Capítulo 27 - As Pérolas da Família
As Pérolas da Família
Marcela
Eu olhei para o relógio em cima do bar e suspirei, pois eu tinha certeza de que vovó se atrasaria para o nosso café da tarde, mas eu estava esperando fazia mais de trinta minutos, né?
Eu estava tão aborrecida que finalmente tirei o livro pesadíssimo que eu levava em minha bolsa e continuei a ler da página 327 que era onde eu parei a leitura.
— Isso não tem cara de ser uma leitura por diversão — alguém comentou e uma taça de Brise Marine, eu aprendi o nome do meu novo Rosé preferido, apareceu na minha frente junto com o meu barman favorito.
— Como assim? Esse livro é incrível! — eu perguntei quase indignada, levantando para que ele pudesse ler o título "Pontes em Concreto Armado" e eu acabei rindo do seu olhar de horror — eu estou me enrolando faz umas semanas pra terminar o livro, então por que não agora?
— Você está de férias, Marcela — Gustavo pontuou enfaticamente olhando para o meu livro com uma reprovação explícita e eu bufei, fechando a página e o guardando na bolsa. Ele ia ficar fechado por mais umas semanas se eu bem me conhecia — a sociedade tem um nome para pessoas como você, sabia?
— Dedicadas? — eu peguei minha taça e tomei um gole. Aquele vinho tinha gosto de piscina, sol e verão, enchendo minha boca com aquela sensação de que eu poderia beber a garrafa inteira que não teria ressaca no dia seguinte.
Eu tirei uma foto da garrafa que estava ao lado de Gustavo e mandei para Romeu, que imediatamente mandou várias figurinhas apaixonadas. Para o barman ou para o vinho? Eu não sei dizer, mas tenho um palpite.
— Workaholic — ele tossiu as palavras e eu quase conseguia escutar a voz de Alessandra Noronha falando comigo.
— Eu amo meu trabalho, não há nada de errado com isso — eu me inclinei para frente — você fica sem preparar drinks e ler sobre cervejas fora do bar? — ele abriu a boca para me responder, porém eu o calei com o meu olhar — eu sei que não, então não venha com desculpinhas fracas.
— Agora eu entendi porque o seu primo estava dizendo "meus pêsames" para o Eduardo. Ele ganha alguma discussão? — ele me perguntou e eu apenas ri, arrumando os meus cabelos.
— Teve uma época que eu pensei em ser advogada, imagina que amor de pessoa eu seria — eu comentei e ele apenas franziu o cenho para aquela opção.
Eu tomei mais um gole da minha taça e verifiquei o horário de novo. Quarenta minutos atrasada e contando.
— Esperando o Eduardo? — ele indagou despretensiosamente e eu sorri.
— Minha avó, na verdade — comentei e ele me deu aquele seu olhar de quem achava algo fofo, porém não queria dizer — combinamos de tomar um café da tarde, mas ela está atrasada.
— Não se faz mais avós como antigamente — ele estalou a língua no céu da boca e eu estreitei meus olhos na sua direção.
— Cuidado, existem mais de vinte Noronhas neste navio prontos para defender a honra da nossa matriarca — eu comentei e ele assentiu com um pouco mais de respeito, pois com certeza ele se lembrava de Marcelo e seus muitos quilos de músculo.
— Eu adoro sua avó, ela ama a Eugência — ele me disse e eu concordei. Realmente ela estava bebendo aquela cerveja em quase todas as refeições e a tia Marília estava prestes a ter uma síncope nervosa.
— E ela gosta do seu rostinho bonito — eu respondi, pois ela havia anunciado aquilo quando eu e Bruna estávamos falando sobre quais azulejos ela e Enzo colocariam no box da suíte.
Demorou um tempo, mas eu finalmente consegui convencer Bruna de colocar o Revestimento de parede Portinari Blues Abstract Mix Lux brilhante, porque ele era uma placa maior com menores chances de infiltração e a sua durabilidade era melhor do que as dos demais. Agora o problema era convencê-la que ele deveria ser usado apenas para parede e para o piso ela tinha que encontrar algo mais resistente e menos poroso.
