Capítulo 42 - Eu nunca
Eu nunca
Eduardo
Eu acordei porque tinha sol batendo no meu rosto, pois... Bem, eu com certeza não tinha me lembrado de fechar as cortinas quando vim para a cama com Marcela Noronha no meu colo. Qualquer espécie de pensamento racional que eu pudesse ter tido tinha se perdido quando ela me segurou pela gola e colou sua boca na minha como se não conseguisse não fazer aquilo.
E tudo o que veio depois... Eu nem sabia que tinha sentido tanta falta dela assim nas duas semanas, quase três, que vieram após o cruzeiro. Eu quis Marcela como se ela fosse água e eu estivesse morrendo desidratado.
Provavelmente não era normal ter meu coração tão acelerado àquela hora da manhã, mas eu não conseguia evitar quando observava Marcela dormindo sobre o meu peito, porém, eu certamente poderia me acostumar com a taquicardia se esse fosse o preço que eu tinha que pagar.
Ela ainda estava de olhos fechados e com os cabelos espalhados pelo travesseiro, levemente bagunçados e aquilo provavelmente era culpa minha, porque eu quis cada pedacinho de Marcela Noronha que meus dedos puderam alcançar e isso incluía seus cabelos com cheiro de morango.
Foi com um suspiro que me dei conta que não podia ficar na cama enroscado com ela, embora, talvez, Gisele perdoasse um atraso... Eu não ia poder explicar porque tinha me atrasado, mas eu tenho certeza que Marcela nua deitada em mim era uma explicação muito plausível para eu não querer me mover nem um centímetro.
Mas a gente realmente precisava levantar, porque os projetos não se fariam sozinhos e nós éramos bem apegados aos nossos empregos, então, eu apenas acariciei seus cabelos e beijei sua testa com carinho, observando enquanto ela batia os cílios devagar e seus olhos castanhos encontravam os meus, primeiro meio confusos, depois em reconhecimento e, então, ela sorriu.
E eu sorri de volta, porque era assim que eu estava me sentindo.
— Eu sabia que você não ia resistir muito tempo comigo na sua cama todo dia — eu disse e ela riu, mas deixou sua mão quente e pequena passear pelo meu peito. Ela negou com a cabeça e eu a abracei, puxando seu corpo para perto do meu e distribuindo beijos pelo seu pescoço, observando aquele pedaço de pele se arrepiar como se eu fosse elétrico. — Não precisa ficar esquisito de novo, precisa?
Acho que ela entendeu do que eu estava falando. A gente não estava agindo exatamente normal um com o outro depois do cruzeiro, mas as circunstâncias tinham mudado agora.
Nós estávamos em São Paulo e, mesmo que com certeza houvesse um milhão de focos de alagamento, não era o cruzeiro. Era... A vida normal.
E na vida normal a gente tinha transado. E eu estava louco por ela.
— Não precisa — ela respondeu e eu beijei seu maxilar, quase como se não conseguisse ficar longe de verdade. — Mas nós ainda trabalhamos juntos e lá... — Ela pareceu se lembrar de alguma coisa e se desvencilhou de mim para procurar o celular, largado sobre a mesinha de cabeceira, enquanto conectava o carregador. — Que horas são, Edu?
— Eu não faço ideia, acordei com o sol — respondi, sentindo minhas costas estalarem quando me sentei e estiquei os braços para me espreguiçar.
— Como você pode estar tão calmo? — ela questionou e eu sorri, dando um beijo nas suas costas nuas enquanto ela aguardava o celular ligar.
— Bem, o mundo não acabou e eu acordei enroscado em uma mulher maravilhosa. Acho que eu não preciso me estressar quando o dia começa assim — gracejei e ela me olhou por cima do ombro. Vi, na tela do celular, que eram seis e quarenta e sete, então, ninguém estava atrasado. — Quer tomar um banho?
— Quero, mas também quero chegar no horário, então... — Deu de ombros, mas tombou seu rosto para o meu quando eu a puxei para perto de novo. — Você vai primeiro, eu preparo o café, quando eu for tomar banho, você...
Eu coloquei minha boca sobre a dela. Não a beijei-beijei porque a gente tinha acabado de acordar, mas foi o suficiente para ela arfar.
— Lavo a louça. Combinado. — Abri os olhos quando ela assentiu. — Você é linda.
Ela sorriu, mas me empurrou pelo ombro e eu entendi o recado, me levantando e indo para o banheiro enquanto ela pegava partes do seu pijama que estavam espalhadas pelo chão. Eu não sei se ela olhou para mim, mas eu meio que me senti orgulhoso por ser um cara que malhava glúteos.
A dinâmica pré-trabalho funcionou exatamente como ela tinha dito: quando eu fui para a cozinha, já vestido e com o cabelo penteado, ela já tinha passado o café e comido um pão com ricota; eu já tinha tomado café e lavado a louça quando ela reapareceu usando uma camisa listrada e uma calça de cintura alta que a deixavam com cara de engenheira-foda. O que ela era.
Fomos para o trabalho juntos, notando que a chuva tinha feito um leve estrago em São Paulo ao ver sujeira espalhada pelo chão, alguns galhos de árvore caídos e tivemos que procurar algumas rotas alternativas por causa de lugares que ainda estavam realmente alagados. Aparentemente, até a energia demoraria para voltar em alguns pontos.
Marcela, como sempre, olhou cuidadosamente em volta para saltar do meu carro quando eu estacionei no G2 do prédio que abrigava a CPN e quase correu até o elevador, embora só nós dois realmente estivéssemos ali.
