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Capítulo 101 - Amor e queimadura à primeira vista

Amor e queimadura à primeira vista


Marcela

Eu ajustei meu nível de novo.

Pela quinta vez.

E a bolha continuava inclinada para a direita.

Não foi isso o que eu havia aprovado.

— Sandrinho, vem cá — eu chamei o engenheiro com a voz suave, interrompendo sua conversa sobre Trufas Italianas x Trufas da Cacau Show com Cecília — tá vendo isso daqui? — eu apontei para o meu nível com a água verde neon brilhando na nossa cara — que merda é essa, Sandro Ventura?

Eduardo olhou para a irmã que apenas revirou os olhos como se estivesse falando "deixa os engenheiros se matarem" enquanto ainda conversava com Isaac pelo celular fazia quinze minutos, falando sobre uma telha de fibra vegetal que supostamente seria ótima para o isolamento térmico em uma Galeria no Rio de Janeiro — a gente já tinha batido aquilo antes e, com o tratamento certo nas fibras, aquilo poderia até funcionar, assim como poderia causar uma infiltração, por isso aqueles mil minutos de conversa.

— Seus cálculos, sua obra, seu piso torto — ele enfiou as mãos no bolso da calça cáqui e eu arqueei minhas sobrancelhas, pegando meu nível e cutucando a barriga dele.

— Você é o engenheiro responsável — retruquei, com um sorriso plástico e uma vontade de bater a ferramenta em sua cabeça dura — você estava aqui na obra. Tá tentando fazer uma releitura da Torre de Pisa?

— Se eu estivesse, a minha seria conhecida como a Torre de Pisa e a outra como aquela-que-não-deu-muito-certo — ele franziu o nariz e eu rolei meus olhos.

— Sandro, as pessoas vão precisar de uma bota de escalada! Está, tipo, meio grau inclinado! — eu expliquei algo que ele com certeza já sabia.

Só que o Sandro ficou vermelho meio arroxeado e estreitou os lábios em uma linha tão fina que eles quase desapareceram.

Eu deveria ficar preocupada?

— Fala isso pro eco-chato ali que disse que o auto-nivelamento do piso que escolhemos era quimicamente agressivo ao meio-ambiente e... — ele apontou com raiva para Eduardo que colocou a mão no peito e murmurou "quem? eu? obrigado", abanando o comentário de Sandro como se fosse um elogio carinhoso — aí, a gente usou bambu tratado e depois passou aquele negócio estranho que deixa tudo cheirando meio como um pinheiro queimado?

— Sei — eu olhei de novo para o chão e depois para Eduardo — e por que você não me contou que tivemos esse desvio de curso no que a gente planejou?

— Você já tentou dizer não para a Cecília e aqueles dois olhos azuis dela? — ele apontou para a namorada que estava espiando a nossa conversa de canto enquanto respondia alguns e-mails.

— Claro que já tentou, mas o charme é de família e é irresistível — Eduardo passou o braço ao redor do seu cunhado e piscou para mim, dando aquele sorriso arrogante que eu amava ver no seu rosto, porém que naquele momento estava irritando — e o bambu tratado possui propriedades físicas melhores do que...

— Se você falar concreto, eu não garanto que respondo por mim, Senna — Sandro pegou a mão do Edu e a retirou do seu ombro — Ceci, sai do e-mail e vem avaliar a obra, precisamos garantir que está tudo do jeito que você queria antes do pessoal trazer os móveis e eles instalarem os equipamentos.

Cecília elevou os olhos na nossa direção e um sorriso tranquilo se esgueirou por aqueles seus lábios rosa-choque, o que fez com que as três pessoas que estavam olhando para aquela cena tivessem a mesma sensação.

Ela estava feliz e acho que isso fazia valer um piso de bambu tratado em uma cozinha — possivelmente isso faria com que uma reforma em algum tempo fosse necessária? Possivelmente, mas tenho certeza que o Eduardo e o Sandro já haviam considerado aquilo quando decidiram fazer a troca. Espero.

— Tudo está lindo — ela concordou e abraçou Sandro, guardando o seu celular no bolso dele, visto que ela estava usando um vestido liso lindíssimo e verde que fazia com que os seus olhos ficassem ainda mais claros — você é lindo — ela o beijou na bochecha, marcando-o com um beijo que poderia ser usada como propaganda — e vocês também — ela mandou um beijo para mim e outro para o seu irmão — e eu sou imensamente grata por vocês terem me ajudado com tudo isso sabendo que eu surto muito e pago pouco, mas vocês são maravilhosos, mesmo.

Eu olhei para o Sandrinho primeiro, notando que ele estava lançando o seu mais derretido sorriso para Cecília Senna e a abraçou com os dois braços, enrolando-a ao redor do seu corpo e a puxando para mais perto dele, enquanto eles se balançavam ao som de marretadas.

— Você é incrível, Cê, daqui a pouco vai ter restaurantes em Paris, Nova Iorque, Londres, Roma e onde quiser. A paixão que você tem pelo que faz é cativante. Me cativou — o engenheiro-mor sussurrou contra o ouvido dela, porém, mesmo entre uma furadeira que estava pregando os quadros na parede e o barulho irritante da serra ajustando os últimos detalhes da grade que ficariam as plantinhas suspensas com uma iluminação amarelada e aconchegante, eu acompanhei o momento lindo deles.

Eles não pareciam ligar muito que o cenário não era Paris e que não tocava La Vie En Rose, mas eles estavam juntos e realizando sonhos. E eu acho que era isso o que contava, não é?

Momentos como aquele eram especiais e lindos.

Tão lindo que eu ouvi a pessoa ao meu lado fungar, então eu apenas retirei o lencinho que eu tinha no meu bolso e entreguei para Eduardo, que nem hesitou em aceitá-lo e assoar o nariz como se estivesse chamando uma manada de elefantes.

— Caiu poeira de madeira de demolição no meu olho — ele comentou, fungando mais uma vez antes de tentar me devolver aquele pedaço de pano contaminado que eu apenas meneei a cabeça, porque eu não me importava em perder o lencinho para Eduardo, contanto que eu não tivesse que tocar em sua coriza.

— Claro, quer que eu ligue para o Chico dar um olhada? — eu perguntei de brincadeira, pegando o meu celular.

— Não, por favor — ele segurou a minha mão, me impedindo de desbloquear o aparelho enquanto sorria para mim — ele realmente vai ficar preocupado e isso vai interromper o casal comemorando uma semana e meia de oficialmente oficiais.

— Ah, que meigo, eles comemoram esse tipo de coisa? — umedeci meus lábios e senti gosto de cinza na minha boca, mesmo que eu tivesse certeza de que ali não deveria ter nada queimado.

O que eles estavam fazendo naquele lugar?

— Comemorar que eles estão loucamente apaixonados e querem transar 24 horas por dia? Sim e eu pensei que já que entregamos o projeto do estádio, nós teríamos mais tempo tempo para recuperar o sono perdido, mas fui enganado com uma sinfonia nos últimos dias de madrugada — ele tombou o rosto na minha direção e me segurou pela alça da minha calça jeans, puxando meu quadril até se encostar contra o dele, com aquele olhar irreverente que amava esbanjar comigo — e agora é o seu momento pra me salvar de novo e oferecer um teto.

— Negativo — eu rolei todas aquelas letras pela minha língua e notei que ele acompanhou o movimento com um pouco mais de atenção do que normalmente ele o faria. Será que ele estava se controlando antes para não olhar demais? — eu...

Ceci limpou a garganta e eu sabia, por um instinto de sobrevivência que eu carregava comigo por anos, que ela e Sandro estavam nos olhando, o que significava que ele estava vendo o quão próximos nós estávamos, as nossas mãos meio enroladas uma na outra ao segurarmos meu celular e que seus indicadores havia enlaçado minha calça para perto dele.

