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Epílogo

♥ Fred ♥

— Pronto? — o Ângelo perguntou depois de desligar o carro.

Respirei fundo e sequei as palmas das mãos na calça.

— Agora ou nunca.

Abri a porta e saí no fim de tarde de céu rosado, uma brisa leve avisando que o dia quente estava prestes a virar uma noite fresquinha. Eu diria ser o dia perfeito para um casamento. O meu casamento.

O Elias saiu pela porta de trás, do mesmo lado que eu, com meu paletó na mão. Ele tinha se autointitulado meu estilista sem receber nenhum protesto da minha parte porque ele podia ser louco, mas se tinha uma coisa que a criatura fazia bem, era se vestir.

Foi ele quem me ajudou a escolher minha roupa, o trio clássico de calça, paletó e colete pretos combinando com camisa branca e gravata azul-claro. Ele também tinha passado a tarde comigo na barbearia, dando palpite enquanto o pobre coitado do barbeiro aparava a minha a barba, bigode e cabelo e jogou, ele mesmo, um monte de produto nas minhas madeixas, me deixando com aquela aparência cuidadosamente despenteada, mas que tinha levado quase uma hora para receber o selo de aprovação dele. Até a fazer as unhas eu tinha deixado ele me convencer, aceitando o argumento que eu não podia fazer feio perto da mão de manicure perfeita da Mariana nas fotos com as alianças.

Uma sensação indescritível envolveu meu corpo. Em menos de uma hora, eu e ela íamos trocar alianças e os tradicionais votos de compromisso na frente da nossa família e amigos. Era tanta felicidade que dava até um pouquinho de medo.

— Nervoso? — o Elias perguntou, me ajudando a vestir o paletó.

— Nervoso, não. Um tiquinho ansioso. — Eu fechei o paletó e bati a mão no bolso, confirmando que a caixinha com as alianças não tinha caído dentro do carro.

— O noivo mais gato que eu já vi. — Ele ajeitou minha gravata.

— Só porque a gente ainda não casou — o Ângelo completou, parando do meu lado.

— Óbvio! — O Elias rolou os olhos e segurou meu ombro. — Agora, doutor gostosão, ainda dá tempo de desistir. Eu já disse que eu e o baby estamos abertos a um relacionamento a três se você não...

— Sem chance! — o Ângelo interrompeu o namorado. — Quantas vezes eu vou repetir que eu não te divido com ninguém?

— Eu sei, baby! — O Elias suspirou. — Eu estava tentando usar psicologia reversa. Dando oportunidade de ele desistir só pra ele ver o quanto ele realmente quer casar.

— Eu sei o quanto eu quero casar, obrigado. — Dei dois tapinhas na mão dele, antes de removê-la do meu ombro. — Vamos? Quem tem que se atrasar, é a noiva.

Ainda era cedo, mas a ansiedade que eu tinha acabado de admitir estar revirando dentro de mim, me fez tomar a frente, andando rápido. Eu queria ter certeza que estava tudo certo e resolver qualquer problema de última hora antes da Mariana chegar. Era o dia dela, e tudo tinha que estar perfeito.

— Você não vai subir? — O Ângelo parou com o pé no primeiro degrau da escadaria da igreja ao perceber que eu não fiz o mesmo.

— Eu vou esperar a minha irmã. — Apontei o Lourenço e a Bia esperando para atravessar a rua.

— A gente já vai, então. Eu quero sentar bem na frente. Pra filmar de perto todas as lágrimas.

— A Mariana não vai gostar de você filmar ela chorando.

— Quem disse que eu vou filmar a Mariana? —  Ele se despediu com um sorriso debochado e um tapinha nas minhas costas.

Eu tinha convidado ele e o Elias para serem meus padrinhos, como não? Mas não seria a mesma coisa, eles no altar com outros pares e entendi a recusa deles. Por sorte, nosso sistema jurídico era menos rígido que a igreja católica e eles tiveram a honra de serem as testemunhas no casamento civil, que tinha acontecido naquela manhã.

Eu acompanhei, com um sorriso, a minha irmã se arrastando pela faixa de pedestres pendurada no braço do marido.

— Bia, você está...

— Gorda! — ela me interrompeu, irritada. — Eu tenho espelho, Fred. Não precisa falar.

— Eu ia dizer que você está usando o vestido da cor errada. — Eu me abaixei, dando um beijo no rosto dela e apertando a mão do Lourenço, em seguida.

A Mariana tinha pedido às madrinhas que usassem vestidos em tons de azul. Nem um daltônico ia confundir o vinho escuro do vestido da minha irmã com azul.

