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Capítulo 50 - Qual o seu próximo sonho?

Qual o seu próximo sonho?

Marcela

— Pai, eu preciso desligar, o Edu vai chegar daqui a pouco — eu comentei para o meu carequinha favorito enquanto ele ainda falava comigo ao trocar a resistência do chuveiro da casa da vovó.

Por que a Sam não poderia fazer isso?

— Espera! Aí depois que eu trocar, ligo o disjuntor? — ele me perguntou com o óculos na testa e o suor escorrendo pelo seu pescoço, porque ele ficava nervoso com qualquer reparo técnico.

— Não. Aí você abre o chuveiro, deixa água passar e aí liga o disjuntor — expliquei mais uma vez e ele concordou comigo, porém ele estava segurando o celular perto demais do rosto e eu apenas via o seu nariz — Papai, tem que afastar o celular, lembra?

Ele o afastou e eu notei que Marcelo estava atrás dele, me olhando como se buscasse algo. Ele estava esperando encontrar o que ali além da minha belíssima cara maquiada com produtos caros e que valiam a pena?

— Marcelinha já saiu? — minha mãe perguntou em um berro a distância e eu notei que Marcele também entrou na visão da câmera.

— Ainda não, Alê! — meu pai berrou de volta e meus irmão apenas o olharam como se reclamassem do som alto.

Ser um Noronha era aceitar que berros faziam parte da vida — Samantha abraçou essa vida muito bem, mas o Patrício ainda só se soltava quando havia álcool envolvido.

Então minha campainha tocou e eu comecei a me despedir, porém todo mundo começou a falar ao mesmo tempo que eles estavam com saudade do Eduardo e que queriam dar um oi e que precisavam combinar do final do ano na casa do tio Cristiano, então eu apenas os deixei em cima da mesa e fui atender a porta, porque eles falavam demais. Demais. Demais!

Eu ajustei mais uma vez o meu cabelo e passei a mão no meu vestido vermelho-escuro antes de abrir a porta — eu pensei em usar o branco, mas a ideia era que iríamos jantar fora, então se eu o seduzisse antes de sairmos de casa, provavelmente perderíamos a famosa reserva que ele fez naquela tarde. E ele ainda não me contou onde.

Assim que eu coloquei meus olhos em Eduardo Senna, eu entendi aqueles momentos dos filmes, onde todo o restante parecia desaparecer e apenas ele estava em foco, pois era exatamente assim que eu me sentia, como se ele tivesse ofuscado todo o mundo.

Ele estava usando a sua camisa azul que nunca seria um erro, com a barba perfeitamente feita e o cabelo naquele seu jeitinho arrumado e desarrumado que estava sempre na medida certa.

Eu senti o cheiro das begônias antes do seu One Million, não conseguindo parar de sorrir com aquele buquê tão perfeito, cheio de cores dentro do meu apartamento neutro — quero dizer, menos pela parede de laranja-terroso. Acho que aos poucos Eduardo Senna estava colorindo a minha vida e eu mal podia esperar pelas próximas pinceladas do seu canvas.

Eu nunca havia recebido flores antes. Quero dizer, eu já havia recebido flores em formatura ou premiações, mas nunca antes de um encontro, quando o rapaz à minha frente sorria para mim como se eu fosse o prêmio da loteria inteira e ele o único ganhador — sendo que quem se sentia premiada era eu.

— Você é linda — ele deu um passo para dentro do meu apartamento e beijou os meus lábios com leveza, sabendo como eu ficava irritada quando ele borrava o batom que eu demorei muitos minutos até conseguir o desenho perfeito.

— Você não está nada mal também — eu sorri contra os seus lábios e abracei as flores contra o meu peito — eu amei as flores, obrigada — coloquei o meu nariz contra elas, mas tudo o que eu conseguia sentir era o seu perfume. Eu queria que ele o borrifasse em minha inteira, para até mesmo quando ele não estivesse ali, ele estivesse por perto — Vou colocar elas na água, calma.

