Capítulo 23 - Marcela e Eduardo embaixo de uma Árvore
Marcela e Eduardo embaixo de uma Árvore
Marcela
O dia no spa acabou às seis da tarde, porém Samantha disse que havia descoberto um bar escondido do outro lado do cruzeiro que servia drinks diferentões e não tinha a gritaria das crianças como o da piscina, então basicamente eu e Marcele não precisamos de muito mais para sermos convencidas.
Eu estava caminhando com elas pelo corredor extenso e estava quase ofegante. Por que era tão longe? Não é que eu fosse uma esportista muito assídua, porque eu só andava de bicicleta quando Túlio me ameaçava a cortar meu estoque de vinhos ilimitado à adega de Romeu, mas eu não chegava a me considerar sedentária também.
Então o meu celular tocou e eu hesitei, buscando-o em minha bolsa que com certeza pesava mais de cinco quilos e eu não usava nem metade do que havia ali. Demorei quase um minuto para encontrá-lo e ver o nome de Romeu ali — eu sorri, claro que sorri.
— Rom! Que saudades! — eu disse quase em êxtase, fazendo com que as duas parassem de andar e me olhassem, porém eu apenas gesticulei que era para que elas continuassem a andar.
— Celinha! Finalmente! Tentei te ligar o dia todo para saber se você não tinha se atirado do navio — eu ouvi Túlio berrando que estava com saudades e que eles estavam usando meu apartamento como refúgio da zona norte.
Eu revirei os olhos com um sorriso.
— Ainda aqui. Na verdade, eu tive um dia incrível no spa, então melhor impossível — eu comentei, voltando a andar para não ser esquecida.
E eu havia tido a melhor noite em meses com o Eduardo, então, eu estava mais do que bem.
— Ah, e essa voz meio rouca de quem transou a noite toda é coincidência com o bom humor? — Romeu indagou e eu praticamente tropecei na minha dignidade, engasgando comigo mesma.
Será que ele lia pensamentos à distância?
— Romeu! — eu sussurrei indignada.
— E não negou! — Túlio gracejou por trás e eu senti meu rosto queimar.
— Não sei do que estão falando — eu tentei dizer, pois eu sabia o que me aguardava assim que eles soubessem da verdade e eu poderia ter mais paz de espírito se mentisse apenas um pouquinho.
— Cela, depois das fotos fofas e da mensagem bêbada de ontem, com certeza você tava brincando de rodeio com o Eduardo a noite toda — ele me disse com simplicidade e eu retirei o celular do ouvido para pesquisar aquela dita cuja mensagem que eu tinha certeza de que não havia mandado.
Mas eu havia.
Marcela Noronha: MEU DEUS POR QUE O EDUARDO TEM QUE SER TÃO GOSTOSO?
Marcela Noronha: Eu vou atacar essa boca
Marcela Noronha: POR QUE ELE NÃO ME BEIJA? SÓ EU QUE TENHO QUE TER INICIATIVA AQUI?
Marcela Noronha: É isso, vou usar a camisola vermelha
Eu não havia usado a camisola vermelha, nem chegou a precisar, porque ele realmente teve iniciativa dentro do elevador e eu não apenas cavalguei naquele homem, mas tinha feito muitas outras coisas que nem eu sabia que conseguia fazer.
Mas ele sabia. E sabia muito bem.
Minhas coxas formigaram e eu respirei fundo, retornado o celular para meu ouvido.
— Ok, eu estava bêbada, mas isso... — eu tentei dizer, mas foi inútil, pois eles começaram a cantar "Marcela e Eduardo embaixo de uma árvore. B-E-I-J-A-N-D-O..." e a música ia — ok, talvez a gente tenha transado.
— Tutti! Marcela deu finalmente uma chance pro Cristal! — Romeu berrou do outro lado e eu ouvi Getúlio apenas surtando com a informação.
Ah, eu não tinha dado apenas uma chance, mas eu estava em um lugar público e uma criança estava me olhando como se soubesse exatamente o que estava passando pela minha mente naquele momento — e não era uma programação para menores de dezoito anos.