Eu mordi meus lábios e espiei os olhos de Eduardo, nadando em um mar de questionamentos que jorravam de seus olhos até os meus, porque eu tinha certeza que ele estava me perguntando se tudo bem os dois nos verem daquele jeito. Se tudo bem Sandro Ventura, engenheiro meio-ecológico da CPN, ver Eduardo Senna, arquiteto ecológico, e Marcela Noronha, engenheira reativa, em algo que era mais do que um aperto de mãos entre colegas. Ele estava me dizendo que se eu quisesse fingir que nada estava acontecendo, ele fingiria — mesmo que eu soubesse que uma partezinha de nós dois morreria se fizéssemos aquilo.

E não adiantava fingir que não estava acontecendo nada, porque estava. E eu amava que estava. E... de que adiantava ir devagar com Eduardo se nós iríamos cair exatamente no mesmo ciclo de antes em que eu queria ficar com ele, mas que eu tinha medo que qualquer pessoa do trabalho nos ver juntos? Porque eu não queria cair na mesma coisa de antes.

Antes não funcionou.

Agora poderia funcionar.

Por isso eu não soltei as nossas mãos e não afastei muito o meu corpo do dele, eu apenas olhei para o casal à nossa frente, quando os olhos de Ceci estavam brilhando por algo que eu já sabia que seria de última hora e sustentável e uma firula, exatamente como o irmão dela gostava de fazer.

— E se a gente trocasse as nossas janelas por aquelas que se ajustam com o clima? — ela perguntou e eu notei que Sandro respirou fundo, provavelmente já acostumado com as epifanias dela.

— Eu gosto de design passivo, ele é muito bom para controle térmico e de iluminação, também — Edu comentou com um sorriso, orgulhoso da ideia de última hora que sua querida irmã teve — e são apenas janelas, vai ser fácil arrumar.

Ok, não é que eu era uma pessoa reativa ou impaciente (ok, eu era, mas isso não vinha ao caso naquele momento), porém faltava praticamente um mês — menos — para a inauguração da Horta e não tínhamos mais tempo para fazer mudanças estruturais, principalmente porque as janelas já haviam sido instaladas na semana anterior e eu tinha certeza de que as novas não seriam do mesmo tamanho ou mesmo peso.

No entanto, eu estava me sentindo criativa, então eu apenas comecei a maquinar a melhor maneira de explicar os impactos de uma decisão daquelas. E às vezes era necessário sentir esse tipo de coisa na pele para que as consequências se provassem palpáveis, não é?

— Sabe, Sandrinho — eu comecei a falar com um pequeno sorriso nos lábios, ainda olhando para o arquiteto — o Edu ama ser ecologicamente correto, né? Por que ele não resolve isso? São apenas janelas, não são? Então ele pode instalá-las.

Acho que eu nunca tinha visto o engenheiro sorrir como ele havia sorrido naquele momento. Todos os dentes, com direito a uma ruguinha de pé de galinha no canto dos seus olhos com a satisfação que aquela ideia lhe causava. Quase como se eu tivesse dito que nós usaríamos apenas concreto e vidro e aço daqui para frente.

— Eu não costumo dizer isso com muita frequência, mas eu adorei essa ideia, Noronha — e ele olhou para Eduardo, ainda abraçado com Cecília — acho que está na hora de ele entender o que envolve efetivamente tirar do papel suas ideias sustentáveis. E acho bom você fazer isso certo, porque é o restaurante da Cê e eu...

— Derruba um andaime em mim — Eduardo imitou a voz de Sandro como se ele fumasse sete maços de cigarro, o que não era o caso — eu sei, eu sei, mas o que eu não sei é como realizar essa troca com a maestria que vocês adquiriram em anos de de um trabalho majestoso e...

— Essa bajulação fajuta não vai funcionar, porque o Ti me contou que você cuidou de trocar todas as esquadrias do apartamento dele de latão para alumínio, ok? — eu soltei a minha mão da de Edu para dar dois tapinhas em seu ombro, vendo o horror e o pânico surgir em seu olhar — fica tranquilo, você tem mais ou menos uma semana para resolver se vai querer trocar a janela para ficar pronta para inauguração. E eu sugeriria primeiro medir as novas para saber se será necessário quebrar uma parte da parede para fazê-la caber ou se terá que preencher o espaço que falta — eu arrumei a gola da sua blusa que não estava torta, adorando o olhar atordoado e confuso dele — e não esqueça de dar um olhada no peso da nova janela para ver se a parede vai aguentar a tensão trativa que isso vai causar, pode ser?

— Você entende muito de mudanças de última hora — Cecília considerou, admirada.

— Acredite, são quatro anos de Eduardo Senna — eu sorri para ela fingindo limpar uma sujeirinha da minha blusa de cetim — ele é a cria de Fernando Nogueira.

— Eu sabia que os dois tinham algo de familiar, mas pensei que era mais o topete e o fato de eles estarem sempre com a mesma cor de camisa — Sandro comentou e eu estreitei meus olhos — vai dizer que você nunca reparou nisso? Presta atenção! Eu tenho certeza que eles combinam.

— A culpa não é nossa que nosso estilo transcende as barreiras da compreensão humana — Eduardo se defendeu com as bochechas coradas e me olhou de novo — me ajuda com a janela, por favor. Eu nunca te pedi nada — eu estreitei ainda mais meus olhos na direção dele — hoje.

Hoje.

Ótima definição para a cara de pau dele.

No entanto, eu não tive a oportunidade de falar isso em voz alta, porque seu celular começou a tocar e várias mensagens pipocaram em seu celular.

— Eu... preciso ir? Meu gerente do banco falou que meu cartão foi clonado, estão passando mais de mil reais em um posto suspeito em Interlagos, pelo jeito meus dados estão desatualizados e ele tem uma nova previdência que quer me mostrar? Então eu preciso ir na minha agência resolver isso — Eduardo olhou para nós três e Cecília foi a primeira a revirar seus olhos pelo "timming" imperfeito daquela mensagem — mas eu volto a falar com vocês sobre tudo isso e, enquanto isso, vocês podem discutir sobre as janelas de design passivo? Seria incrível e faria com que o meu dia fosse bem melhor — ele tentou fazer uma carinha de cachorro sem dono que não funcionou muito bem, porque a gente já conhecia esse truque.

Quero dizer, funcionou, porque é claro que eu resolveria aquela questão das janelas naquela tarde ainda para não levar retrabalho para o restante da semana.

— Vou cobrar caro — eu disse com um sorriso sutil, assistindo-o se despedir de Cecília e Sandro antes de se aproximar de mim de volta.

— Você é maravilhosa, Marcela Noronha — ele me puxou para um abraço, dando um beijo na minha têmpora e eu fechei os olhos, ouvindo um suspiro surpreso de Sandro, o que me fez hesitar e eu acho que o Edu notou o que aconteceu, porque ele apenas sorriu para mim e arrumou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha — ah, o Sandro sabe.

— Do que? — eu perguntei, estranhando a direção daquela conversa.

— Da mentira, do cruzeiro, de tudo — ele deu de ombros como se não fosse nada demais, mesmo que aquilo fosse maior do que a droga da janela passiva! E eu acho que o meu olhar delatou que eu não estava mais me sentindo tão amorosa assim, porque uma coisa eram as pessoas saberem sobre Eduardo-e-Marcela como um casal, outra coisa era saberem de toda a história, não é? — a culpa é da pirralha que deu com a língua entre os dentes e explanou que você estava encalhada e precisou me seduzir para uma viagem de família! Adeus, meus eco-amados! — e aí ele saiu deixando três pessoas chocadas (eu), engasgando de rir (Cecília) e com um olhar de animação pela possibilidade de saber mais sobre esse assunto (Sandro).

