele mundo obscuro, porque eu gastava bons minutos encontrando a perfeita se realmente me empenhasse naquilo.

Será que se eu respondesse agora eu estaria precipitada demais?

Será que eu tinha que esperar?

Droga, mas ele estava vendo que eu estava online, não estava?

Será que eu tinha que me fazer mesmo de difícil?

Quero dizer, não é como se eu fosse realmente me fazer de difícil, porque o Edu estava em um encontro com a Nath e eu respeitava que ele estava aberto a desbravar o mundo com outras pessoas e encontrar em outros aquilo que eu... enfim.

Eu ronronei baixinho, detestando aquele toque de insegurança que havia me encontrado naquele dia, porque eu era tudo, menos uma pessoa insegura! Eu era incrível e eu sabia disso, então por que eu não deveria responder aquela mensagem se eu estava literalmente com o celular na mão e com a conversa aberta?

Marcela: Você está tentando posição de sócio?

Marcela: Porque existem boatos na engenharia que você anda mandando e-mails de madrugada

Aí meus dedos continuaram trabalhando, porque eles simplesmente não sabiam se controlar quando eu conversava com o Edu.

Marcela: Problemas para dormir?

Meu coração estava no meio de uma arritmia louca quando eu reparei que ele imediatamente começou a escrever uma resposta, forçando-me a soltar o lábio dos meus dentes antes mesmo que eu pudesse notar que eu o havia mordido. Era uma adrenalina fora do normal que invadia meu corpo inteiro sempre que eu pensava sobre ele. Sempre que eu pensava em nós.

E eu acho que fazia tanto tempo desde a última vez que eu senti que a gente estava conversando simplesmente por conversar, apenas por gostar um da companhia do outro e sem ter um objetivo específico com a conversa além de matar tempo.

Eduardo: Vocês, engenheiros, são muito fofoqueiros

Eduardo: E foi um e-mail só

Eu me inclinei para frente e permaneci na conversa, vendo que ele continuava ali comigo, digitando.

Eduardo: Depois disso, o Chicão me passou um negócio chamado melatonina que funcionou melhor que o chá de camomila

Eu conhecia a famosa melatonina, porque na minha época de insônia, Tutti havia prescrito antes de perceber que ela não estava me ajudando, então me receitou algo um pouco mais pesado e agora eu já conseguia dormir tranquilamente sem ajuda — ou no máximo com a ajuda de um chá e de uma brisa fresca no rosto quando eu me sentia elétrica.

O que eu poderia responder ou... ok, ele estava digitando uma bíblia?

Eduardo: Mas sabe quando a sua cabeça simplesmente não desliga das coisas?

Eduardo: Quando você fecha os olhos e ela começa a passar um filme de todas as coisas que poderiam ter acontecido, mas que não aconteceram?

Eduardo: E aí você fica olhando para o teto com todos esses malditos "e ses" e aí acaba pegando o celular e decide começar o dia seguinte mais cedo já que não vai dormir mesmo?

Eu reli aquelas palavras algumas vezes e franzi meu cenho, tomando um gole de chá e queimando minha língua com a temperatura ainda fervente do líquido.

Eu só... não sabia que existia algo no mundo que tirasse o seu sono — além do aquecimento global, da extinção das araucárias, a poluição dos oceanos, as caçadas ilegais (e até mesmo as legalizadas) e... bem, a lista era mesmo longa.

Quais "e ses" ele estava falando? Será que era algo sobre o trabalho? Algum projeto que ele enviou e não estava plenamente confortável e agora queria pegar de volta para deixá-lo redondinho, mas não podia? Será que era por isso que o Golden contou para o Sandro que contou pro Valter que o Edu estava revisando projetos de madrugada e mandando novas propostas antes do sol nascer?

E se ele não estava dormindo bem, como ele conseguia sempre chegar com um sorriso no trabalho? Quando eu dormia mal, eu rosnava para as pessoas — Andreia até gravou um vídeo de uma rosnada para o Gali quando ele pontuou que eu havia ido trabalhar com um salto azul e outro preto. De acordo com o Romeu, que havia escolhido meu figurino naquele dia, porque eu estava com pressa, foi um acidente, mas eu tinha certeza de que ele havia feito aquilo de propósito.

