Capítulo 115 - Nós dois tínhamos um novo significado
Capítulo 115 - Nós dois tínhamos um novo significado
Marcela
— Você jura que não quer fazer um split, Dudu? — Marcelo sugeriu com os olhos pouquíssimos amigáveis, preparando-se para acrescentar mais uma carta no jogo de Eduardo que, como um patinho indefeso perto de coiotes, estava me olhando em busca de alguma luz.
Eu achava um amor que ele insistia em jogar cartas com a minha família, mesmo que, na maior parte do tempo, seus olhos estivessem nos meus e suas mãos, em mim. Não era como se eu estivesse reclamando, mas as chances de ele ganhar diminuíam cada vez que ele se distraía ao sussurrar que me amava no meu ouvido.
— Deixa o Edu em paz, Celo, ele já está esperto o suficiente para não cair nessa pressão social — eu coloquei minha mão no ombro do Eduardo com um toque suave, porém que eu esperava que ele entendesse o mini beliscão como um aviso para ele não cair na pressão social do Marcelo, porque seria vergonhoso perder trinta reais.
Ok, admito que não foi inteligente da minha parte apostar que o Eduardo iria ganhar uma partida de blackjack, mas, em minha defesa, ele estava se saindo bem quando nós jogávamos em casa — ou, talvez, eu que estivesse mais interessada em deixá-lo ganhar, já que o que nós apostávamos eram roupas, e não dinheiro e dignidade.
— Vai querer o split ou não? — Bruna, que normalmente era a pior da família em qualquer jogo de cartas, estava animadíssima, porque ela havia colocado cinquenta reais que conseguia vencer o Eduardo, alegando que era para ajudar a lua de mel dela e do Enzo, mas a gente sabia que ela estava de olho em um óculos de sol novo.
— Não? — o arquiteto respondeu quase em dúvida demais, e eu fiz uma massagem nos seus ombros para que ele entendesse que estava indo no caminho certo — não, meu parzinho tá feliz junto e não gosto de separar.
Ele pegou a minha mão e plantou um beijo ali, afagando a pele do meu pulso enquanto ainda focava seus olhos no jogo, completamente alheio que Adriel e Patrício surrupiaram a sua Eugência Mautava algumas partidas atrás e agora ele estava tomando chá mate dentro de uma garrafa de cerveja.
Eu poderia ter avisado? Poderia, mas era muito fofo que ele estivesse tão concentrado assim no jogo e eu não queria quebrar a vibe da mesa de maneira alguma — principalmente em pensar que, talvez pela primeira vez desde que a gente decidiu mentir sobre uma verdade, meses antes, nós dois fôssemos de verdade-verdade.
E eu amava ver que nada havia mudado. O Edu continuava conquistando minha família, fazendo as vezes de cada um, Valentina continuava achando que era tudo mentira, minha mãe continuava querendo data para casamento, Marcelo continuava querendo fingir que não gostava dele e Patrício parecia cada vez mais na do arquiteto. Era simplesmente a mesma coisa de antes, só que havia um detalhe diferente: nós estávamos diferentes.
Não havia mais fingimento, querendo enganar as pessoas e nós mesmos com desculpas que não convenciam nem o mais ingênuo dos Noronhas. Nós dois, eu e Eduardo, talvez sempre fomos o que somos hoje. Só precisamos de um tempinho para perceber.
— Seu funeral — Marcelo murmurou com a voz baixa, tentando ser assustador, porém apenas deixando com que ela desafinasse no final e tia Marília recomendasse própolis para uma garganta defeituosa.
Acho que alguém não receberia mais flores em casa tão cedo.
No entanto, exatamente como as minhas continhas mentais me alertaram, Marcelo virou um sete.
O que significava que o Edu havia feito vinte e um pontos com três setes.
Sorte ou manipulação? Não sei, mas que o maço do Marcelo deu errado, isso eu poderia afirmar e colocar meu CREA no jogo, porque os olhinhos castanhos dele ficaram tão arregalados que eu quase quis ligar para o Henrique Francisco e perguntar se era um efeito permanente de não saber embaralhar as cartas direito.
