Capítulo 81 - Vocês estavam escondendo alguma coisa no cruzeiro
Vocês estavam escondendo alguma coisa no cruzeiro
Eduardo
Eduardo: Princesos, vou chegar mais tarde hoje
Henrique Francisco: Nããããããããão
Henrique Francisco: Eu odeio ficar em casa sem você
Leandro: Nossa, a pessoa que está em casa está ofendidíssima
Henrique Francisco: Quem?
Leandro: EU!
Leandro: Nossa, Henrique Francisco, não fala mais comigo hoje
Eduardo: Ei! Quem é nosso galã?
Henrique Francisco: Príncipe da minha vida, não faz assim
Henrique Francisco: vem aqui pra eu te dar um cheiro, eu não vi que toda essa beleza estava dentro de casa já
Eduardo: É isso que vocês fazem quando eu não estou em casa? Bom saber
Leandro: Que cheirinho de ciúme
Leandro: Você poderia participar, mas...
Henrique Francisco: O que pode ser melhor do que nossa companhia, Eduardo?
Eduardo: Nada, é claro
Eduardo: Mas o Patrício está em São Paulo, aí...
Henrique Francisco: (figurinha)
Leandro: (figurinha)
Eduardo: Quem está com ciúme agora?
Henrique Francisco: Jantar à luz de velas, galã?
Leandro: Loira Odonto inclusa?
Henrique Francisco: Caralho, Leandro
Henrique Francisco Gadelha removeu Leandro Lamas
Eduardo: Chicão!
Henrique Francisco: não me arrependo de nada
Eduardo Senna adicionou Leandro Lamas
Eduardo: SEM TALARICAGEM
Eduardo: SEM REMOVER O AMIGUINHO DO GRUPO
Henrique Francisco: Só porque você está pedindo
Henrique Francisco: Pensa nisso quando estiver na rua com outros homens
Leandro: Oficialmente eu só namoro o Edu agora
Henrique Francisco: Mas ele namora comigo
Eduardo: (figurinha)
— Edu? — Marcela perguntou, o que me fez bloquear a tela do celular e colocá-lo virado para baixo sobre a mesa, porque eu odiava ser o cara mexendo no celular enquanto uma conversa real acontecia.
— Desculpa, Má, eu não ouvi — pedi e ela dispensou meu pedido com os ombros ao mesmo tempo que eu ouvi barulhos de turbinas.
Normalmente, Congonhas não fazia parte do meu itinerário pós CPN, mas Patrício estava em São Paulo por causa de algum caso que exigiu uma viagem de bate-e-volta de Vitória, então, como ele tinha saído da audiência mais cedo que previsto, nos convidou para um café no aeroporto antes do seu vôo de retorno.
Claro que ele não estava contando com o trânsito da hora do rush de São Paulo, então ele ainda estava a caminho e Marcela e eu estávamos esperando por ele — nós tínhamos trocado o café por chá mesmo que o advogado tivesse reclamado disso em suas mensagens no WhatsApp, dizendo que precisava de cafeína aplicada diretamente na veia para aguentar um voo depois do dia de cão que teve, mas ele tinha perdido o direito de escolha quando se atrasou.
Eu nunca tinha ido à filial da Blend Perfeito que ficava no aeroporto, mas era tão bonita quanto as outras que eu conhecia, com a parede principal texturizada em um tom de caramelo um pouco mais escuro do que as outras, a iluminação em pendentes aramados em formato de diamante sobre as mesas de madeira clara e o constante cheiro de chá — não conseguia identificar todos, mas o cheiro de lavanda estava sobressaindo naquele exato momento.
— Eu acho que a gente podia ir pedindo, porque Patrício vai chegar bem perto da hora do voo — Marcela repetiu, empurrando o cardápio para mim por cima da mesa. — Estou pensando em chai com torradinhas de baguete e geleia de morango.
Marcela olhou para o meu rosto e piscou várias vezes rápido para desviar o olhar quando eu fiz exatamente a mesma coisa.
Nós dois estávamos meio amassados depois de um dia de obras na CPN, ela acompanhando os últimos detalhes da Casa Amarela e eu na Casa Sustentável com Lucas e Isaac — o engenheiro estava tão preocupado em ajudar os obreiros a posicionar os perfis de madeira e as placas estruturais do wood frame para que nada saísse errado e atrasasse a obra quanto Lucas estava em êxtase com cada material sustentável que era entregue pelos fornecedores (tanto que eu achei que ele ia fazer xixi de felicidade por causa do isolamento de lã mineral) — então havia sinais de cansaço visíveis, mas, mesmo com uma marquinha no cabelo onde o capacete tinha ficado apoiado e os olhos um pouquinho mais fechados que o normal, ela estava linda dentro de um blazer verde militar alongado, o jeans clarinho e os mocassins.