Um dia eu mataria Eduardo Senna — com beijos ou um andaime? Isso ainda estava sendo levado em consideração pelos meus divertidamentes.

— Então, Ceci — eu comecei a falar, querendo voltar para a realidade e não para aqueles cinco segundos de surto — sobre o Teto Verde, nós ainda não avaliamos...

— Noronha, você realmente não teve uma melhor opção do que o Eduardo para apresentar para a família? Aposto que o Valter teria feito uma impressão melhor com aqueles olhinhos de ursinho de pelúcia — Sandrinho me perguntou e eu controlei meu queixo para ele não cair. Que. Surto. Era. Aquele? — e essa fofoca vale ouro, depois de tudo o que você já espalhou na empresa sobre meu piercing e minhas tardes de Bridgerton, acho que talvez esteja na hora de você...

Às vezes o melhor que alguém poderia fazer era apenas cortar o mal pela raiz. E, neste caso, o mal eram as asinhas de cobra alada que Sandro estava tentando criar.

— Você não quer fazer isso, acredite em mim, eu sou uma pessoa com muitas informações, Ursão — eu sorri para o casal e Sandro precisou de três segundos para processar minhas palavras.

Então ele começou a espumar, cheio de uma incontrolável vontade de cortar a língua solta do Eduardo/ Valter/ Golden para que eles parassem de contar suas intimidades, porém dessa vez a culpa era da própria Ceci, que me contou isso entre um chá e diversas levas de cookies até encontrarmos a crocância perfeita — e ela segredou outras coisas além desse apelido, mas isso eu deixaria para outro dia.


Eduardo

Eduardo: Você realmente acha que eu fugi da obra só para não ter que lidar com as janelas?

Marcela: Não quero te magoar com a verdade

Eduardo: Você precisa confiar mais em mim, Má

Eduardo: Eu não fugiria de você

Marcela: Não?

Eduardo: Para eu fugir de você, você vai ter tipo que me bater

Eduardo: E dependendo de como for, é possível que eu goste

Marcela: Hahahahahahhahahahahahahahahahahahahahahaha

Marcela: Ah, nãoooooo

Marcela: você é muito idiota, Eduardo

Eduardo: E você gosta mesmo assim

Eduardo: (figurinha)

Marcela: Nem vem com esse charminho fajuto para cima de mim, eu estou vacinada

Eduardo: Seu pescoço arrepiado com meus beijos me contam uma história muito diferente, só para você saber

Marcela: (figurinha)

E aí aquele som avisando que uma nova senha tido sido chamada para atendimento soou, fazendo com que eu levantasse meus olhos da tela para ver que era a minha vez se der atendido — o que era ótimo, porque minha teoria sobre sofás de espera de banco é que eles tinham sido feitos para serem bonitinhos, não para bundas.

Enquanto eu caminhava até a mesa para ser atendido, digitei uma mensagem rápida para Má dizendo que tinha chegado minha vez e fui até lá, somente para dar de cara com...

— Pirulito Louro? — perguntei, antes de conseguir refrear minha língua enorme.

O... Como era o nome dele, pelo amor da Pampa (o bioma, não o carro)?

Eu só conseguia lembrar de Pirulito. Cravo. Alecrim Dourado. Acho que Leandro tinha o chamado de Orquídea uma vez.

Mas um nome? Renato? Ricardo? Rodrigo? Reginaldo? Rocambole?

Ok, isso estava ficando ridículo.

De toda forma, ele olhou para os lados e para trás por cima dos ombros a procura de alguém além dele mesmo, voltando a olhar para mim com seus olhinhos verdes apertados e os lábios franzidos em uma linha confusa antes de dizer:

— Quem? Eu?

E o que eu podia dizer? Sim, você! Tenho mais ou menos uns 15 jeitos diferentes para te chamar e nenhum deles é o seu nome, que a propósito eu nem me lembro qual é. Prazer!

Então eu apenas sorri, estendendo minha mão para ele e sorrindo o sorriso mais amarelo que toda a minha geração já tinha visto, tentando enxergar seu nome no crachá que estava balançando no seu peito, preso por uma cordinha azul escura com a logo do Banco Paulistano estampado várias vezes. Porém o crachá estava ao contrário, então eu só podia ver aquela linha magnética e letras miúdas demais para serem lidas à distância.

— Eduardo, prazer! — eu disse, quando ele abriu um sorriso menos confuso e apertou de volta a minha mão.

— Rogério, o prazer é meu! — se apresentou e várias imagens de Marcela falando "Rogger" vieram à minha cabeça. Só agora, não é mesmo? Obrigado por absolutamente nada, cérebro. — Por que você não se senta, Eduardo, e me fala como posso te ajudar hoje?

Então eu fiz o que me foi indicado, me sentando em uma das duas cadeiras em frente à mesa enquanto ele a contornava e se sentava na cadeira de trás. Contei para Rogério que Lorena, a gerente daquela agência do Banco Paulistano, tinha me ligado por causa de uma movimentação anormal na minha conta, em compras realizadas com o meu cartão e, como eu não reconhecia nenhuma delas, havia suspeita de fraude.

Rogério digitou alguma coisa e esperou pacientemente enquanto o sistema carregava. Tinha alguma coisa tão amigável naquele cara que eu nem sabia explicar o que era, mas eu sabia que era parecido com o Golden. Uma coisa meio canina e feliz que fazia ser quase impossível ficar ressentido porque foi por causa dele que... Enfim, tinha passado.

Enquanto ele conferia alguma coisa e voltava a inserir informações, digitando em uma velocidade quase inacreditável, eu pesquei meu celular dentro do bolso para ver a última mensagem de Marcela.

Marcela: Chamaram sua senha?

Marcela: Você vai continuar fingindo que tinha alguma coisa para fazer no banco de verdade?

Eduardo: Eu estou no banco, Má

Eduardo: E você nem imagina quem é que está me atendendo

Eduardo: Te dou uma oportunidade para adivinhar

Eduardo: hihihihi

— Certo, acabei de encontrar o problema — Rogério disse, chamando minha atenção e eu repousei o celular na coxa, sentindo-o vibrar contra minha calça de sarja. — Transações em um posto em Interlagos. Nossa central de segurança bloqueou o cartão por segurança na terceira, o que impediu uma quarta e uma quinta — ele disse, virando mais o monitor para que eu pudesse ver a interface daquele sistema. Era uma tela azul cheia de informações amarelas que claramente bancários entendiam, mas arquitetos não, então eu acreditei na palavra dele enquanto tentava achar onde essas informações estavam. — Como as duas primeiras compras foram autorizadas, você precisa fazer uma contestação para a administradora, mas, não se preocupe, é um procedimento super simples e eu já vou pedir um formulário para você.

Eu apenas fiz que sim e ele puxou o telefone do gancho, discando um ramal qualquer e começando a conversar com alguém sobre Formulário de Contestação de Compra não Reconhecida e eu aproveitei para olhar meu celular de novo.

Marcela: Banco Paulistano?

Marcela: Não me fala que é o Rogger

Marcela: Eduardo, se você comentar sobre as risadas EU VOU DERRUBAR UM ANDAIME EM VOCÊ

Marcela: E eu nem estou brincando dessa vez!!!!!!!!!!!

Eduardo: Vou pensar no seu caso, mas sem promessas

Marcela: EDUARDO!