— Eu sei! — Ela cruzou os braços por cima do barrigão de sete meses, cuspindo fogo pelos olhos. — E eu já falei com a Mariana. Era isso, ou eu não vinha. Esse foi meu único vestido longo que a Alexa conseguiu ajustar de última hora. Eu virei uma baleia! — Ela girou o corpo como um raio para o Lourenço, cutucando o peito dele com o dedo esticado, impedindo que ele falasse o que ele tinha acabado de abrir a boca para falar. — Se você disser que eu sou a baleia mais linda que você já viu, eu juro que eu peço o divórcio! A culpa é toda sua. O meu óvulo estava lá, quietinho no canto dele, e aposto que foi o seu espermatozoide atômico que convenceu ele que se dividir era uma boa ideia! 

Eu prendi o riso nos lábios apertados. Eu não podia correr o risco de ter minha cabeça arrancada do pescoço meia hora antes de casar com a mulher da minha vida.

— Eu não ia dizer isso, amor. — O Lourenço segurou a mão da Bia, dobrando o dedo estendido e dando um beijo no punho fechado entre as mãos dele. — Eu ia dizer que as baleias iam ter muita sorte se tivessem um décimo da sua beleza. E se o meu espermatozoide convenceu seu óvulo a se dividir, foi porque ele sabia que a gente ia ficar duplamente feliz com a benção de dois filhos.

— Awww... — A Bia se derreteu, aceitando o abraço do marido, sorrindo de olhos fechados. — Você diz cada coisa tão bonita...

— Mais dois meses disso, hein? — Encontrei o olhar do Lourenço por cima do ombro dela.

— Shhhhh! — Ele balançou a cabeça de um lado para o outro. — Ela se acalmou. Não vamos brincar com a sorte.

Com um suspiro, a Bia se afastou dele.

— Desculpa — ela pediu a nós dois. — Eu sei que eu ando mal-humorada, mas hoje é o seu dia, Fred. Eu prometo me controlar.

— O importante é que você está aqui. A cor do seu vestido, não importa.

— Foi o que a Mariana disse. — O olhar dela se suavizou. — E nada ia me impedir de estar aqui.

O celular do Lourenço apitou, e ele tirou do bolso, lendo a mensagem.

— A noiva está chegando — ele anunciou e meu estômago deu um nó. — Por que vocês não vão indo? Eu vou esperar aqui.

A Mariana tinha ficado indecisa entre o irmão e o tio para levá-la ao altar, mas o seu Rodolfo escolheu por ela, dizendo que ele tinha levado a Alexa e era a hora do Lourenço ter o privilégio. O que, no fundo, eu desconfiava que era o que ela queria, de verdade.

— Isso. Vamos? — Estendi o braço dobrado e a Bia se apoiou em mim.

— Ai, meu Deus! — Ela gemeu ao ficar de frente para a escadaria, inclinando a cabeça para trás para enxergar o topo. — Não tinha uma igreja com uma escada maior, não?

— A Mariana tentou a igreja da Penha, mas eles não tinham data — eu brinquei, mas recolhi o sorriso assim que ela girou o pescoço de lado, os olhos mal aparecendo pelas pálpebras estreitas. Eu tratei de acalmar a fera. — A gente vai devagar. Um degrau de cada vez, sem pressa.

Eu deixei ela ditar o ritmo da subida. Apesar da implicância, eu sabia o quanto ela estava desconfortável. E não era o só o incômodo físico que estava afetando o humor da minha irmã. Ela estava com medo. Cuidar de dois recém-nascidos sem deixar de dar atenção às filhas não seria fácil, e era a primeira vez que ela fazia aquilo sem a mamãe. Mas ela não tinha com o que se preocupar. A família inteira estava mobilizada para ajudar. A dona Marinês, inclusive, já tinha avisado que vinha antes do parto e ficava com ela, aqui no Rio, o tempo que precisasse.

— Eu estava lembrando de uma coisa, hoje — a Bia disse sem me olhar, concentrada em segurar a barra do vestido e não tropeçar. — De como eu fiquei triste quando a Camila contou que vocês iam casar só no civil. Eu cheguei a ir conversar com ela, pra tentar fazer ela mudar de ideia.

— Eu lembro. Ela me contou.

— Ainda bem que ela não me escutou. Não que ela me escutasse. — Ela deu uma risadinha. — Mas a Mariana merece muito mais esse casamento que a sua ex-mulher. O início perfeito da sua melhor chance de ter o relacionamento parecido com o da mamãe e do papai que você sempre quis. Eu estou muito feliz por vocês.