Droga.
Eu pensei que depois de transar, depois de contar que eu havia transado, o tesão desapareceria. Que eu conseguiria olhar para Eduardo e não pensar nele, no seu corpo contra o meu e na sua língua contra a minha... naqueles olhos tão claros como o amanhecer e os seus pontinhos dourados que eu queria contar sempre que parava para olhá-lo — e eu tinha certeza de que ali estava a constelação de áries.
Deus.
— E o casamento? O planejamento? A viagem romântica? — eu desviei o assunto, sabendo que Getúlio era o mais suscetível a mudar de assunto e passar os próximos cinco minutos me contando da hidromassagem do quarto que eles pegaram em São Bento do Sapucaí, mas que o desafio mesmo foi na rede.
Depois eles comentaram que ainda estavam vendo o restaurante do casamento e que já haviam pelo menos feito a encomenda de vinhos diretamente do fornecedor do Romeu e que ele havia encomendado mais de vinte caixas. Cada caixa com doze garrafas.
Aquele era o casamento do meu melhor amigo, eu era madrinha e com certeza não voltaria para casa até que tocassem trinta vezes Evidências ou Boate Azul.
— A gente também decidiu que o seu vestido vai ser rosa antigo, porque vai combinar com as flores do lugar — Túlio continuou falando e eu cheguei na porta do bar, que realmente estava vazio e tinha um ar extremamente secreto — sabe se o Marcelinho topa nos ajudar com as flores? Todos os floristas que eu pensei não estão me convencendo que eles conseguem me entregar o arranjo dos meus sonhos.
— Eu falo com ele, pode deixar — eu garanti, pois eu já havia feito tantos favores para Marcelo Noronha na sua última reforma que ele tinha que me mandar um buquê de flores semanalmente por sete anos para efetivamente pagar meus serviços, mas ele era família e eu não cobrava esse tipo de favor.
— Agora precisamos terminar a lista de convidados, está em mais ou menos cinquenta pessoas, mas acho que a gente ainda consegue tirar algumas tias do Rommi — Túlio sussurrou, mas era óbvio que Romeu escutou tudo e estava apenas resmungando internamente sobre aquilo, pois ele era apegadíssimo às pessoas e convidaria até mesmo o carteiro se ele lhe desse um bom dia mais animado.
— E qual o meu serviço nisso tudo? Vocês já planejaram tudo em um final de semana! — eu os acusei e ouvi Samantha a distância, pedindo uma sequência de drinks para todas nós com uma seriedade que até pensava que ela estava dizendo aquela frase padrão "tudo o que você disser será usado contra você no futuro e bla bla bla".
— Você tem que estar linda e levar as alianças — Romeu roubou o celular, porque eu tinha certeza que ele queria me contar isso antes de Getúlio.
— Ai, Rom... — eu sussurrei e comprimi meus lábios, não querendo me emocionar de novo com aquilo.
— E de quebra levar o Cristal e transar loucamente com ele nessa viagem aí — Túlio acrescentou e eu apenas me despedi deles, notando que eles estavam zoando com a minha cara e não me levavam a sério.
O pior é que ultimamente eu realmente estava conhecendo outro lado de Eduardo (que não era apenas um arquiteto boa pinta) e ele era verdadeiramente a melhor companhia que eu poderia querer naquele momento.
Só que esse tipo de coisa, esse tipo de situação, só estava acontecendo porque nós dois estávamos em um cruzeiro e tínhamos que fingir que namorávamos. Transbordar isso para a vida real não parecia muito provável — por isso mesmo que eu estava realmente cogitando apenas embarcar em sua louca ideia de deixar rolar por sete dias. Apenas sete dias e depois voltávamos a nos incomodar no trabalho, pois eu sabia lidar com isso.
— Vocês estão bebendo sem mim? — eu perguntei, sentando-me na cadeira a frente de Cele e pegando a taça com um drink que tinha uma cor alaranjada tóxica e um jeitinho incrivelmente alcoólico.
Eu brindei com elas e me deleitei com aquele gosto cítrico e adocicado.