— Ganhei? — Eduardo perguntou com tanta surpresa que eu comecei a rir, me inclinando sobre as suas mãos e beijando a sua boca na frente de todo mundo, porque eu não só estava alguns reais mais rica, porém havia a dignidade que ele havia mantido e nem fazia ideia de que estava em jogo.
— Ganhou, amor, e foi lindo — eu murmurei contra os seus lábios, adorando a sua boca quente contra a minha e a sua língua em um carinho lento.
— Ah, ok, a gente entendeu que vocês voltaram, não precisa trocar baba com o seu namorado na frente de todo mundo — Valentina comentou e eu me afastei do Edu, limpando o cantinho da sua boca que estava meio rosada por conta do meu batom.
Hum... namorado? Nós estávamos juntos, era verdade, mas nunca havíamos discutido sobre dar um título, um rótulo e um nome para o que tínhamos, que nem antes. Contudo não estávamos mais como antes, agora era tudo novo, tudo certo, então talvez...
— Tem que aproveitar todos os beijos que ele não me deu quando estávamos separados, né? — Eu me apoiei contra o encosto da cadeira do Edu e ele enroscou o indicador na alça da minha saia jeans.
— Verdade, e ela está cobrando muito juros — ele pegou a sua garrafa de Eugência e a bebericou, franzindo o cenho por um segundo e eu assisti Adriel ficar dois tons mais pálido ao assistir a cena, contudo o arquiteto apenas continuou a beber.
Eu deveria avisar que ele estava bebendo chá, né? Deveria...
— Apelação cível? Cobrança indevida de juros de mora? — Patrício arqueou as sobrancelhas com tanta intensidade que elas ficaram visíveis mesmo que ele usasse seus óculos de sol estilo aviador — eu pego o seu caso quando quiser, coisa linda.
Eduardo piscou para o advogado sem esconder que ele adorava aquele apelido que os dois trocavam na calada da noite junto com algumas imagens de protetor solar. Eu fingia que não sabia do que se tratava, mas não era como se eles fossem discretos — e eu meio que achava fofo, porque eu me lembrava que tudo isso começou em um cruzeiro com uma mentira, mas hoje... bem...
— Se fecha, janela velha — Marcele apareceu com uma nova leva de pão de alho e linguicinha, estreitando os olhos para o seu noivo e o meu arquiteto — sabia que ele nunca me chamou de coisa linda? Tem como processar por isso?
— Injúria e difamação? — tia Vanessa sugeriu, mais provavelmente porque a maioria das celebridades hoje em dia processavam os jornalistas dessa maneira e não porque efetivamente ela sabia o que isso significava.
— Mas ele não está difamando você por não te chamar de coisa linda — Adriel suspirou pesadamente, enfiando um pedaço de picanha que tinha surgido na mesa de jogo junto com o tio Cristiano — dá pra tentar abrir um processo contra o Eduardo por falsidade ideológica, e alegar que você é a coisa linda e ele tá roubando seu nome.
— Não é assim que funciona, Dridri — Patrício deu dois tapinhas nos ombros do rapaz, que deu de ombros e a sua franja caiu na testa dele quase em câmera lenta.
— Dridri? Acabou a sua dignidade hoje, Dridri — Valentina começou a digitar freneticamente no seu celular e eu tinha a leve impressão de que teríamos uma onda de figurinhas do Adriel no nosso grupo em pouco tempo e elas estariam junto com as que a mãe do Edu me mandava todos os dias pela manhã.
Conquistando a sogra? Check.
— E eu pensei que isso fosse um chá revelação, não um Casos de Família — Sam, já com a barriguinha aparecendo e o rosto levemente mais inchado, apareceu para dar o ar da graça com um vestido que era metade laranja e metade verde, porque eles combinaram que essa coisa de azul e rosa era meio antiquada.