— Ah, eu tenho um rostinho bonito? — ele sorriu para mim, aquele mesmo sorriso mole que ele entregava para todas as minhas primas, porém Gustavo já não me afetava mais, porque, bem... quando Eduardo Senna frequenta a mesma cama que você, é meio difícil querer reparar em qualquer outro homem.
— Eu tenho namorado — eu cantarolei as palavras para ele, recebendo uma foto no grupo da família em que Eduardo estava abraçado com meu pai e meu avô, os três usando chapéu de marinheiro, então eu apenas fiz o que qualquer outra pessoa faria.
Eu mandei mais de quinze "hahahaha's" e coloquei aquela foto como meu novo protetor de tela.
— É, eu to vendo — Gustavo comentou e eu desviei meus olhos da imagem.
— O que? — eu perguntei, esquecendo-me do que estávamos falando.
— Nada — e ele se afastou para atender outra pessoa que havia surgido para pedir uma fanta uva.
Quem pedia uma fanta uva? Não existia nada mais radioativa e cancerígena do que aquela bebida.
— Cadê seu namorado de mentira? — uma voz manhosa me perguntou e eu não precisei tirar meus olhos do celular para saber que Valentina havia se sentado ao meu lado.
— Bem aqui — eu lhe mostrei a foto e posso jurar que ela chegou até a sorrir com aquilo, mesmo que seus lábios só tenham subido um pouquinho — com certeza se divertindo bem mais do que eu aqui esperando a vovó.
— Ah, ela está vindo. A Bruna alugou a vovó para pedir o colar e brinco de pérolas para o casamento — Val me explicou e eu assenti meio assustada, pois faltava dois anos para ela e Enzo juntarem as escovas.
Deus, eu não sabia nem qual era o meu projeto do trimestre que vem e ela já havia planejado sua vida pelos próximos cinco anos.
— E ela vai emprestar? — eu indaguei, pois a Bruna tinha a péssima fama de perder tudo o que tocava, por isso o Enzo deu uma aliança verdadeira que estava guardada no cofre da casa da tia Vanessa e o que ela usava no dedo era praticamente a quinta aliança de latão que ele comprava.
Ninguém ousou discutir, porque ele tinha mais do que razão.
— Fica o mistério, você sabe como a vovó tem apego com as jóias dela — Val deu de ombros e sorriu para o Gustavo — uma cerveja? Ou uma caipirinha?
— A gente combinou que tinha que ter um adulto responsável ou o seu pai arrancaria minhas mãos — o barman disse e eu realmente acreditei na ameaça, pois o tio Cris era muito protetor com a Val, principalmente porque ela adorava desobedecer todo mundo.
— Eu fico como adulta responsável pela peste, Gus — eu apontei para a minha taça e ele a repôs com agilidade, jogando a garrafa para cima e a pegando de volta sem derramar um pingo — o que quer beber, Val?
Ela me olhou com surpresa e eu acho que ela quase iria me agradecer se não tivesse se lembrado com quem estava falando, então apenas revirou seus olhos dramaticamente.
— Cosmopolitan — ela disse com o rosto neutro e eu meneei minha cabeça para Gustavo.
— Uma mimosa está ótimo para ela — eu pisquei para ele e o rapaz começou a preparar o drink.
Valentina, por sua vez, não reclamou que eu troquei a sua bebida e começou a digitar freneticamente no celular e eu esperava que ela não estivesse me dedurando no grupo da família, pois isso seria muito chato da parte dela.
— E como vai o colégio? — eu indaguei, puxando assunto com ela para passar o tempo mais rápido e porque nós duas nunca conversávamos sobre a vida. Apenas farpas pra lá e insultos pra cá.
— Um saco. Eu odeio todo mundo e mal posso esperar para acabar — ela resmungou e eu ri, pois eu sentia exatamente a mesma coisa na idade dela — ah, e nem venha me dizer "aproveita, porque é a melhor época da sua vida e você vai desejar ter de volta", porque isso não cola comigo não — aposto que ela estava imitando a tia Marília.
— Eu odiava o colégio também e eu acho que o saudosismo é normal, mas eu amo a minha vida de agora. Não é o que eu imaginava quando eu tinha a sua idade, mas eu acho que é perfeita para mim — eu lhe contei e o Gustavo trouxe a bebida de Valentina com um sorriso conspirador na minha direção.