Marcela: Quando minha cabeça não desliga, eu sento na sacada e fico olhando a vida passar

Marcela: Normalmente não funciona (só avisando caso você teste isso em algum momento)

Marcela: E é uma droga quando você entra nesse looping infinito de coisas que poderia ter feito diferente

Marcela: Mas a questão é que isso não é algo que nós podemos controlar, sabe?

Marcela: Se você entregou um projeto com algo que gostaria de mudar... ou você solicita a requisição de mudança ou então deixa para lá

Marcela: Porque não faz sentido sofrer por isso E não fazer nada

Eu me encolhi contra a jaqueta, enfiando meus joelhos dentro dela ao tomar mais um gole de chá, que tinha um toque amadeirado e que desceu meio rascante na minha garganta com uma nuance de... cardamomo? Tinha gostinho de cardamomo, eu acho.

Ele ainda estava online, mas não respondeu de cara, demorou uns bons dois minutos para aparecer digitando na sua tela e eu aproveitei para viajar um pouco no meu feed do Instagram apenas para ver que fazia tanto tempo que eu não entrava ali, que eu curti umas sete fotos de Retúlio de uma vez.

Espera, será que o Edu ainda estava no encontro com a Nath? Por isso ele demorou? Será que eu estava sendo a pessoa inconveniente que manda mensagens para as outras mesmo quando elas estão ocupadas?

Oh Deus, eu não queria ser o novo Thales ou o Fernando! Eu sempre achei que seria a Renata!

Eduardo: Você consegue desligar sua cabeça?

Eduardo: Mentes brilhantes tiram férias?

Se ele estava mesmo incomodado com as minhas mensagens, então ele não me mandaria perguntas, porque era uma regra de senso comum e das boas maneiras que toda pergunta merecia uma resposta. Eu estava sendo apenas uma pessoa educada ao responder — com um toque de segundas intenções? Possivelmente.

Eu sorri contra minha xícara e tomei mais um gole para pensar na melhor maneira de respondê-lo.

Marcela: Não tiram não, esse é o fardo de ser um gênio

Marcela: Obrigada pela compreensão

Eu mal havia terminado de mandar aquilo e ele já estava digitando uma réplica, o que elevou os cantos da minha boca em um sorriso que me foi tão natural, que eu decidi mantê-lo comigo, porque não era como se alguém estivesse ali para me julgar por estar sorrindo para o meu celular.

Eduardo: Sempre aqui para te enaltecer

Eduardo: E ouvir elogios quando você quiser admitir que eu sou incrível também

Meu estômago deu uma cambalhota e eu o abracei, formando uma bola de Marcela dentro da jaqueta de Eduardo e encolhendo meus dedos dos pés que estavam para fora, mesmo que eu não estivesse com frio.

Típico Eduardo Senna.

Marcela: Ainda precisa disso?

Eduardo: Sempre que possível

Eduardo: Agora seria um ótimo momento

Eduardo: Tô ouvindo Tempo Perdido, então acho que combina

Normalmente eu não era fã de ter barulho (ou música) quando eu estava sozinha, porque eu acreditava que a música acabava atrapalhando o meu raciocínio, mas naquele momento eu entrei no Spotify e coloquei Tempo Perdido, querendo escutar as mesmas palavras que ele ouvia.

Eduardo: Cadê meu elogio???

Eu rolei meus olhos pela sua impaciência, caçando uma figurinha para ele conseguir se acalmar.

Marcela: (figurinha)

Marcela: E alimentar ainda mais o seu ego já inflado?

Marcela: Não, obrigada

Marcela: Mas você nem comentou se chegou bem

Meu dedo escapou e eu enviei a mensagem antes de terminar de digitá-la, o que eu odiava fazer. Preferia mil vezes escrever uma mensagem longa do que várias curtinhas, porque eu sabia como me agoniava ouvir o meu celular vibrando insistentemente quando eu era metralhada por Andreia.

Mas eu sentia que eu tinha que complementar a frase, porque ela estava estranha sem o restante das duas palavras que faltavam.

Marcela: Em casa

Eu esperei um pouco, vendo que ele estava online por dez segundos antes de desaparecer.

Eu franzi meu cenho e me levantei do sofá, colocando mais água em minha xícara e voltando para o sofá enquanto eu abria e fechava o whatsapp, trocando entre ele e o Instagram para fingir para mim mesma que não estava aguardando ansiosamente a sua resposta.