Do outro lado, eu tenho certeza que eu só estava parecendo ter sido pisoteado e não importava que eu tivesse passado vários minutos tentando fazer meu cabelo voltar ao normal depois de um dia inteiro de capacete, ele simplesmente tinha decidido que eu teria o mesmo penteado que uma alpaca e eu que lutasse.
— Chicão ama o Estrelinha — pontuei, porque Henrique Francisco realmente era muito fã de chá e uma das suas felicidades era que a clínica ficava perto de uma loja da Blend, então ele não apenas podia passar o dia tomando chá como comprava caixinhas com sachê para estocar em casa. Talvez fosse por isso que todo mundo era tão de boa no apartamento e quase nunca se estressava com nada? — E talvez bolo de milho?
Marcela apertou as sobrancelhas e leu os ingredientes do chá.
— Eu topo os dois acompanhamentos, porque eu estou com fome e Valter comeu minhas barrinhas de cereal por engano — Marcela contou com uma careta e eu ri, mas não podia criticá-la porque eu também estava faminto, já que as calorias do sanduíche de grão de bico que eu tinha comido no almoço já tinham sido consumidas há umas três horas. — Mas mantenho minha posição no chai e acho que talvez o Fada do Chá fique melhor para você porque estamos pedindo acompanhamentos doces. Ele é basicamente idêntico ao Estrelinha, só que sem o mel de flor de laranjeira, então fica menos doce e as coisas não competem, sabe? — ela sorriu, cheia de razão, quando eu subi uma sobrancelha. — É só uma sugestão.
— Acho que é por isso que a Ceci confia mais na sua opinião do que na minha para os pratos da Horta Verde — brinquei e Marcela ergueu as mãos de unhas vermelhas, como se fosse óbvio. — E para o Patrício?
— Não faço ideia, mas a Cele pode ajudar. — Marcela sacou o celular do bolso para enviar uma mensagem para a irmã, mas parou no meio do caminho, apertando as suas sobrancelhas. — Seu aniversário é sete de março, não é?
— Sim — respondi, sem entender exatamente a razão daquela pergunta.
— Olha isso — Marcela disse, com um ar risonho e encostando o ombro no meu para que eu pudesse ver a tela do seu celular, aberta na agenda, com vários quadrinhos coloridos de compromissos, mas um deles se repetia todos os dias. — Minha agenda acha que é seu aniversário todo dia!
Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu. Aniversário do Edu — era esse o compromisso diário que ela tinha de dezembro até março do próximo ano.
— É um lembrete para você de que esse homem está de parabéns todo dia — uma terceira voz disse e nós dois nos viramos para trás para dar de cara com o doutor Patrício olhando o celular por cima dos nossos ombros com um sorriso no rosto.
Ele estava todo advogado usando um terno cinza chumbo, uma gravata vinho com bolinhas brancas, óculos de grau com moldura arredondada e o cabelo cor de areia muito mais penteado do que o constante "bagunçado de vento marítimo" que eu via no cruzeiro.
Marcela foi a primeira a se adiantar para abraçar o cunhado pelo pescoço.
— Que bom ver você! — ela disse antes de dar um beijo estalado na bochecha dele. Eu peguei a maleta de couro (ninguém podia ser perfeito, infelizmente) que ele tinha em mãos para que ele pudesse abraçá-la de volta sem aquele obstáculo.
— Eu estava com tanta saudade de você, Má! — ele disse e devolveu o beijo depois de olhá-la com carinho com seus olhos claros. E aí olhou para mim por cima do ombro dela e Marcela se afastou um pouco, abrindo espaço para que eu pulasse as formalidades e abraçasse Patrício com toda a nossa intimidade, que vinha principalmente de uns dias no cruzeiro, afeto público no instagram que faziam Henrique Francisco querer arrancar os olhos e mensagens no WhatsApp. — Eu não te vejo há tanto tempo que achei que você era uma criatura marinha mística que não existia de verdade!
— Sereia é o nome que você está procurando — eu disse e Patrício e Marcela riram, ela rolando os olhos enquanto eu me perguntava qual era o perfume dele, porque ele tinha um cheiro amadeirado muito bom. — Tem passado protetor direitinho?
— Marcele não tem sua mão leve, Ariel — gracejou e eu ri. — Espero que você esteja tomando Eugências por mim, porque infelizmente essa iguaria não chegou na ilha ainda.
