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Capítulo 38 - Talvez eu estivesse entendendo errado há um tempo

Talvez eu estivesse entendendo errado há um tempo


Eduardo

— Marcela Noronha — foi o que Henrique Francisco disse assim que nós três entramos no apartamento que, até onde eu sabia, estava um caos. — Eu não estou surpreso em te ver aqui.

Só que, dali onde eu estava, o caos não era tão grande assim. Havia, é claro, rodos e panos de chão no corredor, mas tudo parecia muito mais seco do que eu esperava encontrar, embora as marcas no piso deixassem claro que a água tinha quase chegado até a sala.

Leandro e Chicão estavam bem molhados e isso significava que eles tinham batalhado arduamente para que eu não estivesse praticamente nadando pelo apartamento agora. Até seu Vanderlei, o síndico, estava ali, falando com alguém no celular e vestido em um pijama bege digno de um senhor de quase setenta anos que só queria um pouco de paz à noite, mas tinha tido a péssima ideia de se tornar síndico de um prédio ao invés de aproveitar a aposentadoria.

Eu não sei se meus colegas de apartamento tinham, efetivamente, o chamado para ir ali (Seu Vanderlei era conhecido por sempre conseguir dar um jeitinho em problemas domésticos mais simples e claramente sabia que nós éramos três caras que não sabiam exatamente qual o uso de uma chave de fenda) ou se a histeria coletiva o tinha feito ir ali para ameaçar todos de multa, que era o que acontecia em quase todos os jogos do Atlético Mineiro. E quando a gente resolvia jogar truco – e nesse caso a culpa era mais de Leandro do que de Henrique Francisco.

Marcela ergueu as sobrancelhas, parando ao meu lado, assim como Cecília.

— Soube que precisam de ajuda especializada com um cano e aparentemente não era seguro me deixar sozinha com um jogo de facas muito caro mesmo — disse ela olhando de soslaio para Cecília após cruzar os braços e dar um sorriso gentil para Chicão. — E eu só venho aqui quando tem algum projeto muito atrasado, o que não acontece desde...

— O dia que você escalou a mesinha para beijar o Eduardo. É, eu me lembro muito bem — Chicão emendou e ergueu uma sobrancelha de forma muito, muito, enviesada para Marcela. — Só esperava te ver mais aqui depois do cruzeiro, é difícil abandonar o Edu depois que se convive muito com ele, eu sei como é. Aliás, Má, como foi a viagem?

Leandro, nesse momento, apareceu na sala e abriu seu sorriso estranho para Cecília, que retribuiu com a versão com menos gengiva do seu sorriso flerte esquisitíssimo que, de alguma forma, garantia para ele aquela fama de galã — vamos ser honestos, o cara era bonito e garboso, mas eu já tinha visto o meu sorriso flerte e sabia que dava para ser mais natural.

— Oi, beldade — foi o que ele disse antes de abraçar a minha irmã pela cintura e lhe dar um beijo que me fez desviar o olhar quando começou a ter língua demais. Talvez se eu fosse imponente como Marcelo Noronha, seu cabelo comprido, sua barba longa, a cara de mau e o porte físico de um bodybuilder ele não fizesse aquilo na minha frente. Marcela deu uma risada da minha careta e, quando eu olhei para Henrique Francisco Gadelha, soube que ele estava vendo muito mais na nossa troca de olhares do que realmente havia para ver. Lê finalmente desgrudou de Cecília e se virou para Marcela. — Eu estou muito feliz em te ver! Por favor, estala minhas costas de novo! Eu sou muito bonito para usar um rodo!

— Você é realmente bonito, Lê, mas usar um rodo te faz mais bonito e não o contrário — Cecília disse, passando o dedo pelo lábio dele para esconder o batom. — Eu amo quando você lava louça.

Ele abriu de novo o sorriso flerte esquisitíssimo que minha irmã parecia adorar.

— Você está a fim de sujar o que hoje, Cecília Senna? — Aquele olhar não era nada, nada, nada amigável. — Eu lavo.

— Foca no Senna e lembra que você está falando com a minha irmãzinha! — eu disse e balancei a cabeça, como se pudesse des-ouvir o que ele tinha acabado de insinuar — Eu não me importo que vocês façam, mas eu realmente não quero detalhes!