— Marcelinha! O Eduardo chegou? — eu ouvi meu celular berrar e Eduardo pegou o aparelho, provavelmente aparecendo na tela pelos diversos "ois" que minha família mandou para ele — aaah que lindo! Vocês vão jantar fora? Qual a ocasião? — minha mãe questionou com toda a pouca discrição que ela possuía.

— Já contou as novidades? — ele me perguntou e eu meneei a cabeça, escolhendo um dos vasos que eu tinha guardado e não usava, pois eu não era o tipo de garota que comprava flores, mas acho que aquele arquiteto maravilhoso havia criado um novo querer dentro de mim — posso contar?

Eu voltei para a sala com as flores já no meu vaso de "cristal" e me enfiei ao lado dele, notando que Marcelo anuiu para algo — provavelmente Eduardo havia pedido dicas para o meu irmão? Provavelmente. E eu mais do que aprovava que ele realmente tinha tido todo esse trabalho por mim.

— Eu fui promovida — contei para todos e senti Eduardo passar o braço nos meus ombros, me puxando mais para perto para dar um beijo nos meus cabelos, fazendo com que eu sorrisse ainda mais — a Renata e o Thales me avisaram hoje. Engenheira sênior!

Eu acho que desde as 15:45, quando eu recebi a notícia da minha promoção, eu não havia parado de sorrir nenhum segundo que fosse.

Eu não sei quem comemorou mais alto, porém a voz de Marcele se sobressaiu em relação a dos demais e eu agradeci que Samantha não estava ali, pois o grito de alegria dela era tão fino que poderia quebrar um copo — história verídica.

Acho que nós ficamos alguns minutos falando sobre os projetos de pontes e pontes levadiças que eu estava tocando enquanto Eduardo pincelava um pouco sobre todos os telhados verdes que havia conseguido infiltrar nos antigos projetos de Yasmin. Aí eu comentei que ele também estava tocando um super-projeto para um Hotel — provavelmente uma nova gracinha de Fernando que era normalmente quem tinha os super contatos luxuosos — em Jericoacoara para algo com uma pegada 100% sustentável e eu quase dei com a língua entre os dentes sobre trabalharmos juntos na CPN, porém eu acho que ninguém notou isso.

Eu percebi o olhar de Alessandra Noronha entendendo que eu havia sido promovida com as segundas intenções que eu sabia que habitavam dentro do seu belo e amoroso e casamenteiro coração, então antes que ela pudesse falar algo, eu avisei que estávamos atrasados para o jantar e eu consegui desligar deles.

Quando estávamos prestes a sair do apartamento eu segurei a mão de Eduardo e o parei.

— Espera, eu vou na frente — eu pedi e ele franziu as sobrancelhas, ainda com aquele sorriso torto que me inclinava para onde quer que seus lábios fossem — eu comprei este vestido para ser apreciado da maneira que ele merece.

Eu andei na direção da porta devagar, tomando o meu tempo com cada passada, sabendo que a seda estava abraçando o meu corpo inteiro como um amante, deslizando pela minha pele ao acompanhar meus movimentos. E, de quebra, desta vez eu escolhi um decote nas minhas costas e não nas minhas pernas.

Quando eu cheguei até o elevador, Eduardo ainda estava na porta com os lábios relativamente entreabertos e eu o olhei com um sorriso discreto, apertando o botão — acho que branco não era mais a sua única cor preferida.

— Não vem, amor? — eu perguntei com a minha voz aveludada, deixando o meu cabelo escorrer pelo meu ombro enquanto ele batia as mãos em seus bolsos para arrumar uma... situação nas terras baixas, fechando a porta com a minha chave e a guardando dentro do seu bolso.

— Você ainda vai me matar — ele sussurrou contra o meu ouvido antes de pousar um beijo cálido no local que meu pescoço e orelha se encontravam, arrepiando-me inteira ao sentir os seus dedos deslizando pela minha coluna com um gesto que era quase íntimo demais, porém que era tão, mas tão certo, que eu tombei meu rosto para o lado, sentindo seus lábios em minha pele em uma trilha de beijos.

Até que o elevador parou no térreo e nós dois precisamos de alguns segundos para recuperarmos a consciência, pois o meu elevador tinha câmeras, diferente do que havia no cruzeiro.