— Podemos aproveitar para atualizar seus dados enquanto seu formulário fica pronto, assim nós conseguimos te liberar mais rápido desse transtorno — Rogério disse e sorriu de novo. Eu tinha certeza que ele era o atendente que todo mundo queria quando ia ao banco, e olha que eu mesmo só resolvia minhas questões no internet banking. Ele correu seus olhos pela tela, lendo linha após linha. — Nome, CPF e RG ok. Estado civil?

— Solteiro.

— Profissão?

— Arquiteto.

— Endereço residencial? — E eu recitei para ele o endereço do meu apartamento apenas para confirmar, porque ainda era o mesmo que eles possuíam nos registros ali. — Endereço profissional ainda é o da... — ele apertou os olhos um pouquinho para ler. Chicão colocaria um óculos nele se visse isso, não tenho dúvida — Construtora Souza e Costa?

Ok, aquilo estava mesmo desatualizado, porque eu tinha trabalhando na Souza e Costa logo quando me formei, meu primeiro emprego com CTPS assinada como arquiteto. E eu não estava lá desde 2016, que foi quando eu descobri uma vaga melhor na CPN e Fernando Nogueira resolveu que seria uma ótima ideia me contratar e eu acho que ele não tinha se arrependido disso até hoje.

— Na verdade eu trabalho na Construtora Carvalho, Pinheiro e Nogueira agora — Rogger ergueu as sobrancelhas, parecendo curioso com aquela informação enquanto eu falava o endereço da CPN para ele, embora eu soubesse que ele sabia onde era, pois já tinha estado lá.

— Eu tenho uma amiga que trabalha lá — contou, dando de ombros após confirmar meus dados de contato. — Marcela Noronha, conhece?

Muito bem, eu diria.

— Conheço, é a melhor engenheira do lugar — eu disse e Rogger e eu sorrimos juntos com a informação.

— Difícil dizer, faz um tempão que não a vejo ou falo com ela, mas confio no potencial de olhos fechados. Fui até a construtora uma vez e ela estava lá, sozinha, fazendo horas extras e já era bem tarde mesmo para alguém estar trabalhando — ele disse, enfatizando o "mesmo" para deixar clara sua intensidade.

Ele falava sobre Marcela com um sorriso nos olhos, então era nítido que ele gostava dela e, apesar de eu saber que eles tinham tido algum envolvimento no passado, eu gostava do jeito que ele a mencionava com carinho, porque não parecia algo ruim, apenas carinho por uma pessoa que merecia consideração.

Acho que eu gostava que ela fosse incrível e as pessoas soubessem disso.

— Pode acreditar em mim, tenho anos de experiência para te afirmar com propriedade — eu afirmei e Rogério riu, parecendo concordar comigo.

— Falando nisso, tudo bem com ela? Esse dia da hora extra foi o último dia em que eu a vi e ela não estava tão bem assim. Uma fase ruim, eu acho? — Rogger apertou um pouco os olhos, como se tentasse se lembrar de algo no passado e eu apenas esperei, curioso com o que ele tinha a dizer. — Eu meio que apareci na CPN com um combinado de salmão e lembro que insisti horrores para ela me deixar subir, porque ela claramente não estava bem quando eu liguei. E, claro, ela ficou me mandando embora enquanto eu estava lá com ela — Rogério deu de ombros antes de apoiar os antebraços na mesa, parando de digitar para se concentrar no que estava me contando —, mas eu insisti porque é tão ruim ficar triste sozinho, não é? Então eu fiquei lá um tempão, mas ela não parecia assim tão melhor quando eu saí.

Aí eu acho que Rogger percebeu que estava falando demais e apenas deu um sorriso, tombando a cabeça de lado e esperando pela minha resposta.

Eu sabia que Marcela não tinha tido nada com ele naquela noite e que ela estava triste por causa do que tinha acontecido com Kaiser e por causa da nossa briga no elevador, mas acho que nunca soube de verdade o que tinha acontecido para que Rogério estivesse na CPN com ela naquele dia. Ele só quis fazer companhia para uma pessoa que precisava de um ombro amigo e ele sabia disso, mesmo tendo sido mandado embora.

Ele era mesmo o Alecrim Dourado que nasceu no campo sem ser semeado, não era?

Acho que nunca tinha achado Rogério tão loiro e perfeito como naquele exato momento.

— Ela está bem agora — eu disse, grato porque essa era a verdade e aquela fase ruim tinha ficado para trás, pois poucas coisas me faziam mais feliz do que aquele sorriso no rosto dela dia após dia. — Mas eu com certeza vou dizer que você perguntou sobre ela.

Rogério sorriu, satisfeito, arrumando a gravata verde claro que estava no seu pescoço.

— Marcela é uma querida — ele contou, de novo com aquele sorriso nos olhos ao falar sobre ela. Eu até podia pensar em sentir ciúmes sobre, mas acho que eu apenas entendia. — Até hoje acho que devolvi para ela um anel de prata que não era dela e ela nem disse nada sobre isso.

— Sinto muito que serei eu a te dar essa má notícia, mas ela é alérgica a prata — confirmei o maior medo de Rogério, que apenas começou a rir e eu acompanhei.

Claro que o cordão do seu crachá escorregou para dentro da gola da camisa social e ele quase se jogou no chão em uma síncope cheia de hihihihihi's, mas eu não podia falar nada sobre aquilo pelo bem da minha própria integridade física, todavia, isso não me impediu de contar para Marcela enquanto ele buscava o formulário para contestar as compras que finalmente estava pronto.

Eduardo: Eu acabei de ver o Pirulito rindo por causa do crachá no pescoço dele, Má

Eduardo: É fofo demais

Eduardo: hahahahahahahhahahahahaha

Marcela: (figurinha)

Marcela: (figurinha)

Marcela: (figurinha)

Eduardo: Você realmente fez figurinhas de andaime para me ameaçar?

Marcela: (figurinha)

Marcela: E você acabou de rir como um sociopata, só para avisar

Então Rogério voltou com o formulário e, enquanto lia e assinava as vias, ele me ofereceu um novo cartão com limite maior e anuidade grátis — e aí disse que seria só pelo primeiro ano quando eu o olhei desconfiado.

E eu decidi que eu gostava do Pirulito Louro.

— Nós estamos comemorando alguma coisa hoje? — perguntei assim que entrei no meu apartamento, notando a quantidade de sacolas que haviam sido espalhadas sobre a bancada e achando muito estranho o fato de que Leandro tinha me mandado uma mensagem para que eu comprasse limão siciliano, parmesão e aspargos quando, aparentemente, havia uma amostra de tudo o que existia no mundo ali dentro.

E, é claro, também havia um número maior de pessoas do que o habitual ali, já que não apenas Henrique Francisco e Tiago (que, vamos trabalhar com honestidade, só faltava trazer as malas porque já quase morava ali, especialmente depois que os pombinhos assumiram o namoro) faziam companhia para o galã, mas também Felipe Filósofo, Camila (também conhecida como repórter da VixSão e namorada do Samurai Vitório que tinha feito a reportagem sobre Matheus Kaiser) e Malu-Júlia também estavam ali. Aparentemente, era para Vitório estar ali, como digníssimo de Camila que era, mas ele estava, nas palavras da própria repórter, em um encontro com o Rui.

— Eu sabia que ele ia esquecer! — Leandro acusou, apontando uma faca para mim e interrompendo o seu momento de cortar alho-poró, ao menos momentaneamente, já que logo voltou a picar o vegetal antes de colocá-lo dentro de uma panela com água fervendo, onde já estavam cebolas, salsão e cenoura.

— Me esquecer do quê? — eu perguntei, vendo Malu sorrir para mim enquanto prendia seu cabelo ruivo em um coque, andando na minha direção.

