Capítulo 8 - E se eu vencer?
E se eu vencer?
Eduardo
— Você não deveria buscar ela em casa? — Cecília perguntou, girando o vinho dentro da taça enquanto me olhava.
Estávamos no Bar dos Ardos, o point que Leandro tinha apresentado para Chicão e eu algumas semanas antes e do qual viramos frequentadores assíduos — eu nunca acreditei em amor à primeira vista, mas a Eugência que vendia ali tinha mudado todas as minhas convicções sem que eu pudesse fazer nada sobre o assunto.
Cecília tinha insistido muito para que eu fosse com ela tomar uma breja antes de encontrar com a Tamara e, unindo o útil ao agradável, marquei com as duas no mesmo lugar, porque eu era um irmão ótimo que não saberia como dizer não àquela pirralha insistente.
Não que ela fosse exatamente uma pirralha, porque ela já tinha vinte e sete anos e era sous chef em um restaurante de três cifrões que era quase um império gastronômico em São Paulo, mas irmãos mais novos sempre serão irmãos mais novos.
— Seria esquisito — expliquei, sob o olhar analítico da minha irmã. De alguma forma, os olhos dela conseguiam ser mais azuis que os meus, quase neon, então eu sempre tinha a impressão de que ela estava procurando a verdade no fundo da minha alma. — Eu nem conheço a Tamara, então faz mais sentido a gente se encontrar de forma casual e não em um encontro onde eu traria flores e estaria de gravata.
Cecília subiu as sobrancelhas bem feitas enquanto cheirava o vinho. Ela tinha uma leve alma de sommelier, ou pelo menos eu sempre supus que sim, porque eu não fazia ideia que tipo de deduções olfativas ela encontrava ali.
— Eu não estou falando para você se casar com ela, Edu — disse ela. — Apenas cavalheirismo.
— Apenas confie em mim que seria esquisito, Ceci — retruquei, dando de ombros, mas ela não pareceu aceitar que esse tipo de cavalheirismo no primeiro encontro não existia desde os anos oitenta. — Você fica com a parte de dar ponto em carnes sem experimentar, eu fico com a parte dos encontros.
Cecília finalmente bebeu o vinho. Sinceramente, eu não entendia muito o hype. Talvez porque eu fosse gritantemente team cerveja ou porque eu nunca tivesse experimentado o vinho certo.
— É só apertar com o dedo — explicou e eu franzi o cenho. — Para dar ponto na carne. A textura é bem específica, sabe? E tem os sucos também, que te ajudam a verificar o ponto.
— E o gosto? — perguntei. — Como você sabe se está salgado ou se tem páprica suficiente? Uma lambidinha?
— Você sabe que eu não como carne desde o jantar de Husky, ridículo — ela disse e jogou a tampa da minha cerveja em mim. — E você sabe que eu prefiro focar no patissier, mas às vezes preciso dar uma opinião e tenho que tocar um filé, então preciso saber como fazer isso. Se estiver quente, macio e morto, então está perfeito.
A moça da mesa do lado, que estava comendo um hambúrguer, nos olhou feio, mas Cecília apenas a encarou como se a desafiasse a dizer que não era um animal morto que ela estava comendo.
— Ainda não mudou de ideia quanto a fazer sociedade com a Dani? — Daniela era nossa prima. Ela também era formada em gastronomia e tinha proposto abrir um restaurante junto com Cecília há algumas semanas, mas Ceci ainda estava se decidindo sobre o assunto.
Ela cruzou os braços sobre a mesa, tamborilando as unhas vermelhas no tampo e tombando a cabeça para me olhar. Seu cabelo escuro, preso em um rabo-de-cavalo alto balançou de um lado para o outro.