Foi ela quem apertou o botão do nosso andar no painel e fui eu quem a puxei para perto e beijei sua boca até uns dois segundos antes do elevador se abrir. Eu sabia que ela provavelmente ia querer me matar, mas acho que, a essa altura, eu já não tinha mais tanto medo do perigo quando se tratava dela.
— Bom trabalho, Má — eu gracejei, seguindo até minha mesa e acenando para Marcos e Galileu, que estavam sentados com copos grandes de café e a cara perfeita de cansaço de uma sexta de manhã.
— Bom trabalho, Eduardo — ela respondeu e eu gostei de como meu nome soava na sua boca levemente rosada.
A manhã passou relativamente rápido, porque Lucas me alugou por boa parte dela com seu projeto, porque ele estava animado com a onda ambiental que eu tinha colocado na sua cabeça, então nós ficamos trocando ideias e esboçando até bem perto da hora do almoço. Eu sabia que isso provavelmente ia atrasar as coisas do meu lado, mas eu não ia cortar o eco-barato de alguém, especialmente porque ele se ofereceu para pagar meu almoço pela ajuda.
Convidei Marcela para almoçar, mas ela ia encontrar Romeu, então eu acabei indo com Valter, Lucas e Marcos — aparentemente todo mundo tinha decidido chamar Valter de amor depois do churrasco e eu acho que ele gostava, embora só eu fosse chamado de coração de volta. Amor verdadeiro era assim.
Marcos contou que Igor estava muito irritado porque Marcela tinha conseguido o amarelo que ele não tinha para a restauração da Casa Amarela e Thales estava falando maravilhas dela aos quatro ventos — bom, aposto que ele não tinha pintado a casa inteira para achar a cor perfeita, então ele que lidasse com as suas frustrações por não fazer direito o próprio trabalho.
Quando eu voltei para a minha mesa, Lucas reapareceu e nós começamos a conversar sobre painéis fotovoltaicos — bem, eu fiz isso porque também precisava disso para fazer o meu trabalho e eu gostava do feedback de Lucas, porque ele tinha saído da faculdade há menos tempo e tinha uma visão nova das coisas que a gente acaba perdendo depois de muito tempo no mercado de trabalho.
Quem não estava gostando muito da nossa aproximação, no entanto, era o engenheiro responsável pelos projetos dele. Sandro Ventura era um cara bem equilibrado que deveria ter uns dois metros de altura e eu tinha trabalhado com ele nos meus primeiros anos de CPN, antes de Renata achar que Marcela e eu éramos um match perfeito na construção civil.
Se Marcela gostava do tradicional, então Sandro o idolatrava. Concreto era tipo um semideus para ele e, pela cara com a qual ele chegou na minha mesa, ele não estava assim tão feliz por eu estar querendo que ele aprendesse a aturar um semideus mais ecologicamente correto.
— Eduardo, o que eu te fiz? — ele perguntou, se sentando na minha frente e estendendo um copo de café para mim. Ergui as sobrancelhas, escondendo meu sorriso por trás do copo. — Por que o Lucas não para de falar em bioconcreto e energia limpa? — Eu apenas ri, lembrando do nosso período trabalhando juntos e do quanto ele não gostava de ser contrariado por arquitetos ecológicos. — Ainda bem que você nem se deu ao trabalho de negar, porque ele fala e parece que eu voltei três anos no tempo e estou falando não para você de novo.
Dei um gole no café, dando de ombros e fazendo uma careta inocente.
— Talvez seja o seu carma, Sandrinho — eu impliquei e ele rolou os olhos. — Está na hora de modernizar e ser ecológico está em alta, sabia? Porque salvar o planeta é ótimo quando você mora nele e tal.
— Edu, eu tenho quarenta e cinco anos e pretendo me aposentar sem colocar bioconcreto em nada. Só mais um engenheiro tradicional e nada moderno — ele apontou seu copo para o meu peito como se fosse uma arma. — Para de colocar essas ideias malucas na cabeça do Lucas porque eu não tenho a paciência da Marcela.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, vi que a engenheira tinha escutado seu nome ser citado e estava olhando para nós dois. E eu meio que perdi o fio da meada olhando para o rosto dela como se fosse a primeira vez.
— Você tem que olhar com essa cara de bobo para ela mesmo, porque se a gente tivesse continuado juntos, você já teria percebido que eu topo até energia termonuclear, mas teto verde? Quem inventou que dá para plantar árvores no concreto, inferno? — perguntou e eu finalmente voltei a olhar para ele. — Eu te adoro como pessoa, Senna, mas como arquiteto eu queria que um andaime caísse em você. E eu consegui outro Eduardo!
Eu dei risada. Sandro tinha todo esse jeito meio bruto, mas eu sabia que ele era uma boa pessoa.
— Não sei porque você espera que eu tenha empatia por você nesse caso, mas vou avisar para o Lucas tomar cuidado com os andaimes daqui para frente — gracejei e Sandro rolou os olhos, mas sorriu ao se levantar.
— Para de colocar ideia errada na cabeça do Lucas, Edu. Eu estava muito bem quando ele gostava de concreto e vidro — disse.
— O teto verde vai ficar incrível, Lucas! — eu falei alto e fiz o arquiteto me olhar, confuso, da sua mesa. Ergui o dedão em um sinal de positivo para ele e Sandro deu risada.
