Capítulo 104 - Eu gosto da ideia do seu quase tudo
Eu gosto da ideia do seu quase tudo
Marcela
— Eu juro que teve uma época que o apelido do Rui era Lui, porque ele simplesmente não conseguia pronunciar o "r" — contei mesmo que a mão do dito cujo estivesse tentando me impedir de narrar todos os fatos constrangedores que eu conseguia me lembrar — e ele brincava de Power Rangers até os 13 anos e se você colocar a musiquinha, aposto que ele ainda... ai!
Eu, literalmente, havia recebido uma rasteira de Rui Casagrande, virando a água com gás que tinha em mãos na minha blusa azul-turquesa, porém ele teve a decência de, ao menos, me segurar para que eu não me estatelasse no chão com uma completa falta de classe.
— Tira as mãos da Marcela! Mercadoria preciosa! — Marina me defendeu, puxando-me para um abraço longe das mãos traiçoeiras do seu noivo, que apenas me olhava com aquelas suas taturanas loiras arqueadas, prontinho para acabar comigo na próxima oportunidade que encontrasse.
— Ele já te contou da vez que ele levou cinco pontos no joelho, porque... — desta vez eu vi o ataque do ex-galã de revista antes dele realmente me atingir, fechando a boca e impedindo que aquela castanha do Vamo-Pará-Rui? entrasse goela abaixo — que eu me lembre, eu era a agressiva da nossa relação!
— Verdade, ela atirava pecinhas de lego em mim — ele relembrou e eu voltei a rir, com meu braço ao redor dos ombros da Marina, que tinha um brilho diferenciado no olhar naquela noite, morrendo de rir da troca de tiros que era o nosso passado capixaba.
— Porque ele destruía todos os meus arranha-céus! — eu me defendi e Rui limpou algumas lágrimas que estavam escorrendo pela sua bochecha de tanto que estava rindo — e ele chorava sempre que acabava o recreio, porque queria continuar lagarteando no sol sem mover absolutamente um músculo.
— Marcela... — ele me olhou feio e eu arqueei as sobrancelhas, quando um sorriso divertido surgiu nos seus lábios e ele pediu mais uma Eugência para o Breno, que estava dividindo o seu tempo entre rir de nós e servir as outras pessoas — teve uma época que eu te chamava de Malela, lembra?
— Claro que eu lembro! Você me traumatizou, porque eu achava que você estava me chamando de "amarela"! Nunca mais usei meu vestido de girassol depois disso! — eu continuei a rir e, desta vez, fui eu quem limpou o cantinho dos olhos, sabendo que meu rímel já estava na minha cara inteirinha e não mais apenas nos meus olhos.
— Você deveria agradecer o Rui, sua pele não foi feita para essa cor — Leandro comentou ao meu lado e sacou o seu celular do bolso, juntando sua bochecha com a minha — diga xiiiiiiis! — e ele tirou mais uma foto, porque, aparentemente, Eduardo havia pedido para que ele cuidasse de mim naquela noite.
Só que o Edu também havia me pedido para ficar de olho no galã sensato, porque ele havia acabado de sair de uma gripe estranha e estava com a tolerância ao álcool baixíssima — e ainda bem que ele disse isso, porque eu consegui impedir umas três vezes que o rei dos lençóis de pedir um submarino para Gustavo, que ficou tentado a fazer só para alegrar o rapaz.
Eu senti meu celular vibrando e olhei para o copo à minha frente, pedindo para que algum dos nossos garçons de estimação repusesse minha água, porque... bem, por que mesmo eu não estava bebendo? Então eu pedi uma Eugência Original e quase fui ovacionada pela Marina, que estava feliz demais com aquele Happy Hour não programado.
Tudo começou duas horas antes, quando eu estava chegando em casa e recebi uma mensagem de Leandro, em uma das suas selfies estranhas que ele continuava saindo incrivelmente bonito, ao lado de toda a equipe da VixSão dentro dos Ardos com a seguinte mensagem de voz vindo de Marina:
Marcelaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Eu pre-ci-so saber dos segredos super-secretos do Ruuuuuuuuuuui
Não posso casar com um cara que não me responde qual o livro preferido de infância dele!
E eu, como a pessoa maravilhosa que eu era, lhe dei a resposta que ela queria:
Marcela: Diário da Princesa, da Meg Cabot
Marcela: Nós lemos juntos e ele brigou comigo quando eu não shippei certo
Depois disso eu recebi uma metralhadora de convites para ir para o Bar dos Ardos e uma ameaça de Rui Casagrande para eu nunca mais aparecer na sua frente, porque agora a Malu havia feito uma montagem dele com um caderno com plumas rosas e uma coroa.
E, como eu estava em casa, Thales estava estranhamente quieto, Retúlio estava em um encontro romântico (eles até me convidaram, mas tinha espumante, rosas e banheira de hidromassagem, então eu tive a decência de passar o nosso momento trisal), e Eduardo estava em Campinas comemorando o aniversário da cachorra da mãe dele (Ana Sofia eu acho), acabei chamando um Uber e fui até aquele rolê aleatório.
Eu puxei o aparelho do bolso da minha calça quando Breno me deu uma long neck de Eugência e a beberiquei antes de desbloquear a tela, querendo mascarar o sorriso tolo que surgia nos meus lábios sempre que o nome Eduardo Capitão Planeta surgia em minha tela.