— Não sei se é inteligente trocar minha CLT por um CNPJ. A concorrência iria querer nos engolir, não sei se tem espaço para mais um restaurante aqui, sabe? — ponderou, passando o dedo pela borda da taça despretensiosamente. — O plano de negócios que ela tem é incrível, mas, mesmo assim. Trocar o certo pelo duvidoso não parece exatamente inteligente.
— Você nunca mais teria que tocar em um filé — lembrei e ela deu um sorriso.
— Mas teria que me preocupar com impostos e regularidade fiscal — apontou.
— Ok, você tem um ponto. Mas eu ainda acho que abrir um restaurante vegetariano com a Dani seria incrível.
— Estou pensando sobre o assunto, Du — disse ela e, novamente pegou a taça para bebericar o vinho.
Eu sabia que ela estava pensando, porque ela adorava o emprego, mas não era exatamente um mar de rosas e talvez ela não gostasse de não ser a dona do próprio nariz. Cecília era irreverente e autoritária demais para aguentar um chef francês falando que suas tarteletes estavam com a massa crocante demais. E ela era talentosa demais. Eu comeria um tijolo se ela temperasse, de bom grado.
— Você deve ser o Eduardo — uma voz feminina chegou aos meus ouvidos e eu me virei, dando de cara com uma loira linda usando um jeans bem rasgado nas pernas e um cropped branco que me fizeram esquecer como respondê-la por um breve segundo.
A cor também me lembrou do plano-não-plano de Marcela. Aquela vergonha eu ia ter que passar no crédito, no débito faltaria saldo. E o casaco dela ainda estava dobrado sobre o banco do passageiro do meu carro como uma lembrança amarga.
— E você deve ser a Tamara. — Sorri para ela, replicando o sorriso lindo que ela tinha no rosto. Vi Leandro vindo atrás. Levantei para puxar a cadeira para ela se sentar, recebendo um olhar aprovador de Cecília. — Não sabia que você vinha com escolta.
— Nem eu, sinceramente, mas aparentemente Leandro acha que você é perigoso pra mim. — Ela me lançou um olhar divertido antes de me abraçar e dar um beijo no meu rosto. Tamara tinha cheiro de perfume floral e shampoo.
— Não é com você que eu estou preocupado, Tams — Leandro disse e, antes que eu pudesse lançar um olhar de advertência, ele se sentou ao lado de Cecília após cumprimentá-la com beijos no rosto que demoraram demais.
— Eu não mordo, Leandro — Tamara disse, finalmente se sentando ao meu lado. — Só se ele pedir — brincou. Bom, talvez tivesse um fundo de verdade e eu adoraria descobrir, se fosse o caso.
— Fique à vontade — eu disse e subi minhas sobrancelhas para ela, que retribuiu com um sorrisinho que dizia "vamos ver".
— Amei o seu vestido — Tamara disse, falando diretamente com Cecília.
— Obrigada! — Ceci respondeu. — Suas botas são lindas!
— Vocês duas são lindas — Leandro disse, erguendo a mão para um garçom, antes mesmo que eu pudesse falar para Tamara que a moça era minha irmã. — Azul é minha cor preferida, sabia?
Pensei por um segundo na minha vergonha com Marcela e seu vestido branco — eu só queria poder apagar isso da minha cabeça, pelo amor de Deus! — até entender o que estava acontecendo quando eu vi Cecília dar um sorriso derretido demais para o Sr. Seis Vezes Consecutivas Galã da Revista VixSão. Ela estava de vestido azul, não estava?
— Por isso você sempre fica olhando para os meus olhos? — perguntei, tombando a cabeça para o meu roommate. — E aqueles pedidos de beijos de bom dia e tal?
Leandro gargalhou.
— Você tem mesmo lindos olhos de safira, mas está distorcendo os fatos — ele se defendeu, erguendo as mãos em rendição.
Tamara riu.
— Então você mentiu para mim quando disse que Eduardo te deu um beijo hoje de manhã? — a loira ao meu lado perguntou, enquanto aceitava o cardápio que ele tinha trazido e o colocava sobre a mesa para que todos pudessem olhar.