Marcelo Noronha nunca na vida tinha passado por isso, eu tenho certeza. Aposto que Patrício nunca disse que ia lavar louça para Marcele na frente dele. E eu que não seria louco o suficiente para dizer que ia lavar a louça para Marcela, mesmo que isso fosse verdade de forma literal e com zero insinuações por trás.

Felizmente, seu Vanderlei interrompeu aquela conversa quando desligou o telefone e olhou para todos os presentes ali.

— Os encanadores só vem amanhã, rapazes — anunciou para nós três e cumprimentou Cecília e Marcela. — Por enquanto, mantenham o registro fechado, porque não é algo que eu consiga consertar. Eles vêm no primeiro horário da manhã, mas, até lá, mantenham tudo seco.

— Eu estou molhado de água do banheiro e preciso de um banho! — Leandro resmungou, como se o coitado do seu Vanderlei tivesse culpa, enquanto Ceci fazia um carinho de consolo no seu braço.

— A engenheira mais foda da CPN está aqui, não é? — Chicão lembrou e pegou Marcela pelo braço, começando a arrastá-la em direção ao cano que tinha dado início ao pandemônio. Ela olhou para mim porque sabia que aquele comentário com certeza era muito mais meu do que de Henrique Francisco. — Por favor, salve o nosso banheiro, Má, e eu te prometo consultas oftalmológicas gratuitas para sempre. E eu quero ouvir a sua versão de como foi o cruzeiro, porque o Eduardo não me dá detalhes e eu realmente já sei detalhes demais sobre Leandro e Cecília.

Seu Vanderlei foi embora e eu os segui até o banheiro, porque sabia que Henrique Francisco ia pentelhar Marcela até que ela acabasse contando tudo o que ele queria saber ou lhe dando um soco na cara para que ele calasse a boca. E porque eu não queria ficar sozinho com o casal em lua de mel porque eu tenho quase certeza que Leandro tinha perguntado no ouvido de Cecília qual era a cor da sua calcinha e, por Deus, eu não queria saber a cor! Eu não queria!

— O cruzeiro foi ótimo — Marcela disse, se deixando ser arrastada pelo corredor. — Minha família adorou o Eduardo e ninguém duvidou que nós fossemos um casal de verdade, então, missão concluída com sucesso.

Chicão apontou o famigerado cano e Marcela se enfiou por baixo da pia com a lanterna do celular para olhar, em uma posição bem pouco natural.

— Eu nem consigo imaginar porque eles não duvidaram. Realmente, nem rola química entre vocês nem nada — Henrique disse e eu aproveitei para lhe dar um tapa na nuca enquanto ela não estava olhando.

— Você quer saber sobre o cruzeiro ou sobre como foi transar com o Eduardo? — Marcela perguntou, diretamente de baixo da pia. — Porque sobre um a gente pode conversar, sobre o outro eu vou deixar um espaço para a sua imaginação. Edu, ilumina aqui pra mim!

Ela estendeu o celular e eu me abaixei para colocar a lanterna em uma posição decente enquanto Chicão se sentava na tampa do vaso sanitário.

— Você não curtiu? — Chicão insistiu. — Porque o Eduardo adorou.

Puta que pariu. Às vezes a gente tem que pensar no que confidencia para os amigos que falam mais do que uma matraca. Eu tive a impressão que Marcela bateu a cabeça no armário, mas não quis realmente verificar e tentei lançar olhares de cala-a-boca para Henrique, mas eu só conseguia ver suas pernas.

Mentindo ele não estava, mas eu tenho quase certeza que não tinha dito essas palavras quando o assunto foi mencionado e a gente conversou sobre amizade pós sexo: delírio coletivo ou plenamente possível?

Felizmente, Marcela deu risada. Se depois de tudo ela não tivesse certeza da resposta, eu tinha feito alguma coisa muito errada porque claramente eu estava enlouquecido por aquela mulher. No cruzeiro.

— Por que você não me conta sobre o Tiago, Chico? — ela pediu. — Soube que rolam várias faíscas.

Marcela se moveu para sair dali e eu me movi junto para abrir espaço. Ela jogou os cabelos de volta para a posição original e eu coloquei o celular de volta na sua mão enquanto Henrique olhava para os azulejos da parede com aquele sorriso idiota de início de relacionamento. Embora Tiago e ele não falassem em "relacionamento" propriamente dito, mesmo que o dentista estivesse a um passo de se tornar o quarto morador da nossa casa — aparentemente Camilo ainda não tinha tirado o galão de leite da geladeira e Tiago estava prestes a tomar medidas drásticas sobre o assunto, então aproveitava todo o tempo distante que pudesse ter.

