Capítulo 17 - Todos a Bordo!
Todos a Bordo!
Marcela
— Noronha. Marcela — eu expliquei pela terceira vez para a Anete, a moça da recepção que já havia pedido meu nome quatro vezes mesmo que meu passaporte estivesse bem a sua frente.
— Marcele? — ela me perguntou, voltando a estaca zero.
— Marcela. Com "a" no final — eu esclareci.
Era isso, estávamos embarcando. Não tinha volta.
Eu arrisquei uma olhada discreta na direção de Eduardo, porém ele estava apenas preenchendo o papel com suas informações — sério que ele precisava de mais de dez minutos para preencher o básico de informações sobre a sua vida? — enquanto eu batalhava pela nossa reserva.
A viagem de carro de São Paulo até Santos foi tranquila. O dia estava incrivelmente aberto e a Imigrantes estava surpreendentemente vazia — o que chegava até a ser estranho visto a quantidade de pessoas que andavam por aquelas estradas, descendo para o litoral quando havia um dia de sol no final de semana.
Nós tivemos algumas lutas de poder pelo som do carro e decidimos que cada um teria direito a meia hora de controle sobre a música de maneira inquestionável, o que fez com que eu aprendesse que ele escutava a mesma playlist chamada "Rock 80/90 Internacional" em repeat basicamente. E, depois que havíamos encontrado um ponto de equilíbrio, eu revisei coisas básicas sobre a minha família, repassando o nome de todo mundo e as últimas tretas familiares, porém sempre que eu falava sobre a Marcele e o Marcelo, Eduardo começava a rir, inconformado com a criatividade familiar.
— Ah, achei. Marcela Noronha — Anete sorriu para mim, porém eu apenas consegui arreganhar meus dentes em troca, pois o que é que eu estava dizendo até agora? — sua família só embarca amanhã, não é? Dez quartos para os Noronhas.
— Isso, por enquanto sou apenas eu e... meu namorado — eu pisquei meus olhos de maneira amável, colocando a mão em cima da de Eduardo que até parou de escrever para observar o meu movimento — falando nisso, teria como nos deixar bem, mas bem longe mesmo do restante da minha família?
— Longe? — ela franziu o cenho, ainda com um sorriso plástico no rosto.
— E o quarto pode ter duas camas ao invés de uma? Eu amo deixar minhas roupas espalhadas em cima da cama — eu disse com suavidade para que ela acreditasse em mim.
— Duas camas? — ela repetiu e eu realmente quis perguntar se ela falava português ou só não estava a fim de me atender.
— Não? Nada feito? — eu peguei meu passaporte de volta e entreguei meu cartão de crédito para que ela tirasse uma cópia, mesmo que todas as despesas já tivessem inclusas e a fatura já tivesse sido paga — quer saber? Só o quarto, pode ser? Com sacada?
— Ah, você vai amar. A vista para o oceano é linda e vocês ficaram em um dos andares mais altos — ela piscou para mim e eu continuei a sorrir, pegando a chave, e escutando todas as instruções sobre café da manhã, almoço e jantar. Show. Cassino. Balada. Piscina. Bar. E todas as outras coisas que estavam na brochura que ela me entregou depois — o Carlos vai levar a mala de vocês até o quarto, boa estadia.
— Obrigada — Eduardo deu um sorriso para ela, que de uma forma sólida virou um líquido de pessoa, pegando minha bolsa e entrelaçando seus dedos nos meus como havíamos ensaiado — nós vamos.
Eu apenas revirei meus olhos com um sorriso e andei com ele atrás do Carlos, que mesmo carregando duas malas, praticamente estava correndo na direção do elevador e eu tive que dar uma corridinha atrás dele para não ficar para trás.
Décimo quinto andar. Realmente era alto.
Entramos em um elevador panorâmico e eu vi que havia muita coisa para conhecer. Era gigante.
Nós andamos um pouco até o nosso quarto e Carlos abriu a porta para nós, colocando nossas malas dentro, agradecendo a preferência e nos deixando a sós.
Era mais ou menos do tamanho do meu quarto em São Paulo. Uma escrivaninha de madeira de cedro, um espelho gigantesco a sua frente e um guarda-roupa muito espaçoso. O banheiro era bem pequeno, um box que cabia uma pessoa, o vaso e a pia com quase nenhum espaço para colocar meus produtos de skincare. Haviam dois roupões e pantufas para nós, que eu apenas passei a mão, sentindo a maciez contra a minha pele.
O quarto era branco com detalhes em cinza e azul náutico, havia um ou dois toques dourados que brilhavam contra a luz.
A cama era gigante.
Dava para nós dois dormirmos ali sem jamais nos trombarmos.
Então eu andei até a sacada e abri a porta, vendo a mesinha ali posta com duas cadeiras.