— Certo, certo — Leandro se rendeu, dando de ombros e rolando os olhos com um sorriso no canto da boca. — Eu soube antes de você que ele tem lábios super macios. Lip oil, Eduardo?
Foi minha vez de começar a rir. E sim, era lip oil.
— Só para eu saber... Sou eu quem está em um encontro com o Eduardo, certo? — perguntou Tamara enquanto Cecília pedia mais um vinho para si mesma e três cervejas para os demais para o garçom. — Porque eu também não me importo em ter um date com a beldade de olhos azuis ali não — apontou para Cecília.
— Eu não sou ciumento, então aproveita o Eduardo por hoje — Leandro disse, abrindo a garrafa de cerveja com as mãos, sob o olhar atento da minha irmã. — Deixa a beldade de olhos azuis comigo. Tô falando da Cecília, cara, nem começa.
— Na minha frente, Leandro? — perguntei.
— Prefere que eu dê em cima dela em segredo, Eduzinho? — perguntou, dando um sorriso afetado para Cecília. Jesus, eu nunca tinha visto Leandro sorrir daquele jeito tão esquisito.
— Menos gengiva para fora, Lê. Seu sorriso flerte continua mesmo assustador, sinceramente — Tams disse, levando a garrafa de cerveja aos lábios com tanta graciosidade que eu fui obrigado a parar para assistir.
Dei um gole na minha própria cerveja, porque preferia que ele não desse em cima dela nunca, mas Cecília parecia estar gostando do flerte dele. Então nos chamou para jogar sinuca.
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Leandro arrumou as quinze bolas na posição certa com auxílio do triângulo, enquanto eu entregava tacos para Cecília e Tamara. Aparentemente haveria música ao vivo no Bar dos Ardos naquela noite, então logo o lugar ficaria abarrotado demais para que pudéssemos jogar de forma satisfatória.
Peguei minha cerveja que estava na beirada da mesa de bilhar e dei um gole, observando o olhar de Tamara no meu pomo-de-adão em movimento. Sorri para ela do jeito que eu sabia que causaria impacto assim que baixei a cerveja, passando devagar a língua nos lábios para secá-los.
— Tams começa? — perguntou Leandro, colocando a bola branca na posição certa.
— Claro — ela disse e sorriu, pedindo que eu segurasse sua garrafa, o que eu fiz enquanto ela caminhava até a posição mais confortável para ela.
Acompanhei seus movimentos com interesse.
— Você sabe as regras, certo? — questionei, já que éramos uma dupla. — A primeira tacada é na branca, depois, se quatro bolas tocarem as bordas ou você encaçapar alguma, você pode continuar. A preta, número 8, é a última que o time encaçapa e...
Ela me calou com uma tacada certeira que encaçapou a bola 11 e a 15 nas duas caçapas do canto. Tamara não colocou força naquilo, foi totalmente habilidosa de um jeito que surpreendeu até Leandro.
— E agora nosso time tem que encaçapar as outras bolas listradas, né? — ela sorriu, erguendo as sobrancelhas e apertando a minha bochecha esquerda com delicadeza apenas para implicar comigo, se aproximando até que seu peito quase encostasse no meu. — Eu acho que sei o que estou fazendo, Edu.
Eu sorri e deixei minha mão resvalar na sua cintura, enquanto ela apoiava a parte traseira do taco no chão e o segurava na altura do cotovelo.
— Você é uma caixinha de surpresas, Tamaravilhosa Betini — eu afirmei e ela mordeu o lábio inferior devagar. — Rainha do marketing, uma exímia jogadora de sinuca... Que outros talentos você tem?
— Acho que você vai ter que descobrir — sussurrou perto do meu ouvido e Leandro pigarreou. Tamara se afastou e apontou o indicador em riste para ele. — Certo, eu vou te vencer logo para você parar de ser inconveniente, Leandro.