Eduardo: É oficial, precisamos fazer uma intervenção com a Ceci
Eduardo: Ela enfiou PEPINO NO BOLO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Eduardo: Eu sou 100% a favor de comidas saudáveis e legumes, mas não em um bolo!!!!!!!!!!!!!!!
Eduardo: Eu não consigo acreditar que a gente compartilha a mesma mãe
Eduardo: Vai querer que eu guarde um pedaço para você? Ta estranhamente bom
Marcela: Nível cheesecake que faz a Daphne revirar os olhinhos?
Eduardo: É a língua do Duque que causa isso nela, Má, tava dormindo de novo?
Marcela: Alguém gostou demais da série, né?
Eduardo: Gostei da companhia que estava enrolada no meu corpo
Eduardo: Mesmo com os pés congelados
Marcela: POR CAUSA dos pés congelados eu estava ainda mais enrolada, então agradeça
Marcela: (digitando...)
Eu senti que o aparelho foi confiscado da minha mão pelo Rui, que tinha um sorriso vitorioso no rosto, como se tivesse acabado de se lembrar que havia um pote de feijão da sua mãe dentro do congelador e ele estivesse morrendo de vontade de comer feijão — ok, talvez eu estivesse com vontade de comer feijão, mas a comparação era válida.
— Você andava com o cobertorzinho do Barney até os oito anos! — ele apontou o meu celular na minha direção com tanto louvor que eu coloquei a mão no peito, porque... meu Deus, aquilo ia totalmente na contra-mão da minha fama de reativa.
— Não andava não! — eu tentei me defender, com a boca meio aberta e as bochechas tensas para que eu não delatasse a verdade.
Eu era ótima no poker! Tinha que valer de alguma coisa a minha cara de nojenta!
— Andava sim! Você chorou um dia quando a Bianca derramou suco de uva na barriga do Barney e a mancha nunca mais saiu — ele continuou narrando aquilo e eu vi que a rádio fofoca das Três Espiãs Demais já estava ativada e Leandro estava narrando aquela história no meio de algumas risadas e soluços.
Só que eu não conseguia mais me lembrar dessa cobertinha — ou do quanto eu sofri quando minha mãe me fez doá-la no ano seguinte na campanha de agasalhos do lar de idosos —, porque assim que o nome Barney veio a minha mente, eu só consegui me lembrar do cruzeiro, com Eduardo usando aquele dinossauro roxo colado em suas pernas e no quanto a gente teve uma noite deliciosa rolando por aquelas cobertas enquanto comia pizza.
Parecia uma vida de distância.
E, mesmo assim, nos últimos dias tudo o que a gente fazia era rolar de um lado para o outro no meu apartamento ou no seu, enquanto discutíamos sobre trabalho, sobre viagens e tudo aquilo que a gente ainda queria conquistar na vida.
Era tão fácil simplesmente falar com ele que às vezes eu me assustava por ver que já era de madrugada e a gente ainda nem havia pensado em jantar, ou que às vezes nós não havíamos sequer nos mudado de posição desde o momento que entramos em casa — isso daí era mais culpa dele do que minha, porque ele era quentinho e macio e eu sentia sono com séries de época, mas não queria contar, porque ele parecia super animado em teorizar sobre como a Lady Whistletown era na verdade uma Entidade Cármica que punia todo mundo que tentava atrapalhar nossos casais.
Sim, aparentemente nós dois tínhamos casais e estávamos muito entusiasmados para que eles ficassem juntos.
E eu acabava apenas concordando, porque eu adorava deitar em seu peito, fechar os olhos e sentir o seu aroma de One Million misturado com o meu Lady Million — acho que Marcelo estava me mandando sinais pouquíssimos discretos sobre o que ele esperava para o meu futuro amoroso —, só que eu pouco me importava, porque...
Bem, porque eu sentia que todo dia que nós estávamos juntos, eu me sentia mais confiante de que ele era certo para mim. E que eu era certa para ele. E que nós éramos uma mistura tão perfeita, que nem se alguém quisesse, conseguiria mais nos separar.
— Terra para Marcela? Tá pensando em trituradores de carne? — Felipe, o filósofo de plantão, abanou a sua mão na minha frente e eu revirei os olhos — sua alma tá com o Eduardo?
— Quê? — eu perguntei no meio de um sorriso, roubando meu celular das mãos de Rui e o olhando feio quando ele pensou em reclamar, porém acho que ele desistiu de ir adiante com aquilo quando Marina enlaçou a sua cintura com os braços e o beijou no queixo, em um ângulo esquisitíssimo, porém ele se derreteu mesmo assim, abaixando a cabeça para murmurar algo no ouvido dela.
— Desculpa o Fê, às vezes ele não bate bem não — Camila tentou se desculpar, chegando na mesa ao puxar Vitório Gava pelo pescoço com uma gravata que com certeza não era dele, porque estava usando uma camiseta.
— Mais respeito pelo seu chefe? — pediu, quase ultrajado.
— O que ele quis dizer é que sua você estava meio aérea e possivelmente estava pensando no amigo Edu — Malu interveio, enfiando-se entre Leandro e Felipe — o Fê curte uma filosofia clássica aplicada, então ele só usou o que Aristóteles disse sobre o amor ser formado de uma só alma, habitando em dois corpos e... — ela parou, olhando para mim o semblante completamente confuso, possivelmente mimicando o meu — meu Deus, eu preciso parar de ajudar ele a estudar para as provas!