— Ei, não é porque você e o Lourenço não puderam casar na igreja que o casamento de vocês não foi um dos mais bonitos que eu vi.

— Foi mesmo, não foi? — Ela deu um sorriso sonhador.

O casamento deles tinha sido simples, na casa dela, com pouquíssimos convidados, mas o juiz de paz que o Lourenço escolheu tinha realizado uma cerimônia comovente, não deixando nada a desejar a uma celebração religiosa, bem diferente das palavras recitadas sem emoção dos meus dois casamentos no civil. Mas eu concordava com a Bia e também estava muito feliz de estar dando à Mariana o casamento dos sonhos dela.

— A gente pode descansar? — a Bia pediu quando chegamos ao degrau mais largo que marcava o meio da escadaria, e a puxei para o lado, saindo do caminho dos outros convidados que subiam, recebendo o cumprimento dos que paravam para falar com a gente.

— Fred! Biatriz! Se vocês ainda estão aqui, eu estou menos atrasada que eu pensei.

— Você não está atrasada, Naiara. — Dei dois beijinhos nas bochechas avermelhadas pelo esforço de subir as escadas com o filho de um aninho no colo.

— Ai, ai! — A Bia estendeu a mão e acariciou os cachinhos do Tomás com o rosto escondido no pescoço da mãe. — Ele está tão lindinho de terno!

O Tomás resmungou e não fez a festa que ele sempre fazia para a minha irmã.

— Desculpa — a Naiara falou pelo filho. — Ele estava dormindo no táxi e está de mau humor.

— Eu sei bem como é. — A Bia riu.

— Vocês estão esperando alguém? — A Naiara balançou o olhar confuso entre a Bia e eu.

— Não, a Bia está descansando — eu informei, passando o braço pelos ombros da minha irmã, firmando os pés no chão quando ela soltou o peso.

— Eu sei bem como é — a Naiara repetiu as palavras da Bia, com um sorriso, mas se corrigiu, logo em seguida. — Não, eu não sei. Se um é difícil, imagino dois.

— É como ter uma arena de luta livre dentro do útero. — Ela suspirou passando as duas mãos pela barriga.

— Bom, eu vou subindo, então. — A Naiara jogou o Tomás para cima, o ajeitando no colo. — A moça do cerimonial pediu pra eu chegar mais cedo. Ela acha que se o Tomás andar algumas vezes pelo corredor vai ser mais fácil na hora do casamento.

O Tomás completava o nosso quarteto de pajens, junto do Bento, da Alícia e da Amanda. Todo mundo tinha tentado fazer a Mariana desistir de colocar uma criança que tinha acabado de aprender a andar numa tarefa tão importante, mas ela não deu ouvidos a ninguém, dizendo que confiava na Amanda para guiar o Tomás da entrada até o altar sem birra, nem choro. Se tinha alguém que podia fazer isso, essa pessoa era a Amanda, e foi o fim da discussão.

— Você quer que eu leve ele pra você? — eu ofereci à Naiara e olhei para a Bia. — Eu subo e volto pra terminar de te ajudar.

— Não precisa. — A Naiara subiu um degrau, sem esperar. — Eu já estou acostumada.

Eu e a Bia acompanhamos a subida dela com o olhar.

— Eu não sei como a Mariana consegue — a minha irmã disse quando a Naiara não podia mais nos ouvir. — Eu nunca ia conseguir ser amiga de uma mulher que eu soubesse, com certeza, que tinha transado com o Lourenço.

— Eu acho que ia ser diferente se o menino fosse meu, mas a Mariana se comoveu com o drama dela, e fazer o quê? A minha noiva tem o coração mole.

No fim, não tinha nem precisado de exame de DNA. A Naiara seguiu meu conselho, se abriu e contou tudo para o Cléber, que a surpreendeu sim, mas foi com a confissão de que ele tinha furado todas as camisinhas que eles usaram, de propósito, para provocar uma gravidez. E completando a cafajestagem, terminou o namoro ao ouvir que ela tinha ficado comigo e sumiu, desapareceu, escafedeu-se, deixando a Naiara sozinha com a responsabilidade de criar o filho. Na minha opinião, ela estava melhor sem o hipócrita que não aceitou que a namorada tivesse transado com outro quando eles nem estavam juntos, quando ele fazia o mesmo. O que não queria dizer que não tinha sido uma barra pesadíssima para a Naiara.