— Que vida triste a de vocês, capixabas — repliquei.
Marcela pigarreou.
— Vocês pretendem se soltar algum dia ou devo avisar para minha pobre irmã para pular desse barco enquanto é tempo?
— Me deixa em paz, Celinha — Patrício disse e me abraçou mais apertado só para provocar Marcela, mas me largou uns segundos depois e se sentou na cadeira vazia ao lado dela.
Uma garçonete se aproximou e nós finalmente fizemos o nosso pedido. Marcela e eu escolhemos um chai para Patrício também, porque ele estava com o tempo apertado e teve que se afastar por uns minutos para falar com a "Dra. Isabela", que achei que fosse alguém que Má conhecia pelo jeito que ele falou, mas ela tinha a mesma expressão confusa no rosto que eu.
O pedido tinha acabado de chegar quando ele voltou, enfiando o celular no bolso da calça ao mesmo tempo em que eu dava um gole no famosíssimo Fada do Chá.
— Desculpem, aparentemente o Maurício está enlouquecendo a pobre Bela porque não fez o protocolo dos embargos de declaração em um processo e estava surtando, mas tudo bem porque a gente pode arguir a mesma questão em preliminares de apelação e... — Patrício parou, provavelmente percebendo que Marcela e eu não fazíamos a menor ideia do que ele estava falando. — O quê?
— Eu não sei para que servem embargos de declaração, mas pode continuar, acabei de descobrir que gosto de advogadês — retruquei antes de cravar os dentes em uma fatia de bolo de milho pela qual meu estômago clamava antes que fosse obrigado a se auto-devorar porque eu não o alimentava direito. Tenho certeza que ele só não tinha tentado consumir um dos meus rins porque a gente não comia carne.
Caramba, o bolo era muito bom. E acho que Marcela tinha razão sobre o chá, porque eu conseguia sentir o gosto dos dois sem que o paladar doce de um afetasse o outro.
— Alguém tem que gostar, e depois de passar o dia viajando e em uma sala de audiências, essa pessoa não sou eu — gracejou Patrício após dar um gole no seu chai. Comi uma torrada e comecei a me perguntar se Melissa Oliveira toparia dividir a receita daquela geleia porque eu queria fazer uma banheira daquilo e pular dentro. — Nós representamos uma fabricante de automóveis e um dos modelos novos está com um defeito no airbag do motorista, mas não fez o recall como o Código de Defesa do Consumidor prevê, daí ficamos por três horas e meia entabulando um acordo decente para evitar uma indenização milionária porque um cara sofreu um acidente e quebrou o nariz porque o airbag não acionou quando deveria, mas podia ter sido bem pior. Agora eles vão colocar no YouTube e vai ter uma chamada no intervalo do Jornal Nacional durante quinze dias e... — Aí Patrício parou, erguendo as sobrancelhas em direção a Marcela. — Falando em televisão, Sam e Cele me pediram para te avisar que você estava maravilhosa na sua entrevista e eu concordo.
— Obrigada, mas todo mundo já me disse isso umas quinze vezes — lembrou Marcela, com um sorriso tomando os lábios rosados e as bochechas corando. Marcela constrangida era algo que eu desconhecia. — O grupo da família ficou tão movimentado que eu fiquei com o celular inutilizável por seis horas e você cantou o parabéns da Xuxa para mim, lembra?
— Felizmente não lembro de ter feito isso. E se eu não lembro, eu não fiz — gracejou Patrício, mas suas bochechas enrubescidas não deixavam dúvida de que ele se lembrava sim da vergonha.
— Mas eu não disse e você estava maravilhosa mesmo, Má — eu disse e ela olhou para mim, sorrindo com os lábios e os olhos.
— Você assistiu? — ela perguntou e eu fiz que sim meneando a cabeça. Escondi meu sorriso que replicava o dela atrás da xícara, porque sempre que ela sorria eu sorria e isso era quase como produzir provas contra mim mesmo. Até porque eu não apenas assisti, eu gravei e agora tinha a entrevista em um pendrive, o que ia totalmente na mão oposta da nossa nova dinâmica de apenas amigos. — Gustavo jura que eu fiquei vesga, mas Rommi diz que ele só está implicando comigo e eu sinceramente quero acreditar nessa versão ao invés de pensar que eu fico estrábica quando estou nervosa.