— Não vai ficar incrível porque eu não vou fazer — disse e deu um tapinha na mesa de Marcela ao passar por ela. — Você não quer ficar com o Lucas também? É quase igual ao Eduardo, você nem vai perceber a diferença. Vai ser tipo um eco.
Marcela riu e tombou o rosto de lado, sustentando a bochecha no punho e deixando o cabelo cair sobre apenas um dos ombros.
— Você vai ter que aceitar o Lucas e a elipse, Sandro, eu não posso te ajudar com isso — gracejou e Sandro me olhou como se eu fosse culpado, de forma que eu ergui as mãos em rendição.
Ele voltou para a própria mesa e eu pisquei para Lucas, como um incentivo para que ele continuasse perturbando Sandro até vencer pelo cansaço. Eu não podia perder meu novo aliado.
Então todos voltamos ao trabalho. Eu estava dando uma olhada em referências da arquitetura romana, com todos os seus arcos, abóbadas e tetos curvos. Eu era muito um cara da arquitetura moderna e pós-moderna, mas era sempre bom manter várias referências em aberto e eu estava me sentindo... Inspirado.
Aparentemente, entre anotações e esboços de ideias, eu passei muito mais tempo do que tinha notado, porque quando meu celular vibrou e me tirou daquele transe, já faltavam vinte minutos para o fim do expediente.
Várias mensagens de Henrique Francisco começaram a se acumular.
Henrique Francisco: Edu, hoje tem jogo do Galo. Jogaço.
Henrique Francisco: Tiago está sem energia ainda por causa do temporal de ontem e a concessionária disse que só vai trocar o gerador amanhã. Nosso apartamento continua interditado
Àquela altura, eu já sabia onde sua conversa mole ia dar.
Henrique Francisco: Você acha que a Marcela deixaria a gente ver o jogo na casa dela?
Henrique Francisco: Fala que minha horchata é incrível e eu posso fazer para ela (não hoje, porque precisa de dois dias)
Henrique Francisco: Mas eu levo outra coisa que ela goste
Henrique Francisco: Ou você oferece seu corpo para ela, seja criativo e ajude seu melhor amigo
Ergui as sobrancelhas e tentei não rir. Respondi que ia ver e tirei um print da conversa e enviei para Marcela, que me encarou quando percebeu que eu estava perto e mesmo assim mandando mensagem.
Eduardo: (imagem)
Eduardo: O que você me diz? Eu posso considerar oferecer meu corpo, só para avisar
Marcela mordeu os lábios e eu sorri.
Marcela: Ele realmente te usa como moeda de troca?
Ergui as sobrancelhas. Henrique Francisco usaria até Tiago como moeda de troca por um jogo do seu amado Atlético Mineiro, sinceramente.
Eduardo: Normalmente não, mas envolvendo você e futebol...
Marcela: Fala para ele que eu gosto de vinho rosé. E que é obrigação dele fazer horchata para mim
Eduardo: Hahaha você vai se arrepender muito dessa escolha, mas vai se arrepender mais ainda de ter dispensado meu corpo lindo
Olhei para ela por cima do monitor e vi que ela estava me olhando de volta. Eu apenas amei o sorriso de canto que apareceu na sua boca antes de ela voltar a teclar.
Marcela: Quem disse que eu dispensei?
E então uma figurinha em gif que colocou um sorriso no meu rosto que dificilmente sairia dali.
⟰
O apartamento de Marcela, àquela altura do campeonato, parecia um pequeno caos. Henrique Francisco e Tiago eram grandes e barulhentos e bagunceiros e realmente tinham levado vinho rosé para Marcela, um engradado de Eugências e uma garrafa de uísque, cortesia de Tiago.
Aparentemente ele estava feliz porque, pela falta de energia, Camilo foi obrigado a jogar o maldito galão de leite azedo no lixo — a cara de Henrique Francisco deixou claro que aquilo tinha sido obra sua e não de Camilo, mas que eu estava terminantemente proibido de contar isso para Tiago, que estava finalmente feliz com seu colega de apartamento.
A sintonia ali era incrível. Tiago tinha se dado super bem com Marcela e os dois debateram minutos a fio sobre um dos lances estar impedido ou não — eu até hoje não tinha entendido a regra do impedimento, mas aparentemente eu era o único dos quatro que não sabia. Chicão tentou me explicar pela milésima vez na minha vida e eu fingi que tinha entendido pela milésima vez na minha vida.
Chicão comemorou a vitória do Atlético Mineiro por 2x1 contra o Corinthians como se fosse uma vitória pessoal, como sempre, com direito a gritos e dancinha — normalmente ele acabava aquilo se jogando em cima de mim e de Leandro, mas acho que ele não quis se jogar em cima de Marcela, que estava sentada ao meu lado e assistia sua comemoração dando risada. Eu aprovei sua ideia, porque ela era pequena para segurar um homem daquele tamanho pulando nela.
Bem...
— Ok, eu estou feliz e é sexta-feira à noite. — Chicão olhou para todos nós, se sentando de volta ao lado de Tiago e dando um beijo na sua bochecha antes de olhar de mim para Marcela e vice-versa, assim que terminou sua dancinha da vitória, que envolvia uma cantoria do hino do Galo que, (in)felizmente eu já conhecia de cor. Ele só chegou até o "Vencer, vencer, vencer/ Este é o nosso ideal/ Honramos o nome de Minas/ No cenário esportivo mundial" porque nós jogamos almofadas nele e eu disse que se Marcela tomasse uma multa, seria dele. — Vocês querem fazer alguma coisa?
