Capítulo 14 - Droga, será que foi o vinho?
Droga, será que foi o vinho?
Marcela
De repente, meu despertador tocou e eu apenas bati minha mão do lado para desligá-lo, porém eu atingi algo macio.
— Caralho! — eu ouvi e abri meus olhos, vendo que Eduardo estava do meu lado.
Minhas costas!
Por que eu estava no chão?
Meu Deus!
Meu Deus!
Eu me levantei em um tropeço na direção do meu celular e o desliguei, olhando ao redor com mais de oito garrafas de vinho dispostas de maneira nada graciosa em cima da mesa e um caos de palmito e pizza ao lado do Ipad de Eduardo com o nosso projeto.
Passei as mãos em meus cabelos e as coloquei em meu rosto, horrorizada.
Eu beijei o Eduardo!
O Eduardo vai comigo pro cruzeiro!
— Merda! — eu disse em um sussurro irritado, lendo as mais de trinta mensagens desesperadas de Romeu perguntando se eu havia sido sequestrada pelo uber e precisava de ajuda para pagar o resgate. Eu sabia que ele provavelmente estava acordado até aquele momento esperando por notícias, então liguei para ele, que me atendeu imediatamente — Romeu! Eu dormi!
— Pelo amor da minha virgem mãe, Marcela Noronha! Eu estava quase chamando a NASA pra te encontrar! — sua voz estava mais irritada do que a dos meus pais quando eu disse que queria me mudar para São Paulo — eu perdi meus cabelos de preocupação! O Túlio tava quase ligando pra Marcele pra cancelar o cruzeiro e já preparar um funeral!
— Credo, Rom — eu fui até a cozinha e encontrei o filtro com facilidade, tomando um longo copo d'água.
— Tá, mulher, mas onde você tá? — ele questionou com pouca paciência.
— No Eduardo. A gente ficou fazendo o projeto até tarde e eu caí no sono no tapete! No tapete! Que degradante! — eu ciciei e ele começou a rir histericamente, achando aquilo mais engraçado do que deveria — Romeu. Eu tenho uma apresentação super importante hoje! Não ri!
— Dá tempo de vir para casa? — entendendo a seriedade da situação.
— Não, eu provavelmente perderia muito tempo indo e voltando — eu fechei meus olhos e apertei meus dedos em minhas têmporas, já sentindo uma precoce dor de cabeça.
Pelo menos eu não estava com muitos sinais de ressaca.
— Eu posso deixar uma troca de roupa no seu trabalho — ele sugeriu — mas você teria que ir para lá com o seu modelito "sou Paquita desconstruída e sexy", o que, pelo que você comenta, não é uma boa ideia.
— É uma péssima ideia. E eu só acordo depois de um banho — eu resmunguei — que bosta!
— Marcela? — eu ouvi a voz do Eduardo e levantei meu olhar para o dele, vendo que ele estava tão acabado e em um estado talvez pior que o meu. Isso não deveria me dar satisfação, mas dava. Só que mesmo assim, eu sabia que o estado acabado dele era ainda incrivelmente melhor do que o meu.
— Oi, bom dia, desculpa te acordar com um tapa — eu disse tudo de uma vez, querendo morrer de vergonha. Senhor!
— Foi inusitado. Primeira vez que me acordam assim, mas eu sobrevivo — ele coçou os olhos com as mãos em punho e um sorriso subiu pelos meus lábios com a cena fofa, então ele deu um pequeno bocejo e voltou a me olhar — pode tomar banho aqui que eu te levo pro trabalho.
— Eu não tenho roupa, Edu — eu expliquei, tirando o celular do meu ouvido, porque Romeu havia entrado em surto do outro lado com a minha conversa e eu só escutava "Tutti! Marcela dormiu com o Edu! Lindos! Não sei quando vão assumir, mas eu pergunto!".
— Acontece que eu tenho uma irmã que sempre deixa as tralhas dela acumuladas por onde passa, então alguma coisa pode te servir — ele ofereceu e eu parei para pensar.