— Hoje nós fazemos duas semanas juntos — Tiago contou antes de dar um beijo na mandíbula de Henrique Francisco que, notei, estava no seu colo dividindo uma das banquetas. Eu deveria avisar que aquilo tinha um limite de peso ou apenas deixar que uma entidade superior cuidasse para que a gravidade não os puxasse para baixo com muita força?

— A gente comemora isso? — eu perguntei, erguendo as sobrancelhas e Tiago jogou um pedaço de alguma coisa em mim, porém acertou na pobre Malu, que tinha resolvido me abraçar naquele exato minuto. Felipe estreitou os olhos para ele e Chicão mordeu o namorado para que ele não me agredisse e eu me senti orgulhoso, porque eu ainda tinha um lugar cativo naquele coração que se dividia entre amar o dentista e o Atlético Mineiro. — Oi, Júlia!

— Oi, amigo! — Malu brincou, se referindo à vergonhosa noite do absinto em que eu tinha pedido para ser amigo dela e de Galhardo, que eu acho que sempre olharia para o meu rosto meio rindo e meio com vergonha, porque, afinal, nossas bocas se conheciam muito bem. — Você lembrou do meu limão siciliano? Fê errou e comprou limão cravo — ela olhou para o namorido por cima do ombro, como se estivesse julgando o fato de que ele não sabia diferenciar limões. Em defesa dele, se eu não fosse o irmão de Cecília, eu também não teria o conhecimento exigido para isso.

Estendi a sacola para Malu, que a pegou feliz da vida antes de dar uma bundada em Leandro para que ele abrisse espaço para ela na bancada da pia, lhe estendendo os aspargos antes de começar a lavar os limões sabe-se-lá para quê.

Pelas caixas de arroz carnaroli em cima da pia, o caldo de legumes e a garrafa de vinho branco — que ou tinha evaporado ou tinha sumido pouco a pouco na taça do Atlético Mineiro que estava perto de Camila, que cortava cebolas nos menores cubos que eu já tinha visto, sob a supervisão de Galhardo — eu entendi que Leandro estava fazendo risoto.

Para Henrique e Tiago? Supostamente.

Dei um beijo no rosto de Camila para cumprimentá-la, tendo certeza que o vinho não tinha misteriosamente evaporado da garrafa porque o cheiro estava forte nela — e eu nem podia julgar, porque eu também ia querer beber se estivesse chorando o mesmo tanto que ela por causa das cebolas —, seguindo para Felipe.

— E aí, cara — eu disse para o filósofo e nós trocamos um abraço que fez Leandro e Malu rirem, provavelmente por lembranças.

— Bom ver você de novo, Edu — ele disse, dando aquele sorriso simpático que ele sempre tinha e empurrando os óculos redondinhos no tronco do nariz. — Nada da Marcela do triturador de carne?

— Chama a Má! — Leandro guinchou do outro lado da cozinha, assustando Malu pela altura do grito. Seu Vanderlei deveria estar adorando e provavelmente estava contando no relógio os segundos para as dez, quando poderia efetivamente nos multar pela baderna. — Ela vai ter que estalar minhas costas depois de eu carregar esse jantar nas costas!

Ergui as sobrancelhas, mas foi Camila quem respondeu.

— Eu estou ajudando, seu ingrato! — disse e fungou.

— Cams, não precisa chorar porque ele não te dá valor! Eu estou aqui e nós dois sabemos quem é o seu melhor amigo de verdade — Galhardo disse, implicando com ela por causa das lágrimas de cebola e abraçando a garota pelos ombros antes de plantar um beijo no cabelo castanho dela.

— Eu ainda amo vocês mesmo tendo arrumado mais dois melhores amigos, embora eu não lembre exatamente porquê agora — Leandro disse, olhando para o filósofo e Camila por cima do ombro. — Eu não posso fazer nada se eu sou tão amado assim!

— Não tão amado assim, já que o Edu não lembra o motivo pelo qual você nos reuniu aqui hoje — Cams disse, secando as lágrimas na camisa de Felipe que, pela carinha de felicidade, achava apenas que ela estava fazendo carinho nele ao invés de o usando como lenço.

Olhei para Henrique Francisco, em busca de socorro para entender o que eu tinha perdido, mas é claro que meu melhor amigo tinha resolvido que aquele era o momento perfeito para olhar de forma romântica e perdida, como se estivesse em uma bolha de música romântica e amor, para os olhos do seu amado Tiago Lira.

Provavelmente agora me restava competir com Camila e Felipe pelo amor do Galã de Revista, e eu lutaria com unhas e dentes pelo meu Leandro.

— Faz um ano que ele mudou para cá hoje, Edu! — Malu veio ao meu socorro e Camila jogou alguma coisa nela pela ousadia, fazendo a ruiva dar risada. — Vocês ficam falando sobre a amizade de vocês e me deixando de fora, pelo menos o Eduardo é meu amigo aqui!

— Na minha cara? — Felipe perguntou, abrindo a boca em um perfeito "o". — Lembra que ele te talaricou, Malu, porque eu me lembro daqueles lábios nos meus!

E aí ele ficou vermelho que nem um pimentão, mas não desistiu do seu argumento.

Eu não quero me lembrar disso, então chega! — Henrique disse, saindo do magnetismo provocado pelos olhos do dentista porque ele ainda não tinha superado o fato de que eu tinha beijado outro homem.

Ok, talvez o ciúme maluco que eu estava sentindo dele com Tiago pudesse ficar sob controle agora.

— Você está certa, Malu! Nós já vamos conversar sobre isso, porque agora eu preciso fazer algo — eu disse e ela concordou quando viu que eu estava indo para Leandro, abraçando-o pelas costas e deixando nossos rostos um do lado do outro. O galã riu quando eu cheirei seu pescoço com fragrância de 212 Men apenas para provocá-lo. —Sério que já faz um ano que nosso apartamento tem a maior porcentagem de beleza de São Paulo inteiro?

— Você está falando isso só porque se esqueceu? — Lê perguntou.

— Claro que não! Não acredito que você pensa isso de mim depois de um ano inteiro! — gracejei e Leandro riu.

Lê largou a faca e virou de frente para me abraçar direito e, quando dei por mim, Henrique Francisco tinha sido acrescido àquele abraço. A verdade era que Leandro Lamas era a terceira parte daquele trio que deixou de ser uma dupla no exato momento em que ele chegou naquele mesmo apartamento, arrastando uma mala de rodinhas, uma frasqueira cheia de skincare e pediu ajuda para tirar o resto das coisas do elevador com um sorriso estranho e cheio de gengiva.

— Acho que nós fizemos a coisa certa emprestando o Lê para eles por um tempo — Camila disse, ainda com o rosto cheio de lágrimas e o rosto vermelho por causa das cebolas, com uma nova taça de vinho. Eu ia ter que ensinar para ela o truque de Cecília de azeitar a faca antes de encarar aquela missão para evitar lágrimas.

— "Ninguém escolheria uma existência sem amigos, mesmo que fossem oferecidas todas as outras coisas do mundo" — Galhardo completou, abraçando Malu pelos ombros e dando um beijo na bochecha dela. — Aristóteles.

— "A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro" — Malu gracejou, enrolando a cintura de Felipe com os braços e espremendo o rosto contra o tronco dele. — Platão.

— Eu vou fazer amizade com o Tiago, dois filósofos é demais para mim. Você estragou a Malu, Fê! — Camila disse antes de se jogar dramaticamente na banqueta ao lado do dentista e abrir um sorriso levemente embriagado para ele. — Você disse que estava querendo começar a investir? Eu quero muito te falar sobre fundos de investimento e LCI.

Tiago arregalou os olhos, provavelmente porque não tinha dito nada sobre isso, mas Camila não se sentiu menos propensa a falar sobre investimentos de renda fixa e Tesouro Direto — e eu sabia que ela tinha uma coluna sobre finanças na VixSão, então ele estava muito bem orientado.