— Filosofia é um bichinho que, quando te morde, é para sempre — ele deu de ombros, bebendo da sua Eugência e ficando com um bigodinho de espuma, que todos conseguimos disfarçar muito bem que não estava lá, menos Leandro, que começou a gargalhar no mesmo instante.
Meu celular vibrou de novo e eu roubei uma olhada na direção dele, vendo que Eduardo estava me mandando uma dúzia de fotos e "pedindo foto de agora", o que me fez dar uma risada e morder os lábios, porque um tempo atrás, uma mensagem dessas...
Então eu senti uma vontade pungente de fazer xixi.
— Lê, cuida da minha cerveja dois minutos? Preciso ir ao banheiro — comentei, entregando a garrafa ao galã que com certeza a beberia até que eu tivesse voltado, escutando Rui e Vitório entrando em um embate se eu era "honrada" ou não, mas acho que eu era, porque até a Marina veio em minha defesa.
Havia uma filinha de pessoas antes de chegar a minha vez e eu aproveitei para ver as mensagens do Edu, sabendo que eu poderia esperar para respondê-lo com calma depois, porém eu simplesmente não queria. Eu queria agora. Eu queria sempre.
Eduardo: Oficialmente você não pode NÃO vir para Campinas próxima vez
Eduardo: Cecília trouxe o Sandro e eu me sinto corrompido e ao mesmo tempo deliciado por conseguir ver o Sandrinho fora do trabalho
Eduardo: Você sabia que ele já teve uma fase emo?
Eduardo: E uma fase loiro?
Eduardo: (imagem)
Eduardo: (imagem)
Eu abri as fotos rapidamente apenas para ver o Sandro de vinte e poucos anos com o lápis preto embaixo dos olhos e um piercing falso na boca. Depois eu deslizei a tela para o lado e vi Sandrinho Ventura com os cabelos platinados e uma camiseta de alguma coisa de surfe, porém eu tinha certeza de que ele não teve uma época surfista, porque o Valter me disse que ele tinha alergia a água salgada — pele Baby Johnson & Johnson foi a sua definição, se não me engano.
Marcela: MEU DEUS EDUARDOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Marcela: Você fez a minha noite MUITO MELHOOOOOOOOOOOOOR
Marcela: HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAA
Marcela: Posso enviar pro grupo do churrasco?
Eduardo: PELO AMOR DO MEU BAMBU, NÃO!
Eduardo: Sandrinho me engole vivo
Marcela: Fica tranquilo, eu te protejo
Marcela: Nada de machucados para você
Marcela: Você já teve a sua cota da vida
Eduardo: Mas eu gosto dos seus beijinhos que curam machucados
Marcela: Lembrando que ainda não temos provas se eles não são venenosos
Eduardo: Eu topo o risco com você, Má
Eduardo: Eu topo tudo com você
Eduardo: Quase tudo, mas não me tente
Marcela: Eu gosto da ideia do seu quase tudo
Marcela: Envolve vinho, espaguete e mousse de chocolate branco do Hermes?
Marcela: Notei que você relaxou a barba também...
Marcela: Falta só a camisa azul que aí eu começo a devolver seus casacos
Marcela: (digitando...)
Uma pessoa tocou o meu ombro enquanto eu esperava a resposta dele e eu notei que era minha vez de fazer xixi — tomar cerveja sempre significava que eu tinha que ir umas trinta vezes no banheiro, porque uma vez que a torneirinha se abrisse, nada mais a parava.
Eu fiz uma manobra ninja com as pernas para não encostar no assento de plástico do vaso, porque, por mais que eu acreditasse os poderes de Gustavo para manter o banheiro limpinho, ele ainda era um banheiro de bar e umas cinquenta bundas desconhecidas passaram por ali antes da minha.
Eu estava a caminho de volta para o grupo mais eclético daquele local, quando notei que Tamara, a musa do marketing, estava com dificuldade em pegar seis cascos de cerveja com as mãos — e isso nem me surpreendia, porque eu ficaria mesmo chocada se ela conseguisse manobrar tudo aquilo nos seus braços —, então eu fui até onde ela estava e peguei três para dar ajuda.
— Obrigada, parece que o pessoal acha que eu vou conseguir equilibrar a cerveja com o meu nariz — ela resmungou e eu dei risada — ai, eles podem esperar um pouco, né? Topa dividir um mojito? Eu estava sedenta por um, mas não queria misturar tanto assim.
— Leu meus pensamentos — eu gracejei, porque eu não estava com vontade de beber destilado, mas assim que ela mencionou o mojito dos Ardos, minha boca salivou — e que tal uma porção de pastelzinho?
— Aquele de camarão com biquinho? — os olhos dela brilharam como duas supernovas com a ideia — topo até duas.
Ela fez o pedido para uma barwoman e nós nos acomodamos ali, vendo que Rui e Leandro levantaram os braços, claramente perguntando "o que vocês estão fazendo paradas aí com a cerveja?" e ela deu de ombros apontando para a música — que hoje era apenas cover de Raul (pelo jeito isso foi um pedido de Marina e Rui, algo que desagradou profundamente o Vitório).
Sociedade Alternativa começou a tocar e eu comecei a bater cabelo bem de leve, porque eu era uma dama e nós estávamos em um bar e eu não estava tão bêbada assim, notando que Tamara balançou a cabeça junto comigo e nós começamos a rir.
