20| O HOMEM
— Não. Não, não, não...
A voz de Eric ressoava no ambiente enquanto Oliver via as lágrimas escorrerem de seu rosto como águas caem de uma cascata.
— Como eu não pude notar? Como não percebi que White a levou? Como me deixei distrair?
— Não é sua culpa, Eric — Nina dizia, reconfortando-o.
— Claro que é. Ela se foi e Deus sabe para onde.
— Nós vamos encontrá-la — disse Oliver.
— Como, Oliver?! — gritou ele, levantando o olhar. — Como vamos fazer isso?
— Eu não sei como..., mas nós vamos encontrar uma forma...
— Então, por favor, até você encontrar essa forma, cale a boca! — ele havia se levantado, enquanto as palavras saíam de sua boca como uma rajada de fogo cuspida por um dragão.
— Eric, Oliver está tentando ajudar — Nina disse, andando até ficar de frente para o menino.
— NINGUÉM PODE AJUDAR — ele gritou. Sua face ficou vermelha como um tomate e Oliver podia ver as veias saltando de seu pescoço. — ELE LEVOU A BECCA E A MENOS QUE ALGUÉM SAIBA PARA ONDE, NINGUÉM PODE ME AJUDAR.
Ninguém disse mais nada resultando num silêncio tenso entre os três. Oliver não sabia o que dizer. Nunca havia visto Eric daquele jeito. Parecia que algo dentro dele fora quebrado em tantos pedaços que não havia mais forma de conserto.
— Talvez eu possa ajudar — disse uma voz masculina, quebrando o silêncio.
Era o guarda que recebeu Oliver e Nina na entrada do Laboratório. Ele estava algemado e segurava o bracelete de ouro que havia dado a Nina do lado de fora.
— O que você sabe? — perguntou Eric, andando até o homem.
— Sei de muita coisa. A verdadeira pergunta é: o que vocês querem saber?
— Está brincando comigo? — Eric avanço, rápido como a luz, e agarrou o colarinho do guarda, o puxando até que ficassem rosto a rosto. — Onde elá está?! — sua voz saía quebrada.
— Eric, por favor, fique calmo — Nina pedia, mas ele parecia não ouvir.
Oliver, então, correu até o menino e, usando toda a força que restava da batalha, o afastou do guarda.
Eric gritava e se debatia, ordenando que Oliver o soltasse. Célere, Nina desferiu um tapa forte em sua face, deixando-o paralisado, em choque.
— Será que dá para você ficar calmo e ouvir o homem? — ela falou, claramente irritada.
— S-sim. Eu vou...
Oliver o soltou e lentamente Eric se sentou de pernas cruzadas, de frente para o guarda. Nina e ele fizeram o mesmo.
— Diga seu nome e conte tudo o que sabe, por favor — ela pediu.
O guarda deu um sorriso torto e respirou fundo por cerca de dez segundos, antes e começar a falar.
— Meu nome é Theo e eu tinha 19 anos quando os mísseis colidiram e quando a explosão aconteceu. Minha namorada, Maia e eu estávamos em casa quando aconteceu. Fomos pais jovens e tivemos uma filha, Tereza, que nós chamávamos de Tessa. Quando ouviram a notícia pela televisão, elas ficaram apavoradas. Eu fui o responsável por acalmá-las, dizendo que nada iria acontecer e que todos íamos ficar bem. Na verdade, por dentro, eu não sabia se tudo realmente iria ficar bem, mas me mantive positivo para impedir que o pânico se alastrasse pela minha família. E eu estava conseguindo, até a radiação levar minha Maia, a mãe de Tessa.
"Minha família ficou despedaçada e foi quando eu comecei a me desesperar. O tempo passou e com ele se foram todos os meus familiares e os de Maia. Passei, então a deixar nossa casa fechada e sair apenas quando o alimento acabava. Eu precisava sair, caso ao contrário Tessa também morreria de fome e eu não podia deixar isso acontecer.
"Então eu fiquei doente, e sabia que as pessoas com mais de 18 anos sobrevivam durante pouco tempo devido à radiação. Eu sabia que Tessa ficaria órfã e morreria também, afinal, ela era apenas uma menina de 3 anos. Eu me sentia apodrecido por dentro. Era como se meu corpo tivesse se tornado uma massa de lixo tóxico. Sentia dores alucinates que me deixavam noites inteiras acordado. Ainda assim, encontrei uma forma de parecer forte para Tessa. Ela foi minha âncora por muito tempo. Até a radiação contida em meu corpo levar ela antes de mim.