— Ah, Má, ele é ótimo. Sorriso mais lindo que eu já vi, adora o Eduardo e o Leandro e não fica entediado quando eu conto sobre as cirurgias. Eu contei em detalhes sobre um transplante de córnea e ele ficou interessado até o final — contou ele e Marcela sorriu.

— Eu acho isso uma verdadeira prova de amor. — Ela olhou para mim e nós rimos juntos, porque o Mick Jagger de Taubaté tinha espantado Marcela exatamente com uma descrição cirúrgica e foi assim que eu acabei conseguindo várias imagens de pênis para ela.

Tanta coisa tinha acontecido depois disso que parecia que tinha sido há alguns milênios.

— Eu acho que amor é uma palavra muito forte — Chicão disse, mas parou o raciocínio para responder uma mensagem que eu tinha certeza que era de Tiago porque ele fez muito esforço para não sorrir (só porque a gente estava olhando, com certeza).

Ergui as sobrancelhas e soube que Marcela também percebeu porque ela fez a mesma coisa.

— Sobre o cano — ela disse, chamando a atenção de Chicão de volta em um momento muito crucial, porque ele esquecia até de prestar atenção nos jogos para falar com Tiago, embora eu e Leandro não estivessemos jogando isso na cara dele ainda. — Definitivamente estourado, então não dá para fazer um reparo básico para segurar até os encanadores. Pelo que eu consegui ver, não é só uma rachadura e assim que vocês abrirem o registro vai voltar a vazar, então, nada de água por hoje.

Chicão encarou com pesar as roupas do consultório que ainda estava vestindo e agradeceu Marcela pela ajuda, de todo modo. Ele colocou o celular no ouvido e saiu do banheiro falando quando Tiago atendeu — eu juro que ele atendeu falando "oi, lindo", porque o áudio estava bem alto e eu ia contar para o Leandro para a gente chamar ele de lindo pelos próximos dez anos.

Então eu olhei para Marcela.

— Eu posso entender sua saída pela tangente quando Chicão perguntou se você tinha gostado de transar comigo como algo tipo "não estou pronta para admitir que foi incrível"? — Marcela rolou os olhos com força, mas eu vi um sorriso no canto dos seus lábios.

Eu adorava ser petulante com ela e provavelmente aquele sorriso era um dos motivos.

Ela não respondeu e me deu as costas, indo direto para a sala, mas eu quis acreditar que a gente não teria acabado transando em cada lugar em que conseguíamos um pouco de privacidade se não tivesse sido bom para ela da mesma forma que foi para mim.

Leandro e Cecília estavam com um vinho quando nós chegamos na sala e eu só entendi o motivo quando Ceci abraçou o ombro de Marcela e a puxou para perto. Chicão apareceu enfiando o celular no bolso e encarou a cena.

— Marcela topou fazer o restaurante! — ela anunciou e Chicão e Leandro, que não sabiam da informação ainda, comemoraram alto enquanto Ceci batia palmas para Marcela. — Uma das milhares barreiras que eu vou ter que superar pra isso dar certo foi vencida e eu estou mega feliz que, além de um projeto sustentável que vai casar com todo o conceito de sustentabilidade e consciência ecológica para além dos ingredientes com boa procedência e não consumo de carne, seja assinado por uma mulher! Obrigada, Marcela!

Ela abraçou Marcela de novo e a engenheira retribuiu. Eu sabia que ela não precisava fazer aquilo e que seria foda e chegaria onde quisesse independente desse projeto, mas eu estava feliz por ela ter topado aquela loucura consciente comigo e, especialmente, porque aquilo ajudaria Cecília de verdade — talvez Marcela não tivesse notado, mas Cecília estava realmente aliviada por ter sua ideia saindo do papel e era um grande, enorme, gigantesco começo para que ela realmente seguisse seu sonho, porque entre uma garrafa de vinho e outra enquanto passava muito mais tempo do que o normal enfiada no seu apartamento, ela considerava pedir perdão para Claude mesmo que fosse um milhão de vezes mais talentosa do que ele simplesmente porque ficava assustada com a ideia de ser uma chef nova, em um restaurante para o qual muita gente iria franzir o nariz justamente por ser exatamente do jeitinho que Ceci queria, com uma culinária totalmente consciente.