Só que isso gerou um enorme debate na família, afinal o verde deveria ser um menino e o laranja uma menina? Deu trabalho convencer a vovó Malvina isso, porque ela dizia que laranja era a cor da masculinidade e que verde era da fertilidade. A gente só conseguiu matar a discussão quando mamãe disse que já tinha encomendado o bolo e que essa era a regra e pronto.
Ditadura, se me perguntassem, mas era assim que os Noronhas funcionavam.
— Eu amo sua família — Eduardo comentou comigo e voltou a beber da sua garrafa.
— Você está bebendo chá, amor — eu sussurrei contra o seu ouvido e entreguei a ele a long neck de Zéralt que o Gustavo havia conseguido para nós na noite anterior, praticamente uma hora antes do nosso vôo — pega a minha que eu vou buscar uma tacinha de Riesling para mim.
— Eu amo quando você fala nomes de vinhos assim, como se eu soubesse exatamente do que você está falando — sorriu para mim e eu tombei o rosto na sua direção, adorando como o sol estava batendo nos seus olhos, deixando suas íris em um tom de azul que me lembrava o mar caribenho com pequenos corais no fundo.
— Chardonnay, Malbec, Merlot, Pinot Noir, Tannat... — comecei a citar todos os que me vinham em mente e ele enlaçou o meu pescoço com o seu braço antes de afundar a boca na minha. Sua língua era quente e doce, deslizando contra a minha em promessas não verbalizadas, porém eu sabia que começavam quando a gente chegava no nosso quarto do hotel e terminavam apenas no dia seguinte.
— Vai, me seduz mais — ele brincou comigo, um sorriso contra o meu.
Havia um brilho no seu olhar que sempre se intensificava quando ele me olhava, dançando pelos seus olhos ao desenhar minhas linhas, de cima a baixo.
— Syrah — sussurrei e ele colocou a mão no peito, como se tivesse levado um tiro e não conseguisse mais se manter sentado como uma pessoa normal na cadeira.
Qualquer um poderia achar isso meio idiota.
Não eu.
Esse tipo de coisa era meu momento preferido do dia. Como a segunda que ele me acordou com beijos ou na terça que fez massagem nas minhas mãos de tanto que eu digitei. Ou na quarta que ele pediu comida para nós dois enquanto eu ajudava Tiago a montar o bar que ele e Leandro haviam comprado, ou na quinta em que nós dois só ficamos enrolados um contra o outro, tentando assistir uma série, porém não conseguindo prestar atenção em nada que não fosse um ao outro.
E se essa fosse a famosa lua de mel, eu não queria que acabasse nunca, porque eu amava cada segundo ao seu lado, enrolando todos os minutos que dava antes de ter que sair da cama e aproveitando qualquer oportunidade que eu podia para lhe arrancar um beijo.
No começo, eu queria beijá-lo a todo momento, porque eu tinha medo de acordar no dia seguinte e descobrir que fora apenas um lindo e delicioso sonho, porém, sempre que eu abria meus olhos e encontrava o arquiteto enroscado em mim, eu o beijava ainda mais, porque, pela primeira vez, a realidade era melhor do que sonhar.
— Adriel, pela décima vez, doloso é com intenção e culposo é sem intenção — Samantha bufou, colocando a mão na sua barriga como se até mesmo M4 estivesse se revoltando com aquela afirmação.
— Mas se o nome é culposo, dá a entender que a pessoa tem culpa, o radical é o mesmo! — o nosso vestibulando preferido argumentou e Patrício assentiu, como se conseguisse entender de onde vinha a sua linha de raciocínio, mas, ao mesmo tempo, ele tinha um beicinho contrariado nos lábios que delatava que estava a um passo de dar um pescotapa no garoto.
— Se o Mau ou a Bela escutassem isso, te comiam vivo — o advogado murmurou e eu pesquei na minha memória que aqueles eram os nomes dos advogados que trabalhavam com ele — tem que ler mais sobre o assunto, meu gótico light. Tem que saber direito básico pra não ser feito de otário por aí.