Eu só queria saber se ele estava bem e seguro e sozinho em casa.

Só isso.

Então ele voltou a ficar online sete minutos depois, mas quem é que estava efetivamente contando?

Eduardo: Dizem que uma foto vale mais do que mil palavras, né?

Eduardo: Pega isso daqui

Eduardo: (vídeo)

Eduardo: (imagem)

A imagem era uma foto de Chico de ponta cabeça no sofá enquanto completava uma palavra-cruzada do jornal com um óculos redondinho que definitivamente não era dele — isso porque ele era oftalmologista e sabia que aquilo poderia prejudicar a sua visão, não sabia? O outro era um vídeo de Leandro desmaiado no chão da sala deles com a boca aberta e tudo — agora eu que achava que ele era galã até desacordado —, e um rapaz de cabelos castanhos fazendo bolinhas de papel e colocando na boca dele enquanto cantava a musiquinha do Proerd.

Marcela: HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHHAHAHHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAH

Marcela: MEU DEUS EDUARDOOOO

Eduardo: Eu cheguei em casa e eles já estavam assim

Eduardo: Então me isento como culpado do estado deles

Então algo me ocorreu.

Ele estava em casa.

Sem Nath.

— Caralho — eu sussurrei baixinho e saltei do sofá em um impulso que foi mais forte do que eu, quase tropeçando no tecido da jaqueta que estava prendendo minhas pernas e por pouco eu não me estatelei no chão.

E eu não consegui e não quis controlar a minha vontade de dançar pelo meu apartamento inteiro, a dança mais ridícula que eu consegui criar.

Sem Nath!

Eu acho que começou com uma tentativa falha de moonwalk para depois dançar o Ragatanga de maneira tão entregue que a Rouge ficaria orgulhosa de mim e me chamaria para ser uma corista mesmo que eu tivesse certeza de que o nome do indivíduo em questão não era Alejandro, mas eu não conseguia me recordar quem é que vinha virando a esquina com toda a alegria, festejando.

Só que aí a minha animação parou no meio de uma pirueta (não coreografada, claro, eu estava usando minha liberdade artística para complementar a dança), porque algo me ocorreu quando eu tentava organizar os meus divertidamentes para responder a mensagem, afinal o que eu realmente queria responder para o Eduardo era: então, sem Nath?

No entanto, eu não poderia, porque eu havia acabado de reparar que se ele não estava com a Nath, então por que ele não havia me beijado? Não que eu acreditasse que uma coisa imediatamente excluía a outra, mas eu havia entendido... algo diferente.

— Por que você tem que ser tão frustrante? — eu perguntei para mim mesma, voltando a me sentar no sofá e encarando a tela em busca de inspiração.

Marcela: Mais uma quinta-feira normal, acredito eu

Marcela: Já a minha única companhia é uma xícara de chá

Pelo jeito a inspiração não bateu muito forte não.

Eduardo: Sem Retúlio?

Eu estiquei minha mão com a xícara, escondi meus pés e tirei uma foto para comprovar que eu estava à mercê da minha própria companhia naquela noite depois de uma noite de Retúlio com Gustavo. Foi uma ótima noite, mas eu estava exausta de interações sociais e ainda tinha o churrasco do Gali naquele final de semana, o que me fazia querer apenas hibernar.

Marcela: (imagem)

Eu enviei e esperei, notando que ele estava online, porém não respondeu imediatamente.

O que será que ele estava tentando ver naquela foto?

Eduardo: Tá usando minha jaqueta?

Então eu notei que a manga da dita cuja havia aparecido, cobrindo a mão que segurava a xícara e eu mordi meus lábios, reparando que ele estava online, esperando que eu confirmasse o meu crime de ser um clichê em forma de gente.

Como eu poderia responder aquilo sem confessar que eu dormia com a blusa de pijama que ele havia esquecido aqui meses antes? O que eu poderia dizer além de que eu usava a sua roupa, porque era o mais próximo dele que eu conseguia estar quando não podia estar com ele?

Marcela: Justiça poética

Marcela: Eu tenho certeza de que você usa meu casaquinho cinza quando ele está sob sua custódia

Eu engoli a seco e encarei a tela, quase como uma adolescente trocando flertes online no MSN — sim, minha época adolescente era de MSN e a gente mandava uma tremida na conversa alheia quando a pessoa demorava para responder. Ainda bem que o whatsapp não tinha esse recurso, senão Thales e Fernando seriam bloqueados no mesmo instante.