— Você demorou demais — Sam me recriminou e eu apenas revirei meus olhos — aí eu tive que tomar as rédeas da situação.
Eu engasguei, pois, assim que ela disse "rédeas", minha mente me deu um flash da noite anterior.
— Tudo bem? — Marcele bateu em minhas costas e eu assenti, tossindo um pouco antes de conseguir respirar melhor — não pode morrer em minhas mãos, senão eu terei que culpar a Sam! O Marcelo com certeza vai ficar chateado com ela.
— Vamos salvar um casamento então — eu ri, ainda tossindo, porém Sam apenas se enfiou um pouco mais no sofá e eu olhei para minha irmã, mandando um questionamento sobre o que estava acontecendo e ela comprimiu seus lábios, como se tivesse se lembrado de algo.
Eu hesitei, não sabendo exatamente o que estava acontecendo — as desvantagens de não frequentar os churrascos do tio Cristiano aos domingos, era que eu não estava mais tão a par das conversas ou fofocas ou até mesmo dos problemas das pessoas. E minha tendência de nunca prestar atenção no celular fazia com que as pessoas também não contassem muito comigo.
Eu me inclinei um pouco em cima da mesa e coloquei minha mão sobre a de Sam, notando que Marcele a abraçou e ela respirou fundo, fungando. Seus grandes e lindos e delicados olhos verdes estavam marejados, e tudo o que eu queria era colocá-la em um potinho cheio de séries criminais e Marcelo para que ela voltasse a sorrir.
— Eu e o Marcelo estamos tentando engravidar. Faz uns meses — ela engoliu a seco e pegou o guardanapo, e enrolando ao redor do seu copo, impedindo que ele ficasse úmido pelo líquido estar gelado — eu sei que ele quer filhos. E eu quero também! Mas... não sei, não está acontecendo.
Ela virou o seu copo da maneira que um drink jamais deveria ser virado, porém eu não ousei dizer um pio sobre aquilo, pois dos mais de dez anos de casados com o Marcelo, eu nunca vi Samantha reclamar de nada. Nem na época de namoro quando o Marcelo deu para ela um livro sobre samambaias de presente de namoro. Nem no casamento quando ele passou mais de duas semanas indecisos sobre a tonalidade das rosas. Nem nada sobre o trabalho, mesmo que eu soubesse que as coisas lá eram tão barra pesada quanto na CPN.
E agora estava ela ali, tentando afogar uma tristeza com álcool e sorrisos. Uma tristeza que eu jamais imaginei que existisse.
— E aí a dona Alê fica me perguntando se eu quero ter filhos e eu só penso "Alô? Você já viu o meu marido? Como você acha que eu não gostaria de ter um exército de mini Marcelos?". Só que é claro que eu não disse isso, mas eu tenho muita vontade às vezes. Ela é uma ótima pessoa, só que... — ela deixou a sua voz morrer um pouco e eu tenho certeza que Cele estava mais do que concordando com aquilo.
— Mamãe é difícil — Marcele deu um sorriso contido.
— Impossível seria a palavra correta — eu acrescentei e minha irmã me empurrou, porque mesmo que nossa mãe fosse uma pessoa complexa, ela não gostava que eu dissesse isso em voz alta.
Eu sabia que ela tinha um coração melhor do que o meu, só perdia para o Marcelo.
Claro que a Satanáries aqui ficou com o último lugar.
— Sam, vocês são jovens e não tem pressa. Se a mamãe está te aporrinhando sobre o assunto, eu falo com ela, porque você tem que ir no seu tempo para pensar em ter uma família e não no tempo dela — Marcele beijou a testa de Sam e afagou seus cabelos, exatamente como nossa mãe fazia quando éramos mais novas.
— Eu sei, mas mesmo que as pessoas digam "não tem pressão", tem sim. Tem muita pressão mesmo que as pessoas digam que não tem! — ela puxou a minha mão e eu saltei da minha cadeira, agachando-me ao seu lado e apoiando meu queixo em sua coxa — e aí todas as minhas amigas estão engravidando ou indo para o quinto filho e eu olho pro teto de noite e às vezes eu me sinto aliviada por não ter filhos quando eu ouço sobre o terror da maternidade. E aí eu acho que não estou pronta. É uma sensação tão tão estranha.