Ele abriu a porta do seu carro para mim e eu deslizei para dentro, assistindo-o refletir o meu movimento pelo outro banco, arrumando-se ali mesmo que não tivesse feito nenhuma menção de ligar o seu Cruze.

— Pode falar, eu estou pronta para mais um elogio — eu me aproximei dele antes de colocar o cinto de segurança, colocando minha mão em sua coxa, tomando cuidado para não deixar subir mais do que deveria, pois, por mais que eu quisesse beijá-lo até o amanhecer, eu ainda estava faminta.

— Eu não acho que existam mais palavras para você, Marcela Noronha — ele segredou as palavras em um sussurro, deixando as costas de suas mãos deslizarem pela minha bochecha, como se temesse que eu fugisse caso ele se aproximasse mais. Então eu segurei a sua mão e a apoiei contra o meu rosto, pois eu não iria para nenhum lugar.

Eu estava cansada de fugir — às vezes literalmente falando se pensássemos que eu corria do seu carro todas as manhãs pelo estacionamento da CPN — e eu acho que foi a Andreia e o Galileu assumindo que me deu essa coragem, porque eu admito que os observei na empresa naquele dia mais tarde e por mais que eles nem tivessem se tocado, o olhar deles era um carinho sempre que se encontravam.

E eu queria isso. Todos os minutos do meu dia. Todos os dias do meu ano. Todos os anos que minha vida permitisse.

— Eu acho que para você também não, Eduardo Senna — eu imitei o seu tom, deixando os lábios dele tocarem os meus, porque era tão natural beijá-lo, que eu não pensava mais, apenas me inclinava e ia. E, se eu pudesse, jamais voltaria.

Acho que foi ele quem se separou primeiro, porém fui eu quem comentou sobre o horário da reserva e ele notou que estávamos quase atrasados, então ligou o carro e dirigiu São Paulo a dentro enquanto eu limpava o meu batom do meu rosto e o seu, quando ele parava em um semáforo.

Eu simplesmente não conseguia acreditar que o Eduardo havia feito reservas para nós jantarmos no Cozil, o restaurante cheio de brasilidades que havia conquistado o mundo gastronômico. Primeiro que ele deveria custar um rim de cada e segundo, porque ele era muito exclusivo. Tão exclusivo que Romeu conseguiu levar Túlio ali depois de duas semanas na fila de espera.

Era uma proposta ousada de uma refeição contemporânea ao longo de sete pratos em uma viagem pelos sabores pelo Brasil inteiro, com harmonização de vinhos que Romeu Sampaio havia mais do que aprovado e recomendado — e acho que Edu estava prestando mais atenção nisso do que eu.

Nós estávamos em uma mesinha de canto com uma vela iluminando o rosto dele, beijando sua face com suas oscilações e me deixando conhecer nuances do seu olhar que a luz do escritório deixava escondida de dia, talvez porque se ele me olhasse desse jeito todos os dias, eu provavelmente não conseguiria tirar meus lábios dos dele por tempo suficiente para que nós conseguíssemos trabalhar.

Eu cruzei minhas pernas discretamente e a curva de meu pé encaixou em sua panturrilha, como havia feito meses antes, logo após o cruzeiro e, desta vez, ao invés de eu travar ou retirar o meu pé de onde ele estava, apenas o deslizei contra a sua calça, notando aquele seu sorriso de canto mirar o meu rosto enquanto sua mão tomava a minha.

Eu nunca fui muito boa com essas coisas de relacionamento, mas com Eduardo eu estava mais do que contente por descobrir tudo o que eu ainda não conhecia.

Meu Deus, era até ridículo o quanto eu gostava dele.

— Edu, isso é... — eu comecei a falar, entrelaçando nossos dedos quando ele pediu duas taças de espumante enquanto esperávamos o nosso jantar começar.

— Não é uma comemoração se não tiver um brinde com espumante. Romeu que me ensinou isso — ele me interrompeu, girando o anel que estava no meu anelar enquanto eu ainda o olhava, porque eu queria saber exatamente o que estava acontecendo dentro daquela sua mente eco-genial — para de pensar e apenas diz "obrigada, amor", pode ser?