— Eu adoro essa música, amo Raul, mas não vou falar isso alto, porque o Vitório acha que Legião é a melhor de todas e rola um ressentimento que o Rui converteu a Marina para Raulzete, sabe? — ela me contou e eu arrumei meus cabelos atrás da orelha, sentindo que uma parte deles estava colando no meu pescoço de tão quente que estava o bar.
— Eu gosto dos dois, é crime? — eu perguntei, vendo que nosso mojito chegou com dois canudinhos e ela me ofereceu um enquanto bebia do outro.
— Nenhum pouco, é incentivado, até — ela sorriu para mim e eu tomei um gole, adorando a sensação gelada do líquido me resfriando de dentro para fora.
Era quase obsceno o quanto aquilo estava bom e eu não consegui franzir o nariz quando senti que engoli um gelinho moído, fazendo com que Tamara olhasse para o meu rosto.
Será que tinha hortelã em algum lugar?
— Não é que seu nariz é mesmo uma graça? — ela apontou para o meio do meu rosto e acho que minha expressão perdida lhe explicou que eu não havia entendido nada do que ela quis dizer — o Edu comentou sobre você e disse que amava o seu nariz franzido. Claramente depois dessa, não dá para aceitar outro tipo de elogio, né? Não posso ficar com um cara que não elogie o meu nariz nesse nível! É uma obra de arte de dez mil reais — ela me contou e eu jamais diria que ela havia feito uma plástica na vida.
— Se pagou, é seu — eu esclareci para ela, querendo focar no arrebitado perfeito que era a curvatura do seu perfil, porém... droga, eu não queria dar aquele tipo de sorriso tolo só por escutar o seu nome, mas ouvir que ele achava o meu nariz algo lindinho me pegou desprevenida, porque eu achava o seu uma obra de arte moderna!
— Obrigada, eu gosto de pensar assim também — ela apoiou seu cotovelo no balcão do bar, assoprando alguns fios de cabelo da sua frente.
Eu puxei meu celular, sentindo-o vibrar com novas mensagens no grupo do Chá de Lingerie/ Panela de Andreia (que mal havia noivado e já havia criado o grupo para causar) comigo, Lavínia, Gisele, Sâmia, Renata e Alice, mandando diversas opções de baladas, só que eu não conhecia nenhuma.
— Ei, você já foi no Sky bar? — eu perguntei a Tamara e ela fez um beicinho pensativo antes de concordar — é legal?
— Se você topar um vento na cara a noite toda, é bem legal — ela considerou e eu logo dei um gigantesco "Não" para este lugar.
— Obrigada — eu rolei pelas minhas mensagens e olhei de novo a minha conversa com o Edu.
Eduardo: Não faço muita questão deles
Eduardo: Gosto demais quando eles estão com você
Marcela: Bem, eu prefiro quando você está comigo
Eduardo: Não fala duas vezes que eu pego meu carro e vou para aí
Marcela: Deixa de ser acelerado e curte a família!!!
Marcela: Aproveita o bolo de pepino, Edu
Marcela: (figurinha)
— Desculpa — eu guardei meu celular no bolso, tentando matar aquele sorriso rendido que vinha no meu rosto sempre que eu conversava com Eduardo — eu só... o Edu... — só que eu mordi os lábios, porque não tinha exatamente o que falar.
— Entendi, fica tranquila que eu não sou fiscal de celular — ela me deu um sorriso contido em um riso anasalado e eu me perguntei se ela realmente havia entendido tudo aquilo que eu achava que estava escrito na minha tela — ele é realmente um cara sensacional, Má, e o Leandro tieta vocês para os quatro ventos. Ok, no começo ele estava se sentindo traído, porque achava que o Eduardo tinha ido pelas costas dele quando vocês dois foram para o cruzeiro, mas acho que até mesmo ele não levava isso a sério, quero dizer... o Leandro, né? Dramalhão completo com ascendente em talaricagem.
Tamara era mesmo maravilhosa. E engraçada. E um amor de pessoa. E eu estava adorando saber que essa era a famosa Tamara Betini.
E havia adorado saber que ela era uma pessoa tão carismática assim e em um cantinho do meu coração eu me sentia mal por saber que um dia eu briguei com o Edu por causa dela, pelas minhas inseguranças que não tinham nada a ver com ele ou ela ou nós todos.
E eu estava amando que eu tive a chance de descobrir a pessoa incrível que ela era por trás de todas as histórias que Leandro narrava da Leoa da VixSão.
— E tem o sorriso estranho, né? — eu complementei e ela começou a rir contra o canudinho do mojito.
— Eu tenho uma teoria — ela olhou para os lados, provavelmente querendo ter certeza de que Leandro Lamas não estaria escutando aquela conversa, porém ele estava abraçado com Felipe, enquanto Camila tentava separar os dois e Vitório tentava tirar Camila dali do meio — a intenção dele é dar um sorriso meio estranho.
Eu acho que fiquei parada olhando para o seu nariz arrebitado por mais tempo do que ela havia previsto que eu o faria, porque a loira apenas suspirou e se inclinou na minha frente quando nossos pasteizinhos chegaram e meu estômago deu uma cambalhota de felicidade. Ela deu uma piscadinha para o Breno — meu Deus, esse era o labrador mais feliz que existia depois dessa.
— Pensa comigo — ela me pediu enquanto eu mordia as duas pontinhas do pastel e assoprava para que ele esfriasse um pouquinho mais — ele te dá um sorriso estranho, então o que você faz? Olha mais para o sorriso dele, fala com as pessoas sobre ele, debate se realmente é bonitinho ou não, percebe que ele tem uma pintinha perto do lábio na décima quinta analisada e aí... começa a achar charmoso.