— Eu não quero borrar o BB Cream que eu passei, então, por favor, vocês precisam me soltar — Leandro pediu e Henrique beijou uma bochecha dele enquanto eu beijava a outra, antes de soltá-lo. — Falou com a Má, Edu? Se ela vier, eu vou esperar para fazer o risoto quando ela chegar, porque não dá para comer depois de muito tempo pronto.

Peguei o celular no bolso.

Eduardo: Ei, engenheira mais foda do Brasil, quer jantar comigo?

Eduardo: Está rolando um jantar em comemoração ao primeiro ano do Lê morando com a gente (e supostamente a duas semanas de Chiago oficiais)

Eduardo: Os amigos do Lê estão aqui, e o Ti também

Eduardo: E o galã está cozinhando, o que é ótimo porque ele manja demais

Eduardo: Só falta você para ficar perfeito

— Ei, Don Juan, lava isso aqui pra mim — Malu disse, atirando um maço de hortelã que eu peguei no ar por puro reflexo. Eu nem vi quando ela tinha voltado para a pia, mas aparentemente ela não queria conversar sobre ações com Felipe, Cams e Tiago.

Eu me enfiei entre Malu e Leandro na pia, abrindo o jato para lavar as folhas e separá-las do caule.

— O que estamos fazendo? — perguntei para ela, colocando as folhas que ia lavando dentro de uma vasilha pequena que estava perto dela.

— Suco de limão siciliano e hortelã, porque amanhã ainda é dia útil e... — ela cobriu a boca com o antebraço para bocejar. Claro que eu bocejei também, porque o cérebro simplesmente não entendia que a pessoa podia bocejar desacompanhada sem problemas. — A gente precisa deixar um pouco de vinho para o risoto e, se eu beber, tenho certeza que não acordo amanhã. Porém a revista não pode ficar sem capas e eu tenho um site inteiro para reformar.

— Nós temos outras opções de álcool nessa casa se você não quiser vinho — eu disse, porque Chico tinha recebido uma nova remessa de cachaça mineira e o uísque que meus pais tinham mandado para nós no natal ainda estava fechado. As três garrafas. — Não sabia que você é designer.

Malu riu, tombando a cabeça de lado quando eu fechei a torneira e peguei uma toalhinha para secar as folhas.

— Você não se lembra, mas sabia disso sim. Acho que eu te disse quando te liguei e quase implorei para você dar uma olhada no apartamento onde Fê e eu moramos para podermos fazer uma reforma decente. — Ergui as sobrancelhas, meio em dúvida. Quando isso tinha acontecido? — Claro que você nem conhecia o Lê ainda, mas me ajudou a vencer a guerra pela cozinha americana para ganhar espaço na casa.

— E riu de mim quando eu achei que cimento queimado era, literalmente, cimento no qual alguém atearia fogo — Felipe contou, dando risada e eu me lembrei do projeto de reforma com o qual eu tinha lidado mais de um ano antes.

Eu tenho quase certeza que ela tinha ameaçado pintar o cabelo dele de cor-de-rosa por aquela cozinha e, no final, Felipe foi voto vencido e a ilha separando a cozinha da sala aconteceu.

— E vocês esperaram até agora para me contar sobre essa amizade longa e duradoura que a gente fez desde o porcelanato versus piso vinílico? — perguntei, colocando a mão sobre o coração de forma dramática. — Você já fritou um bife que engordurou a casa inteira ou a cozinha foi uma boa ideia, Galhardo?

Malu gargalhou, deixando clara qual era a resposta ali,

— Eu não fritei um bife, acabei adotando hábitos saudáveis com uma grelha, então acho que talvez não tenha sido uma péssima ideia — ele disse, cruzando os braços antes de dar de ombros. Caído, mas não derrotado.

— Se eu bem me lembro, minha sugestão foi melhor do que essa — eu disse, dando um sorriso de canto.

— Eu nunca pensei que a solução de um arquiteto para não engordurar a casa fritando um bife seria "se tornem vegetarianos", mas aconteceu. Seu diferencial é que a coifa foi a segunda opção — Malu disse e Felipe riu de novo.

Ok, acho que eu adorava aquele casal.

A conversa foi interrompida quando Malu ligou o liquidificador, enfiando hortelã e suco de limão e pedras de gelo lá dentro e causando o mesma quantidade de decibéis que eu ouvia quando ia para as obras — se seu Vanderlei sobrevivesse àquilo, sobreviveria a qualquer coisa.

Eu sequei as mãos e peguei o celular no bolso, vendo que haviam mensagens novas de Marcela ali.

Marcela: A engenheira mais foda do Brasil ainda está na CPN

Marcela: Finalizando a Bahia-Itaparica com a Lavínia

Marcela: Já tentou chamar o Rogger? Já que você aparentemente se apaixonou pela risada dele

— Onde tem jarras, amigo? — perguntou Malu, com o copo do liquidificador em mãos e um suco com uma cor lindíssima.

— Eu pego — eu disse, me esticando por cima da cabeça de Leandro para pegar a jarra preferida do galã, já que hoje era o dia dele e acho que ele não surtaria por nós usarmos as louças bonitas que ele guardava para ocasiões especiais quando descobriu que nossas taças quebraram uma a uma naquele apartamento na primeira semana que Chicão e eu nos mudamos para lá.

Eduardo: Chamei ele antes de você, mas ele também não podia, aí passei para o plano b

Eduardo: (figurinha)

Marcela: Rogério deveria aproveitar mais as chances que a vida dá para ele

Eduardo: Eu concordo, porque essa bela oportunidade aqui (eu) não vai bater na porta dele de novo

Eduardo: (figurinha)

Dessa vez, ela respondeu na hora, quase como se estivesse esperando.

Marcela: Você deve ter feito algum curso para ser tão ridículo assim

Marcela: E apesar disso, tudo o que eu queria era comida e olhar para essa sua carinha sempre feliz e calma, mas infelizmente eu não posso hoje porque isso vai longe

Eduardo: E tudo o que eu queria era lamber sua bochecha de forma amigável (ou talvez não a bochecha)

Eduardo: Mas vamos resolver isso

Então eu tirei uma selfie e mandei para Marcela.

Eduardo: (imagem)

Marcela: Oi lindo, tá lindo, lindo

Eu sorri, quase conseguindo visualizar o rosto cansado e lindo de Marcela, e Lavínia, ao seu lado, rosnando para o computador porque ela tinha um total de 0 paciência para renderizar qualquer coisa, por mais simples que fosse, e eu achava hilário ver as duas sendo reativas uma com a outra naquela relação profissional que era meio amizade, meio ameaças.

Eduardo: Vou te mandar um negócio aí no endereço da CPN, tá?

Marcela: Tá bem

Marcela: Manda um beijo para o casal e diz para o Lê pra ele se mudar enquanto é tempo, vcs abusam do coração bondoso e de como ele é prendado

— Marcela não vem, galã, está presa na CPN — disse para Leandro. — Mas te mandou um beijo e disse que você não podia ter encontrado pessoas melhores para morar junto.

Leandro ergueu as sobrancelhas, muito mais desconfiado da minha quase verdade do que era socialmente aceitável.

Então eu abri o aplicativo do Rappi e mandei para Marcela as coxinhas de pastrami que ela adorava e, como eu não sabia exatamente o que Lavínia comia, mandei metade da porção com coxinhas veganas de palmito que eram uma perdição e agradava todos os públicos — exceto se a pessoa não gostasse de palmito, mas eu não era obrigado a lidar com essa falha de caráter.