Foi Leandro quem serviu o vinho nas taças de time de Chicão, que eram as únicas que tinham sobrevivido a todos aqueles anos morando juntos — provavelmente porque nossas taças finas tinham quebrado até com o vento e aquelas ali resistissem a quedas muito bem para serem realmente de vidro.

— Ah, sabe, foi o desafio que me seduziu, Ceci — Marcela disse com uma piscadinha e ergueu a taça para ela.

— A Horta Verde da Cecília! — Leandro continuou o brinde.

— Deus do céu, o nome não vai ser esse, mas agradeço a intenção — ela disse dando risada e levantou a taça também.

— Todo sucesso à horta! — Chicão implicou e Cecília rolou os olhos, mas o sorriso no canto da boca permanecia ali e eu realmente estava feliz por ele.

— Aos sonhos se realizando — eu disse e juntei minha taça a deles e eu juro que Cecília começou a piscar muito rápido para não chorar.

Leandro percebeu esse fato quando nós batemos as taças e demos o primeiro gole, então ele a abraçou pelos ombros e deu um beijo em sua testa. Ok, talvez eles juntos não fosse esquisito, no fim das contas.

Ela estava feliz e todos estavam felizes por ela, porque Ceci merecia realizar seu maior desejo desde que descobriu que gostava de cozinhar, ainda quando nem realmente sabia dar ponto nos aspargos.

Várias conversas sobre o restaurante seguiram e Cecília contou planos e mais planos que ela e Dani tinham feito, falando sobre fornecedores de insumos orgânicos, sobre testar novas receitas e sobre como era difícil achar um fornecedor legalizado de palmito, eventualmente parando para perguntar algo sobre o projeto e o que eu e Marcela tínhamos em mente, embora não houvesse um projeto pronto ainda.

Tudo o que nós sabíamos era que teria bioconcreto. E bambu. E então eu me dei conta de algo.

Joguei o braço por cima dos ombros de Marcela e ela tombou a cabeça para mim enquanto eu sorria dando um gole nos meus dois dedinhos de vinho porque eu ainda tinha que dirigir para levá-la para casa. Eu sorri do jeito que eu sabia que a irritava, o mesmo sorriso que Chicão dizia que deixava claro que eu não era um bom moço.

— Percebeu algo? — perguntei e ela franziu o cenho, algo que provavelmente só ficava bonito nela, no mundo inteiro, porque o resto de nós mortais ficaria exatamente como um shar-pei. — Você oficialmente aceitou meu bambu!

Ela começou a rir e eu lembrei que o corpo de Marcela vibrando encostado no meu era uma sensação viciante.

Quando a gente percebeu que não tinha água nem para lavar as taças sujas, algo ficou bem claro que não ia dar para ficar ali. Chicão começou a reclamar sobre desodorante vencido porque ele não tinha conseguido tomar um banho antes de todo o caos e Leandro sobre estar molhado de água de banheiro e isso ser inaceitável.

Bom, eu também queria tomar outro banho, mesmo que eu tivesse feito isso antes de invadir o apartamento de Marcela para suborná-la com comida, então talvez a minha situação fosse a menor calamidade que havia ali.

Foi bem fácil resolver o problema quando Tiago chamou Chicão para ficar com ele e Cecília convidou Leandro e eu para o apartamento dela. Talvez tenha sido a minha cara que disse que eu não queria ter que lidar com o casal maravilha "lavando louça" que fez com que ela desse a sua segunda sugestão: fica na Marcela e vocês discutem o projeto.

Claro que o fato de ela olhar para Henrique Francisco, que faria qualquer coisa para que eu ficasse sozinho com Marcela Noronha, denunciou que seu interesse, naquele momento, tinha bem pouco a ver com o projeto — mas, para ser sincero, eu não reclamei quando Marcela disse que seu sofá extensível era bem macio e "ofereceu" (não sei se a gente pode chamar de oferecer quando a pessoa é quase coagida) morada para um pobre arquiteto que não queria ser profanado por Cecília e Leandro, e aceitei sua proposta muito mais rápido do que qualquer conceito de dignidade comportaria.

Mas meu foco não era na dignidade, naquele momento.

Também ficou muito óbvio que a louça que Cecília tinha deixado para preparar o jantar (muito mais do que um ser humano normal deixaria, provavelmente porque ela estava acostumada a não ter que lidar com a louça trabalhando como sous chef) tinha que ficar por minha conta, porque Cecília tinha cozinhado e Marcela, além de não ter concordado com o jantar para início de conversa, tinha ido até o nosso apartamento para olhar um cano quando podia ter ficado descansando. Então, sim, era o justo.

