2| UM MALDITO PESADELO
Eric sentiu sua espinha arrepiar enquanto era arrastado pelos guardas que o seguravam pelos braços e o conduziam até o fim do imenso corredor. Não queria demonstrar uma gota sequer do medo que sentia naquele momento e lutava para manter a pose de "garoto durão" que assumira no colégio. Mas a verdade era que estava apavorado, não somente por não saber para onde estava sendo levado, como também por não saber o que esperar encontrar lá.
Desde que chegara naquele lugar, a dúvida tornara-se sua pior inimiga. Mesmo quando pequeno, Eric adorava ser o primeiro a saber das coisas que aconteciam ao seu redor, ainda que a verdade nem sempre lhe agradasse. Portanto, não saber o que fazia ali, e o que, exatamente era ali, o consumia lentamente. Tentou perguntar aos guardas quando acordou naquele quarto que não era seu, mas recebera apenas uma resposta:
— O sr. White o espera em sua sala.
O ar de lá era gélido, fazendo-o tremer de frio. Os guardas resmungavam, ordenando que ele parasse de se mexer. Naquela altura ele já tinha conseguido se por de pé e andar normalmente, mesmo com os homens ainda insistindo em pressionar seus dedos em volta do braço do menino.
Então, no minuto seguinte, estava lá, parado em frente a uma porta acinzentada, encarando-a fixamente. Letras garrafais se mostravam presentes no centro da porta. S.W, leu, e embora soubesse da resposta, na tentativa de adquirir uma explicação concreta, virou-se para o guarda, que o olhava sem qualquer tipo de sentimento, e perguntou:
— O que significam essas letras?
— Apenas entre — respondeu o homem, e deu um puxão na porta, abrindo-a de uma só vez e exibindo uma cor tão brilhante que Eric achou que fosse ficar cego — e o sr. White responderá todas as suas dúvidas.
Sem escolhas, deu um passo a frente e adentrou a sala brilhante. Era inteiramente branca, produzindo uma claridade irritante. No centro da sala havia uma mesa cuja cor combinava com a do ambiente e, sentado numa cadeira atrás dela, havia um homem de terno branco, pele pálida e um cabelo tingido da mesma cor que tinha a neve. A única outra coloração que Eric conseguia diferenciar de todo o ambiente eram os intensos olhos azuis, que o encaravam como se estivessem invadindo sua mente e lendo sua alma como um livro aberto sobre uma mesa qualquer.
— Olá, senhor Montenegro — ele disse, entre um sorriso — É um enorme prazer conhecê-lo.
Quando saiu nada parecia diferente. O diálogo que tivera com sr. White respondera, sim, algumas de suas dúvidas, mas permitiu com que outras ainda ficassem rodando em sua cabeça. Eric perguntara o que era aquele lugar, e o homem respondeu-lhe apenas que se tratava de um ambiente onde não havia nenhum risco de penetração de radiação e que, todos lá dentro, estavam perfeitamente seguros contra o mundo lá fora.
— Então, quantas pessoas estão aqui? — perguntara.
— Não achou que fosse exclusivo, achou? — respondeu-lhe o homem, com um sorriso irônico que ia de orelha a orelha.
— Não, até porque ouvi uma menina gritando antes de eu vir para cá. O que houve com ela, afinal? — ele ainda ouvia em seus ouvidos a voz dela. A raiva e a inconformação a cada "não" que saía de sua boca.
— Por que não focamos em esclarecer para o senhor como foi a sua Introdução? — disse White.
E seguiu explicando como foi o processo. Eric sabia que algo estava errado em relação a tudo aquilo, e que algo estava sendo escondido, só não sabia exatamente o quê.
Escoltado pelos guardas até seu dormitório novamente, ele percebeu que este estava diferente. A cama, antes desarrumada, suja e com o odor de suor, fora devidamente arrumada.
Eric olhou para o guarda, que novamente não demonstrava sinal sequer de empatia em seu rosto, e decidiu que era melhor nem se dar ao trabalho de perguntar. Então, apenas entrou em seu quarto e se deitou na cama recém arrumada, notando que o cheiro dos lençóis era bom.
— O almoço será servido em breve — disse o guarda, sendo bloqueado do campo de visão de Eric quando a porta se fechou.
O silêncio tomou o quarto, e Eric ficou se lembrando de quando chegou ali. Ele nunca se opôs ao processo de Introdução, bem como nunca ligou se tivesse que passar por ele. A radiação matara seus pais, e depois disso ele não tinha mais nada para viver por.