Senti uma leve pontadinha no estômago, mas apenas neguei, porque ela não tinha ficado vesga, ou gaguejado, ou demonstrado nervosismo de nenhuma forma. Apenas falou com toda a fluidez possível sobre a ponte, demonstrando toda sua expertise sobre o assunto enquanto a repórter fazia as perguntas. E fez tudo isso sorrindo e com toda a segurança de quem sabia exatamente sobre o que estava falando.
E ela sabia, com toda a certeza.
— Você confia em mim? — perguntei e Marcela mordeu o lábio devagar antes de responder que sim, também meneando a cabeça. Eu sorri e passei o dedo pela alça da xícara que eu tinha deixado repousada sobre o pires, seguindo a curva que ela fazia e baixando o olhar por um breve segundo antes de olhar novamente para seu rosto. — Então aceita que você estava maravilhosa e nada menos do que isso.
Ela sorriu.
— Obrigada, Edu — ela disse após um segundo. — Sua opinião é...
— Marcelo jura que não chorou enquanto assistia, mas misteriosamente a caixa de lenços da sogra desapareceu bem nesse dia e o nariz dele resolveu ficar vermelho do nada, então pode acreditar no Edu — o advogado comentou e os dois começaram a rir. Eu só mais ou menos acompanhei, porque... Marcelo Noronha. — Gustavo é o Gustavo do cruzeiro?
— O próprio — Marcela respondeu.
— Você tem contato com ele e eu ainda não recebo Eugências pelo correio? — Ele ergueu as sobrancelhas. — Você está falhando como minha cunhada preferida, Marcela. E você como amigo, Eduardo. Vou chamar os dois no processinho por abandono afetivo.
— Vou lembrar disso quando vocês me pedirem ajuda às duas da manhã com as obras da clínica da Cele, cunhado — Marcela provocou, apontando para ele com a fatia de bolo e apertando as sobrancelhas.
Acho que o argumento dela convenceu o advogado, porque seus olhos verdes caíram em mim sem pesar algum mesmo após olharem para ela de forma suave. Ele ajeitou a gravata que já estava no lugar.
— Em minha defesa, eu te trouxe um presente — eu disse e estendi um embrulho para ele. Pequeno, retangular e com um laço elaborado demais para que fosse eu quem tivesse feito.
— Se isso não for um Anthelios Hydraox nossa amizade acaba aqui, Eduardo — ele gracejou, desfazendo o laço e eu ri quando ele encontrou exatamente o protetor que ele costumava usar no cruzeiro, inclusive com o FPS 60 que ele usava porque conseguia a proeza de ser ainda mais branco que eu e se queimava até na sombra, só com o mormaço. Ele começou a rir com a caixinha na mão: — Eu não acredito!
— Jamais esqueceria qual é o seu protetor preferido, me ofende que você pense assim depois de todos os nossos momentos especiais alisando um ao outro.
— Em minha defesa, eu também tenho uma coisa para você, mas não é um protetor solar. — Patrício abriu sua maleta e começou a remexer na quantidade absolutamente inacreditável de papéis que tinha ali (com certeza havia umas três árvores mortas dentro da sua maleta). Ele colocou um envelope sobre a mesa, um calhamaço de papel preso em um prendedor preto e o carimbo. Eu carimbei a mão de Marcela quando ela estava distraída, mas ela não pareceu muito feliz em fazer propaganda para o cunhado com os dizeres "Patrício Mota | Advogado | OAB nº 123456-78910-D". — Aqui!
Então Patrício estendeu para mim um envelope estilizado branco que tinha um laço pérola prendendo as duas abas que o fechavam, que se encontravam exatamente no meio e com uma tag com o meu nome escrito. Eu abri e dei de cara com o Save The Date do casamento de Marcele e Patrício em letras garrafais.
— Eu não acredito! Dona Alessandra deve estar em êxtase! — eu disse, ainda com o papel nas mãos e com um sorriso que com certeza era muito, muito, idiota plantado no rosto.
— Ela está — Patrício disse e olhou para Marcela. — Marcelo já disse que quebra os meus dois braços se eu magoar a Marcele, não precisa me ameaçar com a marreta de novo.
— Eu já vi essa marreta em ação, você precisa ter medo — eu disse saindo do transe e me levantando para abraçar Patrício de novo enquanto Marcela ria. Felizmente, ele entendeu que eu era emocionado e se levantou para me abraçar também. — Parabéns, doutor. Toda a felicidade do mundo, vocês são um casal muito incrível!
— Obrigado Edu, de coração — ele disse e eu vi Marcela com o celular erguido e apontado para nós dois. Patrício também percebeu, porque deu uma risada antes de perguntar: — Você está tirando uma foto, não está?
— Estou!
— Ele está chorando, não está? — Pat perguntou.