No começo, a amizade da Mariana com ela também tinha me deixado um pouco desconfortável, mas passou. Hoje, a Naiara e o Tomás faziam parte das nossas vidas, e eu só tinha admiração e orgulho pela Mariana, que fez questão de ir com ela à todas as consultas do pré-natal, e ajudou a montar o enxoval e a decorar o quartinho do nosso afilhado.

— Vamos? — a Bia voltou a se pendurar no meu braço.

— Vamos. — Eu engoli a ansiedade de chegar logo lá em cima e acompanhei a subida lenta da minha irmã. — E você não devia se surpreender com a capacidade da Mariana em fazer amizades inusitadas. Você podia imaginar, depois do tal primeiro almoço na casa dela que, um dia, vocês iam ser melhores amigas?

— Nunca — a Bia confirmou com a voz apertada. — E ela não é só minha melhor amiga. Ela e a Alexa são as irmãs que eu nunca tive. Que droga, Fred! — Ela abanou a mão na frente do rosto. — Não me faz chorar.

— Você anda chorando até com comercial de margarina. Você achou que não ia chorar hoje? — eu impliquei.

— Mas o casamento nem começou. — Ela fungou.

— E por falar em melhores amigas... — eu disse de lado quando finalmente chegamos ao topo, um minuto depois, esperando que a Bia tivesse tempo de se preparar para encontrar o tio João Carlos vindo na nossa direção.

Depois que o Diego terminou com a Vivi (ele não admitia nem por um cacete, mas a culpa tinha sido do vídeo que virou meme na internet e revelou ao Brasil que o queridinho das novelas tinha traído a esposa com a prima dela), ela se mudou para a Inglaterra e tinha mais de um ano que estávamos livres da cobra, mas a tia Natália não desistia da campanha: Vivi e Bia - melhores amigas de novo.

— Parabéns, Fred. — Meu tio me deu um abraço apertado, enquanto a tia Natália cumprimentava a Bia. — Eu fiquei muito feliz com o convite.

— Eu que agradeço você ter vindo, tio — eu respondi. Apesar de tudo, eu não podia deixar de querer o irmão do meu pai no meu casamento.

— Eu disse isso pra Bia, no dia do casamento dela, e vou repetir pra você: o seu pai é insubstituível, mas não esquece que eu estou aqui, se você precisar de qualquer coisa.

— Obrigado. Eu sei.

— Vem cá, Fred. — Recebi o abraço da tia Natália numa nuvem de perfume forte e enjoativo. — Eu conversei com a Vivi hoje. Ela te mandou os parabéns.

Eu soltei todos os agradecimentos apropriados, esperando que se passassem por sinceros, e ela olhou para a Bia, que retesou todos os músculos do corpo do meu lado.

— Ela mandou um beijo pra você também. Ela está pensando em voltar em definitivo no fim do ano. Quem sabe a gente não passa o Natal junto? Como antigamente.

A Bia respirou fundo, antes de responder.

— A minha psicóloga diz que a mágoa que a gente guarda só faz mal pra gente mesmo, e eu e ela estamos trabalhando em perdoar. Eu não prometo nada, mas, quem sabe, tia?

— Obrigada, meu bem. Sua boa vontade já vale. — Ela segurou a mão do marido. — A gente vai entrar, eu quero pegar um lugar sentada.

Eu esperei eles entrarem na igreja, antes de me virar para a minha irmã, sem conseguir esconder a incredulidade.

— Natal com a Vivi, sério?

— A tia Natália não tem culpa de nada, eu não podia dizer o que eu pensei.

— Que é? — incentivei a Bia a continuar.

— Que eu e a Vivi passando o Natal juntas, só quando eu tiver com noventa anos, senil e com Alzheimer, e não lembrar quem ela é. Antes disso, a vaca que tenta chegar perto de mim, pra ela ver!

— Essa é a minha irmã! — Levantei a palma da mão aberta, e ela bateu a dela com força.

— Ah, o noivo chegou! — A Carolina, responsável pelo cerimonial, se aproximou no mesmo minuto que as minhas sobrinhas alcançaram o último degrau da escada, chamando pela mãe.

Inspirei e soltei o ar com um sopro forte. As meninas tinham se arrumado com a Mariana. Se elas estavam ali, a minha noiva também estava. A hora estava chegando. A mesma sensação de antes, de felicidade, ansiedade e perfeição fez meu coração parar por um segundo, antes de voltar a bater em velocidade máxima.

— Olha como vocês estão lindas! — A Bia pôs a mão no peito. — Elas não estão lindas, Fred?

— Duas princesas! — eu disse, com sinceridade.

A Alexa tinha desenhado os vestidos, que eram parecidos, mas não iguais, respeitando as diferenças entre as duas meninas, a Amanda ainda criança, e a Alícia se achando muito adulta em plena pré-adolescência. Em comum, elas tinham a cor branca do tecido brilhante, a faixa azul na cintura, o buquê de flores pequenininhas, também em tons de azul, e a tiara nos cabelos magicamente transformados de lisos em um monte de cachinhos.

— A tia Mari também está parecendo uma princesa! — a Amanda me informou com os olhos brilhando e dois pulinhos.

Daquilo, eu não tinha dúvidas. Eu nunca tinha visto uma noiva que não estivesse radiante e deslumbrante de felicidade no dia do casamento. Se a Mariana era assim num dia normal, naquela noite, eu já esperava não ter palavras para descrevê-la.

— Se a noiva, também chegou, a gente pode começar. — A Carolina fez um gesto indicando a entrada da igreja. — Vamos pra fila?

A fila estava mais ou menos organizada. Na frente, o doutor Macedo e a esposa conversavam com o seu Rodolfo e a dona Marinês. Atrás deles, a Milena e o Roger, seguidos de dois casais de amigos da Mariana e, por último, o Lucas e a Alexa de olho na Naiara tentando tomar conta do Bento e do Tomás correndo em círculos, segurando a filha deles, a Giovanna, no colo. Dali a poucos minutos, todas as pessoas mais que especiais da minha vida estariam reunidas dentro daquela igreja. Eram esses momentos que tornavam os problemas pequenos e faziam a nossa existência valer a pena. Senti meus olhos ardendo e respirei fundo, outra vez. Como o Ângelo e a minha irmã, eu sabia que o choro seria inevitável, mas ainda nem tinha começado!

Dois passos depois, o celular vibrou dentro do meu bolso, me lembrando que eu precisava desligá-lo.

— Celulares desligados! — a Carolina falou alto ao me ver com o telefone na mão, aproveitando para que o aviso fosse ouvido por todos os padrinhos, que começaram a remexer em bolsos e bolsas.

Eu estava com o dedo no botão de desligar quando vi que era uma mensagem da Mariana e, claro, eu não podia deixar de ler.

Era uma foto.

Uma foto de um teste de gravidez com duas linhas rosas no lugar do resultado.

Eu tinha consolado o choro triste da Mariana vezes o suficiente para saber o que aquilo significava.

— Eu já volto! — eu gritei e saí correndo antes que alguém tentasse me impedir.

Enfiando o celular de volta no bolso, desci a escada de três em três degraus. O carro que tinha trazido a Mariana estava estacionado na frente da escadaria, a porta de trás entreaberta, o Lourenço inclinado para o banco de trás, deixando à mostra só um monte de pano branco da saia do vestido de noiva.

Ao ouvir o barulho dos meus passos, o Lourenço virou para trás, arregalando os olhos ao me ver.

— É a Bia? — Ele nem esperou resposta e saiu correndo na direção oposta, voando escada acima.

— Fred! — A Mariana puxou a porta, que fechou com uma batida forte, e continuou segurando com as duas mãos. O rosto de maquiagem impecável se empalideceu pelo vão da janela. — Volta lá pra cima!

— Eu preciso conversar com você. — Eu estendi a mão aberta na direção de um flash que me deixou cego por dois segundos, num pedido silencioso para o fotógrafo esperar.

— Agora? — ela perguntou.

— Agora! — Eu não tinha tempo a perder tentando convencê-la a me deixar entrar no carro, e porque achar soluções para situações difíceis em questão de segundos era uma das minhas melhores qualidades, tomei a única atitude possível no momento. Me enfiei pela janela aberta.

Com um grito, ela chegou para trás, e me puxei para dentro, fazendo de tudo para não cair no colo dela, não querendo nem machucar a minha noiva, nem sujar o vestido branco.

— Está tudo bem, senhora? — o motorista perguntou, vendo o meu esforço para levantar do assoalho, onde caí aos pés da Mariana. Eu estava amarrotando meu terno todo, o Elias ia me matar, mas que se dane!

— Está tudo bem — ela confirmou, segurando meu braço e me ajudando a sentar no banco, ao lado dela. — Você pode dar um minutinho pra gente, por favor?

— Você está maravilhosa — eu disse assim que ficamos sozinhos, deixando meus olhos passearem pelo que eu podia ver do vestido tomara que caia cheio de pedrinhas brilhantes. Os cabelos negros estavam presos num coque enfeitado por uma versão maior e mais detalhada da tiara que Alícia e a Amanda estavam usando.