Se eu bem o conhecia, ali havia suco de laranja e guaraná — e nenhuma gota de espumante —, mas a Val não precisava saber disso já que a gente estava começando a se dar bem, não é?
— Af, Má, você tem a vida dos sonhos — ela disse e arregalou os olhos quando as palavras deixaram seus lábios. Acho que meu rosto era um reflexo do dela, pois eu tinha certeza que minhas sobrancelhas estavam tão arqueadas com a surpresa que elas estavam em arcos perfeitos — quero dizer, você mora em outro estado sozinha faz uns dez anos. Você tem um trabalho fodástico. Você é um gênio encarnado. E agora você ainda apareceu com o namorado perfeito. É horrível ser a sua prima.
— Val... as coisas não são perfeitas como parece — eu tentei dizer, porém ela olhou com raiva para sua tacinha de suco de laranja e a tomou com um gole violento.
— Má, eu ouço todo dia "a Marcelinha construiu esse prédio que está nos top 10 do mundo", "Marcelinha se mudou para um apartamento lindo por conta própria", "Marcelinha vai viajar para o Uruguai com seus amiguinhos", "Marcelinha tá conquistando o mundo em São Paulo" — ela rosnou as palavras para fora e eu enxerguei muito mais de Marcelo nela do que antes — e aí meus pais olham para mim, querendo saber o que fizeram de errado para eu não ser uma versão mais nova sua.
Eu abri meus lábios, mas nenhum som saiu dali por mais ou menos um minuto, porque em um milhão de conversas que eu imaginei ter com Valentina, nenhuma delas seguia por este caminho.
— Val. As coisas não são o que parecem e você tem que parar de se comparar a mim, porque eu sei que você é um crânio. Ganhou cinco vezes o prêmio de melhor redação da sua escola. A gente escuta essa história todo natal — eu comecei a falar e coloquei minha mão sobre a sua quando ela tentou me interromper. Por que as pessoas simplesmente não me deixavam terminar meu monólogo? — cada um é diferente. Você não vai ter as minhas vitórias. Vão ser as suas e isso vai ser muito melhor. Se eu saí de casa aos dezoito não significa que você fracassou se sair aos vinte, tá? Cada um é cada um.
— Mas é tão difícil — ela sussurrou e eu passei meu braço pelo seu ombro, puxando-a para um pouco mais perto.
— Nunca vai ser fácil, mas todo mundo vai te dizer que é, porque ninguém quer parecer que está batalhando mais do que o outro — eu fiz um carinho em seus cabelos, notando que ela se aconchegou para mais perto de mim e eu mordi um sorriso — as vezes, eu tenho tanta saudade de casa no meio do dia que eu vou chorar no banheiro do trabalho, sabia? As vezes eu passo meses em um projeto para meu gestor mudar tudo do dia para noite. As vezes só o fato de eu ser mulher tira metade do mérito que eu mereço. E quer saber? É uma droga mesmo, mas o que importa é que eu tenho mais momentos felizes. E eles são muito maiores e melhores. Eu tenho sempre o Romeu e o Getúlio me esperando em casa com histórias engraçadíssimas, eu tenho uma lista de restaurantes no delivery que entregam tudo o que eu quiser a qualquer hora e eu amo o meu trabalho mesmo com todos os desafios.
— E tem o Edu — ela comentou baixinho e eu engoli a seco.
— E tem o Eduardo, que me tira do sério a maior parte do dia, mas é uma das pessoas que está do meu lado quando as coisas dão errado. Ele sempre está ali para saber se eu estou bem e me ajudar a encontrar uma solução, mesmo quando os problemas não tem nada a ver com ele... — minha voz morreu, porque isso era completa verdade, só que agora parecia que as coisas possuíam detalhes que eu não enxergava antes.
— Eu gostei dele, viu? Muito mais do que do Enzo — ela me disse e eu sorri, pois a diversão da Val era implicar com o noivo da sua irmã pelo esporte de testá-lo para ver se ele merecia entrar na família — o Edu é bem legal e parece gostar de você. E eu dei muita pala com o vídeo do protetor solar.
— Eu quase engasguei com uma uva quando vi aquilo — eu comecei a rir e senti que ela estava rindo comigo.