— Está segurando com muita vontade, mas é uma questão de tempo. Muito pisciano emocionado e fica pior com casamentos. Você tinha que ter visto o estado dele no casamento do Romeu — Marcela contou, com um sorriso no rosto e olhando para mim como se estivesse se lembrando do exato momento em que eu tinha começado a chorar naquele fatídico dia.
Em minha defesa, ela não estava muito melhor do que eu assistindo ao casamento de Romeu e Getúlio, mas a gente tinha um ao outro para limpar as lágrimas e falar algo idiota para arrancar sorrisos e...
Ok, a saudade apertou no meu peito, porque naquele dia...
Bom, aquele dia tinha sido especial e eu guardava aquelas lembranças como algo precioso. Nós dois dançando juntos, nossas mãos dadas, nossos olhares, todos os beijos no sofá do apartamento dela, o banho gelado e ela me procurando para dormir... Foi quando eu disse que estava apaixonado por ela, mas ela nunca se lembrou disso. No entanto, eu lembrava de como ela sorriu contra os meus lábios, como se saber disso fosse a melhor coisa do mundo.
Pena que...
— Fofo — o advogado deu uns tapinhas nas minhas costas.
— Para quem você vai mandar isso, Marcela? — perguntei, imaginando que Henrique Francisco ficaria três meses sem falar comigo se visse aquela foto.
— Já mandei no grupo da família. Cele disse "lindos!", Bruna mandou umas trinta figurinhas e Marcelo disse "hmm", o que já era de se esperar — a gente riu enquanto se largava e voltava a se sentar. — Eu deveria mesmo mandar no grupo da CPN. Aposto que o Valter ia mandar emoldurar você com esses olhinhos lacrimejantes só para poder olhar todos os dias e Gisele ia querer colocar no portal corporativo.
— Junto com meu certificado do curso de reatividade? — perguntei e Marcela riu, porque ela realmente tinha colocado a "notícia" do fim do curso lá, provavelmente porque todo mundo deveria saber que eu tinha sido punido pela briga do churrasco.
Bom, eu tinha, com o curso e uma advertência que ficaria para sempre na minha ficha do RH.
Patrício ergueu as sobrancelhas e olhou de Marcela para mim e vice-versa.
— Então vocês trabalham juntos? — perguntou, curioso, antes de um sorriso muito entendedor aparecer nos seus lábios. Oh, droga! — Eu tinha certeza que vocês estavam escondendo alguma coisa no cruzeiro, mas Marcele disse que eu estava apenas tentando achar pelo em ovo. Eu preciso confiar mais nos meus instintos, como sempre eu estou sempre coberto de razão.
Marcela e eu nos entreolhamos.
Acho que a mentira do cruzeiro se tornou verdade um tempo depois e nós meio que... Simplesmente esquecemos alguns detalhes da história fajuta para nos concentrarmos na parte que era real.
Mas se Patrício achava que essa era a mentira, bem...
— Você é muito sagaz, Patrício — foi Marcela quem disse, com um tom divertido na voz que passou despercebido pelo advogado, mas eu notei.
Nós sorrimos um para o outro, compartilhando aquele segredo mais uma vez.
⟰
— Devidamente entregue, Má — eu disse, quando estacionei em frente ao prédio dela e puxei o freio de mão.
Já eram quase nove da noite, ou pelo menos era o que o painel do carro estava marcando, mas eu nunca tinha certeza se estava realmente certo. Nós tínhamos ficado no aeroporto com Patrício por mais uns quarenta minutos, até o horário do seu voo de volta para Vitória — eu acho que a atendente da Blend Perfeito nunca tinha visto uma pessoa sair de lá com tantas caixas de chá quanto Patrício, mas Marcele tinha encomendado que ele levasse praticamente todos os sabores para ela, então ele não teve escolha.
Marcela soltou o cinto de segurança e ajeitou a blusa, que tinha saído do lugar por causa dele.
— Obrigada pela carona, Edu, e desculpa te fazer desviar da sua rota de novo — disse, colocando a mão na trava da porta.
— Eu ofereci a carona, não precisa me pedir desculpas por isso. E sabe que não é trabalho nenhum para mim. — Dei de ombros quando ela franziu as sobrancelhas. Era um pouco fora do meu caminho, era verdade, mas eu preferia saber que ela chegou em casa em segurança, mesmo que ela sempre compartilhasse a corrida e enviasse mensagens para avisar que tinha chegado bem.
Ela prendeu levemente o lábio inferior entre os dentes, como se estivesse pensando se me falava algo ou não. De repente, sua mão caiu da trava da porta e repousou sobre sua perna.