Eduardo: Em minha defesa, ele fica muito melhor em mim do que em você

Eduardo: Realça meus olhos

Eduardo: Sinto muito que eu tive que te contar isso

Eu ri abertamente daquilo e bebi mais chá, não acreditando que ele havia dito aquilo para mim.

Marcela: Você sonha com isso, Eduardo

Marcela: Você não tem os mesmos brincos de pérolas que eu

Marcela: Então nunca vai conseguir chegar no estado da arte

Eduardo: Mas aí é jogo sujo, Má

Eduardo: Porque tudo o que você usa vira arte

Eduardo: Até quando não usa nada

Eu estava prestes a mandar mais um "hahaha" animado para comemorar que concordamos que a jaqueta dele (nossa? definitivamente nossa) ficava tão bem em mim quanto o casaquinho cinza até que...

Espera.

Es-pe-ra!

Isso era o que eu realmente achava que era?

Até quando eu não usava nada?

Eduardo Senna estava me dando uma indireta online às quase duas da manhã?

Claro que eu poderia me fingir de louca e nem ao menos responder, falando sobre jaquetas e casacos e todos os tecidos que nos separavam, que o enrolaria pelo tempo que eu quisesse até que ele notasse que eu havia escapado pela tangente, mas a questão era que eu não queria fazer aquilo.

Eu queria saber até onde ele iria e se aquela mensagem foi um acidente ou não — talvez fosse o sono ou o fato de que eu ainda estava queimando no fogo do ciúmes que eu havia sentido naquela noite e que... eu não queria mais sentir.

Ok, qual era a melhor resposta para isso? Tinha que ser inteligente e ousada na medida certa, só que precisava ter um toque de humor para não ser apenas um "me possua", mesmo que eu quisesse desesperadamente mandar aquilo e esperar ele entrar pela porta da minha sala.

Marcela: Já ouvi isso antes

Marcela: Chegaram até a me pedir para posar como uma francesa, sabia?

Estávamos nos sentindo ousadas? Claramente. Com calor? Ainda mais. Contudo eu não queria me desprender do casaco, mesmo que eu continuasse a beber mais um gole de chá, porque, de repente, minha garganta havia secado.

Se ele falasse algo sobre limites ou não estar interessado em mim daquela maneira, eu sempre poderia dizer que havia feito apenas uma piadinha sobre Titanic e que não era nada daquilo que ele estava pensando, então esta era a resposta perfeita e eu estava até orgulhosa de mim mesma.

Cinco minutos depois (possivelmente ele morreu e voltou a vida? Única resposta aceitável), o Edu voltou a digitar.

Eduardo: Se não me engano, EU era a francesa em questão e você o Jack usando o pincel

Acho que o sorriso que estava estampado no meu rosto era tão brilhante que poderia queimar o oceano irrefreadamente e mesmo assim eu não iria tirá-lo do meu rosto por nada.

Sem chance.

Porque eu sabia exatamente o que dizer para ter a última palavra.

Marcela: No caso, eu não me lembro de ter usado um pincel

Então, silêncio.

Hm, será que eu havia sido ousada demais e o Eduardo agora que havia reparado todas as insinuações que estavam por trás das minhas frases anteriores? Não era como se ele fosse feito de ingenuidade e inocência, então ele tinha que ter noção que havia um pouquinho de maldade ali...

Aí meu celular vibrou.

Eduardo me ligando em vídeo.

Repito!

Eduardo. Ligação. Vídeo!

Mas o que...?

Eu bati as mãos nos meus cabelos e passei o indicador embaixo dos meus olhos para tentar minimizar qualquer maquiagem borrada que tivesse ali, mas, como eu disse, era quase duas da manhã e não tinha como eu estar decente.

— Má-r-ce-la! — Leandro me cumprimentou assim que eu atendi e eu arregalei meus olhos com surpresa, porque ele havia separado as sílabas do meu nome de forma errada e eu estava vendo apenas o seu nariz.

Era até que bonitinho, sabia? Meio arrebitadinho, tipo um porquinho de estimação.