— Ninguém sabe — Adriel retrucou e notei que papai estava prestes a argumentar algo, porém parou de falar, porque o rapaz tinha razão. Ninguém além do Patrício e da Sam, sabiam nada de direito.
— Então vai saber, criatura, tá esperando o que? Um convite? — tio Cristiano deu de ombros com uma nova leva de costelinha e eu avancei antes que acabasse e eu não comesse nenhuma.
A melhor parte de estar com o Edu? Era que ele me deixava ser carnívora e feliz.
Droga, eu amava muito esse cara.
— Ótima ideia! O Adriel pode trabalhar com o Patrício no escritório como advogado. Pode ajudar a passar na provinha pra ser advogado e tudo, né? — tia Marília deu um sorriso orgulhoso de sua ideia e Patrício congelou onde estava, ele tinha pavor de escutar Vade Mecum até hoje. Foi um período meio sombrio na sua vida que Marcele nunca comentou muito sobre, mas envolvia cápsulas de cafeína, simulados, peças e muito café.
— Não é bem assim que funciona, sabe? — ele tentou se defender, perdendo a pose de advogado fodão que ele gostava de passar para nós, mas é porque sabíamos que ele tinha medo da nossa família.
Acho que os Noronhas são intimidadores? Não sei, para mim nós éramos apenas barulhentos e expansivos e meio teimosos.
— E o que ele pode fazer então? — tia Vanessa perguntou e eu acompanhei aquilo como uma partida de tênis, vendo Patrício ficar meio verde e adorando que, finalmente, eu não era mais o centro das atenções nas conversas familiares.
— Eu... hum... não... acho que... — engoliu a seco e eu senti Eduardo tremendo ao meu lado, tentando abafar a sua risada da cara de desespero do Patrício e que Marcele não estava nenhum pouco propensa a ajudá-lo a sair dessa depois dele não a ter chamado de coisa linda.
Bem, a reatividade se apresentava de várias maneiras, não é?
— Recepcionista — Marcelo falou, embaralhando as cartas quando meu celular apitou continuamente, anunciando que eu estava recebendo uma ligação — Dridri pode trabalhar no escritório do Patrício como recepcionista por um tempo e aprender o traquejo da coisa.
— Verdade, coisa linda, você disse que a Ananda saiu semana passada e que vocês queriam alguém para ocupar a vaga, né? Melhor de tudo é que o Adriel não sabe nada e está louquinho para aprender enquanto não recebe o resultado da USP sobre gemologia — Marcele acrescentou com um sorriso tão doce que o veneno na sua voz foi sutil, porém ele estava ali e eu notei que até mesmo Valentina estava orgulhosa da Noronha boazinha.
— Eu... não... hum... tem que ver com o Maurício-Pai, né? Não sou eu que mando lá — ele passou o dedo na gola da sua blusa e deu um gole da sua Eugência, matando mais da metade do casco apenas para conseguir digerir aquela conversa — e eu nem sei se o Adriel quer, né? Vai que ele...
— Seria muito massa, Pat — os pequenos olhinhos negros de Adriel piscaram quase como se fosse Natal — eu sempre assisti essas séries americanas sobre advogados e processos e intimações e parece muito daora. Vocês são chamados para delegacias e falam para seus clientes não falarem nada? Vocês conseguem ver todo registro criminal de uma pessoa? E consegue fazer um assassino ser inocentado?
— Não é exatamente isso o que a gente faz. Nossos clientes são bancos, é bem sem graça, pouca emoção... — Patrício tentou escapar, porém eu desviei minha atenção para o meu celular, vendo o nome da vovó ali.
Ela tocou uma vez e desligou, mas esse era o nosso sinal de que estava pronta para que eu a buscasse no centro dos idosos.
Será que ela havia ganhado a torradeira que tanto queria naquele bingo?
Cenas dos próximos capítulos.
— Ei, amor, vou buscar meus avós, quer ir ou quer continuar assistindo a carnificina? — eu me levantei e enfiei as minhas sapatilhas nos pés, porque estava quente demais para usá-las tempo integral.