— Você tem um ponto — eu apontei meu pastel na sua direção, porém eu hesitei, com medo de que meu camarão caísse no balcão — ele é galã demais para ter um sorriso estranho acidental.
— Exatamente! Ele é um gênio — ela limpou a garganta e enfiou um pastelzão na boca.
Tamara não precisou dizer em voz alta que a pessoa alvo do nosso momento de descontração estava se aproximando, porque a nuvem de 212 Men chegou antes dele e eu quase comecei a rir quando ela coçou o nariz.
— Ei, Tams, sabe o que eu notei? Quase meia-noite — ele apontou para o seu pulso, mesmo que não estivesse com relógio algum, piscando para a marketeira da VixSão.
— Afrodite, Marcela — ela nos cumprimentou, olhando para Leandro e depois para mim, respectivamente, seu rosto ganhando um tom de sobriedade antes de pegar uma Eugência e uma porção de pastelzinho para si — eu tenho uma aposta para ganhar, com licença — ela deu um sorriso lateral para mim e eu arqueei minhas sobrancelhas — minha casa precisa de uma nova passadeira para a cozinha.
E ela nos deixou e aposto que a requebrada que deu ao se afastar não foi para mim — eu acho. Ou... é, acho que foi para... não sei.
Fui impactada.
Até eu gostaria de dar um high-five nela.
— Que aposta é essa? — eu perguntei para Leandro, equilibrando três garrafas em minhas mãos e deixando para ele carregar duas, porque eu claramente estava mais sóbria.
— A gente tem uma cascata de apostas — ele comentou alto, quando começamos a nos aproximar dos outros membros da revista, que ficava perto da banda que agora estava fazendo Marina e Camila pirarem ao som de "O dia em que a terra parou", enquanto Rui e Vitório dançavam agarradinhos (Rui estava agarradinho com Vitório, mas o samurai tentava se soltar no meio de um riso) — tudo começou quando ela disse que eu não conseguia ficar com uma garota sem falar nada. Aí a aposta foi um pós-barba novo, porque ela detestava o meu antigo. Aí eu ganhei e apostei que ela não tinha coragem de ficar com um cara e se despedir com um high-five.
— Meu Deus, isso foi com o Edu, não foi? — eu comecei a rir, me lembrando da história que o assombrado para todo o sempre.
— Isso — ele concordou, alegre — e depois disso, a gente nunca parou de apostar. Hoje tá valendo uma passadeira nova se ela conseguir ficar com um cara depois de um arroto.
— Mentira! — eu engasguei e ele me acudiu com alguns tapinhas nas costas quando Malu e Felipe vieram me ajudar a colocar as garrafas na mesa em que estávamos — vocês são loucos, Lê, só vocês dois para se enfiarem nessa.
— Eu sou o amor da vida dela, mas Tams só ainda não admitiu isso pra ela mesma — ele brincou, mas eu notei que os seus olhos acompanhavam cada movimento dela com um sorriso discreto nos lábios.
Zero sorriso de flerte estranho.
Hm... galã...?
— Ok, mas o que você acha do nariz dela? Essa resposta é muito importante — eu peguei um novo copo com Mautava, porque minha long neck havia sido há muito perdida e eu não tinha certeza se a queria de volta.
Ele parou para pensar sobre o assunto e encarou o teto, movimentando sua cabeça no som da música, mesmo que eu mais escutasse Vitório berrando "Eduardo e Mônica" quando a banda resolveu agraciá-lo com um pouco de Legião.
Oh, bem, eu jamais iria reclamar daquela música, pensando em como o coitado do Eduardo que eles cantavam não era nenhum pouco com o meu Eduardo.
— Eu acho lindo, bem harmônico com o rosto, mas ainda tem aquele toque de imponência, sabe? Medida certa — ele considerou e eu fiquei impressionada com a sua descrição, porque eu queria berrar "Tamara, é esse o seu homem", mesmo que eu não tivesse nenhuma intimidade para fazer isso.
— Ai, Lê — eu comecei a rir e ele coçou a nuca, antes de beber um gole de Eugência — você...
— Cadê minha nova melhor amiga? — Marina perguntou e acho que ela ficou na ponta dos pés, porém mesmo assim ela continuava mais baixa que todas as outras pessoas — Marcelaaaa, tem mais algum segredo constrangedor do Ruizinho?
— Não sei, Mari, com certeza deve ter algo, mas de cabeça não lembro nada — eu brinquei, piscando para o Rui, para que ele soubesse que eu ainda não pretendia contar da história da tartaruga Penélope e como ele a deixou fugir.
— Eu tenho! — Vitório se prontificou, suas bochechas levemente vermelhas e o seu coque samurai muito distante de um coque, com fios espetados para todos os lados — o primeiro fora da vida de Rui Casagrande!
Acho que o bar inteiro parou para ouvir aquela lenda, porque só uma criatura mística para partir o coração do galã de revista — e Marina Carvalho, aparentemente. Será que a Marina era parente do Thales? E a Camila era parente do Fernando? Eu poderia pedir para a Sam investigar para mim...