E foi exatamente assim que aconteceu. Eu juntei alguns itens básicos para dormir e ir trabalhar no dia seguinte e fomos para o apartamento de Marcela apenas eu e ela — porque eu prometi para Cecília que contaria suas facas caríssimas e que não usaria o lado áspero da esponja para lavar suas panelas.

Foi mais ou menos quando eu estava na metade da louça que ouvi Crazy começar a tocar no ambiente e Marcela passou atrás de mim para pegar um pano de prato e começou a enxugar tudo. Eu estava muito concentrado em não arrancar um dedo lavando as facas afiadíssimas de Cecília — segundo ela, cortes eram causados por manuseio de facas sem fio e não o contrário, mas havia um jeito certo de lidar com aquelas lâminas cirúrgicas de tamanho extragrande — então levei um segundo para me dar conta de que ela não deveria estar fazendo aquilo.

— Achei que eu tinha dito que a louça ia ficar para mim — eu disse e senti seus olhos queimando meu perfil, porque se eu tirasse o olho daquela faca ia provavelmente fazer Marcela ter que dirigir até um hospital para a gente tentar reimplantar a minha mão. Fora, é claro, que eu lidava muito mal com sangue e provavelmente eu ia estar verde e molengo no chão antes que conseguisse pensar que estava sem uma mão.

Ela simplesmente deu de ombros e se esticou para guardar um copo no armário.

— Eu não sou do tipo que fica olhando enquanto os outros trabalham — ela disse e eu enxaguei a faca, aproveitando para olhar para ela. — Especialmente você, né, Edu? A gente trabalha em equipe há muito tempo.

Ela estava muito atenta secando a faca. Provavelmente aquela coisa causava medo em todo mundo.

— Você torna o lance do cavalheirismo algo muito mais complicado do que precisa ser, Má — eu disse e ela colocou a faca sobre a bancada, se afastando dela o mais rápido possível. Pena que ainda havia pelo menos mais umas quatro ali, porque aparentemente cada faca tinha uma função muito específica. — Assim fica muito difícil conquistar seu coração.

Ela me empurrou com o quadril e eu dei um passo para o lado. Infelizmente, eu estava lavando uma colher e espirrou água para todo o lado, inclusive nela.

— Lavar louça é mais o lance da Cecília, Edu — Marcela disse, dando risada para implicar comigo enquanto eu fazia careta. — Você mexe mais comigo quando fala que eu sou a engenheira mais foda da CPN, porque obviamente Chico não teria uma opinião sobre esse assunto que não fosse a sua.

Sorri para ela e entreguei outra faca super cortante.

— Seu apartamento inteiro está pintado de amarelo por causa de uma obra, Má — apontei genericamente para a direção da sala. — Você é a engenheira mais foda da CPN e até Chicão, que não sabe nada sobre nossos projetos, chegaria a essa conclusão sozinho.

— Mas ele está muito preocupado com o Tiago para notar isso agora — Marcela observou e eu apontei um garfo para ela para concordar com seu raciocínio.

Ela continuou secando a louça até notar que eu tinha parado de lavar e apenas estava olhando para ela.

— Você não vai nem falar "Eduardo, você é um arquiteto decente"? — perguntei e ela riu, franzindo o nariz daquele jeito adorável que eu tinha percebido no cruzeiro.

— Cavalheirismo não é uma via de mão dupla, Eduardo Senna — foi sua resposta e eu fingi estar aborrecido, o que deixou tudo mais divertido para ela.

More Than Words foi a música da vez.

— Nunca mais te apresento uma playlist tão legal depois disso. Você vai ter que seduzir caras com as suas sofrências sertanejas para sempre — desdenhei.

— Se eu bem me lembro, Evidências seduziu você, arquiteto decente — desdenhou de volta — e, diferente de você, eu sou bem eclética. Ou você esqueceu que a gente concordou que Cage the Elephant era um bom gosto mútuo?

De novo, não era mentira.

— Foi My Heart Will Go On que me deixou no clima, bonitona — brinquei de volta e ela riu.

Talvez fosse meio mentira, porque eu tinha certeza que o que era afrodisíaco para mim era Marcela e qualquer abertura que ela me desse. No cruzeiro, provavelmente eu comentaria isso, mas nós estávamos tentando ser amigos, então deixei o crédito para Celine Dion mesmo.