— Tomou gosto, é? — eu senti meus lábios subindo antes de eu notar que estava sorrindo.

— Tomei, Marcela. Não me deixe em abstinência — ele me pediu e eu tombei meu rosto para o lado, sentindo meu coração disparar.

Verdade fosse dita, eu amava que ele me chamasse, não importava muito como. E eu nunca achei meu nome algo incrivelmente imponente ou sexy, mas quando as letras rolavam pela língua de Eduardo, era como se ele estivesse recitando Federico Lorca para mim — e pobre Federico, não era ninguém perto de Eduardo Senna.

— Não vou, amor. Só se você me chamar assim também — eu deslizei meu polegar contra a sua palma, porém o arquiteto não me respondeu, pois o garçom chegou com nossos espumantes.

Eu deixei meus olhos deslizando pelo restaurante e não sei quanto tempo eu fiquei analisando os borrões pretos que estavam manchando as partituras penduradas na parede, tentando identificar se aquilo era uma borboleta ou um palhaço. Um pato ou um coelho?

Quando meus olhos se voltaram para Eduardo, ele estava com o celular na minha direção e sorriu para a tela, guardando-o antes de me explicar se estava tirando uma foto minha ou apenas respondendo Leandro, que havia comprado um novo lençol para o Edu e queria o veredito.

— A você, Marcela Noronha, continue brilhando — ele estendeu sua taça na minha direção e eu senti minhas bochechas doendo de tanto que eu estava sorrindo.

— A você, Eduardo Senna, por ser o melhor arquiteto que eu poderia querer do meu lado — eu toquei a sua taça com a minha e nós não bebemos de imediato, pois ele estava me olhando com... fascinação? Não sei, mas aquela era a melhor palavra que poderia definir a maneira que seus olhos miravam o meu rosto e o sorriso descrente que subia pelos seus lábios perfeitamente simétricos.

— Melhor arquiteto? Mesmo com a tendência sustentável? — ele girou o espumante em sua taça e tomou um gole.

— Por isso mesmo. Você me desafia. Se eu estou certa, é porque eu realmente tenho razão e se eu estou menos certa — eu brinquei e ele sorriu — é porque você realmente tem razão. Eu acho que foram estes três anos lado a lado que me fizeram ser a engenheira que eu sou hoje, então obrigada — eu tomei um golinho de ouro líquido que estava na minha taça e controlei a inquietação do meu coração — achei que você tinha que saber isso.

Nós não falamos nada pelos próximos minutos e tudo bem. Eu não tinha mais aquela louca vontade de preencher nossos silêncios com qualquer coisa que surgisse na minha mente, porque eu achava que quando nós não nos falávamos era quando a gente mais se entendia, quando ele me dizia mil e um segredos com apenas uma piscadinha e eu lhe prometia mil e uma noites em uma apenas com um sorriso.

Meu celular vibrou e eu apenas verifiquei o nome para ter certeza de que meu pai não havia queimado mais nenhuma resistência, porém era apenas o Bartolomeu, o mestre de obras do restaurante da Ceci, me mandando fotos do andamento da obra.

— Vem cá, vou te mostrar algo legal — eu abri a foto para que Eduardo pudesse olhar uma por uma, notando o brilho dentro daquele espelho d 'água que ele chamava de olhos.

Eu não sabia o quanto ele queria aquilo até que finalmente havíamos começado o restaurante e, agora, acho que eu não tinha mais tantas restrições assim com os seus bioprodutos — mesmo que Cecília soubesse que seu restaurante custaria no mínimo três vezes mais do que ela pagaria em uma construção tradicional. Mas é como Marcelo me disse um dia "sonho é sonho", só que no caso ele estava falando sobre o sonho de Samantha de fazer um Safari na África.

— As obras estão bem adiantadas, mas não conte isso para sua irmã, senão ela vai querer abrir o restaurante ainda esse ano — eu lhe disse e ele riu comigo, sabendo que eu tinha mais do que razão em esconder a verdade da Senna caçula.