Val se afastou um pouco de mim e limpou discretamente os olhos enquanto eu voltava a olhar para o meu celular, querendo lhe dar um tempinho para se recompor.
— Obrigada pela conversa — ela me disse e deu um soquinho no meu braço — mas se contar para alguém que a gente falou sobre essas coisas, eu nego tudo.
— Falou sobre o que? — eu me fingi de tonta e ela tentou matar um sorriso antes de ele se esgueirar pelos seus lábios, porém ele surgiu mesmo assim.
— Você é mais legal do que eu achava — ela confessou e eu queria abraçá-la e colocá-la em um potinho pelo restante de sua vida de tanta fofura que ela estava transmitindo.
— Você também, Val — eu baguncei os seus cabelos e ela se afastou de mim com a sua carinha de nojo tradicional.
Oh, bem, o momento havia passado. Mas eu sabia, dentro de mim, que ele havia existido e isso valia muito.
Então eu vi vovó a distância meneando a cabeça para algo que Bruna estava argumentando com muita ferocidade e eu decidi que aquele era meu momento de interceder pelo bem de Bruna, pois a vovó conseguia ser brutal quando ela conseguia.
Só que antes antes de eu caminhar na direção delas eu vi uma pessoa parada contra a outra ponta do bar.
Ágata, a ex de Eduardo.
Eu não sei o que deu em mim ou se eu simplesmente enlouqueci, porém quando me dei por mim, estava caminhando na direção dela, vendo que ela havia me reconhecido e o seu olhar estreitou um pouco com a minha aproximação.
— Marcela, né? — ela me perguntou como se quisesse confirmar que era eu mesma e eu apenas respirei fundo pedindo serenidade e paciência — quer tomar algo? Eu adoro martini, mas o barman daqui insiste em colocar azeitonas no meu mesmo que eu peça sem.
Conhecendo Gustavo, ele estava fazendo aquilo de propósito, porém eu não contaria aquilo para ela de qualquer maneira.
— Olha, não vou tomar muito o seu tempo — eu lhe disse, tentando lhe dar o mesmo sorriso que eu dava para o pessoal da contabilidade quando eles me diziam que haviam errado no orçamento — só queria pedir para você deixar o Edu em paz.
— Querida, eu não sei o que ele disse, mas a gente tem uma história e eu... — ela tentou desdizer algo que eu não estava interessada em saber o que era, então eu levantei minha mão e meneei minha cabeça.
— Ágata, de verdade? Eu sei que vocês têm história e que ele realmente gostou de você. Eu não o conhecia nessa época, mas eu o conheço hoje e ele é uma pessoa maravilhosa que não merece o que você está tentando fazer — eu disse e seus lábios começaram a se abrir, então eu comecei a acelerar a minha fala para que ela não conseguisse me interromper — e eu tenho absoluta certeza de que você não é uma pessoa ruim, pois o Eduardo jamais gostaria de alguém assim, só que ele merece ser feliz. E vamos combinar que você está fazendo tudo, menos deixando que ele seja feliz.
— Eu... — ela começou a falar, porém as suas palavras morreram dentro dos seus lábios e ela continuou me olhando — querido, mais um martini! E sem azeitonas! — ela pediu para o Gustavo e eu senti que a nossa conversa havia terminado.
— Boas férias, Ágata — eu dei de ombros para ela e me afastei, andando até onde vovó, Bruna e Valentina estavam conversando — vovó, pronta pro nosso café?
— Ai, Celinha, você entre todas as pessoas deveria saber que nós não vamos tomar café — ela revirou seus olhos e Valentina começou a gargalhar com a cara de susto de Bruna.
— A Eugência de café foi feita para essas situações, não foi? — eu indaguei piscando para Gustavo ao sinalizar o número um com o dedo, enquanto terminava de beber minha taça de vinho.
— Bruninha, fique tranquila que vou pensar, tudo bem? Mas se eu fosse você, eu começaria a olhar outras opções — vovó beijou as bochechas de Bruna que me olhou com um pouco de ressentimento como se a culpa fosse minha de vovó não querer emprestar as pérolas da família para ela — Valzinha, depois eu quero revanche do nosso jogo de ontem.