Nós terminamos de lavar a louça discutindo sobre Marília Mendonça colocar ou não uma pessoa no clima e chegando à conclusão que a maioria das músicas falavam sobre infidelidade, então a perspectiva não era muito boa, embora eu tivesse dado o braço a torcer por Evidências e uma ou duas músicas de Jorge e Mateus. Mas ela também teve que concordar que Do I Wanna Know?, do Arctic Monkeys, era a prova de falhas. Pensei em falar sobre Pillowtalk, mas eu tinha conhecido aquela música com Tamara e com Marcela tinha sido... diferente.

Mesmo com toda a questão do cano e a montanha de louça suja, ainda estava cedo demais para qualquer um ir dormir, então foi meio que um consenso quando Marcela e eu decidimos assistir alguma coisa juntos.

— Terminou Emily em Paris? — perguntou Marcela, ziguezagueando pelas opções da Netflix porque em uns cinco minutos a gente não tinha achado nada ainda.

— Terminei. — Suspirei, tombando a cabeça para olhar para ela. — Nossa relação vai estar seriamente comprometida se você gostou daquele final.

Marcela riu e negou com a cabeça.

— Responsabilidade afetiva foi zero ali, sinceramente — ponderou e eu anui, porque a talaricagem não foi nem disfarçada. — Mesmo o Gabriel sendo um gato.

— Relação mantida com sucesso — eu brinquei e Marcela riu, passando direto por Emily em Paris.

Nós tínhamos acabado de decidir pela estreante Amor e Anarquia quando senti meu celular vibrar no bolso.

Cecília: Deixei cheesecake na geladeira! É o de goiaba que você gosta

É claro que Chicão tinha me mandado várias figurinhas diferentes cheias demais de coração, mas essas eu ignorei.

— Ceci deixou cheesecake na geladeira, Má — disse, enfiando o celular no bolso da calça de novo.

— Sua irmã é a minha pessoa preferida no mundo nesse momento — Marcela disse antes de saltar do sofá e ir até a cozinha com um sorriso muito satisfeito no rosto.

Ela voltou com duas embalagens individuais com mini cheesecakes e duas colheres, me entregando uma de cada. Sofie, na tela, mal tinha começado a brigar com o Max por estar fazendo o maior barulho com uma furadeira e não a estar deixando trabalhar quando eu me perdi para olhar Marcela lambendo aquela colher de um jeito tão sensual que deveria ser proibido por lei se não fosse de propósito.

Eu assisti sua língua passando pela cheesecake com tanta contemplação quanto ela olhava para Max, o garoto que eu ainda não tinha decidido se era um galã feio ou não.

Deus do céu, será que ela tinha consciência do que aquele simples movimento fazia com quem a olhava? Porque, por um momento, foi como se tudo em volta sumisse e eu só conseguisse olhar o quanto ela era linda.

Concentrei minha atenção de volta na tela. O cheesecake acabou e Marcela pegou o número de Cecília apenas para falar que era absolutamente delicioso — o que eu já sabia, porque Cecília era obrigada a fazer aquilo em todas as oportunidades porque ninguém tinha a mão dela para preparar aquilo — e nós continuamos vendo a série.

Concordamos que o Max era galã-não-feio.

Também concordamos que o marido da Sofie era um tremendo chato que não merecia aquele mulherão.

A aposta do batom nos fez rir algumas vezes, especialmente quando Max... Bem, talvez ele tenha estragado algo para a editora onde eles trabalhavam quando mexeu nas sobremesas, mas foi bem engraçado.

Friederich era a prova de que quanto mais você odiasse um personagem, mais ia pagar a língua depois.

Claro que não dava para ignorar a talaricagem ali, mas era uma boa série. Os episódios eram bem curtinhos e eu acabei vendo até o final junto com Marcela, mesmo sabendo que provavelmente seria um caos acordar no dia seguinte depois de uma maratona daquelas.

Nós estávamos sentados lado a lado no sofá quando eu percebi que ela estava começando a demorar muito para abrir os olhos após cada piscada, especialmente quando eu disse que ela podia colocar os pés em cima de mim e comecei a fazer massagem nos seus dedos sem nem me dar conta.

— Má — eu chamei e ela abriu os olhos mais rápido. Felizmente, eu tinha chamado baixinho, ou ela acabaria levando um susto. — Acho que você precisa dormir.