Quando os guardas chegaram a sua casa, ele não se opôs a ir com eles. No caminho ficava se perguntando como eles sabiam o endereço exato de onde ele morava e como sabiam qual era o nome dele. Imaginou que talvez fosse algum tipo sistema complexo do governo que ele não entenderia mesmo que lhe fosse explicado.
Quando chegou àquele lugar, lembrou de estar em um salão enfeitado com alguns vasos de flores e uma escadaria gigantesca que levava para um lugar que Eric não conhecida. Ele fora escoltado por um dos guardas pelos longos degraus até que estivessem em um corredor. Andaram e andaram, por tanto tempo que Eric se perdeu nos números de paredes que foram sendo deixadas para trás e curvas que fizeram até que estivessem no dormitório.
A parte que Eric começou a desenvolver o medo veio quando o guarda segurou suas mãos e o espetou uma longa seringa na nuca. Ele congelou, enquanto encarava o olhar frio do homem cair sobre sua face. Quando terminou, ele o largou, deixando o menino caído no chão, paralisado com a velocidade que tudo aconteceu.
Um estralo do lado de fora o retirou de seu devaneio. Ele não sabia o que era, mas a partir do baulho, percebeu que estava caindo no sono enquanto se lembrava dos últimos acontecimentos. Não relutando, fechou seus olhos e deixou que o sono e escuridão que via o consumissem até que estivesse totalmente imerso em um sono.
|•••|
Subitamente uma luz se acendeu em seus olhou e coloriu suas vistas. Inicialmente era apenas uma imensidão inteiramente branca e Eric conseguia se ver parado no centro daquele lugar. Olhava em volta, tentando procurar algo concreto que pudesse tocar, mas foi em vão. Nada estava em seu campo de visão além de um vasto horizonte branco.
Tentou andar, mas parecia que seus pés estavam presos em um bloco de cimento. Forçou-os até perder todas a energia e percebeu que seria estúpido correr para qualquer lugar, visto que estava num completo e literal nada.
Olhou para baixo e percebeu que o chão em que pisava estava sendo dissolvido e que seu corpo estava sendo puxado para baixo, como se a gravidade fosse o engolindo. Sentiu seu coração disparar quando percebeu que não conseguia fugir da fenda que se abria abaixo seu corpo e o levava para uma escuridão profunda.
Começou a afundar mais rápido conforme forçava mais para correr. Mas o que era aquilo? Era como uma areia movediça, que dissolvia seu corpo. Decidiu que iria esperar e ver o que acontecia com si, afinal, o que de ruim poderia acontecer?
Caiu no escuro, e foi como se estivesse realmente caindo em queda livre. Sentia o vendo soprando em seu rosto e seus cabelos levantando-se conforme caía e afundava nas trevas.
Olhou ao redor e percebeu que havia algo no preto. Eram imagens, inicialmente borradas e afastadas de Eric. Conforme ia mais fundo, as imagens foram se aproximando e ele pôde enxergar que eram silhuetas humanas. E não eram quaisquer silhuetas. Eram todos que haviam ido embora de sua vida, ainda mesmo antes da explosão dos mísseis. Todos estavam lá, e Eric não conseguia acreditar.
De repente, a imagem de sua mãe apareceu, e, embora ouvisse as vozes das outras pessoas, foi no som dos gritos dela que seus ouvidos focaram. Ela esperneava loucamente, como fizera uma vez. E Eric queria, no fundo de seu peito, que os berros parassem.
Eric!
— Não...
Por favor, meu filho...
— Eu não posso...
Não me deixe aqui...
— Para...
Por favor...
— Para...
Faça parar...
|•••|
— PARA — gritou, e percebeu que não estava mais no escuro. E não estava mais caindo. Estava com os joelhos levantados e suas mãos estavam em seus cabelos, agarrando, puxando e apertando-os. Em seu rosto haviam lágrimas que haviam escorrido de seus olhos e, soltando suas mãos dos cabelos, percebeu que estava tremendo. Sua respiração estava descontrolada, e seu coração parecia que ia sair pela sua boca. Foi um pesadelo, Eric. Um maldito pesadelo, pensou.
A porta do dormitório abriu novamente, e um guarda — um novo, que ele nunca tinha visto antes — entrou e disse, com a mesa voz seca que o anterior tinha:
— O almoço está para ser servido. Vamos. Sr. White deseja falar com todos os jovens.
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