— Eu gostaria de te ver tentar, Tams — ele respondeu.
— Te ganhar ou fazer você parar de ser inconveniente? — perguntei e Leandro me mostrou o dedo do meio.
Tamara estava inclinada sobre a mesa pronta para dar uma tacada, mas eu pousei a mão na base da sua coluna após largar as garrafas no canto da mesa, fazendo-a parar.
— Acho que seria incrível se a gente fizesse isso juntos — eu disse, arqueando as sobrancelhas para provocar Leandro, e ela assentiu enquanto eu me inclinava sobre o corpo dela e oferecia uma ajuda que ela claramente não precisava para dar uma tacada. Provavelmente fui eu que fiz a bola 9 passar de raspão pela caçapa onde ela tinha mirado e bater em uma das quinas, voltando para o centro da mesa em um lugar onde seria bem mais difícil para acertar a jogada.
Quando Tamara sorriu para mim, eu soube que ela também não tinha se importado com aquele erro bobo.
— Ceci, vamos ensinar para esses dois como é que se joga sinuca! — Leandro disse e minha irmã bateu uma palma para ele, confiante em suas habilidades.
Leandro parecia estar querendo acertar a bola 4, que estava perigosamente perto da 8 — claramente era uma tentativa de mostrar o quanto ele era habilidoso sem encaçapar a bola preta e perder a partida.
E foi exatamente o que ele fez antes de fazer uma reverência para Cecília e brindar com sua taça quase vazio de vinho tinto.
— Eu ainda estou ganhando — Tams provocou e Leandro piscou antes de voltar a mirar com precisão.
Passei o braço por cima dos ombros de Tamara e ela deu um passo mais para perto, encaixando seu ombro no espaço da curva da minha axila, tombando o rosto de lado para olhar para o meu.
Coloquei minha mão livre em seu queixo, prestes a puxar seu rosto para mais perto depois de olhar o quanto os olhos dela eram lindos, mas Leandro interrompeu de novo.
— Caralho, viu, Leandro — eu disse, vendo que era minha vez de jogar e me afastando de Tamara para ir para mais perto da mesa. Ele deu de ombros, com a maior feição de inocência da história, antes de jogar o braço sobre os ombros da minha irmã. — Tams, se ele tentar beijar ela, joga uma garrafa nele porque vão ser dois inconvenientes hoje.
Ela riu junto com Cecília e Leandro eu dei a minha tacada.
Tamara era incrível e claramente não precisou de mim para ganhar três partidas seguidas e quase fazer Leandro chorar pela lavada que estava levando. Fazia algum tempo que eu não tinha um encontro com uma mulher tão legal — ela era engraçada, talentosa e conversava sobre qualquer coisa com muita naturalidade, até arquitetura e filosofia. Era super atenciosa e até tinha passado umas dicas para Cecília parar de dar tacadas fortes demais.
Enquanto as partidas se desenrolavam, conversamos sobre várias coisas. Ela amava marketing e descobrimos que ela tinha estudado junto com a gerente de marketing da CPN; ela falava francês e seu biquinho falando "ne pleure pas, Leandro" , algo como "não chora, Leandro", era absolutamente adorável. Cecília, aparentemente, era a única que tinha conseguido entender sem que ela traduzisse, já que tinha a Le Cordon Bleu de Paris no seu currículo que, obviamente, era extenso demais para alguém tão jovem.
— Melhor de cinco? — Leandro pediu, fazendo Tams rir.
— Já vencemos três de quatro — eu disse, dando de ombros.
— Não graças a você, bonitão — Cecília lembrou, apontando orgulhosa para Tamara. Mulheres se apoiavam, não importava em que time estivessem.
— Melhor de sete! — Leandro disse.
Tamara riu, negando com a cabeça.