O galã começou a refogar os cubinhos de cebola de Camila na manteiga e, na sequência, o arroz e o vinho foram acrescentados também. O cheiro que subiu pela cozinha era delicioso e eu já tinha comido o risoto cremoso de aspargos e pimenta rosa de Leandro o suficiente para saber que era absolutamente delicioso, então meu estômago estava muito animado com a promessa que o aroma fazia.

Chicão e Tiago foram incumbidos da missão de saltear os aspargos e Felipe acabou virando o travesseiro de Camila, que foi vencida pelo vinho — e aí eu fui preparar o café mais amargo do mundo para ela, numa tentativa de que ela conseguisse ficar acordada. Malu serviu o suco e totalmente valeu a pena a fila que eu peguei no mercado para conseguir comprar o limão — e eu apenas gostei mais da minha amiga quando ela escolheu colocar Beatles para tocar e começou a cantar Yesterday.

Lelê estava colocando uma concha do caldo de legumes no seu risoto, muito concentrado em não perder o ponto, quando seu celular começou a vibrar insistentemente em cima do armário, perto do pote de biscoito que na verdade era o kit de band-aids para dedos cortados que Henrique Francisco mantinha ali.

— Malu, olha para mim o que chegou no celular — Lê pediu, mas ela estava muito ocupada girando pela cozinha com a jarra de suco nas mãos, totalmente na vibe dos Beatles.

Yesterday love was such an easy game to play, now I need a place to hide away — ela cantou e Leandro tentou chamá-la de novo, mas ela apenas continuou, totalmente alheia a qualquer coisa que estivesse acontecendo ali. Oh, I believe in yesterday!

— Eu olho, galã. É pra ler para você? — eu disse e Leandro assentiu, então eu entreguei a xícara do café forte para Felipe, que estava fazendo todo um trabalho minucioso para acordar Camila do seu ombro, e fui até o armário. Desbloqueei o celular e li o conteúdo. — Quem é Lorenzo e por que ele está te chamando para ver os lençóis de mil fios dele?

Ok, a mensagem foi mais eficiente do que o café, porque Camila cuspiu tudo e pareceu finalmente acordada de verdade. O olhar de Galhardo deixava claro que ele adorava que o banho de café tivesse sido na calça de Tiago e não na dele e eu tenho certeza que uma dúzia de filósofos estavam o julgando nesse momento.

— Leandro Lamas! — Camila disse, animada demais. — A gente fez a reportagem com ele semana passada! Desde quando?

— Desde quando o quê? — Henrique Francisco perguntou, com a mesma expressão confusa que eu tinha no rosto, porque nunca tinha ouvido falar de Lorenzo e seus lençóis.

Camila olhou para nós dois, erguendo uma sobrancelha e depois a outra, meio sem entender, mas depois acho que a ficha caiu, porque ela sorriu de um jeito que explicava um pouco sobre o motivo do Samurai falar dela praticamente com corações nos olhos.

— Vocês não podem ser tão inocentes assim, eu sei que o Lê é discreto, mas vocês moram com ele! — a repórter disse.

— Mas provavelmente a gente deveria apenas ficar na nossa com a informação privilegiada porque não é a gente que deveria contar nada, Cams — Felipe disse.

Leandro deu de ombros, dando risada para o risoto.

— Não é como se fosse um segredo, né? — perguntou, nos olhando por cima dos ombros. — Eu conheço os lençóis de umas mulheres. E de uns caras também...

Fiquei surpreso, mas aí parei para pensar sobre o assunto.

Leandro era um galã pegador, mas o quanto disso eu, de fato, tinha visto? Eu sabia sobre Cecília, e sobre a mulher com quem esbarrei no corredor de casa saindo da porta dele, e sobre a moça que ele beijou no bar na noite em que nós dois ficamos malucos de absinto. Mas o que ele fazia quando saia de casa sozinho e voltava com aquele sorriso mole na cara? Com quem trocava mensagens? Para quem ele ligava?

Eu nunca soube. Então talvez uma dessas pessoas fosse Lorenzo?

Por mim tudo bem, desde que o marmanjo estivesse cuidando e dando todo o amor que Leandro Lamas merecia, porque tudo o que eu queria era que aquele cara fosse feliz com quem ele quisesse.

— Leandro é do vale, é isso? — Tiago perguntou, roubando as palavras de mim e Chicão.

— O B que eu carrego não é só de bonito demais — Lê contou, dando de ombros.

— Então esse tempo todo você deu em cima do Titi de verdade? — Chicão perguntou, abraçando o namorado pela cintura.

Tiago deu um selinho nele que dizia claramente que Chicão não precisava se preocupar nem se o Ricky Martin aparecesse ali de sunga (ou sem) dançando Livin' La Vida Loca. E todos nós sabíamos que Ricky Martin estava para Tiago como Titanic estava para mim.

— Claro que não, Henrique Francisco. Eu não daria em cima das pessoas que vocês estão juntos, mesmo vocês achando que eu sou um talarico de primeira — Leandro contou.

Em defesa do Dr. Chicão, quem é que achava que ele não estava dando em cima do Tiago, pelo amor da Amazônia?

— Agora que vocês já sabem, a gente tem que contar uma das melhores histórias da vida do Lê para vocês — Malu disse, abrindo um sorriso travesso que foi imitado por Camila e Felipe já estava tendo uma crise de risos. — Esse homem desapegado que vocês conhecem já teve um amor à primeira vista!

— Vocês tem que contar isso toda vez? — Leandro perguntou, apontando para Malu com a colher de silicone com a qual estava mexendo o risoto.

— Foi quando ele foi para os Estados Unidos fazer uma pós-graduação e conheceu um advogado de banco, desses que andam de ternos de três peças e tem um topete metido que deveria ser batizado com o próprio nome dele — Felipe contou.

— Isso, zoem o fato de que ele era lindo de doer — Lê gracejou, rolando os olhos.

— Ele estava falando algo sobre a quinta emenda em uma cafeteria e o Leandro só pensou que queria ser emendado por ele — Camila disse antes de começar a gargalhar.

— Eu literalmente nunca disse isso, Camila Nogueira! Sem licença poética para o meu primeiro amor! — Leandro disse e Henrique Francisco quase caiu da banqueta onde estava sentado. Se eu posso chutar, ele só não caiu porque Tiago estava atrás dele e serviu de apoio.

Ele não foi o único que ficou chocado com Leandro falando sobre primeiro amor, devo ressaltar. Acho que nunca tinha ouvido o galã falar essas palavras — exceto quando ele descobriu o Moisture Surge para área dos olhos da Clinique, mas aí não era sobre uma pessoa!

— Eu construiria feliz um prédio com poliuretano se tivesse uma chance ver o galã apaixonado — eu disse e Leandro rolou os olhos de novo, mesmo que um sorrisinho de canto estivesse desenhado na sua boca, o que denunciava que ele estava achando divertido.

— E aí eu tenho certeza que rolou aquela cena de um derrubando café no outro, sorrisos e coque frouxo porque é isso que acontece em cafeterias americanas, a gente sabe — Malu completou e só teve tempo de desviar por um triz pelo pedaço de aipo que passou voando por cima da sua cabeça. — Vai falar que é mentira, Leandro Lamas?

— Ok, eu entornei café nele, mas foi sem querer! — Leandro se defendeu do clichê. — E não teve nada de romântico nisso, eu queimei o coitado!

— Foi amor e queimadura à primeira vista — Felipe disse e nele Leandro efetivamente acertou o aipo, bem no nariz.

— Eles trocaram uns beijos no banheiro da Starbucks em plena luz do dia! — Camila berrou, se enfiando embaixo da bancada.