— Ok, acho que pode funcionar — eu sorri para ele e coloquei o celular no ouvido — Rom, você consegue levar minha bolsa de trabalho pro meu prédio?
— Tudo por você, Celinha — ele concordou e eu agradeci, despedindo-me.
Eduardo me levou até o quarto dele e aquela foi a primeira vez que eu havia entrado naquele lugar, porém tinha a pegada de Eduardo Senna, arquiteto sustentável, por todos os lados. Desde seus móveis de madeira de demolição, sua cama tinha o lençol de linho ecológico e ele tinha um ar-condicionado que era praticamente AA no quesito de economia de energia. Depois eu tinha que pedir dicas de onde ele comprou tudo, porque ficou bom.
Ele abriu a última gaveta completamente organizada do seu guarda-roupa e tirou duas pilhas de roupas femininas dali de dentro.
— Eu vou tomando banho enquanto você escolhe, ok? Não estamos atrasados nem nada — ele deu de ombros e eu tinha certeza de que nós dois precisaríamos de doses de glicose e cafeína para sobreviver o dia inteiro, então abri meu Rappi e encomendei nosso café da manhã da padaria do lado do trabalho para pegar em uma hora.
Eu bisbilhotei as roupas de Cecília e sei que deveria me sentir estranha por nem pedir a permissão, mas eu estava desesperada e depois lhe comprava aquele batom rosa que ela sempre postava fotos com. Acho que assim ela poderia entender e me perdoar.
Eu peguei uma saia mid cinza que era a única parte debaixo que aparentemente cabia no meu corpo e uma blusinha branca básica — eu estava com um tênis preto, então seria isso e eu não queria reclamar de nada, porque já estava no lucro.
Eduardo saiu do banho com a toalha ao redor do corpo e eu precisei de três segundos para me lembrar como as pessoas andavam para sair dos lugares. Ele me deu uma toalha nova antes de eu entrar no banheiro e eu acho que aquele foi o banho mais rápido da história.
O chuveiro era elétrico e não a gás — que fazia todo sentido para Eduardo, mas eu admito que eu desgostava de chuveiros elétricos, pois parecia que eles nunca efetivamente esquentavam. Felizmente algum deles usava Tressemé da linha hidratação completa, e eu tinha o leve e certeiro palpite que a pessoa era Leandro, porque o cabelo dele era muito bem cuidado para ser apenas Dove.
Assim que eu terminei, roubei o desodorante neutro de alguém e fiz um bochecho com o enxaguante bucal, pois eu não estava com minha nécessaire ali, apenas meu lip tint, que eu enfiei em minhas bochechas e lábios. O que eu faria com minhas olheiras e rosto de morte eu não fazia ideia.
Eu saí do banheiro vendo que Francisco estava conversando com o Eduardo, esperando sua vez.
— Desculpa — eu lhe dei passagem e ele piscou para mim enquanto entrava.
— Vai estalar minhas costas hoje? — ele indagou e eu amaldiçoei Marcele por ter me ensinado aquilo no natal passado.
— Hoje a quiroprata tá de folga — eu respondi sem hesitar, pois pior do que ser uma piada era não aceitar que você era uma piada.
— Tenta não descadeirar o Eduzinho no cruzeiro viu? — e ele fechou a porta.
Eu sei que ele estava falando de massagem. Eu sei, mas eu pensei que no seu olhar tinha uma piada secreta que ele não estava falando apenas de massagem.
O que era impossível, né?
— Tá pronta? — Eduardo apareceu do meu lado com um copo de vitamina verde, tomando três comprimidos distintos como o meu avô fazia. Será que ele tinha algum problema de saúde? Será que era melhor eu informar pro cruzeiro que meu par poderia ter um AVC a qualquer momento? — para de me olhar com essa cara.
— Desculpa, é a única que eu tenho — eu revirei meus olhos.
— Tem um copo para você, mesmo que eu saiba que você odeia qualquer coisa verde — ele me ofereceu e eu assenti.