— Marcela? Marcela do triturador de carne? — eu ouvi uma segunda voz que não tinha nada a ver com a do Henrique Francisco ou do Eduardo, então uni minhas sobrancelhas para enxergar melhor, quando o rapaz de cabelos castanhos que estava enfiando bolinhas de papel na boca do Leandro minutos antes, aparecendo na câmera.

— Triturador de carne? — eu estranhei aquela associação com o meu nome, porque eu já estava acostumada com "Marcela da CPN?" ou "Marcela dos projetos?" ou até mesmo "Marcela da prancheta?". Essas associações eram compreensíveis e incentivadas, mas eu juro que eu nunca havia ameaçado ninguém com um triturador de carne.

Que eu me lembrasse, ao menos.

— Há há há — Eduardo surgiu atrás deles e enfiou a mão na tela, arrancando o celular do Leandro que parecia um cachorro não querendo largar o osso — solta, Leandro! Chega de malcriação!

— Mas eu tô com saudades da Má — ele choramingou do outro lado e eu até inclinei meu rosto para entender a cena, porém a câmera estava bloqueado por uma sequência de dedos que eu não sabia exatamente de quem eram — Marcela, vem estalar minhas costas, por favor, eu estou todo torto!

— É como o Platãozão dizia: não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida — o rapaz pontuou para Leandro, que o encarou sem entender, perdendo a batalha pelo celular pela sua distração — tipo, não espere uma dor nas costas para apreciar um bom estalo.

— Você é filósofo? — eu perguntei, esquecida na tela do celular.

— Em formação. Literalmente, eu voltei para faculdade para cursar filosofia — ele me respondeu e pegou os óculos do rosto de Henrique Francisco, que estava dormindo na posição mais estranha do mundo e eu queria justificar que era saudade de Tiago — meu nome é Felipe, eu trabalho com o Leandro. Acho que não fomos apresentados.

— Marcela, eu trabalho com o Edu — eu apontei para o celular de maneira genérica, porque não importava para onde eu apontasse, acho que seria o lugar errado.

Leandro surgiu na tela de novo e agora eu estava conversando com a sua bochecha enquanto ouvia Eduardo reclamar sobre a oleosidade na tela, porém acho que foi uma batalha sem muita resistência por sua parte.

— Má, quando que vai ter outra festa de ano novo? Eu adorei a Letícia e a Mariana, ótimas pessoas — ele murmurou em um beicinho e eu quase cuspi o chá no meu tapete pela risada que eu guardei dentro de mim.

— Dia 31 de dezembro vai ter outra, sabia? — eu comentei com pouco caso e ele pareceu realmente animado com aquilo, o que me fez até me sentir levemente culpada por rir dele — e elas também gostaram de você.

— Eu sabia, o Chicão disse que eu nem lembraria do nome delas. Quem está rindo agora? — ele se gabou e eu tentei fingir uma feição séria, mas definitivamente eu.

Eu era quem estava rindo.

Eu estava limpando as lágrimas dos meus olhos quando Felipe Galhardo terminava de narrar sobre a aventura de ir para Campos com Leandro no carro, e um acidente de caminhão que derrubou batatas e o galã basicamente quis saquear o local.

Quem via o rei dos lençóis sendo sensato jamais imaginaria que existia um lado anarquista!

E mesmo que o assunto estivesse divertidíssimo, eu sabia que meu horário estava chegando, porque meu celular estava com 5% de bateria e eram quase três da manhã.

— Gente, foi ótimo conversar com vocês, mas são quase três e eu ainda preciso lavar meu cabelo — eu dei um sorriso quando terminei de tomar o meu chá e notei que até mesmo Chico, que havia acordado em algum ponto da conversa, pareceu chateado com aquela informação — a gente sempre pode marcar outro dia. E pessoalmente? Meu mindinho está com cãibra de segurar o celular por tanto tempo — eu mostrei o dedinho em questão para que eles conseguissem ver como ele estava vermelho e até meio inchado.

— Mas agora que eu ia começar com a fofoca sobre o Show do Casaca? — Felipe me olhou com uma decepção tão palpável que até mesmo eu fiquei triste comigo mesma.

— Próxima vez que vocês marcarem de beber, só me chamar e aí você me conta tudo do show do casaco — eu garanti.