Esperei a dona do apartamento assentir e foi o que ela fez, porque estava animada e levemente bêbada — algo que eu já tinha notado porque ela não iria rir tanto da felicidade de Henrique Francisco se estivesse sóbria.
— Vocês gostam de jogos? — perguntou, apontando para algum ponto nas gavetas do rack suspenso que ficava embaixo do painel da televisão. — Tem um baralho ali e a gente pode jogar canastra ou...
Eu ri e neguei com a cabeça, a impedindo de continuar com aquilo.
— Ok, eu sei que ela está alegre, mas ela coloca qualquer um de nós no bolso com qualquer coisa com cartas. — Marcela riu e deu um empurrão no meu ombro. — É sério. A família inteira dela parece ser de jogadores profissionais e não tem a menor chance de a gente ganhar. Eu vi essa mulher jogando blackjack e limpando a mesa duas vezes! Em um cassino!
Eu enfatizei a parte do cassino porque, geralmente, quem vai em cassinos sabe jogar, caso contrário perderia bastante dinheiro ali — e eu juro que um jogador profissional de pôquer ficou impressionado com as habilidades de Marcela.
— Eu nunca joguei canastra, então acho que não vai rolar — Tiago disse enquanto Marcela arrumava seu cabelo em uma espécie de nó, que resultava em um coque frouxo e o olhava incrédula, como se um ser humano não pudesse realmente crescer e se desenvolver sem aprender a jogar cartas.
No caso dos Noronha, provavelmente isso era verdade.
Eu acho que foi uma junção da bebida com a fala de Tiago e com o fato de que ela apoiou sua mão na minha coxa quando terminou o coque que colocaram uma ideia... Pouco conveniente na cabeça de Henrique Francisco.
— E se a gente jogasse eu nunca? — perguntou e, incrivelmente, a primeira pessoa a ficar muito animada com a ideia foi Marcela, o que só provou que ela estava realmente bêbada de vinho, já que normalmente ela não toparia contar coisas da sua vida para três caras.
Eu não sei o que tinha naquele vinho, mas era algo forte, porque ela tinha comido duas fatias da pizza de shitake que eu tinha pedido, então não era para o álcool bater com tanta vontade.
— Tem um motivo para a gente não jogar isso com alguém com quem a gente mora, Chicão — eu disse, dando de ombros. — Lembra o que aconteceu quando a gente achou as algemas do Leandro?
Claro, não era a mesma coisa, porque Leandro tinha sido algemado na cabeceira da própria cama no primeiro mês que estava no apartamento e a mulher que tinha feito aquilo com ele — Laila, eu nunca vou esquecer — foi embora antes de soltá-lo e ele literalmente teve que gritar por ajuda.
Tem coisas que não dá para desver e essa, infelizmente, foi uma delas. Pelo menos ele sabia onde a chave estava e a gente não precisou passar horas procurando um alicate, porque teria sido pior. Se bem que talvez o tempo de exposição não mudasse o que de fato a gente viu.
— Só foi estranho porque ele estava preso com elas e precisava de ajuda. Ver é pior do que só imaginar, eu tenho certeza — Chicão lembrou e ergueu as sobrancelhas, formando um vinco entre elas e me oferecendo seu sorriso mais sacana. — Minha vida é um livro aberto, Edu. O que você está escondendo do seu melhor amigo?
Minha vida não era exatamente um livro aberto. Eu gostava de manter certas coisas sigilosas, mas, sinceramente, eu também estava bêbado e não consegui argumentos o suficiente para me convencer a não fazer aquilo, então dei de ombros.
— O que acontece no eu nunca, fica no eu nunca! — Lembraram Marcela e Tiago, ao mesmo tempo. Marcela quem prosseguiu: — Vamos fazer com o uísque?
Todos concordamos, então Marcela foi buscar copos apropriados. Ela realmente gostava da bebida nos copos certos, enquanto eu, Chicão e Leandro tomávamos tudo nas taças de time de Henrique Francisco.
Eu só acreditei que nós estávamos mesmo fazendo aquilo quando Marcela começou a servir as doses e nós estávamos sentados em volta de sua mesinha de centro. Não sei quem notou primeiro que a perna dela estava encostada na minha, mas acho que foi Chicão, porque ele ergueu as sobrancelhas e me encarou como se soubesse o que se passava na minha cabeça quando eu olhava para aquela mulher incrível.
Fui proibido de chegar perto da playlist, que estava sendo controlada por Tiago e Henrique Francisco, então nós estávamos ouvindo Oh, Juliana. Henrique parecia bem animado dançando da forma que a posição lhe permitia e arrancando risos de Tiago.
As regras do jogo eram básicas: Alguém negava ter feito algo e, quem já tivesse feito aquele algo que foi proposto, bebia uma dose. A ideia secundária, é claro, era que os outros ficassem muito mais bêbados e propensos a dividir intimidades do que você.
— Declaro aberto o eu nunca! As regras são claras: não tem regras — Tiago disse, batendo na mesinha de Marcela como se fosse um rufar de tambores. Marcela comemorou, animada demais e eu dei risada. — Podemos começar pegando pesado ou é melhor começar com carinho?
— Eu nunca começo com carinho! — disse Chicão, o cortando, e juro que Tiago engasgou com a própria saliva enquanto eu e Marcela apenas tentamos segurar o riso. E falhamos miseravelmente. — Vai, bonito, pode beber.
— Primeiramente, eu não sou tão carinhoso assim, você que é bruto — Tiago ergueu um dedo enquanto Henrique empurrava o copo para ele.