— Eu sei que você está cansado e provavelmente louco para chegar em casa e eu não quero te atrasar, mas... Você se importa de esperar por cinco minutos? Só para eu subir e pegar uma coisa que preciso te entregar?
— Que audácia você me pedir um sacrifício desses, Marcela Noronha — disse, apertando os olhos de maneira falsamente afetada e ela sorriu. — Claro, eu espero.
— Cinco minutos! — foi sua promessa antes de sair do carro e caminhar para a portaria, acenando para Luciano antes de sumir pela entrada do prédio.
Eu girei meu pescoço, sentindo o quanto precisava de um banho e da minha cama para relaxar o acúmulo gigante de ácido lático que estava me deixando tensionado bem naquela área — provavelmente eu só resolveria isso no treino do dia seguinte, mas descansar era um ótimo começo.
Peguei o celular do meu bolso apenas para ver que tinham várias mensagens ali.
Cecília: Cadê você? Tô na sua casa
Cecília: Cristalizei kiwi para testar se tem potencial e preciso de cobaias muahahahaha
Cecília: Chico adorou
Cecília: Leandro está cuspindo como se fosse um gato expelindo bolas de pêlo há dez minutos, então preciso de outra opinião
Cecília: Vou deixar aqui para você, se puder levar pra Má testar também...
E então, no grupo do apartamento:
Leandro: Pelo amor de deus se a Ceci te pedir pra experimentar kiwi corre
Leandro: É horrível
Leandro: ESSE GOSTO NÃO SAI DA MINHA LÍNGUA
Leandro: Eu quero chorar
Leandro: Pensar que eu deixei de sair com o Felipe e a Camila para ajudar sua irmã e ELA TENTOU ME MATAR
Henrique Francisco: É delicioso
Henrique Francisco: Se não sai da sua língua, sorte a sua
Leandro: Eu não consigo acreditar que eu beijei na boca de quem colocou esse horror no mundo!!!!
Leandro: Eu adoro a Ceci, mas PELO AMOR DE DEUS
Henrique Francisco: Tem o mesmo gosto que beijar o Tiago
Leandro: Hahahahah pra cima de mim?
Leandro: Loira odonto com certeza tem um beijinho mentolado refrescante delicioso
Henrique Francisco: (figurinha)
Leandro: Opa, olha a agressividade, doutor
Henrique Francisco: (figurinha)
Leandro: Para de ser agressivo!
Leandro: Você acha que tem alguma chance do Tiago querer me beijar com esse gosto de morte na boca?
Leandro: Nem o corote azul faz esse estrago
Leandro: SE SALVA, EDUARDO
E, então, Golden e Isaac.
Lucas: (imagem)
Lucas: Vocês viram?
Lucas: Fernando quer alterações no projeto de novo
Lucas: (figurinha)
Lucas: (figurinha)
Lucas: (figurinha)
Lucas: Essa figurinha do golden cansado sou eu nesse momento
Isaac: A gente até pode tentar colocar mais estruturas de pinus, mas acho que pode ficar perigoso
Isaac: A margem de segurança vai definitivamente ser um problema
Isaac: Quando ele diz "+ verde" pode ser qualquer coisa?
Isaac: Dá para colocar aquela cisterna da waterbox, acho que já dá uma pegada mais ecológica sem ter que alterar a estrutura do projeto radicalmente
Lucas: Puta que pariu, viu
Lucas: Chefeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee
Lucas: A gente pode se reunir na sua casa?
Lucas: Eu levo as lágrimas, vcs os lenços
Isaac: (figurinha)
Eu suspirei, vendo que minha noite de descanso... Bem, teria que ser alguma outra. A gente ia ter trabalho para adaptar o projeto de última hora e provavelmente aquilo não ia terminar tão cedo — e eu sabia disso pelo meu histórico de arrumar projetos aos quarenta e cinco do segundo tempo na mesinha de centro.
Bom, com Marcela e não com eles, mas acho que seria mais ou menos a mesma coisa. Exceto que nós não éramos uma dupla-dinâmica extremamente conectada que se entendia pelo olhar.
Eu tinha apenas respondido para Cecília que não ia envenenar Marcela, então repassar o kiwi para ela ainda estava em análise; combinei com Isaac e Lucas na minha casa em uma hora e estava começando a digitar para Leandro parar de talaricar meu casal quando a engenheira abriu a porta do carro com um presente nas mãos.