Ela cobriu a boca com a mão para bocejar e desceu os pés do meu colo ao anuir.

— Você também precisa e acho que vai ser impossível com esse cheiro. — Apontou vagamente para as latas de tinta espalhadas pela sala. De fato, o cheiro estava bem forte, mas eu não ia reclamar disso quando ela estava sendo muito mais legal do que precisava ser. — Pode vir para o quarto comigo, se você quiser. — Ergui as sobrancelhas e ela ergueu as dela ao mesmo tempo. — De forma amigável, Edu.

— Se você resistir... — gracejei e ela bateu com a almofada no meu ombro.

— Você não é tudo isso, Eduardo, eu consigo — foi a vez dela de gracejar.

— E se eu sussurrar quanto você é uma engenheira foda no seu ouvido? — Ela ergueu uma sobrancelha e depois a outra. — Talvez eu mencione que você faz os melhores prédios do Brasil e ainda tem pernas incríveis...

— Cala a boca, Eduardo — ela disse, rolando os olhos e eu olhei para o seu rosto.

— Ok, vou tentar conter o meu charme — disse e peguei minha mochila da academia, onde estavam algumas roupas que eu tinha juntado antes de sair do apartamento. — Você se importa se eu tomar um banho antes? Eu não consigo...

— Dormir com o corpo quente — Marcela repetiu o que eu costumava dizer. — Eu sei.

Ela se levantou e eu a segui pelo apartamento, notando que tudo ali era moderno e prático e combinava com ela como se tivesse sido escolhido a dedo — provavelmente porque tinha sido mesmo. As cores eram sóbrias e combinavam entre si, mas nada era tão Marcela quanto o seu quarto, que eu estava vendo pela primeira vez. Havia livros em uma prateleira, alguns de engenharia e outros de ficção. Ela tinha um planner magnético onde toda a sua semana parecia estar organizada e a bancada com o notebook era totalmente abarrotada, o que dizia que ela realmente levava muito trabalho para casa. Marcela Noronha era realmente uma pessoa muito esforçada e merecia todo o reconhecimento que a CPN lhe desse e mais.

Marcela me indicou o banheiro da sua suíte e eu tive o bom senso de levar minha roupa para dentro para me trocar lá, porque não estávamos mais nos famigerados sete dias de deixar rolar, embora tudo dentro do box dela meio que me lembrasse do navio.

Os mesmos frascos de shampoo que eram o cheiro do seu cabelo, os cremes, o fato de que absolutamente tudo ali tinha o cheiro do hidratante que ela usava — que eu tinha descoberto recentemente que era de cupuaçu — e eu sentia como se a qualquer momento ela fosse entrar ali e puxar meu rosto e meus lábios para os seus, com as suas mãos escorrendo pelo meu tronco como se ela estivesse explorando cada pedacinho de mim, naquela tortura lenta que ela fazia comigo e que me fez descobrir que eu não me importava que ela fizesse.

Só então eu me dei conta de que, desde o fim do cruzeiro, aquela noite tinha sido a que nós dois mais tínhamos sido nós dois, porque não precisava ser um gênio para perceber que Marcela e eu estávamos evitando ficar sozinhos desde que tínhamos voltado.

A gente ainda trabalhava juntos, conversava diversas vezes por dia, trocava as mesmas farpas e, quando eu estava inspirado, as cantadinhas de sempre. Mas algo estava diferente. Não era mais a mesma coisa de antes do cruzeiro, pelo menos não para mim.

Eu não sei quais as razões de Marcela, mas, eu percebi que aquele fogo que queimava toda vez que ela estava perto de mim no cruzeiro continuava queimando, mesmo que supostamente devesse passar depois de um tempo. Mas cada dia parecia pior. Cada vez que eu colocava meus olhos nela, queimava um pouco mais.

E não era para ser assim. Quero dizer, nós éramos amigos. Eu estava com tesão. Eu já tinha ficado com tesão antes e sempre passava, então porque eu ainda sentia que se Marcela Noronha desse qualquer, por menor que fosse, indício de que se sentia da mesma forma, eu ia gostar muito?

Mas ela não dava, o que era um sinal claro de que eu precisava parar de pensar nela daquele jeito, ou as coisas ficariam estranhas para sempre. Eu gostava de nós dois juntos discutindo projetos, comendo cheesecake e dando risada de séries de qualidade duvidosa, então eu não podia estragar nossa amizade porque a gente tinha transado algumas vezes.