— Você só falta chorar, Ti. — Chicão riu, e Tiago deu de ombros, tomando a dose em um gole só como se quisesse encerrar o assunto. — Na primeira vez você perguntou se eu tinha certeza se eu queria fazer aquilo, todo delicado, e eu já estava pelado em cima de você!
— Você não faz ideia do que está falando, Chico — ele disse e Chicão ergueu as sobrancelhas.
Tiago olhou para ele e sorriu de canto. Seu olhar claramente dizia para Henrique Francisco que aquilo teria retaliação, e foi por estar reparando nisso que eu quase não percebi Marcela deslizando um copo para mim.
— O quê? — perguntei.
— Vai, Edu. Você é quase uma lady — Marcela disse e eu coloquei a mão sobre o coração, fingindo surpresa.
— Eu posso estar me lembrando errado, Má, mas isso não é exatamente verdade — eu disse.
— Você tem cara de ser delicado mesmo, Edu — Chicão disse, me incentivando a beber e fazendo uma análise da minha personalidade como se ele fosse um psicólogo e não um oftalmologista. — Se tem alguém que choraria depois de transar é você. Pisciano é foda.
— Não é tão delicado assim e não é sempre — Marcela ponderou, batucando as unhas na mesinha e olhando para mim com algo divertido no olhar. — Mas ele gosta de abraçar, distribuir beijinhos, essas coisas.
— Que fofo — Tiago disse e Chicão olhou para ele com a sobrancelha erguida como se aquilo fosse um atestado de que ele era sim, muito carinhoso. — Ok, não estou cometendo nenhum crime aqui!
Henrique Francisco apenas deu um selinho nele e ele pareceu ficar mais satisfeito. Puxei Marcela para perto só para conseguir falar no ouvido dela enquanto os outros dois estavam distraídos demais.
— Você quer que eu seja bruto? — perguntei, dando um beijo na sua mandíbula. Ok, ela tinha um ponto, talvez eu realmente gostasse de ser carinhoso. — A gente pode experimentar uns xingamentos e uns tapas. Aposto que eu seria ótimo em BSDM.
— Aí quem vai chorar sou eu, de tanto rir — Marcela disse e deu um tapinha no meu braço. — Eu não disse isso como algo ruim, Edu. Aliás...
Ela ergueu uma sobrancelha e sorriu para mim de um jeito que me fez sorrir de volta e pensar sobre lugares em que eu queria beijar Marcela Noronha. Com bastante carinho. Então, sem muito mais opção, tomei a dose que tinha sido destinada para mim.
— Eu nunca chorei enquanto transava ou logo após — foi o que Marcela disse enquanto eu recolocava a minha bebida e a de Tiago.
— Puta que pariu, viu — Tiago disse, esvaziando o copo de novo em um gole só e Henrique Francisco o olhando embasbacado, descobrindo coisas que provavelmente ainda não sabia. — Eu não vou falar sobre isso! E você está julgando, lindo, então duas doses para você! A regra é clara!
Ele dobrou a bebida de Henrique Francisco, que tomou sem pestanejar.
— Eu estou ficando com um Ursinho Carinhoso, vocês perceberam? — Chicão perguntou, abraçando Tiago pelos ombros e o puxando para perto para dar outro beijo na sua boca. — Você é maravilhoso. — Então ele olhou para mim, com as sobrancelhas erguidas. — Você não vai beber, Eduardo?
Marcela começou a rir e Tiago me olhou em expectativa.
— Você está sozinho nessa, Tiagão, desculpa — eu pedi, erguendo meu copo para brindar com ele mesmo sem beber, porque isso eu nunca tinha feito. Então eu me lembrei de uma história engraçada de Henrique Francisco. — Eu nunca mandei nudes para a pessoa errada.
Para a minha surpresa, os três beberam e somente eu fiquei com meu copo intacto na mão.
— Mandei sem querer para o Bruno errado, uma vez — Tiago lembrou, olhando para um ponto distante como se estivesse visualizando algo, então, sorriu. — Mas ele se tornou o Bruno certo depois de um tempo, então acho que não foi realmente ruim.
— Conta a sua, Henrique. Estou muito curioso — eu instiguei, embora eu claramente já soubesse aquela história e só quisesse que ele passasse um pouco de vergonha.
— Eumandeipraminhamãe — ele disse, rápido demais, mas quando Marcela começou a rir como se fosse ter um ataque, ele também começou. — Eu estava ficando com uma menina chamada Mônica e quando eu fui selecionar o contato... Estava perto demais.
— Tia Janice pediu para eu te ajudar a encontrar rumo na vida depois disso. Acho que você a traumatizou para sempre — eu contei e Chicão apenas fez careta, negando com a cabeça como se tivesse acabado de acontecer e como se ele não tivesse apagado seu pênis do celular da sua mãe tipo uns dez minutos depois. — Pelo lado positivo, ela acha que quando você está comigo, você está na presença de um anjo.
Todos olhamos para Marcela.
— Mandei uma foto de lingerie para minha vó — disse, dando de ombros. — Felizmente ela só respondeu que eu podia comprar porque tinha ficado lindo, então acho que ela não entendeu direito...
— Sua avó é maravilhosa, eu tenho certeza que ela entendeu sim — eu disse e Marcela riu, dando de ombros.