— A gente joga mais uma e, se eu ganhar, você me compra um jogo de lençóis novos naquela loja que você gosta — propôs, apontando para ele. — Nada menos que quatrocentos fios.
— Eu nem chamaria de lençol se tivesse menos. E se eu vencer? — perguntou ele, animado.
— O que você quiser — ela disse, dando de ombros e ele ergueu as sobrancelhas com um sorriso de canto, provavelmente com várias ideias. — Porque não é como se isso fosse acontecer.
Leandro pareceu ofendidíssimo e arrumou as bolas anunciando que ele iria começar o jogo daquela vez. Cecília estava sentada na beirada da mesa e finalmente tinha se rendido a tomar uma Eugência, aprovando totalmente uma da linha Mautava, de café, que o garçom lhe sugeriu.
Meu colega de apartamento estava realmente focado em fazer aquilo dar certo, então sapateava de um lado para o outro da mesa procurando o ângulo perfeito para começar a partida.
— Morar com ele deve ser ótimo — Tamara comentou, dando um gole em uma Eugência de nozes e frutas vermelhas.
— Ele é ótimo — eu disse, observando que ele deu um sorrisinho ao ser elogiado. Ou talvez fosse a mão de Cecília no seu ombro. — Fora o secador de cabelo e a quantidade de skincare na pia do banheiro, eu gosto. Ele passa minhas camisas, me apresentou uma boa loja de lençóis e uma amiga do trabalho maravilhosa.
Pisquei para Tamara e ela sorriu, segurando meu queixo e, finalmente, juntando sua boca com a minha de um jeito que nem Leandro ousou interromper, embora Cecília tenha soltado um "eca" para provocar a mulher por estar me beijando.
Ela tinha gosto de um monte de Eugências misturadas e provavelmente do vinho de Cecília, já que elas começaram a dividir em algum ponto. Suas mãos se envolveram no meu cabelo ao mesmo tempo que eu abracei sua cintura e encostei nossas línguas.
Tamara finalizou com um selinho.
— Você se importa de buscar mais cerveja enquanto eu ganho lençóis? — perguntou, apontando para Leandro com o dedão. — Depois a gente pode ir para outro lugar, se você quiser.
Eu sorri para ela e assenti, me encaminhando diretamente para o bar para buscar mais cervejas. O caminho em si estava complicado, porque tinha muita gente, mas não levei mais do que alguns minutos para conseguir apoiar os braços no balcão de madeira de lei. Era bem bonito e eu torci para ser madeira legalizada.
— Três Eugências de mel de laranjeira e uma taça de Merlot — pedi para a bartender, que assentiu e se virou para trás para abrir o freezer.
E foi então que eu vi.
Marcela Noronha estava ali, talvez a um metro de distância, me olhando com divertimento nos olhos castanhos.
— Eu estou no mesmo bar que você, mas não é um sinal! — ela disse antes de começar a rir.
Eu rolei os olhos, mas acabei rindo junto, sem opção senão rir da minha própria desgraça.
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Oieeee! Segundou com CEM, não tem como essa semana dar errado!
Primeiro a gente conhece essa pérola que se chama Cecília Senna! Eu adoro essa mulher com todas as minhas forças! E amo que ela tem suas convicções e não se abate por nada!
Esse cap TA MARA!!!!!!!! Falando nela, Edumara ta começando a esquentar né? Alguém sentiu a química?
Leandrinho na mídia para matar a saudade e empatar o encontro do Edu (ou será que ele está mesmo de olho em ooooutra beldade de olhos azuis?)
E, bem, acho que é um sinal sim Eduardo e Marcela se encontrando no Bar dos Ardos (quem veio de AER sabe que este bar é tipo um afrodisíaco para os nossos personagens... hehehe)
Espero que estejam gostando! A gente ta APAIXONADA PELA HISTÓRIA! E estamos super in love com vocês e todo o engajamento que estamos recebendo!
Beijinhos
Libriela <3
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