— 2013, Praia de Camburi, três e pouco da manhã — Vitório nos situou e eu comecei a imaginar a cena dentro da minha cabeça — eu estava fazendo a minha meditação na areia, concentrando minha espiritualidade e alinhando os meus chacras, quando uma pessoa literalmente tropeçou na minha cabeça e nós dois rolamos no chão — ele me contou e a Camila começou a gargalhar, beijando a bochecha do seu namorado — e eis que Rui Casagrande surge da areia com uma garrafa de Askov pela metade e o os olhos inchados, implorando para se tornar oferenda de Iemanjá e...
— Pelo amor da minha mãe! Será que eu posso sair daqui com um pouco de dignidade? — Rui nos pediu.
— Não — todo mundo comentou junto e começamos a gargalhar do olhar de desespero dele.
— Fica tranquilo, galã, eu amo você mesmo assim — Marina enrolou seus braços ao redor do pescoço dele, dando um beijo que com certeza tinha classificação indicativa e era para maiores de 16 anos!
Eu senti minha boca com aspecto meio pesado, talvez pelo álcool ou pela quantidade de comidinhas deliciosamente calóricas que eu havia ingerido naquele dia e decidi que talvez fosse melhor voltar para minha água, porém eu não encontrei Breno e nem Gustavo em lugar algum, então apenas nadei no mar de pessoas, passei quase por cima da mesa de sinuca, e consegui, finalmente, chegar até o balcão.
Gustavo estava do outro lado abrindo uma garrafa com o abridor e eu notei que o seu braço estava com um curativo, provavelmente de tanto que ele o havia usado para lidar com as tampinhas e a sua pele reclamou dos maltratos.
— Oi, Gus! — eu o cumprimentei e ele acenou com a cabeça na minha direção — uma água, por favor?
Ele me entregou a garrafa com o semblante hesitante, como se... não quisesse ficar perto de mim?
— Ei, tudo bem? Você está estranho — eu comentei e ele levantou uma sobrancelha na minha direção antes de dar um suspiro e se aproximar de mim — você está se sentindo bem? Não deu nenhuma cantada até agora... está com febre? Passando mal?
— Você quer que eu te cante? — ele questionou e tombei meu rosto para o lado, confusa.
— Não é essa a dinâmica da nossa amizade? Você dá uma cantada ridícula e eu te dou um fora? Pensei que a gente tinha se alinhado nisso — eu sorri e franziu o cenho, pensando sobre o que eu estava falando.
— Por isso que o Eduardo pensou que a gente estivesse junto — ele revirou os olhos, rindo de algo consigo mesmo e eu comecei a revirar os olhos, rindo do absurdo daquela ideia, porque...
Espera!
Não...
Não!
Eduardo, você não...?
— O Eduardo pensou o que? — eu perguntei em um quase gritinho fino, contendo todos os meus instintos de escalar aquela mesinha e agarrar a gola polo de Gustavo Canas para que ele me falasse que ele estava brincando, porém eu acabei mais ocupada praticamente cuspindo a água na madeira à minha frente, fazendo com que o barman entrasse em um colapso de riso — quando que foi esse delírio?
— Sei lá, Má, mas ele achou que a gente estivesse junto e eu estivesse sendo um babaca com você por pegar outras pessoas — ele passou o seu paninho (finalmente o pano estava sendo usado!!!!!!!!!) na minha mistura de água com baba e nem fez uma cara feia para mim.
— Eu seria a maior corna da história — eu falei e ele resmungou algo pouco educado e gentil para mim — que loucura, Gustavo do céu!
— Ei, eu tenho sentimentos, poderia não fingir ficar tão indignada? — ele me pediu e eu tentei, mas voltei a rir e até mesmo ele começou a rir comigo — mas isso faz o que... umas duas ou três semanas? Um mês no máximo.
Um mês...?
Meu Deus, era recente.
Era tipo... o aniversário do Galileu.
Era...
— Foi na noite de degustação de vinhos? — eu perguntei quase tendo certeza da resposta, porque foi naquele dia que as coisas mudaram, que ele parou de pisar em ovos em relação a nós e voltou a me mandar aquelas indiretas que aqueciam o meu corpo inteiro, como se eu fosse um fósforo e ele o abrasivo que o incendiava.
— Acho que foi — ele coçou o seu queixo — foi sim, que você e Retúlio estavam aqui nos Ardos — ele concordou e serviu um shot de tequila para o senhor atrás dele.
E eu senti como se o sol tivesse brilhando depois de meses de chuva, porque isso mudava tudo.
Por isso naquela noite ele me mandou tantas mensagens. Por isso, no aniversário do Gali ele estava me olhando daquele jeito. Por isso ele quase me beijou e quem se afastou fui eu. Por isso que agora nós estávamos onde estávamos.
Será que... ele sempre me quis?
Será que ele só não havia feito algo por ter tido um surto que eu e Gustavo estávamos juntos?
Será que, desde o primeiro segundo que nós nos separamos, ele me quis de volta tanto quanto eu o queria?
E fazia todo o sentido o Edu não ter tentado nada antes (por mais que eu tivesse quase feito uma dança do acasalamento para que ele me possuísse em diversos lugares diferentes), porque ele pensava que eu estava com outro e ele nunca seria o "outro" de relação alguma.
Ele merecia tudo. O crepe todinho. E eu queria ser o seu crepe.
— Por essa cara de Hercule Poirot resolvendo um mistério, vem coisa boa aí, Cubo Mágico? — ele me perguntou, se inclinando na minha direção com um sorriso conhecedor.