— Você nunca mandou um nude errado? Ou nunca mandou um nude como um todo? — perguntou ela, erguendo as sobrancelhas como se duvidasse de mim. Fazia sentido, porque na realidade, mandar nudes era uma coisa super normal e todo mundo fazia isso, mas, bem... Talvez para isso eu fosse meio tradicional?
— Eu gosto de certas coisas ao vivo, Má — respondi, simplesmente.
— Podemos concluir que ninguém mandou um nude decente para o Eduardo na vida, pobrezinho. Agora eu entendo um pouco mais sobre sua personalidade, Edu. Não deve ser fácil — meu melhor amigo disse e deu uns tapinhas no meu ombro em solidariedade. Tiago deu risada e Marcela também, enquanto eu apenas erguia as sobrancelhas para Henrique Francisco, que olhava para o seu namorado (eu não sei se eles tinham dado um nome para a relação ainda, mas chamar de "peguete" era esquisito quando o dentista e ele estavam juntos quase o tempo todo). Olhei para Chicão apenas para lembrá-lo que era melhor não receber nudes do que acabar mandando certas coisas para a própria mãe. — Ainda bem que hoje em dia eu sou tiagossexual e o "t" fica bem longe do "m".
Tiago sorriu e segurou a mão do oftalmologista, que apenas entrelaçou os dedos nos dele e lhe ofereceu um sorriso mole que dizia muita coisa.
— Cuidado com os tios, viu? — Marcela lembrou e Chicão pareceu ficar levemente preocupado com a possibilidade. Sua tia Amália era cardíaca e provavelmente não resistiria ao ver um nude, ou talvez morresse engasgada com um pão de queijo (bom, se eu morasse em Minas provavelmente nunca ia parar de comer pão de queijo e minha experiência com tia Janice e tio Osmar, os pais de Henrique, era que sempre havia café e pão de queijo em casa).
Quando olhei para os dois caras, eles estavam conversando sobre nudes e rindo um para o outro, então eu aproveitei para me aproximar de Marcela e sussurrar no seu ouvido:
— Eu aceito que você me mostre como a arte de enviar nudes pode ser incrível.
Ela olhou para mim e o mesmo sorriso não-sou-tão-bom-moço-assim que estava no meu rosto, estava no dela. E eu adorava a perspectiva daquele sorriso, embora, eu preferisse que ela me mostrasse seu corpo delicioso quando ele estava ao alcance das minhas mãos.
— Eu nunca transei com alguém que está nessa sala — Henrique Francisco disse, fazendo com que nós dois parássemos de nos olhar. Ergui as sobrancelhas porque ele parecia estar sondando, algo que ele fazia muito, mas ele sabia que todo mundo ali beberia porque... Bem, ele sabia do cruzeiro. Mas aí ele completou sua frase e eu entendi que ele queria notícias atualizadas do status Marcela-Eduardo: — Ontem.
Olhei para Marcela Noronha, que me olhou de volta. Ela apenas sorriu por cima do copo de uísque antes de virar o conteúdo nos lábios, gesto que eu imitei enquanto meu melhor amigo abria seu maior sorriso.
— Demorou só três anos para vocês finalmente acordarem para isso, hein? — Chicão provocou.
Para a minha surpresa, foi Marcela quem envolveu meu pescoço com os braços e puxou meu rosto para o dela, colando nossas bocas. Eu abracei sua cintura e deixei seus lábios quentes seduzirem os meus, apenas levemente consciente de que talvez não fosse muito ortodoxo beijá-la como eu queria com plateia.
— Algumas coisas levam tempo, Chico — Marcela disse, contra os meus lábios e eu sorri.
— Eu realmente achei que vocês eram um casal — disse Tiago, dando de ombros, enquanto relutantemente eu soltava a engenheira, olhando nos seus olhos e apreciando o sorriso nos seus lábios, que era um sorriso de quem estava me apreciando. — Chico fala muito sobre e, bem, eu certamente nunca diria que vocês não parecem um casal.
— Eles são, Ti — Chicão disse. — Só não estão prontos para admitir ainda.
Ele me olhou daquele jeito que dizia que ele sabia de algo. Um presunçoso "eu avisei" estava no ar ali — eu podia julgá-lo? Ele realmente avisou, mas, três anos atrás (e até pouquíssimo tempo atrás, na verdade) eu não sabia que me envolver com Marcela era uma possibilidade. Ela era legal e linda e eu claramente tinha um fraco por suas pernas belíssimas, mas parecia totalmente impossível que eu fosse acabar na cama dela e, especialmente, que ela fosse acabar sendo a pessoa que fazia meu coração disparar daquele jeito.
Mas, é claro, Henrique Francisco sabia. Há anos.
— Ok — eu disse, dando continuidade antes que Henrique Francisco começasse a planejar nosso casamento (minha rasa experiência com o casamento Retúlio me dizia que aquilo era trabalhoso demais para o meu gosto, mas pelo menos a gente tinha Leandro que provavelmente organizaria uma cerimônia inteira em duas horas com facilidade). Senti minhas pernas dormentes por estar sentado há tanto tempo em posição de índio e servi os copos vazios. — Eu nunca fiz sexo a três.
Marcela e Tiago puxaram os copos e beberam e eu ergui minhas sobrancelhas para a mulher. Acho que Chicão fez a mesma coisa com Tiago, porque os nossos dois afetos à ménage à trois se abraçaram — Marcela jogou os braços sobre os ombros de Tiago, que abraçou a sua cintura.
— Nós estamos tirando a pureza deles, Ti! — Marcela disse e, por causa da posição, eles dois acabaram caindo de costas no tapete e dando risada.