"Eu estava prestes a tirar minha própria vida. Queria acabar com aquela angústia que me corroía. Em menos de 2 anos, eu havia enterrado minha família toda e eu não conseguia suportar o fato de ter que viver sem elas ao meu lado. Mas não tive coragem. Não consegui e decidi deixar a radiação me matar devagar. Dia após dia minha morte parecia mais distante. As dores, a febre, a falta de ar e as alucinações se tornavam mais e mais constantes, consumindo toda a energia que meu corpo tinha. Parecia que a morte desistiu de me levar e ao invés disso, me abandonou para sofrer por toda a eternidade.
"Foi quando eu ouvi a mais nova notícia: o Homem surgiu e com ele seu chip que salvaria a humanidade. Eu decidi que se a radiação não iria me matar, eu iria salvar a todos dela. Eu queria fazer algo bom. Me tornaria um guarda e introduziria em chip no máximo de pessoas que eu conseguisse. Então me rastejei até o local divulgado e implorei pelo chip, mesmo sabendo que estava com a idade acima do grupo pedido. Eu deprequei à White pelo chip e ele me deu. Se eu soubesse as coisas terríveis que viriam com isso, eu nunca teria me arrastado até lá e pedido de joelhos."
— Theo... eu sinto muito — Nina disse, quebrando a monotonia da voz do homem. Ela chorava a cada palavra. — Sinto muito por sua família. Por Tessa.
— Eu também sinto. Foi uma fase realmente dolorosa — Theo respondeu, enxugando as lágrimas que caíam de seu rosto com a mão liberta.
— Quer que o soltemos? — perguntou Eric, arrependido por agredir o homem há pouco.
— Por favor, não. Não seria seguro — ele disse, estendendo a mão num gesto de negação.
— Com assim? — perguntou Nina, confusa.
— Chegarei lá... — ele respirou fundo novamente, continuando sua história em seguida: — Nos primeiros dias que estive com o chip tudo pareceu estar voltando ao normal. Me recuperei tão rápido quanto adoeci e notei que tudo o que o Homem falou na transmissão era real. Eu estava mais resistente. Meu corpo resistia mais tempo a temperaturas extremamente frias ou quentes. Eu senti uma diferença na minha força e senti que conseguia prender o fôlego durante mais tempo.
"Tudo funcionou bem. Nós éramos treinados para sermos soldados e com tempo os mais fortes eram promovidos, chamados de CIRs e treinados para ensinar os soldados que estavam numa posição menor, chamados de PROs. O Homem e White me deram um abrigo com muitos outros homens e mulheres que se voluntariaram para receber o chip. Eu fiz muitos amigos lá e eles confiavam em mim. Eu era o mais velho deles e todos me adoravam.
"Foi apenas quando fui promovido a soldado CIR que tudo começou a ficar estranho. Muitos dos soldados começaram a desaparecer misteriosamente e quando questionados, os outros soldados acima dos CIRs diziam que eles iam sendo liberados do processo de treinamento por não aguentarem. Para mim aquilo não parecia muito convincente, principalmente porque o modo como eles falavam parecia algo ensaiado muitas vezes e decorado.
"Então comecei a ter lapsos de memórias. Poucos primeiro, como não me lembrar de ter almoçado ou de ter ido dormir no meu dormitório, ou sequer de ter treinado. Depois eu comecei a me esquecer de dias inteiros e por fim, quando notei, perdi a noção de tempo e não me lembrava de ter feito absolutamente nada nesse intervalo. Cada vez que eu voltava, havia algo diferente. Uma vez eu descobri que havia entrado numa briga com um dos meus melhores amigos da base e que havia dito coisas horríveis para ele. Todos os meus amigos se afastaram de mim e eu passei a ficar cada vez mais solitário.
"Até que um dia, numa manhã comum de treinamento, White pediu para que todos os soldados CIR se encontrassem com ele em uma sala. A reunião consistiu em, basicamente, ele idolatrando o Homem e sua ideia brilhante, o chip. Foi naquele momento que eu senti uma luz sendo acesa em minha mente, trazendo imagens que eu nunca vi antes, mas que de alguma forma parecia familiar. Uma delas foi um soldado morto, jogado contra o chão. Era noite e fazia frio e embora eu não me lembrasse daquilo, eu sabia que eu estava lá.
"Quando a imagem foi embora, eu me levantei e perguntei a White o verdadeiro motivo para alguns guardas estarem desaparecendo."
— E o que ele respondeu? — dessa vez foi Oliver quem perguntou, não conseguindo se conter.
— Nada. Ele apenas deu aquele sorriso que vocês devem conhecer muito bem e ordenou que eu me sentasse no meu lugar novamente.