— Eu disse, suco verde de manhã é ok — eu fui até a cozinha e ele me seguiu — obrigada.
— Disponha — ele me olhou de cima a baixo — a roupa ficou boa né?
— Você salvou minha vida. Obrigada, de verdade — eu sorri para ele, esperando que a couve não tivesse se prendido nos meus dentes — por isso até aceito colocar bioconcreto no nosso próximo projeto.
— Muito bom fazer negócio com você — ele piscou para mim — ah, lembrei de uma coisa! Espera.
Não é como se eu fosse sair dali sem ele de qualquer maneira, então eu terminei aquele suco mesmo que cada novo gole parecesse que o negócio ficava com mais e mais gosto de gengibre. Senhor, que troço ruim!
Eduardo voltou pouco depois com o meu casaquinho cinza perdido.
— Você esqueceu no meu carro no dia do... hum... da carona — ele me explicou e eu assenti, pois eu sabia daquilo, só que eu não sabia como ele classificava aquele dia em sua memória. "Da carona", foi a sua segunda opção. Qual era a primeira?
— Obrigada — eu sorri — nossa, eu tô uma máquina de gratidão hoje — eu aproximei meu nariz no tecido e não reconheci o meu perfume Good Girl ali, apenas um mais... masculino? Eu funguei de novo e franzi meu cenho — você andou usando meu casado, Eduardo? Tá com o seu cheiro! E nem vem me falar que One Million é de outra pessoa que a gente te deu de aniversário ano passado — eu e a Renata fomos comprar no horário do almoço e quase esbarramos com ele em nossa missão.
— Ele dorme abraçado toda noite com ele, bonitona — Francisco me disse e eu comecei a rir da cara de desespero do Eduardo.
— Seu casaco ficou no meu guarda-roupa, né, Marcela? — ele revirou os olhos, mas suas bochechas ficaram levemente rosadas — e caralho, Henrique Francisco, viu?
— Puts, me chamou pelo nome inteiro significa que é melhor eu vazar — ele piscou para o amigo e depois olhou para mim — volta mais vezes, Má, você não faz ideia da noite maravilhosa que me proporcionou.
— Você só diz isso porque descobriu meu dom de evitar multas — eu passei as mãos nos meus cabelos e deixei a água respingar no Eduardo de propósito.
— Marcela! E o nosso encontro? — Leandro berrou, ligando o secador de cabelo. Por isso o cabelo dele estava sempre tão arrumado!
— Leandro, na moral? Vai a merda, vai? — Eduardo pediu quase como uma prece e o colega apenas mostrou o dedo do meio para ele — vamos?
Ele me levou até o seu carro e eu ainda estava rindo daquela dupla dinâmica que morava com o rapaz ao meu lado.
No começo, foi difícil sairmos do seu bairro por causa do trânsito, porém Eduardo parecia conhecer os macetes do local e conseguiu escapar de vários pontos de congestionamentos.
— Quer repassar algo do projeto? — eu perguntei para ele, olhando em seu Ipad o que fizemos ontem e eu sabia que se eu pedisse para o Marcos revisar meus cálculos mais uma vez, ele provavelmente pediria demissão no mesmo instante, então eu tinha que tentar circular aquilo até o último minuto.
— Você lembra de algo? — ele me perguntou em uma provocaçãozinha e eu revirei meus olhos.
— Painéis solares no teto, parede verde escorrendo pelo lado leste, estação de reuso de água colocada em cima da caixa d'água... — eu comecei a listar todas as mudanças e todas as considerações do departamento de engenharia, mais conhecido como euzinha, para ele notar que eu havia sim prestado atenção — como eu disse ontem, posso construir um prédio até mesmo desacordada.
— Você disse muitas coisas ontem — ele pontuou e eu hesitei antes de responder, pois eu realmente havia falado e feito demais, só que eu não sabia se deveríamos discutir sobre essas coisas hoje.
— Você também — revidei depois de alguns segundos — você se enfiou em um cruzeiro, esqueceu?