— Eu não sabia que estava me envolvendo com um puritano, Má! — ele disse e ela emitiu um som que poderia ser concordância ou risada, eu não sabia exatamente, e Tiago a seguiu, dando risada com ela. — Eles estão julgando a gente!
— Duas doses para cada um! — Marcela apontou para mim, direto do chão, com o indicador em riste e sua cara de engenheira mandona. Eu sorri, porque, porra, eu não conseguia não sorrir para ela. — Agora.
— Ok! — eu disse, colocando mais uísque no meu copo e no de Henrique Francisco. — Mas vocês vão ter que contar.
Marcela e Tiago se olharam do chão e começaram a rir de novo, enquanto nós bebíamos o uísque. Àquela altura, meu paladar e todo o meu sistema digestivo já estavam anestesiados para a queimação do álcool e o amargo, então era quase como beber água; e também significava que eu ia ficar bem bêbado e talvez com uma ressaca monstruosa. Será que alguém tinha um Engov?
Eles se levantaram do chão e voltaram a se sentar em posição de índio.
— Ok, eu não quero profanar a inocência de vocês — Tiago disse, tombando nos braços de Chicão, que o abraçou com carinho. — Foi uns anos atrás, com dois caras. Na época eu achei meio esquisito, porque tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e você não sabe exatamente... O que fazer, sabe? Apesar de ter três pênis envolvidos, várias opções e tal. — Chicão ergueu as sobrancelhas. — Na época eu achei esquisito, mas hoje em dia acho uma experiência de formação de caráter.
Henrique Francisco riu, ainda segurando Tiago entre os braços.
— Então sexo a três ainda é uma possibilidade? — ele ergueu as sobrancelhas para Tiago, que tombou o rosto para encará-lo.
— Você sente falta de outra pessoa quando está comigo, Henrique Francisco? Não estou julgando nada, mas eu me sinto feliz só com você — disse, simples, e soluçou por causa do álcool.
Chicão fez carinho na bochecha dele com os dedos.
— Você realmente acha que eu quero ver mais alguém beijando essa boca linda, Tiago Lira? — perguntou, em tom de desafio, e o dentista lhe ofereceu seu famigerado sorriso enorme e branquíssimo. — Eu gosto de você inteirinho pra mim.
Eu sorri também, porque acho que era tão fã de Henrique e Tiago quanto eles eram fãs de Marcela e eu. Eu acho que nunca tinha visto meu melhor amigo tão feliz em um relacionamento (até porque, antes de Tiago, ele tinha se relacionado apenas com mulheres e ele já tinha mencionado que demorou demais para perceber que o lance dele era com caras, exclusivamente), então eu só queria que eles se fizessem felizes, porque Henrique era um cristal lapidado que merecia o mundo.
— Eu vou cortar relação com os dois se eu não for o padrinho desse casamento, só para deixar claro — eu proferi e apontei meu copo para eles, que apenas se abraçaram com mais força. Me virei para a dama ao meu lado, que apenas passava o dedo na borda do copo vazio. — E você, Má?
Ela deu de ombros, abrindo um sorriso de canto e olhando para o teto, como se tentasse se lembrar de alguns detalhes que provavelmente o álcool estava fazendo ser difícil pescar na memória.
— Bom, foi no início da faculdade — contou ela. — Quando você é uma caloura e está longe dos pais, algumas coisas viram possibilidades interessantes que você quer experimentar, então, rolou. Foi com um cara que era meu veterano na Engenharia Civil e o Rommi...
— O Romeu? — perguntei, interrompendo-a pelo susto, e ela assentiu. — O Rommi que me chama de Cristal e que vai casar com o Getúlio?
Marcela assentiu, me oferecendo um sorriso divertido e servindo duas doses no próprio copo, que empurrou para mim, porque eu estava julgando. Não era um julgamento, Marcela era livre para fazer o que quisesse, mas acho que nunca na vida eu tinha considerado que ela tinha feito sexo com o melhor amigo gay — bom, ele era mesmo lindo e legal, fazia sentido.
— Se você gostasse de homens, ia entender que o Rommi não é o tipo de cara pra quem você diz não, Edu — continuou ela e Chicão concordou. — Mas, obviamente, ele curtiu mais transar com o Vitor do que comigo... Quer dizer, eu nem julgo, o Vitor era um pedaço de mau caminho e Romeu é gay, então...
E aquilo prosseguiu. Eu sentia minha barriga doer de tanto rir com as histórias e a garrafa de uísque estava cada vez mais perto do fim assim como as ideias, de forma que Tiago sugeriu que eu procurasse perguntas na internet, que começamos a usar apenas porque o objetivo ali era constrangimento e bebedeira numa sexta à noite com amigos.
Marcela já estava apoiada em mim, claramente muito mais entorpecida do que eu, e Henrique estava apoiado em Tiago, que distribuía beijos pelo seu rosto como se simplesmente não conseguisse evitar fazer aquilo — eu meio que entendia, porque eu estava exatamente da mesma forma com Marcela. Os dois ursinhos carinhosos eram assim, aparentemente.
Eu apenas passei meu braço por cima dos ombros dela e ela se aconchegou melhor contra o meu peito. Parecia que ela tinha o tamanho perfeito para encaixar ali e eu sorriria como um pateta mesmo se não estivesse bêbado. Marcela pegou o celular da minha mão, porque era ali que estavam abertas as 125 melhores sugestões para jogar 'Eu nunca'.