— É muito emocionante quando não é com você, né? — Eduardo sorriu para mim e passou o braço ao redor dos ombros, dando um tchauzinho pouco culpado para Patrício quando o advogado berrou por auxílio com os seus olhos arregalados em desespero — é tipo assistir as Olimpíadas e torcer para a Fadinha, querendo o melhor para ela, mas mesmo assim torcendo para que as outras crianças caíssem dos seus skates.
— Despertando o melhor de nós — eu entrelacei meus dedos nos dele, pegando a chave do carro da minha mãe que estava no aparador da sala — no caso o Patrício seria a Fadinha ou as crianças caídas?
— O Adriel é a Fadinha, tô torcendo pelo estágio não acadêmico dele — Eduardo esclareceu — o Patrício é aquela americana que falava que odiava competições e às vezes se dava bem e às vezes caía.
— Eu amo como a sua mente funciona, Eduardo Senna — destranquei o carro e comecei a me dirigir para a porta do motorista quando ele me cercou contra a lataria, eclipsando a casa inteira com o seu corpo e me causando um arrepio quando sua mão retirou o cabelo do meu ombro.
— Eu também te amo — segredou, baixinho, e eu inclinei minha cabeça para cima, aceitando que a vovó não se importaria em esperar um pouco.
⟰
— Bolão, bolão! O sexo do M4 vai ser revelado em poucos minutos e essa é a sua última chance para ganhar essa belezura aqui! — Valentina, a mediadora de apostas oficial da família Noronha, estava com o seu megafone (onde e quem deu aquilo para ela?) enquanto chacoalhava o Petrúcio, o porquinho-cofre que o vô Nicolau deu para ela de dia das crianças quando tinha cinco anos e que usava até hoje, mas para guardar o dinheiro das apostas.
— Dez reais que é menino! — Eduardo se empolgou, correndo até a minha prima e abrindo a carteira perto dela, um erro bem amador, porque ela mirou seus olhos amendoados na nota de cinquenta que havia ali e a pegou antes que ele pudesse dizer algo sobre, enfiando-a no Petrúcio — mas, eu...
— Cinquenta reais que é menino pelo Duduzinho — ela anotou o nome dele no caderno e empurrou o arquiteto de volta na minha direção, completamente atordoado de como ele havia ficado meia centena mais pobre em um churrasco de família — Estamos setenta, trinta para que o baby Noronha vai ser menina. Pelo jeito Celão tem cara de pai de menina.
— Só porque eu sou florista? — ele rolou os olhos, deixando tia Vanessa trançar a sua barba para a grande revelação.
— É uma florzinha, Celinho — vovó Mal arrumou a gola da camisa dele que já estava ajeitada, dando um sorrisinho contente para o casal do momento — eu passei as técnicas para a Samantha de ter menino e menina, mas ela não me disse se usou nenhuma.
— Não tem como escolher, vó — Enzo considerou e eu franzi meu cenho.
Vó?
— Ei, sem reatividade — Edu colocou a mão cobre a minha e eu o olhei — você está dando o seu olhar de fofinha do mal e a gente não quer mais carnificina hoje. Patrício já está traumatizado permanentemente e Adriel tá reluzindo pelo novo trabalho.
— Reluzindo? — indaguei, olhando para o meu primo, que estava sentado em um canto com cara de poucos amigos, porque descobriu que o trabalho que ele se inscreveu era para arquivar papelada, organizar agendas e atender ligações.
O coitado já estava achando que ia para frente de um caso para defender os inocentes e colocar metade de Brasília atrás das grades.
O sonho jovem.
— Mas o jeito que ele fica emburrado é diferente — Edu tentou me explicar e eu sorri, acompanhando as palavras se moldando nos seus lábios e amando como eles eram quase poesia encarnada, como o corpo dele sempre encaixava no meu e que eu queria morar em cada cantinho novo que eu descobria dele.