— Você não sabe que dá azar ver a noiva antes do casamento? — Ela pousou o buquê idêntico aos das meninas, só que maior, no banco, do outro lado dela, me olhando com o sorriso mais lindo que eu já tinha visto.

— O destino não conseguiu separar a gente. Eu quero ver o azar tentar. — Eu deslizei os dedos por um dos cachos caídos em volta do rosto emocionado. — Você achou que eu ia ver aquela foto e ia ficar por isso mesmo?

— Pior que eu pensei. — Ela deu uma gargalhada. — Quase dois anos e eu ainda não me acostumei com as suas loucuras.

— É verdade, Mariana? Você está grávida?

Ela assentiu, engolindo antes de falar.

— Eu fiz o teste hoje de manhã, mas foi tudo tão corrido, a gente não conseguiu ficar sozinho nem um minuto. Eu não queria te contar por mensagem, desculpa, mas eu cheguei aqui e pensei que ia ser muito injusto com você, ser a única a saber que o nosso neném está aqui, com a gente, nesse dia tão importante.

— Convidado de honra do casamento da mamãe e do papai. — Emoldurei a barriga dela e dei um beijo demorado no meio do círculo formado pelas minhas mãos, mais feliz, completo e realizado que em qualquer outro momento da minha vida.

Não tinha sido por falta de tentar pelo método natural que ainda não tinha acontecido, e nós tínhamos estipulado o prazo de até depois da lua-de-mel para começar a explorar o que a medicina moderna podia fazer por nós. Felizmente, não ia ser preciso.

Levantei a cabeça, vendo a Mariana borrada por entre as lágrimas que nem tentei segurar.

— Ah, Fred...  não me faz chorar. Eu sou a noiva do Frederico, não do Frankenstein. — Ela apertou o nariz, entre os olhos, com dois dedos e respirou fundo.

— Quem mandou você fazer de hoje o dia mais perfeito da minha vida? — Sequei os olhos e rocei meus lábios de leve nos dela. Por mim, eu bagunçava o batom dela todo, mas me segurei.

Mais tarde, eu me prometi.

Foi quando a porta abriu atrás de mim, e fui arrancado de dentro do carro. Eu só não caí sentado porque o Lourenço me puxou para cima e me colocou em pé.

— Que porra é essa? — eu perguntei, alisando o paletó, planejando colocar a culpa nele quando o Elias me xingasse.

— Não tem nada de errado com a Bia!

— Eu por acaso disse que tinha alguma coisa errada com a Bia?

— Não dava para esperar pra se pegar com a minha irmã? — Ele deu um passo à frente tentando me intimidar, mas eu paguei para ver e fiquei onde eu estava.

— Diz o cara que eu salvei de ser pego pelas filhas, "nadando" peladão com a Bia, na semana passada! — Eu fiz um sinal de aspas exagerado na palavra nadando, para não descrever o que eles estavam fazendo. Era da minha irmãzinha que eu estava falando. — A mulher está grávida de sete meses!

Eu tenho orgulho de dizer que foi a primeira vez que fiz meu cunhado ficar vermelho de vergonha.

— A Bia está se sentindo desconfortável, a gente achou que dentro da piscina ia ser...

— Por favor, Lourenço! — A Mariana interrompeu o irmão. — Agora não é hora de discutir a sua vida sexual. Será que eu posso me casar?

— Desculpa, meu amor — eu pedi, antes que o Lourenço insistisse em continuar falando da vida lá-lá-lá-lá dele. — Eu já estou subindo. Não demora.

Eu terminei com uma piscadinha e me virei, dando de cara com a Bia descendo a escada, segurando a barriga por baixo com as duas mãos, como se ela estivesse prestes a cair.

— O que você está fazendo aqui? — Eu abri os braços.

— Eu vim ver o que está acontecendo — ela respondeu, respirando pesado. — Por que essa correria toda? Por que você eu Lourenço estão discutindo?

— Quando eu e o Lourenço não estamos discutindo? — eu repliquei, segurando o braço dela e a virando de frente para a escada, mas ela não me acompanhou.

— Eu não vou aguentar subir isso tudo de novo — ela choramingou.

— Ah, vai! Quem mandou você descer? — Eu tentei puxá-la, sem me comover com o beicinho exagerado.

O Lourenço suspirou atrás de mim.

— Mariana, eu já volto. Um minuto — ele disse antes de pegar a Bia no colo e subir a escada.