— Ah, não. Não esqueci — ele deu uma risada seca, trocando a marcha e trocando de pista — já mandei as flores para Gisele com a solicitação de férias e ela me disse que assim que chegar no escritório, coloca no sistema.
— Eficiente, né? — eu o olhei surpresa e admirada. Não é que ele realmente estava levando aquilo a sério? — consegue passar lá em casa depois do trabalho? Temos que alinhar algumas histórias.
— Claro, podemos ir direto, o que acha? — ele me respondeu tranquilamente.
— Você não está surtado com isso? Eu estaria — eu soltei, apenas para testar o quanto ele realmente havia pensado no assunto e se ele entendia tudo o que ele estaria enfrentando nos próximos sete dias.
— Cara, eu que me ofereci. E vai ser tranquilo. Eu, você, uma viagem — deu aquele seu sorriso torto que dizia mais do que realmente estava ali e eu parei de olhar para sua boca.
Que droga! O beijo nem foi tão incrível assim, então por que eu não conseguia parar de olhar para ele?
— Minha família inteira? Um cruzeiro? — eu complementei e ele deu de ombros — você pode até ser de boa assim no trabalho, mas não dá para ser assim com tudo na vida!
— Leandro ta transando com a minha irmã e eu não sai no soco com ele quando ele tentou dar em cima de você, né? — ele esclareceu.
— Tentou? Ele deu muito em cima de mim — eu o corrigi e ele fez uma careta exasperada — então, tudo bem. Obrigada. Se um dia precisar, para algo que não seja um prédio de bambu, eu estou aqui para você também.
— Sabia que é errado colocar condições para pagar favores?
— Sabia que é deselegante cobrar favores? — eu arqueei minhas sobrancelhas, vendo que estávamos a menos de quatro quarteirões do trabalho — consegue me deixar no quarteirão da Casa dos Pães?
— Quê? Não vai pro trabalho? — ele franziu seu cenho, diminuindo a nossa velocidade quando o acumulado de carros na mesma avenida apenas aumentou e o fluxo dos mesmos diminuiu.
— Vou, mas não vou aparecer as oito e trinta da manhã saindo do seu carro com o cabelo molhado, né? Gisele ia aparecer que nem um foguete na minha mesa com aquele "termo de relacionamento" para quando duas pessoas estão saindo. E eu comprei café da manhã para nós — eu coloquei a alça da minha bolsa do meu ombro — fica tranquilo pra você é só um chá verde grande e uma salada de frutas, tá? Não estou tentando sabotar sua vida saudável.
— Ok, entendi. Obrigado? — ele se aproximou, lentamente, da Casa dos Pães — te encontro na sala de guerra?
— Com certeza, Edu — eu me inclinei na sua direção e beijei sua bochecha como eu sempre fazia, mas, por algum motivo, daquela vez meu estômago deu uma cambalhota.
Droga, será que foi o vinho?
— Até! Obrigada pela carona — eu pulei para fora do carro e corri para não ser atropelada, assistindo o seu Cruze dar partida e seguir seu caminho.
Até ficar parado no congestionamento de novo.
⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰ ⟰
OIEEEEEEEEEEEEEE
Por essa vocês não estavam esperando, mas hoje teve double post sim! As preces de vocês foram ouvidas (ou lidas) e agora não dá mais para reclamar que o dia não está bom!
Para todos aqueles que esperavam uma manhã super romântica... bem, a gente ama um momento anticlimático hehehe mas só eu que achei que os dois tem uma sintonia louca?
Xiii, Má quase saiu correndo do carro do Edu com medo de que alguém do trabalho visse os dois juntos, como eles vão esconder sete dias de cruzeiro???
E uma pergunta só de curiosidade... quem mais tem certeza de que o Edu estava dormindo com o casaquinho dela? haha
Na mídia temos o nosso maravilhoso Chicão para agradecer todos os votos e comentários (a gente avisou que enlouquece quando vocês engajam né?)
Beijinhos
Libriela <3
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro