Capítulo Vinte e Sete
Max Fraield:
Após Gideon me contar a novidade de que fui selecionado para ser um regional, ele saiu correndo para organizar as malas.
Voltei a caminhar pelo terreno, refletindo se é certo seguir para um local com objetivos diferentes do que realmente desejo fazer. Me pego pensando em minha vida passada e nas coisas estranhas que aconteceram nela.
Já fui traído pelo meu primeiro namorado e minha melhor amiga, que tinham um caso há anos e eu era o único que não sabia. Morri em um infeliz acidente e, quando acordei, estava em um mundo cheio de magia, onde me tornei um nobre poderoso.
Mas ainda há algo que não consigo ficar calmo: pensar naquela bruxa vidente e no que ela vai querer em troca por ter me ajudado com a dica que me deu.
Balanço a cabeça, tentando afastar esses pensamentos, quando vejo meu reflexo no vidro da janela.
Agora, o mais inimaginável aconteceu. Nunca havia reparado na minha beleza, bem, na verdade, Max é muito bonito. Isso é loucura, como alguém pode ser tão lindo? Como alguém se deixava ser humilhado todos os dias sendo que é lindo, inteligente e tinha caráter para respeitar a todos. Pensava que não estava tão interessada em minha aparência, mas isso não é verdade...
He, não sabia como sou tão lindo e ainda mais como tenho expressões delicadas.
— Acho que vou me apaixonar se continuar olhando para meu reflexo desse jeito! — Falei.
— Senhor? — Alguém chamou. — Senhor?
Balancei a cabeça e percebi que Ian e Marcelo estavam ao meu lado, o primeiro prendendo o riso e o segundo ficando sem graça.
— Senhor Max, você realmente é muito lindo — Marcelo disse de forma respeitosa. — Tenho certeza de que é o centro das atenções por onde passa, e quem se apaixonar por você será a pessoa mais feliz do mundo.
Por que isso soava como um irmão mais velho consolando o irmãozinho?
Sorri para Marcelo.
— Sabia que você era um pouco estranho, agora que fica falando sozinho pelos cantos. Deveria procurar um médico ou um ótimo feiticeiro — Ian debochou, e só vi quando Marcelo deu um golpe na nuca do outro.
Desabando no chão, só vi uma cena que me lembrava os animes que assisti, quando um personagem desmaiava.
Marcelo fez uma reverência tão desesperadamente respeitosa que juro que sua coluna deve ter doído.
— Senhor Max, peço perdão em nome do Ian — Marcelo disse desesperadamente.
— Não precisa se desculpar em nome dele. Cuidarei dele mais tarde por essa falta de educação — Falei, me recuperando, e cutuquei a pequena alma que saía do corpo de Ian. — Voltando ao assunto principal: O que vocês desejavam falar comigo?
Marcelo tossiu e arrumou sua postura calmamente.
— Viemos ver como o senhor estava. Na verdade, foi o Ian quem quis vir vê-lo — Marcelo disse, olhando para Ian caído no chão e segurando seu corpo, colocando o peso sobre o seu. — E também os Homens-feras querem saber se podem comer agora. Já terminaram todas as tarefas na casa e estão ajudando muito os outros funcionários.
— Por que não fala com a Jéssica? Pedi a ela para ficar de olho neles, assim como você. Se já fizeram o que foi pedido, podem ir comer — Falei.
— Entendo. Parece que os Homens-feras têm uma certa apreensão em relação à Jéssica e a você. Além disso, parecem ter um certo receio de que ela possa usar alquimia neles — Marcelo disse, coçando a nuca e olhando rapidamente para Ian, que se levantava lentamente. — Jéssica saiu para falar com Dolly e eles estão exaustos, então achei melhor vir em nome deles para perguntar.
— Fez o certo em agir assim, mas da próxima vez diga a eles que podem ir sem se preocupar — Falei, e as bochechas de Marcelo coraram levemente. — Você também pode ir se alimentar, sei que só está treinando com a espada e se comer direito as coisas — Acrescentei, suspirando quando ele balançou a cabeça em negação. — Não vou nem discutir sobre sua vida amorosa com a Jéssica, sei que estão flertando um com o outro.
— Diga a eles que podem ir comer e vá se alimentar também — Falei, olhando para Marcelo e Ian. — Por favor, deixe que um dos funcionários cuide dele.
Marcelo assentiu, apoiando Ian ainda mais em seu corpo. Ian, por sua vez, continuava a se recusar a usar uma camiseta, mantendo o peitoral exposto.
— Pode deixar, senhor Max — Marcelo respondeu.
À medida que os vi partir, suspirei e continuei a caminhar até o jardim. O jardim era um verdadeiro paraíso escondido, com uma profusão de cores e aromas que enchiam o ar. As flores desabrochavam em canteiros bem cuidados, exalando uma fragrância suave e envolvente. Arbustos verdejantes contornavam os caminhos sinuosos, proporcionando sombra e frescor. O som suave da água corrente emanava de uma fonte ornamental, adicionando uma sensação de serenidade ao ambiente. Pássaros cantavam alegremente entre os galhos das árvores, acrescentando uma trilha sonora harmoniosa à cena. Era um lugar de paz e beleza, onde se podia esquecer as preocupações do mundo exterior e simplesmente desfrutar do momento.
Desisti de ficar ali e voltei para o lado de dentro. Quando passei pela sala principal, ouvi a voz de Dolly e Gideon. Me aproximei da porta e vi Dylan ali, que me olhou assustado.