"Naquele mesmo dia, quando retornei a meu dormitório, decidi que queria saber mais sobre isso. Eu me recusava a aceitar a resposta que White havia me dado. Eu queria respostas concretas. Por que eu estava tendo esses lapsos de memória? Por que vi a imagem de um soldado morto? Por que soldados estavam desaparecendo? Formulei várias teorias em minha cabeça e todas elas levavam a uma possível resposta: o chip.
"Esperei até que todos estivessem dormindo e fui andando na ponta dos pés até a sala de White. Vasculhei por todo canto, procurando ser o mais silencioso possível. Levou um bom tempo, mas enfim encontrei anotações chocantes em um pequeno caderno com uma capa dura e preta.
"O chip era, na verdade, uma espécie de manipulador que era introduzido no corpo dos indivíduos. Ele se fixa, como um adesivo, na coluna vertebral e estende longos fios, mais finos que os de seu cabelo, que se ligam no cérebro, produzindo impulsos nervosos cada vez que estimulado por alguém estivesse no comando. O Homem e White, criaram uma espécie de hipnose mecânica dentro da cabeça de todas as pessoas que obtém o chip, controlando movimentos, emoções, pensamentos e até memórias desses sujeitos. Mas o que mais me incomodou não foi isso.
"No fim das anotações havia uma mensagem escrita em grafite, que pela aparência, era nítida que foi escrita com força."
— O que dizia?
— "Socorro".
Oliver sentiu um arrepio subindo por sua espinha. Quer dizer que esse tempo todo, White também andava sendo controlado pelo Homem?
— Foi nesse momento que decidi que precisava dar o fora dali — continuou Theo. — Guardei o caderno onde estava e quando me virei para trás, para voltar a meu dormitório, dei de cara com White parado de frente a porta, com aquele maldito sorriso no rosto.
"Ele perguntou o que eu estava fazendo lá e quando não consegui pensar em uma desculpa, ele simplesmente olhou no fundo dos meus olhos e perguntou o que eu sabia."
— E o que você respondeu? — perguntou Eric.
— A verdade: eu disse que sabia de tudo. Tudo sobre o chip. White me respondeu com uma risada cínica. Lembro dele ter movido as mãos até um dos bolsos do paletó branco e de lá retirar um objeto que parecia um controle. Depois disso, um vazio. A última coisa que eu me lembro depois disso foi de ter acordado em meu dormitório, com marcas de agulhas por todo meu braço e o bracelete de Tessa em uma das mãos.
"Foi então que descobri que objetos de algo marcante do passado podem te trazer de volta, mesmo que por pouco tempo."
— E o que aconteceu com os guardas que sumiram? — perguntou Eric.
— Me lembro vagamente da voz de White dizendo que eles os mataram porque que apresentaram "incompatibilidade ao chip"
— Meu Deus... — disse Oliver, completamente chocado.
— Quer dizer que o Homem nos controla? — perguntou Eric.
— Não. Não vocês. — continuou Theo — No caderno também havia anotações que dizia que o Homem estava desenvolvendo uma ideia de um tipo especial de chip, cujo nome seria CRUEL. Este, além de promover o controle do cérebro, também promoveria uma espécie de aprimoramento a ele. White não chegou a escrever se o Homem conseguiu tornar real essa ideia, mas, pelo visto, parte dela saiu do papel — ele apontou o dedo indicador para os três adolescentes.
— Minha nossa — disse Nina, movendo os dedos e passando-os pelos cabelos desarrumados. — É muita informação de uma vez só.
— Isso é tudo que você sabe? — perguntou Oliver.
— Não — Theo respondeu — Ao que parece, White desenvolveu um interesse bem grande em mim, então ele sempre me manteve por perto dele. Desde o dia em que descobri tudo, eu guardo o bracelete de Tessa comigo. Toda às vezes que eu o vejo e volto a realidade, ouço um pouco das coisas ao meu redor e me esforço ao máximo para não esquecer de tudo.
"O chip especial passou por diversos testes e nunca chegou a funcionar. Muitas das cobaias humanas, em geral, os adolescentes que chegavam às bases quando completavam a idade necessária para a Introdução, ou às vezes guardas, acabaram até mesmo morrendo durante o processo. Depois de muitas mudanças no pequeno aparelho, o Homem decidiu testar o chip mais uma vez, sendo esta sucedida. A cobaia da vez era sua irmã, Nina."
— O quê?! — Nina estava chocada e aterrorizada simultaneamente. — Eles a machucaram? Para onde a levaram?
— Não sei muitos detalhes. Como eu disse, na maioria das vezes não estava lúcido. A partir do sucesso dessa menina, o Homem pediu para que White recrutasse mais duas cobaias: a menina ruiva, Rebecca, e uma pessoa da escolha de White — continuou, Theo.
— O Homem escolheu a Becca? Por quê? — perguntou Eric.
— Não sei. A última coisa que eu me lembro antes de me encontrar com Nina e dar o bracelete a ela, foi a imagem de White apavorado com a ideia de vocês vindo até o Laboratório. Ele disse que tinha que capturar Rebecca porque o Homem queria vê-la e que isso seria impossível se você estivesse ao lado dela, Eric.
— Aparentemente, não era — lamentou Eric.
— Sinto muito ele a ter levado. Gostaria de poder saber mais para ajudar vocês a encontrá-la — disse Theo.
— Não se lembra de nada? Nenhum endereço ou localização sequer?
Theo franziu as sobrancelhas, parecendo pensativo por um segundo.
— White comentou algo sobre uma cabana. Não me lembro de detalhes, mas ao que parece é que era lá que o Homem queria Rebecca.
— Cabana? Existem pessoas que vivem em cabanas hoje em dia?
Então pareceu que uma lâmpada se acendeu em cima da cabeça de Eric. Seu olhar se iluminou e Oliver foi capaz de ver a esperança surgindo novamente dentro dele.
— O que foi, Eric? — perguntou Oliver.
— É claro! Uma cabana! É óbvio — ele repetia, se pondo de pé.
— O que é obvio?
Ele permaneceu repetindo as palavras na mesma ordem e ignorando as perguntas de seus amigos. Oliver considerou bater nele igual Nina havia feito, na intenção de fazê-lo acordar. Mas antes que tivesse a chance de decidir se a ideia era válida, Eric caminhou até Theo e se agachou até ficar na mesma altura que ele.
— Theo, por acaso tem alguma forma de me locomoção aqui?
— Tínhamos um carro que ficava na garagem do andar de cima. Mas White provavelmente usou para levar Rebecca a essa tal cabana.
— Não há nenhum outro automóvel que possa me fazer ir mais rápido?
— Bem, isso é um laboratório e não uma concessionária. Mas pense bem, Eric. Você tem um meio de locomoção implantado em seu pescoço.
Ele abriu um sorriso de orelha a orelha e disse:
— Obrigado.
Em seguida ele se levantou e caminhou até Nina e Oliver. Havia uma certa alegria e excitação expressa em seu rosto, como se toda aquela situação não fosse nada mais que uma grande piada.
— Preparem-se. Nós vamos correr. E muito — ele falou e se pôs a andar.
— Quer parar por um segundo e nos dar algumas respostas? — Oliver se irritou.
— Para onde estamos indo, Eric? — perguntou Nina.
O menino sorriu. Era um sorriso cansado e animado ao mesmo tempo. Ele respondeu, depois de uma longa respiração:
— De volta para Orquídea.
— Por acaso você ficou maluco? — perguntou Oliver num tom tão alto que Eric pensou que por um segundo ele estava gritando.
— Não, Oliver. Estou completamente lúcido. Na noite que passamos em Orquídea, Rebecca me contou que ela morava numa cabana dentro de uma mata naquele lugar.
— Tem certeza — perguntou Nina.
— Sim, como nunca tive antes.
— Não acredito que depois de tudo o que passamos para sair de lá, vamos ter que voltar para aquele lugar — murmurou Oliver.
— Eu sei que não é o ideal, mas é a única pista que temos até agora.
— Vocês precisam ir rápido. Cada minuto que perdem aqui pode fazer falta quando encontrarem Rebecca — falou Theo. — Seja lá o que o Homem estiver pensando em fazer com sua namorada, não é nada bom.
— Você vem conosco? — perguntou Eric.
— Não. Acho que enfim chegou minha hora. Jurei que faria algo bom assim que estivesse com o chip e que, nesta hora, eu estaria pronto para partir.
— Para onde? — perguntou Nina.
O guarda usou a mão que não estava algemada para agarrar uma arma em sua farda. Era estranho ver um guarda com uma arma nas mãos e não querer atacá-lo. O olhar no rosto de Theo era tranquilo e transmitia paz e diferente de todos os outros guardas que ele vira antes, ele sorria, não de felicidade, mas um sorriso de orgulho.
— Vocês provavelmente deveriam ter checado se eu estava armado — ele brincou — Se eu tivesse voltado sobre o controle do Homem, a arma seria a primeira coisa que eu pegaria.
— E o que te impediu de voltar? — perguntou Oliver.
Ele levantou o bracelete, ainda sorrindo.