— Eu sei, mas ela está cuidando do cardápio e das finanças, quase ficando louca com todas as licenças que terão que tirar assim que tudo estiver pronto — ele deu de ombros e relaxou seus braços quando devolveu meu celular — e a Dani já está falando sobre uma expansão de franquias, então esteja preparada para mais bambu, amor.

— Contanto que seja o seu bambu... — eu comentei com leveza, pois por mais que estivéssemos falando sobre o bambu na obra, havia sim um duplo sentido ali, navegando entre o que eu estava dizendo e o que eu queria que ele escutasse. E eu sabia que ele havia entendido tudo o que eu quis dizer.

— Esperei mais de três anos para ouvir essas palavras saindo da sua boca — ele mordeu os seus lábios e eu umedeci os meus em reflexo, tomando mais um gole da minha taça antes que eu escalasse a mesa do restaurante para colar minha boca na sua, pois eu amava quando a sua língua tinha gosto de espumante.

E de Eugência. Por incrível que pareça, eu amava a de mel de laranjeira quando ela tinha gosto de Eduardo.

— E agora qual é o seu novo sonho? — eu me inclinei para frente, quase colocando meus cotovelos na mesa para apoio, porém me lembrei que estávamos em um restaurante com uma estrela Michelin, então eu tinha que pelo menos tentar ser fina — sabe? Agora que o bambu está garantido no restaurante, qual o seu próximo sonho?

— E o seu? — ele me devolveu a pergunta e eu senti que até mesmo a vela entre nós escureceu um pouco com o seu tom de voz rouco — na verdade, qual o seu sonho? Acho que eu nunca te perguntei isso.

Eu peguei minha taça para ganhar tempo, observando as bolhas subindo até a superfície e estourando quando em contato com o ar.

Haviam coisas que eram tão íntimas que eu não havia comentado nem ao menos com Romeu Sampaio. Não é que eu não confiava nele, pois eu sabia que Romeu pularia na frente de uma bala por mim e eu por ele, porém aquilo era... era meu.

Só que naquele restaurante, entre a luz e a penumbra, eu senti uma comichão em meu peito me implorando para falar com Eduardo, porque ele entenderia.

— Eu perguntei primeiro — eu lhe disse simplesmente, tomando a última gota da minha taça para pousá-la de volta na mesa — e aí eu te conto.

— Não é uma troca justa — ele considerou, cruzando seus braços e eu me perdi um pouco na curva do seu bíceps e só voltei a mim quando o garçom chegou com nosso primeiro prato.

Era uma base de palmito pupunha grelhado na churrasqueira pelo aroma defumado com toques de limão siciliano com tomates confit em cima tão vermelhos que parecia uma obra de arte, então eu saquei meu celular e tirei uma foto, procurando o ângulo perfeito em que as ervas e o azeite apareceriam.

— Pegar ou largar — eu ofereci enquanto cortava o primeiro pedaço e o colocava dentro da minha boca, sentindo o palmito derreter ali dentro quase como um creme.

Fechei meus olhos quando o sabor invadiu minha boca por completo, desde um leve adocicado do tomate para a sutileza do palmito e a acidez do limão. Era equilibrado e incrível e eu poderia comer aquilo por dias.

Eu olhei para Eduardo e notei que ele me olhava enquanto comia, sorrindo da minha reação e eu tive certeza de que havia soltado um pequeno gemido de satisfação culinária, então eu peguei a nova taça de vinho branco e a estendi na direção dele, esperando que ele brindasse comigo antes de bebê-la.

— Acho que eu não parei para pensar nisso ainda. Eu tinha tanta certeza de que demoraria anos até que eu construísse o algo 100% sustentável que eu nunca parei para pensar no que eu faria depois disso — ele confessou entre garfadas e eu parei de comer para olhá-lo em seu pequeno monólogo — mas eu acho que eu não estou mais satisfeito em escutar engenheiros como Sandro falando "não" para hidrocerâmicas sem nem saber como elas são incríveis. E eu vejo o brilho no olhar do Lucas quando a gente discute sobre painéis acústicos de madeira e sei que tem gente como eu, querendo um mundo melhor.