— Eu acabei de me dar conta que é a última vez que a gente se vê antes do natal, porque eu vou para Vitória amanhã, então feliz natal adiantado! — explicou, estendendo a caixa na minha direção com um sorriso no rosto que me fez automaticamente sorrir junto, mas eu não tentei esconder dessa vez.
Ela colocou o presente nas minhas mãos enquanto eu continuava sorrindo como um perfeito idiota.
— Obrigado, Má. Não precisava — eu disse e ela rolou os olhos, dispensando aquilo e movendo as mãos como se me mandasse simplesmente aceitar seu presente sem fazer doce.
E foi exatamente o que eu fiz quando desci meus olhos para o embrulho prateado nas minhas mão e comecei a desfazer as dobras e descolar o papel com delicadeza para que pudesse ser reaproveitado depois — reutilizar era um dos três r's da sustentabilidade e eu acreditava fielmente nele.
— Ok, isso foi muito atencioso. E inusitado — eu disse, encarando o jogo de ferramentas completíssimo para conseguir sobreviver em um apartamento sem quer que chamar o coitado do Seu Vanderlei a cada maçaneta frouxa, enquanto ria e ela acompanhava, porque eu claramente sabia o nome das peças, mas isso não significava que, na prática, eu soubesse exatamente como utilizá-las. — Espero que venha com manual de instruções.
— Eu lembrei que você não tem uma dessas no seu apartamento. E é claro que está nos meus planos te ensinar a usar, porque não quero que você acabe com uma dessas enfiada no olho. — Ela colocou a mão sobre a minha. — É sério, não usa sem supervisão. Chico vai me matar por te dar coisas perigosas e não uma tesoura sem ponta e fita crepe.
Eu ergui as sobrancelhas, vendo o quanto ela acreditava (com razão) na minha total ausência de habilidade para qualquer reparo manual que exigisse uma chave de fenda ou um martelo.
— Eu prometo, Má — disse eu, puxando a mão dela que estava sobre a minha e a trazendo para a minha boca, deixando meus lábios encontrarem a pele macia do dorso da sua mão. Tenho certeza que deixei o contato acontecer por mais tempo do que o socialmente aceitável, mas ela não pareceu se importar nem mesmo quando eu relutei para afastar sua mão. — Obrigado, eu adorei. E eu vou cobrar as aulas, aprender a usar as ferramentas para honrar seu presente vai estar nas minhas resoluções para 2021.
— As aulas estão inclusas no seu presente — ela gracejou e eu sorri, ainda com a mão na dela, repousada sobre a caixa no meu colo.
— Isso teria sido extremamente constrangedor se o seu presente não estivesse aqui, sabia?
— Você não tem obrigação de me dar um presente só porque eu te dei um, Edu! — ela explicou quando eu finalmente soltei seus dedos e me enfiei entre os bancos dianteiros do carro para alcançar o traseiro, onde coloquei meu novo jogo de ferramentas e peguei duas caixas, uma grande e uma consideravelmente menor, e voltei a me sentar direito no carro.
— Eu não estou fazendo isso por obrigação, Marcela, é porque você é... — eu expliquei, me sentindo levemente tímido porque eu simplesmente não conseguia pensar em uma forma racional de completar aquela frase sem explicar exatamente o que ela era para mim. Não podia ser porque você é... Minha amiga. Uma pessoa incrível. Minha dupla-dinâmica. Nada disso explicava, não de verdade, então eu completei do jeito mais verdadeiro que eu podia entregar naquele momento: — Você.
Eu assisti o sorriso que se desenhou nos lábios dela como se estivesse em slow motion.
Puta que pariu, como eu amava quando ela sorria.
E foi por não querer ver aquele sorriso morrer que, durante todo aquele dia, eu guardei para mim mesmo as notícias que tinha sobre Matheus Kaiser, porque não queria fazê-la pensar nele nem mais uma vez e provavelmente ela já sabia das novidades sobre ele, porque, bem... Ela era uma parte enorme daquele acontecimento e eu tinha prometido que nunca mais falaria nada sobre.
Leandro tinha me entregado um exemplar da VixSão aberta em uma reportagem intitulada "Matheus Kaiser: grande empresário envolvido em escândalos de assédio sexual e sonegação fiscal" e perguntado, de novo, se esse não era o cara para quem Marcela e eu tínhamos feito um projeto.
Eu apenas disse que ele não tinha mais um contrato com a CPN antes de ler o furo certeiro de Vitório Gava, com detalhes do esquema criminoso e provas, mesmo que eu soubesse mais do que apenas isso sobre Kaiser.