Realmente, Anete, a vista é linda.
Eduardo parou do meu lado, apoiando seus braços contra o parapeito da sacada, olhando para a vista com uma pequena contemplação, talvez sentindo a mesma sensação que eu. Era vasto, incrivelmente infinito. E nós dois ali, apenas dois pontinhos coloridos perdidos no meio do mar.
— Obrigada pelo convite. Depois me fala quanto foi que a gente divide — ele sorriu para mim e eu desviei o meu olhar quase imediatamente, retirando o óculos de sol que estava preso em minha blusa para colocá-lo em meus cabelos.
A verdade era que eu odiava óculos. Qualquer tipo que ele fosse — eu só usava os óculos de segurança na obra, pois eles eram obrigatórios, mas eu não conseguia ficar com algo em cima do meu nariz por mais de dez minutos sem começar a me incomodar e o retirar. Túlio ficava indignado comigo, pois ele me deu um óculos de sol da Gucci no último natal e eu o usava como tiara e não como óculos.
— Do que você está falando? — eu retirei o cabelo que insistia em balançar na frente do meu rosto e fazer cócegas em meu nariz.
Eu amava o cheiro do mar. Ele me lembrava tanto a minha casa no Espírito Santo que eu senti um aperto no peito. Fazia muito tempo que tantas pessoas dos Noronha não se reuniam em uma ocasião só. E eu sentia tanta saudade da minha avó que o sal do mar começou a incomodar um pouco os meus olhos.
— Você me chamou para um cruzeiro, mas eu vou pagar a minha parte né? Não vou deixar você me bancar — ele passou a mão nos cabelos que, ao contrário de mim, o vento batia no sentido perfeito para que ele parecesse apenas uma propaganda muito bem executada de perfume.
Ele estava usando uma polo bordô e uma calça jeans, quase o seu uniforme de todo dia, e eu só conseguia me perguntar se ele não estava com calor por causa do sol escaldante.
— Claro que não — eu dei uma risada descrente — eu não vou te fazer passar sete dias com a minha família e ainda pagar por isso. Considere um presente de agradecimento e um pedido de desculpas adiantado.
— Marcela, para de falar assim, vai ser ótimo — ele arrumou os meus cabelos e deixou a sua mão deslizar pelo meu rosto um segundo a mais do que era necessário, porém aquilo desviou completamente a atenção do que estávamos falando.
Sobre o que estávamos falando mesmo?
— Quer... conhecer o navio? — eu apontei para fora, vendo o sorrisinho dele apenas aumentar — vou tomar um dramin para garantir no enjoo, quer um?
— Maçã verde funciona para mim. Eu trouxe várias se quiser — ele entrou no quarto e eu respirei fundo antes de expirar, passando minhas mãos pelo meu rosto antes de me recompor e entrar.
— Tá contrabandeando maçã verde? — eu fui até a minha bolsa e retirei a brochura do cruzeiro — nosso jantar é às oito no Restaurante do Comandante. Acho que é uma boa a gente já ir treinando o nosso namoro enquanto minha família não chega.
Então eu senti a mão dele embaixo do meu queixo, levantando meu rosto para olhá-lo enquanto seus lábios se aproximavam dos meus com uma velocidade ímpar.
Eu saltei para trás e colidi contra a porta do guarda-roupa, quase tropeçando em meus próprios pés e derrubando uma luminária.
Meu coração queria me matar, completamente disparado em meu peito da mesma forma que o meu rosto havia esquentado uns cem graus.
— O que você acha que está fazendo? — eu apontei a brochura para ele como se fosse uma arma e ele apenas levantou suas mãos, rendendo-se.
— Treinando o namoro. A gente é péssimo nisso, então... — ele deu um passo na minha direção, porém eu apenas me afastei — Má, qual é, você estava escalando uma mesinha pra me beijar uns dias atrás.
— Só por curiosidade! E eu não estou mais curiosa — eu lhe expliquei simplesmente, porque eu realmente não estava mais curiosa. Eu só queria sua boca na minha de novo, apenas para saber se a sua língua ainda tinha gosto de Eugência e se o meu corpo se encaixava no seu como nossas bocas havia encaixado.
Mas eu não faria isso, porque eu tinha autocontrole e ele era o Eduardo, meu falso namorado.
— Então o que você quer treinar? — ele recuou um passo e eu abaixei a brochura, recuperando meu fôlego.
— Coisas de casal. Andar de mãos dadas? Aqueles toques despropositais? Olhares apaixonados? A gente só tem que convencer todo mundo que somos um casal — eu expliquei para ele e ele apenas assentiu — ok, acho que eu estou pirando. Eu preciso beber algo.