— Não foi nada disso, vocês são ridículos! Eu queimei o coitado e fiz o que qualquer um faria: chamei ele para uma cerveja à noite para pedir desculpas e ele disse sim. Eu reclamei disso? Não. Ele era lindo pra caralho e se a gente se beijou no banheiro foi apenas uma fatalidade, nada premeditado!

— Quem não te conhece que te compre, Lê — Felipe disse, deixando clara a quantidade de credibilidade que o galã tinha sobre não planejar minuciosamente as bocas que queria beijar.

— Claro, eles se enrolaram durante o tempo todo que Leandro ficou lá, mas, no fim, o advogado bonitão só queria uma medida provisória e Leandro queria ser uma cláusula pétrea, ou seja, nosso galã aqui estava perdidamente apaixonado e o doutor só a fim de que ele conhecesse seus lençóis americanos de mil fios — Malu prosseguiu e Leandro culpou Felipe pela quantidade de detalhes que ela sabia da história.

— E aí quando Lê voltou para o Brasil, a primeira coisa que foi fazer foi comer uma quantidade absurdamente além do ponto de pastéis na feirinha e vomitar de tristeza — foi o filósofo quem completou. — E essa foi a minha fossa quando essa princesa aqui foi para Barcelona e eu amo essa mulher — disse, dando um beijo na têmpora de Malu —, então você estava muito na dele, muito mesmo!

— Eu estava, mas você faz parecer pior do que foi — Leandro acusou.

— Você ouviu isso, Eduzinho? — Chicão perguntou, cutucando meu braço. — O galã estava apaixonado!

— Lê, você chorou do lado de um balde e todo mundo no meu prédio ainda lembra do maluco que ficou chamando Maxwell Thompson no corredor e deitou no chão do elevador por três horas e meia! — Felipe lembrou e Malu teve uma crise de risos, secando as lágrimas dos cantos dos olhos.

— E mesmo sabendo disso vocês entrevistaram ele para a VixSão+ e eu fui obrigado a ficar olhando para a cara ridiculamente bonita dele por semanas! — o galã disse. — Assim fica fácil esquecer!

— Eu te disse para dar uns beijos no Ulisses, ia ser ótimo para ele esquecer a Camila e você ficaria distraído com outra coisa além das fotos nas nossas páginas digitais — Felipe se defendeu e, depois de um tempo, eu descobri que Ulisses era o repórter de saúde da VixSão e que ele e Camila tinham tido um rolo que ele nunca superou, embora ela estivesse com Vitório há muito tempo.

Eles entraram num debate acirrado sobre Leandro ser ou não a solução para todos os problemas de apego e carência de Ulisses e todos chegaram à conclusão que sim, inclusive o próprio Leandro, sob a alegação de que ele seria transformador na vida de qualquer um, mas que Ulisses não era o tipo dele.

Foi aí que a Leandro piscou para mim e eu me senti extremamente lisonjeado em ser o tipo do galã de revista — se eu não fosse hétero e apaixonado pela Marcela, Leandro Lamas estaria perdido porque sem dúvidas terminaria aquela noite sem roupa e na minha cama.

Após uns minutos, nós jantamos o risoto fantástico de Leandro e comemoramos o fato de que ele estava há um ano morando com a gente; depois fomos para a sala, onde todos se acomodaram nos sofás e no tapete enquanto ouvíamos as histórias absurdas que aconteciam na VixSão e pareciam nunca ter fim — eu sempre tinha uma crise de risos com a história da Marina que apagou o Comic Sans de todo mundo e de Felipe anunciando para todos que sabia falar finlandês, mas na verdade só sabia uma palavra que ele pronunciava como se fosse um híbrido de russo e árabe.

Em algum ponto, a gente se juntou para tirar uma foto e todo mundo se espremeu ao redor do galã de revista, que postou nos stories com stickers de coração e tinha escrito "não cabem direito na foto, mas cabem certinho no meu coração <3" e marcado todos nós.

A campainha tocou quando Malu estava falando sobre Josué ter dado um soco em uma suculenta de Felipe em um momento de raiva causado por um erro no Excel — que ultraje, a planta não tinha nada a ver com isso! — e Chicão foi atender.

— Adivinha, Lê — Camila disse, esparramada no tapete entre Tiago e Malu e com os pés em cima de Felipe, com o celular do galã em mãos. — @maxthompson reagiu ao seu story com coraçãozinho! E com um foguinho! Será que lá nas terras dele também significa chama ou ele só te acha tremendamente gostoso?

— Olha quem não superou quem — Leandro gracejou, dando um sorriso presunçoso.

— Você é insuperável — eu disse e Leandro cheirou meu pescoço exatamente como eu tinha feito com o dele, com o ombro apoiado no meu.

— Feliz um ano de apartamento, galã! E feliz duas semanas, casal! — Eu ouvi a voz de Marcela, que apareceu por trás de Henrique Francisco e estendeu duas garrafas de Brise Marine, uma para Leandro e outra para Chicão antes de abraçá-los. Ela estava com o rosto cansado e uma manchinha de café na blusa, mas ainda assim ela colocou um sorriso feliz no meu rosto porque era maravilhosa demais. — Eu não podia deixar de passar aqui para dar um oi para vocês.

— Marcela do triturador de carne! — Felipe disse e Malu arregalou os olhos em reconhecimento daquele nome e, infelizmente, daquela referência maldita que meu cérebro ébrio tinha criado.

Eu passaria para sempre aquela vergonha no crédito, parcelada em cinco gerações.

— Acho que sim? — perguntou, acenando para Galhardo, Malu e Camila. — Eu quero saber porque as pessoas me chamam assim?

Eu puxei a engenheira pelo passador de cinto da sua calça até que ela caísse sentada no sofá ao meu lado e a abracei pelos ombros para plantar um beijo no seu cabelo meio maluco — quando as mãos dela alisaram o meu em algo que podia ser um carinho ou não, soube que o meu cabelo também estava bagunçado.

— Não quer, não — respondi e estreitei os olhos para o casal maravilha e filosófico que tinha presenciado meus momentos de fraqueza, que ergueu as mãos em rendição. — Conseguiu finalizar a ponte?

— Deixamos renderizando porque eu queria passar aqui, mas eu serei uma mulher morta se o programa der erro durante a noite e Lavi tiver que começar de novo amanhã — Marcela contou e sorriu, enlaçando minha cintura com os braços. — Mas pelo menos ela ficou mais feliz com as coxinhas, acho que agora o truque para ela parar de me ameaçar com uma betoneira é alimentá-la.

— Sempre a postos para ajudar minha engenheira preferida — me gabei e ela riu, levantando os olhos para encontrar com meus. Havia um sorriso naquele olhar que me fez sorrir junto. — E que bom que você veio, Má — beijei a bochecha dela, arrastando meus lábios até perto da sua orelha para sussurrar: — Agora sim está perfeito.

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SEXTA DAQUELE JEITO QUE A GENTE AMAAAAAAAA <3

Oieee, tudo bem com vocês?

Para compensar o sumiço, a gente trouxe esse meeeeeeeeeega capítulo que tem um pouquinho de tudo, inclusive Max Tompson para fazer com que a nossa calcinha saia voando com o seu charme juridicamente correto!

Opaaaaaaaaaa, Max e Lê tiveram um rolo e a gente ta surtandoooooooooooo hahahaha Lex é ship?

A Horta da Ceci ta quase prontinha e, entre todas as emoções que a gente poderia pedir, ainda tivemos uma conversa maravilhosa entre o nosso Pirulito Loiro e o Cristal Sustentável, mostrando que essa amizade é divertidíssima hihihihihi

Ai ai, CEM está em uma vibe sensacional!! Quem mais está amando isso? Não esqueçam do surto e do biscoito hihi

Beijinhos, 

Libriela <3

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