— Você é ridículo, Gustavo Canas, mas eu acho que quem desvendou o mistério foi você — eu o cumprimentei com a minha garrafa d'água, sorrindo contra o líquido.
⟰
— Dona Marcela, seu Agenor está com uma encomenda sua. Consegue buscar com ele, por favor? Ele me fez prometer que eu pediria para você ir lá assim que chegasse em casa — Luciano, o meu porteiro da noite, pediu e eu olhei para o relógio.
— São quase duas da manhã, Luciano — eu respondi com os olhos apertados, porque a guarita estava clara demais contra a noite — ele me mata se eu fizer isso.
— Dona Marcela, ele vai dormir às três da manhã, porque trabalha no artesanato de madrugada — o rapaz me disse e eu senti meu queixo caindo de maneira nada elegante — você jura que nunca escutou a lixadeira? A Dona Sarah reclama quase todos os dias.
— Pior que não, juro juradinho — eu fiz um beicinho, provavelmente delatando a quantidade de álcool que eu havia consumido naquele dia com um soluço — mas então, se ele quiser me matar por tocar a sua campainha nesse horário, eu vou falar que a culpa é sua.
— Eu aceito, eu só... — ele olhou para o seu celular e suspirou — ele disse que está te esperando e é para você subir.
— Como ele sabe que eu estou aqui? — eu questionei, olhando ao nosso redor e vendo as câmeras piscando em vermelho na minha direção.
— Ele sabe de tudo, acredite em mim — Luciano comentou pouco enigmático e eu apenas lhe desejei boa noite antes de ir até o elevador e apertar o botão de um andar abaixo do meu, cantarolando Tente outra vez enquanto esperava o elevador parar.
Eu me sentia levinha, em uma noite inesperadamente boa, porém que falou uma pessoa para ser perfeita.
Acho que sempre que ele não estivesse por perto, eu acabaria sentindo a sua falta — pode ser que isso passasse com o tempo, ou que fosse apenas uma impressão que amanhã iria embora, mas eu gostava de quando o Edu estava por perto, não necessariamente do meu lado, mas apenas... perto.
Eu saí do elevador e toquei a campainha, vendo que realmente a luz estava acesa e havia um barulhinho estridente de alguém cortando algo? Ele realmente fazia artesanato de madrugada? Será que eu seria uma pessoa coruja noturna quando envelhecesse?
A porta se abriu e o Seu Agenor me atendeu com uma máscara plástica na testa e um roupão bem surrado, seus olhos me julgando à distância enquanto uma música de pagodinho das antigas ecoava pelo seu apartamento.
— Marcela, isso não horas? — ele me recriminou — eu estou com essas flores faz horas e elas teriam morrido na portaria, então eu tive que trazer para casa para colocar na água antes que elas murchassem todas!
Ele entrou em sua cozinha e eu comecei a colocar minha cabeça para dentro, porém ele apenas voltou com um buquê de begônias rosas lindíssimas.
— Ah, seu Agenor, que lindo, mas não precisava — gracejei, pegando-as pelo caule, completamente aterrorizada em macular qualquer uma delas com meu descuido embriagado.
— Hora de ir dormir, mocinha — ele bateu duas palminhas e eu juro pela minha avózinha que ele havia incorporado Heitor Noronha, porque meu pai fazia exatamente isso.
— Boa noite e desculpa o incômodo — eu sorri para ele, tirando um bem casado da minha bolsa, porque eu havia experimentado alguns fornecedores com Andreia naquele dia e surrupiei um ou dois para depois — para você.
Ele pareceu levemente emotivo com o gesto e eu me afastei, notando que havia algo de diferente com o seu rosto... ele se livrou do pombo? Acho que sim, porque o seu bigode havia passado de gaivota apomboada para inexistente, só que eu tinha amor à vida e jamais comentaria isso com ele.
Assim que eu entrei no meu apartamento, eu retirei meus saltinhos e coloquei a bolsa em cima da mesa, levando as flores para a cozinha e buscando o meu vaso de cristal que não via flores desde... bem, desde a última vez que eu havia recebido flores de Eduardo.
Notei que havia um cordãozinho prendendo um bilhete às flores e o peguei com cuidado, não querendo rasgar nada antes de abri-lo.
"Pensei em você o dia inteiro e quis que você pensasse em mim também, amor", estava escrito no papel e eu mordi meus lábios, sorrindo tanto, mas tanto, que minhas bochechas doeram e meu coração escorreu até o chão de tão líquido que ele estava.
Edu me chamou de amor e eu não sabia que eu sentia falta disso até o momento que li aquela palavra e me senti bem, porque não tinha um dia ruim ao seu lado — até os dias ruins não eram tão ruins assim por causa dele.
Eu coloquei as begônias no vaso e as segurei contra os meus braços, levando as flores até o meu quarto, porque eu sabia que o local mais digno de um buquê desses era a sala, porém eu queria que elas ficassem do meu lado, onde eu pudesse olhá-las até cair no sono e elas fossem a primeira coisa que eu visse ao acordar.
Peguei meu celular e abri na conversa com Eduardo, tirando uma foto das flores e enviando para ele no mesmo segundo.