— CasacA — ele e Leandro me corrigiram juntos, como se eu tivesse profanado o nome da banda por ter confundido uma letra, mas, em minha defesa, "casaco" era mais intuitivo do que "casaca".

— Combinado, eu levo o vinho — eu concordei mesmo assim, assistindo a bateria ir para 4%.

Felipe pareceu ficar um pouco mais animado com a ideia e logo começou a discutir datas com o galã.

— Não pode, vinho é uma bebida proibida nessa casa — Henrique Francisco me informou e eu tenho certeza que o meu ultraje ultrapassou a tela do celular e atingiu Eduardo na cara pelo horror que se refletia em seu rosto.

— Quem fez essa proibição? — eu perguntei, sentindo que meu queixo havia caído e ele não queria voltar ao normal — Eduardo! Como assim vinho é proibido? Que blasfêmia!

O arquiteto arregalou os olhos e deu tela azul por dois minutos antes de soltar a seguinte frase:

— Boa noite, Má! Até amanhã! — e aí ele desligou.

Na minha cara.

Eu acabei soltando um bocejo, aceitando que estava cansada e com mais de um litro de chá no organismo, tendo completa noção de que minhas sinapses estavam prejudicadas, o que justificou eu ter ficado mais tempo do que o moralmente aceitável olhando para o meu celular, esperando uma mensagem ou alguma coisa, porque aquele "boa noite, Má. Até amanhã" não contou para mim.

Só que eu não recebi nada, então deixei meu celular carregando ao lado da minha cama e fui tomar um banho, lavando duas vezes o cabelo para ver se a oleosidade do dia o deixava e ele voltava a ficar soltinho e com um volume bonito, mesmo que eu tivesse certeza de que ele ficaria daquela maneira até o primeiro capacete.

Assim que eu saí do banho, enfiei meu pijama azul-claro e passei a toalha no cabelo, completamente dividida entre secá-lo com o secador ou dormir com ele ainda molhado mesmo sabendo que isso era péssimo para minha saúde — eu acabei sendo vencida pelo cansaço e pendurei a toalha, porque com certeza o Seu Agenor me expulsaria da Terra se eu ligasse o secador as três da manhã!

Então meu celular vibrou, chamando minha atenção antes que eu começasse minha saga de pendurar o casaco do Eduardo ao lado da minha bolsa de trabalho para devolvê-la para o seu respectivo dono no dia seguinte, mas ela ainda tinha o seu cheiro e o seu toque, então eu decidi que... tudo bem se ela ficasse mais alguns minutinhos contra a minha pele, né?

Eu me deitei na cama e desbloqueei o celular, vendo que era uma mensagem de Eduardo:

Eduardo: Olha quem está aqui comigo

Eduardo: (imagem)

Era uma foto dele já na sua cama com o meu casaquinho cinza contra o ombro, todavia eu não consegui prestar atenção no casaco, e sim, nele. Na sua barba recém feita com um cortinho em seu queixo, na blusa de pijama cinza de algodão puído, nos seus cabelos com um ondulado de quem havia acabado de tomar banho e no sorrisinho de canto que tinha um terço de amizade e dois terços de más intenções.

Péssimas péssimas intenções que eu queria que ele sussurrasse cada uma delas no pé do meu ouvido.

O quanto eu sentia saudade daquele sorriso — e das possibilidades que nasciam com ele — não conseguia ser explicado, por isso eu apenas embarquei na dele, depois de me demorar alguns minutos admirando aquela foto e quase não resistindo o impulso de torná-la meu protetor de tela.

Quase, mas eu não era de ferro.

Na verdade, naquele momento, eu me sentia quente. Derretendo. E amando aquela sensação.

Marcela: Aposto que você roubou da minha cadeira, porque estava com saudade

Eu rolei com o casaco dele na cama, buscando uma posição confortável entre as minhas cobertas.

Eduardo: Alguém tem que preencher o espaço vazio da minha cama, né?

Eduardo: O casaquinho tem o tamanho perfeito para me fazer companhia

Sua cama estava vazia?

Eu mordi meus lábios, porque eu não deveria ficar feliz com aquilo, mas eu ficava, porque... quem eu queria enganar? Eu queria ser a única pessoa enrolada em seus lençóis.

O que será que ele diria se eu...?

Marcela: Já a minha cama anda muito bem frequentada

Eu esperei um pouquinho e a resposta veio quase como um tiro.