— É um charme de família — pisquei e ele riu, me abraçando com vontade enquanto eu me engasgava de tanto rir.
Eu tinha tanta sorte, mas tanta, que tudo bem se eu não ganhasse na Mega-Sena, porque eu tinha o Eduardo e isso me bastava. Sempre me bastaria.
— Claro que tem como escolher, acha que eu tive dois homens e uma mulher por acidente? — vovó se sentou na cadeira da ponta e pegou o seu copo de Mautava que estava sendo reposto pelo meu pai, que estava muito animado que a mãe se deleitava do mesmo veneno que ele. Que todos os outros — para ter menina, tem que comer alimentos ricos de cálcio e magnésio como espinafre, couve, rúcula e coisinhas assim. Já para menino, ovos, peixes, carnes, arroz e aquele feijãozinho...
Todos os olhos se voltaram para Samantha, que estava se atracando com um pedaço de carne que era quase do tamanho do seu antebraço junto com um pratão de rúcula.
Aquele era o famoso cinquenta e cinquenta.
— O que foi? Nunca viram uma grávida comer? — ela rosnou para nós e tia Vanessa puxou Bruna para perto dela, com medo que a filha fosse a próxima refeição de Sam.
— E que horas vai ser a revelação? Eu tô louquinho pra saber se vai ter uma pirralha ou pirralho na família — Enzo perguntou e eu, de repente, entendi o motivo para ele ser o noivo de Bruna. Os dois eram impacientes na mesma medida.
— Má, vem me ajudar com esse balão! — Marcele pediu e eu me afastei do Edu, não querendo ficar longe do seu calor, mas aceitando que se eu deixasse Cele fazer aquilo por conta dela, provavelmente ela sairia voando que nem o Up e aí acabaria a surpresa.
Corri até ela e amarrei uma dúzia de balões contra um dos pés da mesa enquanto ela fazia o mesmo do outro lado, vendo que o Edu se aproximou de nós junto com o Patrício para ajudar a manter tudo no lugar, por causa do vento que estava batendo junto com o cheiro de maresia.
— Noronhas — mamãe bateu três palminhas e todo mundo, inclusive os agregados (Edu incluso e eu achei isso talvez fofo demais) voltaram sua atenção para ela, que segurava uma taça de espumante que eu não vi ser aberto, buscando a fonte daquele líquido borbulhante maravilhoso — eu queria dizer apenas duas palavrinhas para esse casal, porque não é todo dia que você se torna avó, principalmente de um amor como o do meu Celinho e da Sam.
Puxei um lencinho que eu ganhei do Leandro de presente de "parabéns pelo prêmio do estádio", e entreguei ao arquiteto, que começou a rir, aceitando-o mesmo que seus olhos de cristal apenas estivessem brilhando, porém ainda não havia derramado nenhuma lágrima.
— Eu odeio como você me conhece — ele murmurou, me puxando para um abraço, encostando o seu peito contra minhas costas e eu tombei minha cabeça contra o seu ombro, abraçando a mão que me envolvia.
Era tão natural me enrolar nele que às vezes eu nem reparava mais no que fazia, eu apenas me encostava e a gente... simplesmente encaixava. Era delicioso e lindo, os dois ao mesmo tempo, saber que existia uma pessoa no mundo que não me moldava apenas no físico, mas em todos os outros aspectos, porque ele amava mesmo nos meus rompantes de raiva, quando eu queria sentar e chorar no banheiro ou quando tudo o que eu conseguia fazer era trabalhar e trabalhar e trabalhar.
Eu sabia que era fácil amar alguém nos seus melhores momentos, mas amar na adversidade, nos momentos difíceis? Isso era raro. E precioso. E era tudo o que Eduardo me entregava, por isso que eu queria ser o seu porto-seguro tanto quanto ele era o meu.
— Eu amo você — sussurrei de volta, sentindo suas mãos me apertando um pouco a mais quando ele beijou minha têmpora e eu fechei meus olhos, sendo invadida por uma onda de One Million e suor e maresia, o mesmo cheiro que ele exalava no cruzeiro, mas que agora tinha muito mais significado do que naquela época.