— Bem, se serve de consolo, eu acho que o Isaac está a um passo de te beijar na boca se você falar de novo sobre argamassa de argila — eu gracejei, mas eu sabia que em partes o que ele estava dizendo era sobre mim também. Eu fui uma das pessoas que por anos e anos podei suas ideias antes mesmo de escutar o que ele tinha a dizer, mas agora eu estava escutando. E eu acho que aquilo poderia ser o começo de algo incrível que estávamos construindo juntos.

— Ah, ele não é bem o meu tipo — ele deu de ombros, e a chama da vela fez os pontos dourados das suas íris tremeluzirem bem diante dos meus olhos, em um espetáculo que era apenas meu.

— E como é o seu tipo? Engenheiras que querem destruir o planeta que possuem pernas lindíssimas? — eu voltei a rir, querendo que ele parasse de me olhar como se conseguisse ver a minha alma, porque eu tinha certeza de que nem tudo o que havia ali dentro era algo que eu queria que ele visse.

— Meu estilo é alguém que me entende e que eu posso ser... eu mesmo — ele me respondeu, pegando-me completamente desprevenida, tanto que eu acho que parei de respirar pelos segundos seguintes e só consegui voltar a fazê-lo quando desviei meus olhos dos seus, porque eu entendia.

Eu terminei de comer com calma, porém acabei matando a taça de vinho com um pouco mais de voracidade do que a situação permitia pelo olhar do sommelier, porém eu apenas levantei minha sobrancelha para ele, desafiando-o a dizer algo — e eu acho que mesmo ele não sabendo da história da prancheta voadora, ele entendeu o meu potencial.

O segundo prato chegou e eu estava aceitando tudo muito bem com o creme de mandioquinha, a espuma de romã e... as formigas cobertas com ouro.

— Formigas? — eu perguntei em voz alta, notando que no prato do Eduardo não haviam formigas e sim alguns brotinhos esbranquiçados.

— Sim. O nosso chef gosta de incluir a cultura do nosso país e estudou muito os hábitos alimentares dos Baniwas — o garçom me contou com animação e foi, assim que pousou nossas taças de um vinho branco que era um pouco mais herbal e ácido que o anterior.

— Você vai adorar, amor — Eduardo brincou e desta vez eu senti que o "amor" não era tão carinhoso assim e, talvez, um tanto irônico.

— Sorte a sua ser veggie, ok? — eu respirei e enfiei minha colher ali dentro, olhando aquela formiga que era tão grande quando o meu mindinho flutuar em cima da espuma.

Oh Deus, ok.

Eu estava pronta.

Eu estava pronta.

Enfiei a colher em minha boca antes que eu conseguisse me arrepender disso e deixei a comida um pouco ali para eu me acostumar com a sensação, porém não havia nenhuma formiga dançando em minha língua. Eu comecei a mastigar e apenas depois de duas mordidas de teste, finalmente senti a crocância da bendita, porém... nenhum gosto estranho. Talvez um pequeno amargor? Mas nada sobrehumano.

— Interessante — eu comentei com Eduardo, vendo seus olhos brilharem com o meu veredito quando eu voltei a comer.

— Tudo é muito interessante para você desviar da minha pergunta — ele ironizou e eu arregalei meus olhos com aquela acusação muito bem fundamentada — qual o seu sonho, Marcela Noronha?

Eu pensei em mais de trinta maneiras de desviar da pergunta dele — e eu faria isso pelo restante da noite se quisesse, pois ele sempre me permitia o desvio e demorava um pouco para notar quando eu o estava enrolando — só que eu não queria não contar aquilo. Eu só tinha medo dele me julgar.

Ele já havia visto tudo — inclusive me contou tudo o que eu havia feito no blackout que eu tive do final da festa de Retúlio até o domingo de tarde —, então eu acho que não tinha como ficar pior, não é? Atingimos o fundo do poço e agora era só para cima, espero.