— Coisas incríveis acontecem quando você bebe, Má — ele piscou para mim e eu atirei a brochura nele, contudo ele apenas desviou dela, pegou a chave do quarto e segurou minha mão — pronto, vamos ver se a gente consegue convencer alguém que somos um casal.
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No final nós encontramos um bar que ficava perto da piscina e tinha um barman que era uma delícia para os olhos. E adivinhe? Até ali eles tinham a bendita da Eugência.
— Você não me julgaria por pedir mais uma tacinha, não é, Gus? — eu pedi para o Gustavo, o barman, dando uma piscadinha para ele enquanto Eduardo continuava sua longa história sobre como ele teve sua primeira experiência com a Eugência Mautava, porque, aparentemente, o rapaz era co-criador com José Eugênio da Silva.
— Branco ou Rosé? — ele me perguntou e eu fiz um beicinho, realmente considerando aquela pergunta — posso sugerir o Rosé?
— Claro que pode — eu mordi meu lábio inferior e notei que Eduardo havia parado de falar, olhando para mim — o que foi?
— Se você ficar olhando para o meu brother Gustavo como um pedaço de carne, não tem como sua família acreditar que estamos namorando — ele me disse com simplicidade e julgamento.
Ah, não! Nada disso!
— E a ruiva que passou agora pouco? Você com certeza não estava encarando os belos olhos verdes dela — eu retruquei.
— Vocês estão namorando? — Gustavo perguntou, recuando um passo depois de me servir mais vinho do que na taça anterior e completar o copo do Edu.
— Não — eu dei de ombros — mas... é complicado.
— Vamos mentir para a família dela que estamos namorando para que eles parem de pensar que ela está encalhada — Eduardo resumiu da pior maneira possível minha história.
— Não tem como uma mulher como você estar encalhada — Gustavo respondeu e eu resisti mais um sorriso de flerte escapar pelos meus lábios, porque o Eduardo, neste único e pequeno ponto, tinha razão.
— Eu estou muito bem solteira, mas eu só quero que minha família pare de me incomodar — eu me defendi e levantei minha taça, brindando com o vento — aí eu trouxe o Eduardo para ser o meu mais um.
— Uma honra para poucos — ele piscou para mim com aquele seu sorriso provocativo de canto de boca e eu senti uma formigação estranha na parte interna das minhas coxas. Eduardo tinha uma reação entranha em mim — falando nisso, você nunca me disse porque o pirulito louro não deu certo?
— O nome dele é Rogério, Edu — eu dei risada, observando as lágrimas da minha taça com interesse para que ele não visse o rubor queimando minhas bochechas.
— Por que o Rogério não deu certo? — ele pressionou e Gustavo, que provavelmente deveria servir mais pessoas, apenas jogou o seu pano de prato no ombro e parou para me observar também.
Ótimo. Que maravilha.
— Só não deu certo — eu bebi mais um gole para me manter ocupada.
— Elabore — Gustavo pediu e eu o olhei com indignação, pois eu achava que ele ficaria do meu lado e não do Eduardo.
Gustavo com certeza estava fora da lista.
— Ele ficava rindo — eu disse de uma vez em um suspiro e eles esperavam — é isso. Ele ria.
— Tipo, você fazia uma piada e ele ria de uma maneira estranha? — Eduardo coçou o seu queixo, sua pele perfeitamente barbeada, pensativo.
— Não, tipo... ele ria. Muito. De gargalhar — eu tentei dizer, porém eu não conseguia encontrar palavras para explicar aquela situação — foi bem traumático.
— Espera, você está dizendo que quando vocês estavam... — Gustavo fez um gesto discreto e bem preciso, fazendo com que Eduardo arregalasse seus olhos. Ora, sobre o que ele pensou que poderia ser a risada para me incomodar tanto? — ele dava risada?
— Precisamente isso. Eu dava um beijo no pescoço e pronto, o Rogger morria de rir — eu meneei minha cabeça e Gustavo começou a gargalhar, puxando Eduardo na sua onda de risada — exatamente assim.
— Você fez cócegas nele ou algo? — Edu me perguntou colocando a mão na minha perna enquanto tentava recuperar o seu fôlego, porém ele apenas ria mais e mais, dando uma pequena apertada em minha pele sempre que tentava voltar a si.
A pele dele era quente contra a minha, pois eu estava usando apenas uma bermuda jeans que acabava pouco antes do meu joelho, e foi ali mesmo que ele me tocou, quase desproposital, porém eu sabia que seus gestos eram super calculados.
— Claro que não, né? Um beijo no pescoço e ele morreu. A mordidinha... — eu me parei antes de terminar a frase, notando que os olhos de Eduardo estavam na minha boca, da mesma maneira que eu olhava a dele.
Bem, pelo menos eu não era a única.