Nós dois tínhamos um novo significado. Mais real. Mais sincero. Mais nosso.
Acho que, em devaneios, eu acabei perdendo as palavras do restante da família, porque meu pai estava aos prantos enquanto abraçava Samantha e o Patrício estava agarrado com Marcelo, dizendo que ele era a sua orquídea preferida (?).
— E agora... o momento que todos mais esperavam — Valentina anunciou, em cima de um banquinho, e entregou dois garfos de plástico para o casal — hora de estourar os balões pretos até descobrir se é Marcelu ou Marcely!
Eu comecei a rir e Eduardo fungou do meu lado, então eu puxei uma das mãos dele para cima e a beijei, acompanhando Samantha e Marcelo até os balões com meus olhos.
— Em cinco, quatro, três, dois... Um! — Valentina e toda a família contou, e os dois começaram os estouros, balão vazio atrás de balão vazio e Bruna aceitou a sua missão de técnica, porque ela dava instruções para os dois como se conseguisse saber exatamente onde estava o balão premiado.
Até que...
Samantha enfiou o seu garfo dentro de um balão e...
Verde.
Confete verde começou a cair em cima dela e a delegada começou a chorar, abraçando Marcelo com tanta intensidade que ele quase foi nocauteado no chão, porém se manteve firme e pousou os lábios nos cabelos da esposa, com tanta devoção que acho que um cisco caiu até mesmo nos meus olhos.
Celo ajoelhou no chão e beijou a barriga da mulher com carinho e eu sabia que a verdade era que independia do sexo do bebê, porque ele seria amado por dois pais que moveriam montanhas por eles — e por tios e avós que eram meio descabeçados, mas jamais hesitariam em defendê-lo de uma briga na caixa de areia.
Baby Noronha era menino. Por agora, pela biologia, pelo menos.
Eu me soltei de Eduardo e corri para me enfiar no abraço deles junto com Marcele, o que ocasionou em uma onda de beijos e carinhos e lágrimas que ninguém mais era de ninguém, mas todos eram de todos.
— Ei, sabe o que eu percebi? — escutei a voz da Valentina meio amassada contra a minha escápula direita — verde é a cor do Edu, né? Será que o M4 vai ser um bebê sustentável?
Comecei a rir, buscando os olhos do Edu no meio do nó que nós havíamos nos enfiado e ele piscou para mim, definitivamente achando que aquele era um sinal.
— Acho que já podemos falar, né? — Sam resfolegou e nós começamos a nos afastar, desfazendo a bagunça que havíamos formado, porque, por mais que implicássemos uns com os outros, acho que família era assim. Não era boa em demonstrar ou dizer que te amava, mas ela te amaria e te colocaria em primeiro lugar. Sempre — já temos um nome — olhou para o marido, esperando.
Todos os olhos se voltaram para Marcelo, que respirou fundo e limpou o rosto com um lencinho que tinha uma estampa de lírios, então ele assoou o nariz e o momento fofo foi quebrado por um barulho que assustaria até mesmo um elefante.
— Marcel — ele segurou a mão da esposa e eu coloquei as mãos nos lábios — M4 vai se chamar Marcel Guimarães Noronha. Não tinha como não começar com M, né?
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Helloooo Bambuzetes, bom fim de ano para todo mundo!!
Não tinha como não mostrar nossa família caótica preferida, não é?
Mardo sendo oficial na frente de todo mundo e a gente suuuuuuuuuuurta de amores <3
M4 É MENINO E VAI SER CHAMAR MARCEEEEEEEEEEEEEEL HAHAHAHAHA a fanfic gente, não resistimos manter essa tradição nos Noronha.
Alguém ta sentindo o que está faltando para CEM encerrar com grandíssimo estilo?
Não esqueçam do surto, amor e biscoito hehehe
Beijinhos,
Libriela <3
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