— Eu acho que meu sonho não é tanto um sonho e sim mais um medo — comecei, notando que com aquelas palavras iniciais ele havia franzido seu cenho — eu quero ser tudo o que eu sei que eu posso ser e não aquilo que as pessoas querem que eu seja — eu falei, procurando as palavras certas para verbalizar algo que nunca havia saído do meu peito — eu sei que soa tolo quando eu falo assim, mas é só que às vezes eu sinto que deixo a opinião dos outros moldarem demais as minhas ações. Os meus objetivos — eu me arrumei na cadeira ao notar que eu estava me curvando levemente para frente — por exemplo, eu não devia nenhuma explicação por estar solteira para a minha família, mas eu queria desesperadamente encontrar um namorado porque eles queriam que eu namorasse. E eu não preciso provar para ninguém que eu sou a melhor engenheira que já pisou na CPN, mas eu preciso da aprovação das pessoas para sentir que eu realmente cheguei lá e...

Eu tenho pavor de aparecer com você no trabalho, porque eu sei que as pessoas vão dizer coisas horríveis que vão me magoar e eu não posso deixar que eles maculem essa coisa incrível que nós temos — só que eu mordi essas palavras para dentro de mim, porque eu não queria colocar aquela ideia dentro da mente dele se ele nunca parou para pensar naquilo.

— Você não tem que provar nada para ninguém. Você é incrível, Má — ele me garantiu e eu voltei a olhá-lo, notando que ele estava mais próximo da mesa. De mim.

— Eu sei. Às vezes eu sei, quero dizer — eu dei uma risada fraca e arrumei meus cabelos atrás da orelha quando o terceiro prato chegou, mas eu não prestei atenção em nada do que o garçom havia dito — eu só tenho medo de quando as pessoas se lembrarem de mim, elas terem conhecido apenas a versão pré-moldada da Marcela, sabe? E não... eu mesma.

— E por que você quer tanto ser lembrada por pessoas que não te conhecem tanto assim para saberem quem é a verdadeira Marcela Noronha? — ele indagou abruptamente contra a sua taça de vinho rosé, estreitando os olhos na minha direção, tentando me desvendar como um enigma.

— Porque ninguém quer ser esquecido. Não de verdade — eu comprimi meus lábios e senti que havia algumas notas de vergonha em minha voz, afinal enquanto ele queria construir para salvar o mundo, eu tinha sonhos apenas... para mim?

— Bem, eu te conheço e eu sempre vou me lembrar de você desse jeitinho. Eu juro — ele me ofereceu com um sorriso gentil que eu prometi guardar dentro da minha mente para sempre — será que isso serve?

— Quer realizar meus sonhos, Eduardo Senna? — eu indaguei parcialmente de brincadeira.

— Todos eles, Marcela Noronha, até mesmo aqueles que você ainda não sonhou — ele respondeu com tanta, mas tanta simplicidade, que eu não consegui nem pensar em uma resposta apropriada para aquilo além de tocar a sua mão com a minha, apertando-a contra a minha pele, porque eu sentia o mesmo.

E eu acho que ele entendeu, mesmo que eu não tenha dito nada.

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O coração fanfiqueiro está completamente derretido com esse capítulo <3 alguém ainda ta vivo?

Marcela e Eduardo simplesmente são o melhor casal que já existiu e nós temos muitas provas disso!!!!!!!!!! Essas conversas dos dois estão chegando a um nível que daqui a pouco alguém vai soltar 3 palavrinhas mágicas hahaha  (fonte: vozes das nossas cabeças).

Se o Eduardo chegasse e perguntasse no ouvido de vcs "qual o seu sonho?" eu provavelmente nem saberia mais falar português, então palmas pra Marcela que conseguiu essa façanha!

Promoção devidamente comemorada (com direito a um buquê de flores do Marcelo... marcelo e edu estão amigos agora ou é impressão?) e os dois no maior love. Tem como a história melhorar?

Spoiler: TEM!!!!!!!!!!!!!! E MUITO!

Pensando no espírito de colaboração e não de competitividade, o que vocês acharam do spoiler coletivo? Vocês curtiram a ideia ou preferem manter ainda apenas para as pessoas que mais comentarem?

Esperamos que estejam derretidas com esse cap!!!!!! Não esqueçam da constelação (pff, cem merece né?) e de contar o que estão achando!!! Teorias, críticas e sugestões são sempre bem-vindas!

Beijinhos,

Libriela <3

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