— Vovó, eu sempre vou ganhar no poker, porque a senhora não sabe mentir. Sempre pisca antes de blefar — Valentina sorriu e eu me perguntei quando é que ela havia aprendido a jogar cartas assim. Bem, poderia estar no sangue, pois eu adorava um blackjack.
— Isso é o que veremos — vó Malvina passou sua mão no meu braço e eu peguei minha bolsa, guiando-a até uma mesinha mais elevada para ficarmos longe das crianças descontroladas que não entendiam que a água era para ficar dentro da piscina.
Gustavo chegou pouco depois com dois copos com um design diferente das canecas que normalmente ele servia o restante das pessoas, e eu tinha certeza de que aquele era o efeito Malvina Noronha e suas gorjetas.
— Eu pedi para trazerem uma bandeja de aperitivos para vocês, senhoritas — ele serviu a cerveja em nossos copos e eu vi vovó colocar cinco reais no bolso da sua blusa.
— Oh, Gustavo, pode me chamar de Mal — ela colocou a mão no rosto e ele concordou, afastando-se de nós — que mocinho bonzinho, Celinha.
Malvina Noronha era a avó mais elegante e descolada que alguém poderia ter. Ela estava sempre com o cabelo brancos estilizado — tenho certeza de que minha mãe acordava às quatro da manhã para ajudá-la —, suas unhas usavam o esmalte Condessa desde que eu me conheço por gente e ela esbanjava as jóias dos cinquenta anos de casados com meu avô, que trabalhou por muitos anos como joalheiro. Ela tinha os olhos verdes, e a frustração de todos na família era que nenhum filho havia puxado para ela. Nem os netos.
Brindei meu copo com o seu e nós tomamos um gole — quero dizer, eu tomei um gole e ela quase brincou de beber por cinco segundos consecutivos.
Por favor, vovó, não entre em coma alcoólica comigo, senão ninguém iria acreditar que ela fez aquilo por conta e risco.
— E como está a vida, meu amor? — ela segurou minha mão e eu afaguei sua palma, sentindo sua pele delicada como um lenço de seda contra meus dedos.
— Passando rápido, vovó. Voando praticamente — eu comentei e ela sorriu, anuindo — eu estou... — eu hesitei, pois quase comecei a falar sobre trabalho e eu sabia que as pessoas não se interessavam tanto por este lado da minha vida, e sim do meu relacionamento — eu e o Eduardo estamos...
— Certo, certo, temos tempo para falar do rapaz depois, mas eu perguntei de você. Trabalho. Saúde. Sonhos. Tudo — ela me pediu e o sorriso que escapou dos meus lábios transbordou para os meus olhos.
Então eu contei para ela sobre todos os meus projetos na CPN, sobre o meu apartamento, e o fato de que Romeu e Getúlio nunca saíam dali — ela ficou em êxtase por saber do casamento dos dois me contou todos os detalhes do seu casamento com meu avô, uma história que eu já havia escutado mais de trinta vezes, porém cada vez que ela contava tinha menos realidade e mais conto de fadas ali. E eu amava isso.
Expliquei para ela sobre a minha gripe no ano passado que eu tive que fazer inalação e trabalhei de casa por mais de uma semana e ela narrou com mais detalhes do que o necessário sobre a sua cirurgia de catarata — muitos anos antes, vovó era enfermeira e amava cuidar das pessoas. Então ela me passou alguns chás que poderiam prevenir uma gripe e eu lhe pedi, pela enésima vez, para trocar o ventilador da sala dela por um ar condicionado, pois Cele me disse que o calor em Vitória estava complicado e a vovó não se sentia bem.
— Não preciso de um, meu amor — ela me garantiu e eu respirei fundo, entrando no site da Magalu e comprando um ar condicionado básico para ela, pedindo para entregar no dia seguinte que voltássemos de viagem — Marcela, não precisa.
— Precisa sim, vó. Se a conta aumentar muito você me manda que eu cuido disso também — eu disse, finalizando a compra — pronto, agora você vai poder aproveitar o verão bem fresquinho em casa, ok? Peço para o Sam ou o papai instalar quando chegar.
— E depois eles dizem que você não é um amor — ela brincou e eu ri.
— Não sei como essa história se espalhou — eu fingi surpresa.
— Provavelmente no natal que você quase atacou o Cristianinho para pegar a última coxa do peru — vovó começou e continuou contando todas as histórias de como minha má fama de reativa se estendeu pela família.