Marcela: (imagem)
Marcela: Não precisava, Edu
Marcela: Mas eu amei
Marcela: Agora eu quero ver conseguir dormir
Marcela: Vou ficar a noite inteira olhando para minhas flores com um sorriso bobo
Eu o deixei no canto quando fui tomar banho para tentar tirar a nhaca do dia de dentro de mim e acho que eu fiquei mais do que o Capitão Planeta entenderia como aceitável dentro do banho, mas a água quente estava boa e a sensação das gotas grossas contra a minha pele eram quase... quase como se eu pudesse senti-lo ali, puxando meus cabelos para o lado e plantando beijos na extensão inteira do meu pescoço antes de me girar e me imprensar contra a parede, roubando meu fôlego e minha sanidade de uma vez só.
Eu saí do banho no meio de uma nuvem de vapor, enfiando uma calcinha e o moletom de Eduardo que estava esquecido comigo antes de me jogar embaixo das cobertas, aceitando que meu cabelo estava molhando meu travesseiro inteiro e eu estava morrendo de preguiça de secar com secador, então apenas peguei meu celular e vi que o Edu já havia me respondido.
Eduardo: Não qualquer flor
Eduardo: Begônias
Eduardo: Que bom que gostou, queria ver o sorriso no seu rosto lindo
Eu pensei por um segundo antes de abrir a câmera e tirar uma foto minha, com o rosto inchado de sono, a pele avermelhada da água quente e o cabelo colado no meu rosto por ainda estar completamente molhado, porém eu mandei mesmo assim, enviando uma segunda foto minha segurando as flores no colo e eu não sabia se dava para entender direito o que estava acontecendo e se eu estava sorrindo, mas às vezes era isso né?
Quando as coisas paravam de fazer tanto sentido, era o momento que o coração mandava e o cérebro calava a boca.
Ele ficou online por alguns minutos (sim, minutos), antes de começar a digitar algo e parar. Digitar e parar. Digitar e parar. Fazendo com que meu coração errasse a batida sempre que eu dia "digitando" na tela, porque eu nunca fui muito boa em palavras, mas eu acho que... às vezes uma foto vale mais do que mil palavras, e se ele não entendesse que eu estava berrando "eu amei as begônias, eu amo você", eu não sabia mais o que fazer.
Então ele me ligou, sem vídeo nem nada e eu não hesitei em apertar o botão verde, fechando meus olhos quando escutei a sua respiração do outro lado, deitando minha cabeça no colchão e me sentindo... leve.
Como ele fazia isso?
— Alô? — eu atendi em um sussurro, mesmo que não precisasse sussurrar.
— Eu queria estar aí com você. É muito ridículo eu estar com ciúmes das flores que eu te dei? — ele me perguntou com a voz rouca e eu me encolhi, deixando um sorriso se esgueirar pelos meus lábios mais uma vez.
— Bem, eu fiquei com ciúmes da Ana Sofia, então não é — eu confessei, apenas metade de brincadeira e acho que ele entendeu isso.
— Ai, Má, é oficial, próxima vez que eu vir, você tem que vir junto — ele comentou pela segunda vez e eu senti meu coração retumbar no meu peito, porque ir para Campinas era o mesmo que conhecer a sua família, seus pais, a cachorra aniversariante e isso era o completo oposto de ir com calma, mas... era diferente.
Ele conhecia a minha, não é? Fazia sentido então...
— Pra você é amor — eu respondi, pegando nós dois desprevenidos com minhas palavras — e eu acho que a gente pode organizar alguma coisa depois que a Horta abrir.
Ele ficou em silêncio, eu só conseguia escutar o barulho da chuva do outro lado da linha, e eu aguardei que ele falasse algo, qualquer coisa, que me dissesse que nós dois estávamos na mesma página ou que me mandasse segurar meu jegue que eu estava indo rápido demais.
— Porra, Má, assim você me quebra as pernas, amor — ele murmurou contra o celular e eu me afundei ainda mais contra o travesseiro, sentindo que meus olhos não queriam mais se abrir e que a respiração dele era simplesmente uma delícia de se escutar.
— Edu, eu tô morrendo de sono. Eu queria você aqui — eu comentei baixinho, não sabendo ao menos se minha voz havia saído — junto com o seu moletom e as minhas begônias — sorri ao dizer isso — Marcelo me disse que begônias são ótimas para namorados, sabia?
— É? — ele me questionou, porém eu tinha certeza que ele sabia, porque sua voz estava aveludada e profunda, daquele jeitinho de quando ele estava com um sorriso nada bom moço nos lábios — e é isso o que a gente é?
— Acho que, devagar, é — eu suspirei para fora, minha voz quase inaudível — Edu, eu...
Só que eu acho que já não estava mais ali com ele. E eu nem tinha certeza se eu ainda estava acordada naquela conversa ou se foi apenas fruto de um sonho lindo e perfeito, só que, quando eu acordei na manhã seguinte, com as begônias ao meu lado e uma mensagem de Eduardo, eu notei que era real.
Tudo.
Eduardo: Bom dia, amor
Eduardo: (figurinha)
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Segundo dia de maratona, bambuzetes, e estamos como?????????????
Esse capítulo é pra aquecer e colocar um sorriso no rostinho de vocês, porque teve tanta referência boa do Librielaverso com esse rolê VixSão nos Ardos + Marcela <3
E tudo o que a gente queria era que a Tams e a Má se tornassem amigas (só a gente amooooooooou que o apelido do Leandro é Afrodite??? Conta mais, Tams!!!!)
E pra finalizar, tivemos as begônias do Edu com direito a "amor".
Deposite aqui o seu surto de amor aqui:
Esperamos que estejam gostando!!! Não esqueçam da estrelinha para nos vermos amanhã hihihi
Beijinhos,
Libriela <3
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