— O que está fazendo? — Perguntei sussurrando.
— Meus tios estão conversando com um cara misterioso! — Dylan respondeu num sussurro.
Me aproximei da porta para tentar ouvir melhor.
— Quem está ali dentro com eles? — Perguntei.
— Um rapaz que chegou com a minha tia assim que meu tio veio nos comunicar sobre alguma coisa relacionada a você! — Dylan falou. — Ele diz que é do clã das bruxas!
Olhei para a expressão de Dylan, que estava transparecendo medo. Revirei os olhos e, quando iria abrir a porta, ouvi alguém cair e, antes de correr ao socorro, desabei também.
— Senhor Max! — Ouvi a voz de Dylan, que estava bem distante.
****************
Estava naquele lugar entre o físico e o espiritual, mas a diferença era que ali existia a minha magia. Notei algo surgindo à minha frente e me preparei para o ataque, mas então a alma que vi antes apareceu e tomou a forma de um rapaz que me lembrava perfeitamente.
Era o Dylan que conhecia na outra vida. Ele sorriu para mim.
— Mas que... — comecei, mas ele me cortou.
— É fácil ouvir e usar minha magia depois de tanto tempo nesse lugar — ele disse e pegou minha mão. — Sou uma projeção astral da versão que você conheceu. Ele me pediu para mostrar algo a você.
Imagens surgiram à nossa frente. O antigo Dylan que conhecia estava se arrumando para sair.
— Ele é um bruxo — a projeção disse. — Bruxos são seres poderosos o suficiente para mudarem o destino de outras pessoas. — Ele piscou para mim. — Mas continuarão sendo escravos do seu próprio destino. — Apontou para sua outra versão e algo mudou; havia um novo rosto nos olhando. — O destino dos bruxos pode ser algo inevitável, mas mudar o seu destino é complicado. Ele sabia disso e passou por isso antes de reencarnar no seu mundo.
Arregalei os olhos ao ver para quem ele estava olhando. Meu ex-namorado, antigo melhor amigo, era o foco principal da minha atual amiga, que chorava. A projeção me encarou.
— Essas cenas são memórias que ele está compartilhando com você do seu mundo anterior — a projeção continuou.
— Por que eles estão aqui? — Dylan perguntou com raiva. — Chamaram as duas pessoas que mais o fizeram sofrer no passado para o funeral!
— Eles têm o direito — Ouvi a voz da minha antiga mãe de algum lugar. — De vir ao funeral do amigo deles.
Hipócrita do caralho!
— Você, mais do que todos, deveria se importar com o seu filho, já que sempre o ignorava! — Dylan disse com raiva e todos se calaram. — Só o ofendia ou humilhava! Todos aqui são hipócritas e nem sequer se importavam com ele de verdade!
Ele se levantou e em um instante toda a atmosfera de funeral mudou. Reparei que os olhos de Dylan haviam mudado para uma cor roxa.
— Não precisam se lembrar de nós! — Dylan falou e o cenário do meu funeral desapareceu, todos pareciam estar no meu antigo apartamento, como se o funeral nunca tivesse acontecido.
***************
As imagens mudaram e Dylan estava caminhando perto do rio, que ficava no parque da cidade. Ele estava sentado, bebendo, as várias garrafas de bebida ao seu redor mostravam isso.
— Que diabos? — Dylan resmungou. — Não estou bêbado ainda... Passei do meu limite de álcool e ainda não estou bêbado!
Sério isso?
— Eu quero esquecer deles, como podem nem fingir que ele era importante? — Dylan resmungou, quase chorando. — Mesmo que seja apenas um pouco, só desejo esquecer eles, como fiz com eles!
Ele olhou para a sua mão e um brilho roxo surgiu na palma. Nela, veio várias coisas, Dylan e eu nos conhecendo quando viramos amigos. Desde o que aconteceu até pouco antes de morrer.
— Ela nem para se sentir mais culpa, afinal, seu ex-namorado matou o nosso amigo! — Dylan resmungou. — Vaca idiota, eles irão pagar por tudo que fizeram!
Ele se levantou do banco em que estava sentado e, no mesmo momento, algo pegou em sua perna. Mesmo tentando se libertar, foi em vão, e ele caiu dentro do rio.
*************
Ele estava se afogando, algo o puxava para baixo com uma força avassaladora. Com ele lutando e fechando os olhos, ver essa cena no meu sonho já estava difícil. Ouvi a batalha do monstro e de Dylan, até que tudo ficou em silêncio, assim como a projeção.
Abri os olhos ao mesmo tempo que um brilho roxo surgiu ao redor. A alma brilhante surgiu, sumindo em seguida, e atravessou uma luz roxa brilhante. Depois, um rosto de um rapaz de óculos e cabelos cacheados apareceu, o mesmo que vi segundos antes.
A projeção surgiu com a nova aparência, enquanto o rapaz se sentava, recuperando o fôlego, e olhava para um espelho de parede que havia no quarto.
— Voltei! — O rapaz disse enquanto estava começando a chorar. — Para antes!
A projeção me olhou com sua nova aparência e sorriu docemente.
— Ele mostrou isso a você e sabe que era você quem ele está procurando. Quando acordar, vai vê-lo novamente — A projeção disse e fez uma referência. — Foi uma honra tê-lo conhecido, e espero que cuide da minha versão física. Afinal, você foi um ótimo amigo para ele na sua segunda vida.
Sumiu em segundos, e me vi caindo na escuridão.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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