— Duvido, você deve ter feito cócegas nele — Eduardo gracejou e Gustavo se afastou, limpando as lágrimas em seu rosto para atender outro casal.
— Para de falar besteira, Edu — eu rolei meus olhos, bebendo mais um gole notando que, mesmo que eu não o tivesse visto beber um gole, seu copo estava quase acabando — eu sei o que estou fazendo.
— Então prova — ele arqueou uma sobrancelha para cima em desafio e eu mordi meu lábio, estreitando meus olhos na sua direção — se não fizer nada, eu vou achar que você faz cosquinhas antes de transar com um cara.
— E mesmo que eu faça, não te interessa, né? — eu aproximei meu rosto mais do dele, dando o meu sorriso de canto, aquele sorriso que era completamente de mocinha de comédia romântica, porém que dizia que depois a gente poderia conversar sobre isso.
— Nossa, amor, assim você me magoa — ele colocou a mão no peito, fingindo que havia sido baleado.
— Eu também vou ter que te chamar de amor? — eu encarei bem os seus olhos, notando que hoje eles eram simplesmente o céu, azuis e limpos. Eu quase acreditava que aqueles olhos não poderiam mentir para mim, mas eu sabia que Eduardo guardava seus segredos bem longe da minha pessoa.
— Amor é a melhor maneira de eu te chamar, se eu falar "Má", metade da sua família vai responder — ele gracejou e eu dei um soquinho fraco no seu braço, porém ele pegou minha mão antes que eu o atingisse e a abriu, traçando as linhas da minha palma com seus dedos.
— Tá espertinho, né? — uma onda de brisa marítima passou por nós e encheu meu peito com esse cheiro maravilhoso, que não era apenas oceânico, tinha um toque de... perfume?
— Eu sou, e você faz cócegas nos caras que transa — ele sussurrou para mim e eu bufei em alto e bom som, porque aquilo era absurdo! Eu sabia exatamente que ele estava fazendo aquilo para me provocar, para ver o que eu faria em seguida.
E, como a física era bela, eu sabia que minha ação teria uma reação de igual magnitude, por isso eu fiz o que fiz, afinal dois poderiam jogar aquele jogo.
— Não faço cócegas — eu abaixei meu tom de voz, descendo do meu banquinho e me encaixando entre as suas pernas no local em que ele estava sentado. Eu o olhei antes de agir, notando que suas íris haviam mudado para um tom de azul mais escuro, como o entarceder, acompanhando todos os meus movimentos, então eu passei meus braços pelo seu pescoço, deslizando meus dedos pelos seus cabelos, pelo seu pescoço, descendo pelos seus ombros e nos seus braços, delineando seus músculos pelo caminho, sabendo que ele não conseguia retirar seus olhos de mim — na verdade, eu faço isso.
Aproximei minha boca da pele do seu pescoço e a toquei com meus lábios, em um beijo lento, sentindo o seu One Million invadir todos os meus sentidos, deixando-me em uma névoa momentânea sobre o que eu queria fazer ou provar com aquilo. E por que eu não deveria continuar a trilhar um caminho de beijos até os seus lábios?
Eu ouvi alguém pigarrear ao nosso lado, e eu me afastei de Eduardo com naturalidade e um sorriso nos lábios ao ver sua pele completamente arrepiada.
— Viu? Fez cócegas? — eu voltei a sentar-me em meu banquinho.
— Vocês tem mesmo medo de que alguém pense que não são um casal? — Gustavo deu um sorriso conhecedor na minha direção e eu virei o restante do meu vinho — mais uma taça?
— Por favor, se em algum momento eu estiver sem uma bebida, me salve — eu concordei, passando minha língua pelos meus lábios, notando que Eduardo ainda estava apenas me observando — gato comeu sua língua, Edu?
— O meu problema não está exatamente na língua — respondeu ele simplesmente, voltando a me dar aquele seu sorriso de canto.
Eu apenas revirei meus olhos, imaginando o que poderia acontecer até o último dia daquela viagem.
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Hoje é dia de post (finalmente seguimos o planejamento!!!!!!!), porque é aniversário da Ket <3 então...
Parabéns (again), Ket!!!
Finalmente chegamos no famigerado cruzeiro e eu sei que vocês estão louquinhos para que mardo engate no romance logo (aff ta demorando demais, né? os dois foram feitos um para o outrooo).
Quem é que gostou da aparição do nosso barman eugenciano preferido?
Qual foi o melhor momento do capítulo para vocês? E agora, o que a gente pode esperar destes dois por sete dias? Eu tenho umas ideias, mas queria ouvir suas teorias hihi
Obrigada por todos os votos e comentários e conversas! Gabs e eu não poderíamos pedir por leitoras (e amigas) melhores do que vocês!
Beijinhos people!!
Libriela <3
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