Embora...

Tomei uma última ducha de água fria e saí do banheiro vestindo um moletom e uma camiseta preta que estava por cima quando eu abri a mochila.

Marcela estava dormindo quando eu me sentei ao seu lado na cama, tomando o cuidado de não soltar o meu peso rápido demais e acabar a acordando. Coloquei as pernas para cima com cuidado e, quando afundei a cabeça no travesseiro, o cheiro dela novamente se apossou do meu olfato.

Eu olhei as pintinhas no seu nariz, que tinha um formato perfeito. Os cílios eram só um pouquinho mais escuros do que o seu cabelo, que estava esparramado sobre o travesseiro, brilhante e bonito como sempre era. Ela respirava devagar em um ritmo contínuo quando eu levei meu polegar até sua bochecha e arrastei ali por um segundo, sentindo sua pele quente contra a minha e torcendo para ela não abrir os olhos e me achar um esquisitão, porque eu literalmente estava olhando enquanto ela dormia.

Contornei seus lábios com o polegar e ela se remexeu delicadamente. Eu achei o som baixo que escapou de sua boca lindo.

Então, eu percebi que parecia certo estar ali, que dividir a cama com ela fazia mais sentido do que dormir sozinho. Que finalmente eu não estava me sentindo esquito e que... Que o que eu sentia por Marcela Noronha era mais do que eu achava que era.

Porque se fosse apenas amizade e tesão, como eu estava supondo, eu estaria pensando em transar com ela e não em a puxar para perto e beijar seu cabelo enquanto ela dormia em cima do meu peito. Eu estaria sentindo falta dos seus gemidos e não da proximidade.

Talvez Chicão tivesse razão e não desse para voltar a amizade depois que você transa com uma pessoa várias vezes — pelo menos não se você começa a gostar dela. E ninguém estava mais surpreso que eu ao perceber que era exatamente esse o caso: eu gostava de Marcela Noronha. Não como eu gostava de uma amiga. Um pouco mais. Talvez bem mais. Talvez eu estivesse entendendo errado há um tempo, inclusive.

Eu não quis pensar, naquele momento, se era recíproco ou não, porque eu só queria ficar perto dela, como se isso pudesse acalentar a minha recém-descoberta, então deslizei pela cama até ficar apenas a uns poucos centímetros de distância daquela mulher.

Marcela, como se sentisse minha presença ali, jogou o braço sobre o meu tronco e apoiou a cabeça no meu ombro, enroscando as pernas nas minhas de um modo absolutamente natural.

Simplesmente encaixou e... Caralho, aquilo era tão certo.

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Ora, ora, se não é a sua atualização preferida!!!

Segundo dia de #maratonadeCEM veio com tudo com O EDU PERCEBENDO QUE GOSTA DA MARCELA E O PÚBLICO VAI A LOUCURAAAAAAAAAAA

Só foi necessário um namoro de mentira, um cruzeiro de sete dias, algumas noites de amor e um cano estourado. Pacote básico de todo o romance, né, gente?

O que vocês acham? Edu foi seduzido por My Heart Will Go On ou Evidências? Eu acho que o sertanejo jamais vai falhar nesse tipo de momento.

E agora, leitores mais lindos desse Brasilzão, o que será que a gente tem planejado para os próximos capítulos? Algum palpite ou teoria da conspiração? Já vi que tem gente querendo a demissão do Edu e outras pessoas esperando que os dois vão abrir uma construtora própria? Mais algum plot que queiram compartilhar?

Espero que estejam amandooooooo!!! Não esqueçam da estrelinha e de nos contar o que estão curtindo ou descurtindo. Críticas e sugestões e elogios são sempre bem vindos aqui!!!

Para quem curte o nosso cast da HORA DO MATCH, pode conferir lá que temos alguns personagens vagalumes que começaram a brilhar e a gente não resistiu fazer um card deles!!! O que acharam?

Obrigada por serem maravilhosos <3 Ontem o capítulo foi um surto e  nós surtamos junto com todos vocês (e a gente está sinceramente cogitando continuar indefinidamente a maratona enquanto vocês engajarem assim...)

Foi contadinho na vírgula os comentários e a gente decidiu que duas pessoas dedicaram unhas e coração ontem, então vamos premiar as duas pessoinhas com um spoiler... vocês vão ver hehehe

Beijinhos,

Libriela <3

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