— Eu nunca... — ela passou os olhos pelas perguntas. — Me apaixonei à primeira vista.
Nós rimos, porque ninguém tinha feito isso na história... Exceto que Tiago, muito discretamente, bebeu sua dose enquanto olhava para o perfil de Henrique Francisco, que estava distraído pegando o celular da mão de Marcela.
E eu sorri para Tiago, que ficou vermelho ao perceber que eu tinha visto que ele tinha gostado de Henrique Francisco Gadelha à primeira vista. Chicão não percebeu e eu apenas pisquei, para que ele soubesse que seu segredo estava bem guardado comigo.
Nós fizemos perguntas até o Uber que Chicão pediu para os dois chegasse — porque ninguém ali tinha a menor condição de dirigir depois de tanto álcool e risadas. Eles foram embora depois de uma despedida emocionada demais de Henrique, que se agarrou no meu pescoço e disse que estava com saudade de mim, e de Tiago abraçando Marcela, dizendo que ela era incrível e que eles tinham que sair um dia juntos. Ela aceitou.
O apartamento pareceu estranhamente silencioso quando eles foram embora e eu, o mais sóbrio entre os remanescentes, comecei a pegar os copos e os bowls com restos de salgadinhos para colocar na pia, deixando apenas o copo dela e o meu ali — eu com certeza lidaria com eles na manhã seguinte.
Marcela abraçou meu pescoço quando eu me sentei ao seu lado no sofá, trazendo sua boca para a minha sem nem pensar muito sobre o assunto. Eu a abracei e a puxei para perto, envolvendo sua cintura enquanto nossas línguas se misturavam em um beijo com gosto de álcool até que ela parasse no meu colo.
— É agora que eu menciono que seu corpo lindo estava no pacote quando eu deixei o casal do ano vir assistir jogo aqui?
Eu ri contra os lábios dela e senti seus dedos se envolverem no cabelo da minha nuca.
— Eu gosto do seu jeito de pensar, mas você está bêbada demais e acho que eu estaria me aproveitando de você se fizesse isso. — Beijei o canto da sua boca e ela soltou um gemido que colocou toda a minha força de vontade à prova. Eu a beijei mais uma vez e envolvi seu rosto com as mãos, me afastando dela apenas para buscar ar, mas deixando nossos narizes se tocando. — Você é maravilhosa, sabia?
Ela sorriu e mordeu o lábio inferior. Notei que suas bochechas estavam vermelhas pelo álcool e que seus olhos buscavam os meus o tempo todo, assim como os meus buscavam os dela, quase como se eles fossem magneticamente opostos e se atraíssem.
— Sabia — disse e eu ri, deixando meus polegares desenharem formas indefinidas na sua pele lisa.
— A engenheira mais foda que eu conheço — disse e rocei meu nariz no dela.
— Você vai me falar essas coisas e não vai transar comigo? — perguntou e eu ri de novo, alcançando seus lábios devagar.
— Você está bêbada, Marcela — expliquei.
— Eu sei — resmungou e apoiou a cabeça no meu peito, enroscando as pernas nas minhas. — Que droga.
Eu ri e beijei seus cabelos enquanto procurava um filme qualquer de fim de noite na Netflix apenas porque queria ficar ali, abraçado com ela, desenhando sua coluna com os dedos e sentindo que a gente encaixava em qualquer posição.
Escolhi Atômica e percebi que ela dormiu na segunda cena, porque sua respiração ficou regular demais.
Meu celular vibrou.
Henrique Francisco: Chegamos
Henrique Francisco: No Titi
Henrique Francisco: Ele é lindo, sabia?
Henrique Francisco: Tenho um último desafio, só para você: eu nunca estive apaixonado por Marcela Noronha.
Olhei para Marcela, dormindo sobre o meu peito em completa plenitude. Olhei para o meu copo, com mais ou menos um dedo de uísque dentro, e me estiquei o suficiente para pegá-lo e beber o líquido.
Enviei uma foto do copo vazio para Henrique Francisco, porque não tinha outro jeito de chamar o que eu estava sentindo.
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Quem mais acordou hoje que nem o Edu (querendo ficar eternamente na cama, mas precisando trabalhar / estudar)? hahaha
Será que depois desse beijo no elevador, a gente já pode soltar fogo de artifício e comemorar que mardo é um casal???
E para os fãs de futebol / jogos, a gente teve um cap divertidíssimo de provocação e desafios que acabou com uma confissão que todo mundo já estava suspeitando fazia muito tempo, mas que o Edu descobriu só agora.
MARCELA, BORA AGILIZAR E PERCEBER ISSO DAÍ TAMBÉM? (quero dizer, se é que ela também está sentindo isso né...)
Aqui um espacinho especial por todos os comentários incríveis que a gente recebeu no último capítulo! Vocês são mega especiais para nós, então ler todos os seus comentários e saber que vocês gostam tanto dessa história que a gente idealizou significa muito mais do que podem imaginar. Obrigada, de coração, por serem incríveis <3
EEEEEE a gente estava aqui pensando... o que vocês acham de uma #maratonadeCEM semana que vem, pré-carnaval? Se nós fizermos nosso esquema de três dias seguidos de posts a partir de terça, vocês vêm dar amor pra gente? (lembrando que a gente sempre pode prolongar se o engajamento for grande...)
Esperamos que estejam gostando!!! Não esqueçam da estrelinha e de nos dizer o que estão pensando da história (o que a gente ainda não entregou que vocês morrem de vontade de ler????)
Beijinhos,
Libriela <3
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