Marcele me olhou, estreitando seus olhos na minha direção com aquele seu jeito de "se você não ajudar agora, eu conto para todo mundo que você usa pasta de dente de tutti-frutti" que também poderia ser "o garçom ainda não repôs o álcool e precisamos de mais", então eu apenas apontei para nossos copos vazios e ele concordou comigo antes de eu respirar fundo.
Eu já havia ajudado Retúlio algumas vezes em suas brigas, porém não era nada assim. Normalmente quando eles discutiam era que um dia usado a meia do outro ou comido o último chocolate. Eles eram um casal perfeito até nisso. O que era lindo. E irritante. E as vezes me deixava completamente incomodada que eles fizessem as pazes no meu sofá. E outros lugares que eu joguei cândida depois.
— Sam, eu tenho certeza de que você está pronta. Se você quiser — eu murmurei, tocando sua mão com meus lábios para que ela me olhasse — e se tiver algum terror de maternidade para enfrentar. Eu não tenho dúvidas de que o Marcelo vai estar ali com você. Antes, durante e depois. Até você dizer que não quer que ele ajude e ele me ligar às três da manhã, porque você mandou ele tirar a orquídea da sala e colocar na sacada.
— Aquela orquídea não estava combinando com a nossa nova toalha — ela disse simplesmente e eu sorri — ele realmente te ligou para reclamar disso?
— Você atende o Marcelo e não me atende? — Marcele me perguntou com tanta indignação que eu me senti automaticamente culpada.
— Ele normalmente tem emergências — eu dei de ombros.
— Uma orquídea — ela praticamente me acusou e eu olhei para o garçom, implorando por mais álcool.
— Pelo menos não para reclamar era sobre a nova essência de lavanda que com certeza não tinha cheiro de gasolina!
— Tinha sim!
Samantha nos abraçou de maneira engraçada mesmo que estivéssemos em uma posição engraçada, pois eu estava mais embaixo e Marcele mais em cima, então meu rosto apenas foi parar na sua barriga de Samantha e eu senti a testa de minha irmã em minha nuca.
— Eu amo o Marcelo, mas vocês com certeza estão no meu top três de pessoas preferidas do mundo — ela murmurou contra nossos cabelos.
Se havia algo que eu havia aprendido na vida, era que os melhores abraços eram aqueles que te seguravam com força e prometiam que tudo ia dar certo, e o nosso prometia isso, porque a Samantha merecia — e meu irmão também. E até mesmo Cele com sua essência de gasolina.
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Oie, tudo bem com vocês?
Agora nós temos um pouco de mulheres Noronha para aquecer o nosso coração, porque se existe uma mulher tão preciosa quanto a Sam, eu não conheci ainda <3 Eu adoro como elas se apoiam, do jeitinho delas. Sempre se ajudando e incentivando e cuidando umas das outras.
E ainda tivemos uma ligação de Retúlio que é TUDO PRA MIM!!!!!! Esses dois são uma instituição de tão preciosos e vou protegê-los até o final! (principalmente, porque eles são Mardo Lovers até o final)
Agora, o que nós temos preparado para o próximo capítulo? Algum palpite? Eu tenho alguns hehehe
Agora uma explicaçãozinha para vocês: não sei se vocês chegaram a notar, mas estamos reduzindo o número de postagens na semana, porque sentimos que o engajamento (quanti e quali) deu uma diminuída nos últimos tempos e a gente quer super acreditar que é por causa do fim de ano (pq CEM está incrível, né?), então decidimos segurar um pouco as postagens.
Espero que entendam o nosso ponto, porque tudo o que a gente mais ama (além de escrever) é ver que vocês estão curtindo e se envolvendo e surtando com a história. E a gente só consegue ter esta noção com os votos e comentários.
Obrigada por lerem estas notas infinitas (eu amo notas infinitas e todo mundo que as lê tem todo nosso amor).
Beijinhos
Libriela <3
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