— Deve ser tão bom ser forte, né, Fred? — A Bia deitou a cabeça no ombro do marido e me olhou como se eu não fosse capaz de carregar uma mulher grávida por uma escadaria. Lógico que eu era! Eu só não queria ficar todo suado e cansado na cerimônia do meu casamento. Eu preferia guardar aquela parte para a minha esposa na noite de núpcias.

— Você não quis dizer metido? Ou convencido? — Eu me apressei para acompanhar os passos do Lourenço.

— Isso você sabe bem como é. — Ela revirou os olhos.

— Ótimo! — A Carolina nos encontrou no meio da escada com as duas mãos no peito. — Já está todo mundo voltando. Menos você. Você tem que descer. Não é você que vai levar a noiva?

— Assim que eu terminar de levar a minha esposa — o Lourenço respondeu.

E há que se admirar a boa forma do cara. A voz dele saiu normal, sem trair o esforço que ele estava fazendo em carregar uma mulher grávida escada acima, um minuto depois de ter subido e descido a mesma escada correndo.

— Não! — eu gritei ao ver o Elias e o Ângelo vindo ao nosso encontro. — Pode dar meia volta. O que vocês estão fazendo aqui? 

— A música começou e parou. A Mariana desistiu? — o Ângelo perguntou com os olhos arregalados.

— Ninguém desistiu. — Eu suspirei, a paciência por um fio e a indignação queimando. — E por que não podia ter sido eu que desisti?

— Ah, Fred... — o Ângelo balançou a cabeça, decepcionado. — Todo mundo aqui sabe quem tem a maior chance de fazer merda nessa relação.

Eu fiquei calado, fazer o quê? Ele estava certo.

— Para tudo! — o Elias gritou, e todo mundo congelou na escada. A Carolina arregalou os olhos de pânico e eu jurava que ela não estava descabelada daquele jeito na última vez que eu a tinha visto, quinze minutos atrás. — Biatriz, você está usando Havaianas no casamento do seu irmão?

Com um suspiro coletivo, recomeçamos a subir.

— Foi a única coisa que entrou no meu pé! E Elias, no dia que você estiver grávido de gêmeos, com todas as partes do seu corpo duas vezes maior, a gente conversa. Antes disso... — A Bia levou a mão até a boca e fingiu que estava puxando um zíper.

— Aposto que algumas partes do corpo dele você não ia ser importar se ficassem duas vezes maiores. — Dei uma cotovelada no Ângelo, fazendo o Lourenço rir do meu lado e a Carolina subir mais rápido, provavelmente para se livrar da podridão que era a nossa companhia.

— Todas as partes do meu corpo já têm o tamanho perfeito, eu deixo você conferir se você quiser —  o Elias disse, mudando de ofendido a provocante em um segundo, acariciando o braço do Lourenço. — E eu não ligava nem um pouco de ter um time de futebol dentro da barriga, se eu tivesse um homem desses pra me carregar.

— O que está acontecendo com você hoje? — o Ângelo esticou a cabeça para a frente, olhando o namorado da outra ponta da nossa fila.

— Ah, baby! Casamento mexe com meus hormônios. Você sabe. — Ele se abanou como se estivesse muito calor.

Felizmente, chegamos ao topo da escada e o Lourenço depositou a Bia no chão com todo o cuidado.

— Eu já volto, amor. — Ele deu um beijo na testa dela, e se virou para o Elias com um sorriso. — Não se preocupa, Elias, quando você tiver um neném na sua barriga, eu prometo que te carrego também.

— Ângelo! — o Elias gritou para as costas do Lourenço descendo a escada. — Eu não sei como, mas você vai ter que dar um jeito de me engravidar!

— Claro! — Eu coloquei as mãos nas costas dos dois e empurrei em direção da porta da igreja. — Por que vocês não conversam sobre isso lá dentro? Igrejas, milagres, tudo a ver!

— Exatamente! — o Elias saiu puxando o namorado que me olhou pedindo socorro, mas não tinha nada que eu podia fazer por ele no momento.

— Por favor, nós estamos muito atrasados. Vamos começar? — A Carolina apontou a fila na frente da igreja. — Só falta vocês.

— Pode mandar a música tocar de novo — eu pedi. — Ninguém mais sai dessa fila.

Eu dei o braço para a Bia, a levando até o espaço entre os outros padrinhos e a Amanda segurando a mão do Tomás na frente da Alícia, fazendo o mesmo com o Bento, enquanto a Carolina foi cuidar do que ela tinha que cuidar. E me escrevi um bilhete mental para dar um extra para a moça. Ela merecia.

— Está tudo bem, mamãe? — Os olhinhos ansiosos da Alícia cravaram na Bia. — Por que o papai estava carregando você no colo?