Eduardo: ????????

Era feio eu me divertir com aquilo? Porque eu estava. E muito.

Marcela: Retúlio anda dormindo bastante por aqui

Então mais um momento de silêncio.

Mas ele continuava online.

Eduardo: O seu casaquinho só tem um defeito

Marcela: Se você me falar que perdeu uma pérola, eu te sangro

Eduardo: Seu cheiro está saindo

Eduardo: O de Good Girl e não esse copycat que você anda usando

Marcela: Você é muito apegado nesse perfume

Marcela: E esse perfume novo é bom, você tem que dar uma chance

Eduardo: Não sei se devo...

Eduardo: Mas eu acho que a gente pode tentar

Eduardo: Se um dia eu resolver devolver o seu casaquinho, né?

Marcela: Você esqueceu que eu estou com a sua jaqueta?

Marcela: (imagem)

Não sei de onde eu encontrei forças e coragem dentro de mim para mandar uma foto minha embolada com a jaqueta dele, mas eu acabei encaminhando antes que mudasse de ideia e só depois eu fui analisar a imagem, onde o tecido de couro falso estava entre as minhas pernas e um dos braços estava embaixo da minha cabeça.

Nem eu fazia ideia de que eu havia me enrolado tanto assim nele.

Oh, céus, minha blusa estava toda torta (definitivamente não valorizando minha comissão de frente) e meus cabelos estavam atirados de qualquer jeito como uma juba de leão. Mas pelo menos o sorriso estava bonitinho, meio estilo Monalisa — a gente tem que trabalhar com o pensamento positivo e o amor próprio, sempre.

Eduardo: Depois dessa foto? Jamais

Eu sorri contra a jaqueta e aguardei, porque ele estava digitando e parando, repetidas vezes.

Eduardo: Eu proponho uma troca?

Eduardo: Minha jaqueta pelo seu casaquinho?

Se eu quisesse, poderia muito bem interpretar aquilo como uma simples troca entre amigos com pertences esquecidos um com o outro, contudo, não tinha graça aceitar que aquilo era apenas uma troca, porque assim que eu falasse "combinado", nós possivelmente iríamos nos encaminhar para o famigerado "boa noite" e eu não tinha certeza se eu queria me despedir.

Não ainda, ao menos.

Marcela: Isso tem mais cara de chantagem

Eu franzi meu cenho para aquela frase, desgostando imediatamente dela, mas foi a melhor sequência de palavras que eu consegui formular antes que ele perdesse o interesse na conversa.

O que eu não esperava, era que ele estava esperando por algo naquele estilo — ou eu acreditei que estava esperando pela velocidade com que eu recebi a sua resposta.

Eduardo: Chantagem seria se eu colocasse regras para te devolver

Eduardo: Tipo, só devolvo se você vir de branco

Eduardo: E com cheiro de Good Girl

Eduardo: Mas eu não coloquei essas regras, né?

Não, com certeza não colocou, mas agora que ele havia mencionado aquilo, eu queria usar branco e Good Girl pelos próximos dez anos, completamente refém de uma psicologia reversa.

Marcela: Como diria o Patrício: tudo depende de como a proposta é feita

Qual é, Marcela, deixa eu te ajudar! Citar o Pat em uma conversa cheia de indiretinhas e entrelinhas não era o caminho certo!

Eduardo: Usar seu cunhado não vai me fazer flexibilizar o acordo

Eduardo: E, novamente, não é uma chantagem

Eduardo: Apenas uma troca amigável

Não era mesmo amigável, e eu nem queria que fosse, porque eu só conseguia pensar nos termos do acordo que eu poderia criar do meu lado da barganha. Existiam tantas coisas que eu poderia pedir por aquela jaqueta preta de couro sintético que era tão Eduardo Senna que provavelmente este era o nome do modelo que era comercializado na loja.

Marcela: Se EU fosse fazer uma chantagem

Marcela: Diria para você usar aquela camisa azul

Marcela: E deixar a barba por fazer

Marcela: Mas novamente, não fazendo chantagens

Marcela: Apenas uma troca

Marcela: Amigável, não é?

Eu encarei a minha tela, gostando como ele estava online, tão presente ali quanto eu.

Eduardo: Definitivamente não

Eduardo: Quero dizer, não é chantagem!