Ele tinha sido preso naquela tarde, então... Ele estava tendo o que merecia, no fim das contas. Era um ótimo jeito de começar o novo ano, especialmente porque eu estava literalmente vendo que Marcela estava bem e feliz — e, no fundo, era isso que importava, mais do que qualquer outra coisa.
— Edu... — ela começou a dizer, mas parou quando viu o tamanho do pacote que eu tinha em mãos.
— Certo, primeiro, Leandro me disse que eu com certeza estraguei seu macacão sangrando nele e que não ia ter nenhum produto cor-de-rosa capaz de salvar o tecido. — Marcela ergueu as sobrancelhas, provavelmente ciente de que eu tinha perguntado sobre isso quando ela estava indo embora do meu prédio depois de cuidar de mim por um dia inteiro. Estendi a caixa maior para a engenheira. — Me desculpa pelo macacão. E me desculpa por não ter conseguido achar um igual e...
— Para de pedir desculpas, Eduardo! — ela disse no meio de um sorriso enquanto desfazia o laço vermelho mais gritantemente natalino que eu já tinha visto. — Você não precisava fazer isso porque foi um acidente e... — Ela parou de falar quando afastou o papel de seda e encarou o tecido branquinho, aquele sinal disfarçado pelo qual seus dedos correram antes de ela levantar a peça da forma que o espaço limitado permitia para olhar. — Caramba, é lindo! E você acertou até o tecido.
— Essa parte foi mais o Leandro... — Tive que confessar porque claramente eu não tinha crédito nenhum sobre esse assunto e ela riu, negando com a cabeça.
— Ele certamente entende tudo sobre seda, tive provas — brincou, sorrindo de canto e eu não entendi exatamente quando foi que ela descobriu sobre os conhecimentos têxteis do galã de revista. — Eu adorei, Edu. Mas realmente não precisava e... — Eu coloquei a caixinha de veludo que tinha o verdadeiro presente de natal na mão dela, cobrindo-a com as minhas como se fosse um sanduíche. — Tem mais um? Mas não precisava...
— Um é um presente, o outro é uma reposição — eu expliquei antes que ela tentasse argumentar.
Eu apenas fiz que sim com a cabeça enquanto ela desfazia o lacinho prateado da caixa de veludo azul e olhava os brincos que eu tinha escolhido para ela — uma pedra em formato de gota adornada com ouro rose. Quando eu os vi, algo me disse que eles ficariam lindos nas orelhas dela, porque eram lindos e práticos, exatamente como...
— Feliz natal adiantado, Má — eu disse quando ela ergueu os olhos para mim e, de novo, eu derreti como a cera de uma vela acesa quando ela me deu aquele sorriso que ia da boca aos olhos, que encaravam meu rosto de um jeito que...
Então ela se adiantou para mim e envolveu os braços no meu pescoço ao mesmo tempo que eu abracei sua cintura, a trazendo para perto até que nossos peitos se encostassem. O cheiro de Good Girl, que já meio que estava no ar do carro, ficou mais forte pela proximidade; o calor do corpo dela veio para o meu com tanta intensidade que eu achei que ia queimar. Mas quem se importava em queimar um pouco, não é?
— Feliz natal, Edu — ela disse após dar um beijo estalado na minha bochecha.
Só que a gente não se soltou. Ela apoiou a cabeça no meu ombro e eu fechei os olhos, tentando me concentrar em qualquer coisa que não fosse o fato de que parecia tão, tão, tão certo estar naquele abraço. Eu tentei pensar no tempo, no trânsito, que precisava ir embora para resolver o projeto com Isaac e Lucas, então minha próxima parada após sair dali seria...
Não sei.
Cardíaca?
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Hello, lindezas, tudo bem com vocês?
A dupla de escritoras mais biscoiteira do Wattpad chegou com esse amooooooor de capítulo para desejar uma ótima segunda a todos.
Para quem estava sentindo a falta do nosso Noronha-Agregado preferido <3 aaaaaaaa Pat veio dar o ar da graça para nós!!! Que saudades a gente estava dele (:
E depois tem essa troca de presentes de natal super fofa entre Mardo onde obviamente o Edu elevou o evento para um nível nunca antes visto e a Má foi bem Marcela Noronha e deu uma caixa de ferramentas (mas é fofo se lembrar que ela notou que ele precisava disso em maio, né?)
Estamos chegando no Natal em CEM, mas antes disso, tem um personagem que está morrendo de saudades da gente e vai fazer uma aparição surpresa próximo cap... alguém chuta?
Não esqueçam de contar o que estão achando e da estrelinha hihihi
Beijinhos, bambuzetes!
Libriela <3
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