— Não foi nada, amor — a Bia a tranquilizou. — Você sabe como o papai é. Ele adora me carregar no colo. — Ela revirou os olhos e sussurrou de lado, no meu ouvido. — Agora, me conta. Que confusão foi essa?

E porque eu estava tão feliz que ia explodir se não contasse para alguém, eu não resisti.

— A Mariana está grávida! — anunciei baixinho com o peito estufado. E não era a frase mais linda do mundo, aquela?

A Bia deu um berro e tampou a boca com as duas mãos quando todo mundo olhou para ela.

— Não foi nada — eu tranquilizei os olhos espantados e confusos, inclusive os arregalados da Carolina, lá na frente. — Foi o neném que mexeu.

— Parabéns, meu irmão. — A Bia pulou no meu pescoço, e eu abracei da melhor maneira possível com o barrigão entre a gente. — Teve uma época que eu achava que eu nunca mais ia ser capaz de sentir essa felicidade tão enorme e boa dentro do peito, que chega a doer.

— Eu também. — Eu dei um passo para trás e sequei as lágrimas dela. — Mas olha só nós dois, chorando de alegria.

A fila começou a andar devagar, e eu e a Bia acompanhamos. Dentro de poucos minutos, a Mariana e o nosso bebê iam estar do meu lado, de onde eu não ia deixar nenhum dos dois sair por um bom tempo.

— Você acha que o papai e a mamãe estão aqui? — a Bia perguntou, a voz emocionada.

— Por que, não? Existe tanta coisa inexplicável no mundo.

Podia não existir vida após a morte, mas eu não tinha acabado de dizer ao Elias que igrejas eram o melhor lugar para se desejar por um milagre? E se nos reconfortava pensar assim, que mal havia?

— Além do mais...  — Eu fiz um sinal, indicando a minha sobrinha atrás de nós. — Tem uma Alícia aqui atrás.

— E aqui dentro tem um Edson. — A Bia deu vários tapinhas na barriga. — E o Lourenço não quer que o outro se chame Vidal, mas só por hoje, eu vou fingir que o nome dele é esse.

— E quem sabe não tem uma Heloísa com a gente também? — eu acrescentei, lembrando de como a Mariana sempre imaginava uma menina quando pensava num filho.

— Você nem sabe se é menina! — A Bia riu. — Ou se a Mariana vai querer dar o nome da mamãe pra ela.

A fila na nossa frente tinha acabado, mas a Carolina fez sinal para a gente esperar.

— Lógico que a Mariana vai querer. E se não for menina, não tem problema, é só eu continuar tentando.

— Coitada da Mariana. — A Bia alisou meu paletó.

— Ela sempre quis uma família grande. E eu também. — Respirei fundo, os primeiros acordes de uma nova música começando.

— Olha lá, Fred. Você sabe o que se diz: cuidado com o que você deseja, que você pode conseguir.

Dei o primeiro passo dentro da igreja, vendo pela primeira vez o tapete vermelho e o corredor ladeado de bancos enfeitados por flores azuis e lilás, os rostos queridos virados na nossa direção.

— Tomara, minha irmã — eu disse de lado, baixinho só para ela escutar. — Tomara.


***

Chegar ao fim de um livro é sempre gratificante, mas também deixa um gostinho triste de saudades antecipadas. No caso de "Cuidado com o que Deseja...", esses sentimentos são mais fortes, porque é também onde damos adeus ao universo de "Mau Amor".

Esse livro foi escrito num momento um tanto complicado da minha vida, mas juro que fiz o possível para dar o melhor de mim e não deixar meus problemas pessoais contaminarem a história. Talvez seja por isso que levei o livro para um lado mais leve e bem-humorado. Escrever o Fred me lembrou diariamente como tem sorte quem pode contar com família e bons amigos, e que não devemos perder a esperança de realizar nossos sonhos. Às vezes, eles podem parecer difíceis e distantes, mas por mais barro que a vida jogue em cima da gente, com persistência e determinação, chegamos lá.

Mais uma vez o meu muito obrigada a todas vocês que me acompanharam nessa jornada, e espero, do fundo do coração, que tenham gostado da aventura do Fred com a Mariana, e também de rever e matar a saudade da Bia e do Lourenço. Amei os comentários e espero poder contar com vocês nos meus futuros trabalhos.

E como escritora de livros de amor não podia deixar de desejar um feliz dia dos namorados, amanhã. Espero que possam passar o dia (e a noite ♥♥♥) com aquele alguém que faz vocês rirem mais que chorar. Beijos, Luciana.

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