— Minhas memórias do passado. Mesmo depois de ter partido, minha Tessa ainda é minha âncora.
— Você não respondeu minha pergunta — falou Nina.
— Para onde eu vou? Bem, minha cara Nina, vou encontrar minha esposa. E minha filha. Este mundo é um lugar terrível para se viver, jovens. Meu tempo aqui acabou.
Eric olhou para o lado e assistiu pequenas lágrimas caindo dos olhos de Nina, ainda que ela estivesse segurando o choro.
Ninguém disse nada, porque não havia mais o que ser dito. O ambiente cheirava a sangue e o ar era pesado. Contudo, Eric ainda podia sentir a paz do guarda sendo transmitida além dele.
— Então acredito que isto é um adeus — perguntou Nina.
— É, acho que sim — Theo respondeu.
— Muito obrigado — Oliver falou, com um sorriso no rosto. — Por tudo.
— Gostaria de ter feito mais. Agora vão. Se ainda existe alguma esperança para derrotar o Homem, ela mora em vocês quatro.
— Como saímos deste andar? — perguntou Eric.
Theo moveu o dedo indicador e apontou para uma porta que Eric não havia notado antes. Ficava logo abaixo da sacada, na parede onde Becca arremessou White. Ainda com os dedos apontados, ele falou:
— Atrás daquela porta há uma longa escadaria que leva diretamente ao andar de cima. De lá vocês sabem como sair.
Enquanto Oliver e Nina se punham a andar, Eric se aproximou uma última vez do guarda algemado, agradecendo-o.
— Me escute com atenção, Eric. Você está prestes a entrar em uma guerra com um homem muito poderoso. Portanto, não ouse parar de lutar até vencê-lo — o homem falou, com um último sorriso sincero no rosto.
Com isso, ele andou até estar do lado de fora do Laboratório. O céu estava colorido com uma mistura de laranja e amarelo indicando que o sol estava se ponto. Lá fora encontrou Oliver parado enquanto Nina chorava em seu peito. Ele não perguntou o motivo porque sabia que era por causa do guarda. Como um homem mudou o rumo deles em tão pouco tempo?
Os soluços de Nina ficavam cada vez mais altos conforme o tempo passava. Oliver não dizia nada, mas Eric via no fundo de seu olhar que haviam lágrimas que queriam cair de lá. A melancolia escalonada tornava o ar do fim de tarde mais frio e fazia o mundo parecer mais trágico. Agora eles sabiam de tudo. Toda a verdade do chip.
— Vamos. Precisamos ir agora.
— Eric, Nina esta... — Oliver começou.
— Tudo bem. Ele está certo. Rebecca precisa de nós — disse Nina, limpando o rosto e as lágrimas.
— Vamos dar as mãos. Precisamos nos conectar com o chip.
Eles fizeram como Eric mandou e então ele pediu para que fechassem os olhos.
— Sintam essa escuridão que veem e o calor que se espalha da nuca para o corpo todo — narrou ele. — Sintam o sangue correndo pelas suas veias e seu coração batendo mais forte. Quando a adrenalina subir, não pensem, apenas corram e não parem até chegar à Orquídea.
— Como saberemos o caminho? — perguntou Nina.
— Vocês saberão — Eric respondeu.
Então o silêncio se instalou novamente entre eles. Eric respirou fundo e, num momento, passou a sentir tudo o que disse. Sentiu o calor em sua nuca. Ele crescia, como lava sendo despejada em seu corpo. Cada vez que o ar gelado tocava sua pele, ironicamente, seu corpo ficava mais quente. Seu coração acelerou subitamente e ele sentiu o sangue passando por suas veias. Cada glóbulo vermelho e branco. Sentiu os ossos de suas pernas tremerem e se controlou para que não saísse correndo primeiro.
— Sentiram? — ele perguntou, ainda de olhos fechados. A voz saiu quebrada devido as doses de adrenalina que percorriam seu corpo.
— Sim — os dois responderam em coro.
— No 3 — ele disse.
A última coisa que ele ouviu quando a contagem acabou foi o som de um tiro baixo e abafado. Sabia que este vinha de Theo e funcionou como um sinal de largada.
Eric sentiu o ar levar seu corpo como se ele fosse feito de papel. O vento soprava em seu rosto fazendo-o parecer que estava voando. Adorava aquilo. Adorava o poder. Adorava a vantagem que tinha em si. Ele abriu os olhos e tudo que viu foram borrões das ruas, árvores, e até mesmo o céu. Tudo se dobrava para que ele passasse. Naquele momento, mais do que nunca, pensou que o mundo todo era seu.
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