Eduardo: Mas é bem amigável

Eduardo: Sabe que eu sou um ursinho carinhoso

Eu mordi meus lábios e respirei fundo, sentindo minha pele formigar desde a ponta dos meus dedos até o meu ventre, espalhando aquela sensação pulsante pelas minhas coxas a ponto de eu começar a respirar com dificuldade.

Marcela: Claro, amigável

Não tão amigável, se eu bem me lembrava como ele gostava de ser carinhoso comigo na cama.

Eduardo: Então...

Marcela: Só me falar onde e quando

Eduardo: Qual sua próxima noite livre?

Eduardo: Se for essa semana, melhor ainda

Eu apoiei meu rosto contra a jaqueta e inspirei seu cheiro, me deixando aproveitar aquele momento por alguns segundos, porque a verdade era que eu não queria devolver aquela peça de roupa tão cedo.

Marcela: Mas por que a pressa?

Marcela: Tá querendo fugir do país?

Eduardo: Só...

Marcela: ........

Eduardo: Tô sentindo falta

Eduardo: Da jaqueta

Da jaqueta? Claro. Só da jaqueta.

Por que eu achei que seria de outra coisa?

Marcela: Ok, então pode ser amanhã mesmo no escritório, então

Eduardo: Mas aí não tem graça

Marcela: Por que?

Eduardo: Porque a intenção é você esquecer de novo o casaquinho comigo

Dessa vez eu abri o maior sorriso que eu consegui, umedecendo meus lábios ao tentar elaborar algo que fosse no mínimo no nível do que ele estava me falando, mas eu só conseguia passar meus olhos naquela frase a cada letra que eu tentava digitar, sentindo meu coração martelar contra meu peito.

Marcela: Você está muito apegado

Eduardo: Nem faz ideia

Eu olhei para conversa no meu celular, ainda com aquele sorriso besta nos lábios e sabendo que eu havia ganhado uns quatro graus de miopia por estar com apenas a luz da tela me iluminando e pelo aparelho estar tão próximo de mim, mas eu não me importei nenhum pouco.

Então eu bocejei, vendo que o relógio estava se aproximando perigosamente das quatro.

Marcela: Ei

Eduardo: Fala

Marcela: Preciso dormir

Marcela: Tem aquela coisa chamada trabalho amanhã

Marcela: E eu meio que não posso faltar

Eu cocei meu olho com o punho e tentei não abrir a boca em um bocejo, mas foi mais forte do que eu, como se aquela vontade de engolir o mundo viesse de dentro da minha alma.

Eduardo: Acho que eu também tenho esse compromisso na agenda

Eduardo: Nem vi a hora passar

Marcela: Eu sei, minha companhia é muito boa

Marcela: Boa noite, Edu

Marcela: Espero que hoje não tenha insônia

Eduardo: Boa noite, Má

Eduardo: Tô sentindo que vou dormir muito bem

Eu bloqueei o celular e o abracei, sentindo meu coração martelando contra as minhas costelas enquanto eu tentava acalmar meu corpo inteiro, porque eu estava tremendo e não tinha certeza se eu efetivamente conseguiria dormir, porque... bem, acho que a realidade estava melhor que meus sonhos.

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A hashtag preferida das leitoras está de volta! #SextouComLibriela!!!!

Hoje também é dia de post dedicado e especial para mais uma das nossas leitoras queridas! Feliz aniversário, Bia <3

Agora deixe o seu surto aqui se você não morreu trinta vezes com essa troca de tiros de mardo online:

Galhardinho veio dar uma filosofadinha com a gente só no amor <3 e se vocês não se derreteram com esse pequeno remember da viagem de Campos de AER, a gente recomenda vocês irem lá relembrar, porque esses capítulos foram TUDO!

Mais alguém está sentindo a temperatura subir ou é só impressão? Porque aqui em casa o sorvete derreteu!

Esperamos que estejam gostando muito dessa nova fase de CEM, porque agora que Guscela não é mais opção para nosso Detetive Confuso, pelo jeito ele está trabalhadíssimo na maldade e a Má está mais do que preparada pra isso.

Teorias teorias? Alguém dá uma muito boa?

Não esqueçam da nossa estrelinha (somos biscoiteiras profissionais, sorry), e desejamos a vocês um ótimo final de semana!!!

Beijinhos,

Libriela <3

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