De acordo com ela, eu passei fome quando era criança e por isso havia me tornado uma pessoa exigente depois — de verdade, rezava a lenda que eu mostrei as minhas garras pela primeira vez no meu aniversário de um ano quando me recusei a colocar uma tiara de princesa na cabeça e eu a arrancava a cada cinco minutos. Um tempo depois eu bati o pé que eu conseguia andar sozinha e esfolei meu queixo na praia. Aí eu insisti que eu conseguia nadar sem bóia, mas ninguém me disse que a piscina da casa da tia Marília não me dava pé e... bem, haviam muitas histórias.
— Planos para próxima viagem? — ela me pediu assim que eu terminei de lhe contar sobre minhas aventuras no Atacama com Retúlio.
— Por enquanto estou economizando dinheiro. Não tenho um destino em mente, mas estou pensando em ver neve pela primeira vez — eu revelei aquilo e os olhos cansados de minha avó brilharam.
— Oh, que lindo. Traz um pouco para que eu possa ver, por favor? — ela me pediu e eu apenas concordei, beijando suas mãos. Ela se aproximou de mim, comendo um canapé de salmão antes de colocar a mão na frente da boca para não voar salmão para todos os lados — eu te amo tanto, meu amor, você não faz nem ideia do quanto — ela olhou para todos os lados a procura de alguém que pudesse escutar a nossa conversa e terminou de engolir o canapé — eu estou guardando as pérolas para o seu casamento. Deus sabe onde a Bruna as colocaria e eu nunca teria a chance de te ver com elas.
— Vó, você sabe o quanto a Bruna quer essas pérolas, não pode deixá-la esperando só porque... — eu disse com um pouco de apreensão, pois agora eu entendia o olhar magoado de Bruna para comigo — eu e o Eduardo só estamos juntos por seis meses. Sabe-se lá quando isso vai virar algo mais sério. E se vai.
— Celinha, eu sei que os seus irmãos encontraram pessoas especiais e eu os guardo em um cantinho do meu coração, mas nenhum deles têm o que eu vejo entre você e o seu rapaz — ela me disse e eu senti meu coração pesando levemente com culpa, porque o que ela estava vendo era exatamente aquilo que eu e o Eduardo queríamos que ela visse. Não era exatamente verdade — é amor completo, como eu tenho com o seu avô. É um amor para a vida inteira, para todos os momentos e todas as estações. Eu vejo que vocês se gostam pelas qualidades, mas aprenderam a se amar apesar das imperfeições. E vocês entenderam que sempre existirão imperfeições, e está tudo bem.
Eu senti os meus olhos marejados, porque eu queria tanto, mas tanto, dizer a verdade para ela, só que eu não poderia. Não depois de tudo. Não depois do turbilhão que estava revolvendo meu ventre, porque nem eu conseguia mais dizer o que era verdade e o que era mentira.
— Vó... — eu tentei dizer, porém meus lábios começaram a tremer.
— Eu tenho tanto orgulho da mulher que você se tornou, meu amor — ela sussurrou e eu me levantei para abraçá-la, deixando que algumas lágrimas escorressem pelo meu rosto.
— Eu te amo tanto, vó — eu disse de volta antes da minha garganta se fechar e eu beijar seus cabelos.
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Helloooooo 2021! Como foi a virada de vocês? A minha consistiu em muita comida, bebida e música a noite toda!
Este capítulo eu acho que inicia o novo ano é lindo e eu me derreto todas as vezes quando leio, porque aqui temos 4 coisas importantíssimas acontecendo:
1) Gustavo sendo Gustavo (maravilhoso como sempre) e vendo que mardo é muitoooooo casal;
2) Marcela e Valentina tendo uma conversa lindíssima e a gente entendendo um pouco mais do motivo da Val sempre ser tão ácida;
3) Marcela mandou um recado muito bem dado pra Ágata, será que funciona?
4) Vó Malvina é a minha Noronha preferida depois da Marcela (qual o Noronha preferido de vocês?)
Qual foi o momento preferido de CEM para vocês até agora?
Não esqueçam da estrelinha e de nos contar o que estão achando!
Domingo tem mais hehe
Beijinhos
Libriela <3
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