Alvorecer da era, Asgard
Lady Freya
ERA O FINAL DE PRIMAVERA EM ASGARD. Todo o reino estava cercado e enfeitado com flores, o sol quente e vívido anunciava o início do verão e ajudava a trazer uma nova esperança para o reino. A ameaça da força dos elfos sombrios crescia cada vez mais, a notícia do início de uma possível guerra era alarmante. Desde a queda dos Gigantes de Gelo, os nove reinos não haviam se deparado com outra peturbação da paz.
Estavam no fim do Alvorecer, época em que os deuses e os nove reinos usurfruíam da paz e era compreensível que pressentissem o início de uma guerra. O povo era valente, os soldados incansáveis e Odin estava pronto para guiá-los para mais uma vitória. O Pai de Todos mantinha seus olhos pelos reinos, seus ouvidos estavam sempre atentos para as informações que as aranhas do castelo traziam. Ele tomou a decisão de preparar seu exército e atacar primeiro considerando que estava com a vantagem bélica.
Odin chamou a Thor e a Loki para o acompanhar e visitar os generais para discutir seus planos. Freya ficou ansiosa para ser chamada, os olhos transbordando expectativas quando Odin se aproximou dela e a encarou com seu olho só.
Ele disse enquanto segurava a mão dela:
— Lady Freya, temo que não possa vir conosco. Há outras tarefas para as quais a Rainha precisa de você. — Odin tocou o rosto dela com carinho. — Não fique triste, filha. Um dia precisarei de você na batalha também.
Odin de fato era um pai atento, mas havia momentos em que Freya se perguntava se o fato de ser a princesa de um reino inimigo a privava de algumas coisas ou se era o descrédito que carregava ali devido a sua origem vanir. Ela olhou para Odin e o viu se afastar sendo seguido por Thor e Loki. Ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas e um nó se formar na garganta, seu pensamento em confusão desejava mais. Desejava mais do que apenas esperar os homens lutarem as batalhas.
— O que poucos entendem é que amor e generosidade também são armas na guerra. — A Rainha Frigga disse ao seu aproximar e passar os braços pelo ombro de Freya. — Vamos lutar nossa batalha hoje, o povo também precisa de nós.
Frigga organizou um grande conselho aberto, ela abriu os salões do castelo para receber pessoas que buscavam aconselhamento e ajuda. Enquanto Odin e seus filhos preparavam as táticas, a Rainha preparava o seu povo, segundo ela era o povo que dava força e esperança para os guerreiros na batalha. Freya ficou encarregada de passear pelas ruas de Asgard acompanhada de alguns guardas reais.
Freya escolheu um vestido leve de verão verde como o mar das praias de Álfheim, seu cabelo castanho acobreado estava solto e chegava até a cintura. Haviam quatro guardas ao seu redor, outros iam na frente abrindo caminho e outros seguiam atrás dela carregando sacos de comida.
Eles passavam pelas ruas estreitas das regiões mais pobres, eles chamavam o lugar de feudos e era onde os escravos aprisionados de guerra passadas ficavam. Em suas batalhas, Odin ficava com os soldados inimigos que sobreviviam e lhe permitia permanecer em Asgard com sua família em troca de sua fidelidade. Tecnicamente eles podiam trabalhar e ter uma casa, mas ganhavam muito menos e nunca tinham os mesmos privilégios de um asgardiano.
Quando Freya passou pelas ruas, as crianças começaram a gritar, mulheres corriam para as janelas de suas casas para ver a princesa entre eles. As crianças cresciam em número e ao mesmo tempo em que tentavam se aproximar de Freya, também não queriam ficar no caminho dos guardas. Uma das crianças paralisou quando Freya passou, a princesa pode ver os olhos areegalados e boca aberta da menininha e então Freya estendeu a mão para ela. A garotinha abriu um sorriso, limpou as mãos no vestido velho e gasto que estava usando e correu para alcançar a mão da princesa.
Freya a puxou para cima e a segurou no colo, a menininha que não devia ter mais do que cinco anos, não parava de sorrir. O cabelo loiro dela estava escuro devido a sujeira e terra, mas ela sorria mesmo com o rosto abatido pela fome. Quando as crianças viram que ela havia pegado uma delas no colo, correram para ela sem ter medo dos guardas. Uma outra segurou em suas mão, duas agarrama em seus braços e a princesa caminhou com elas até a praça central que dava vista para o mar de Asgard.
As crianças fizeram uma música e cantavam dançando ao redor de Freya e dos guardas. Algumas arrastavam a mãe para fora da casa para ver Freya na praça.
" Amor e ternura está em sua voz,
A princesa de Álfheim está entre nós."
Freya parou na praça e as crianças começaram a se sentar no chão, pessoas observavam das janelas nas casas ao redor, havia centenas deles. Olhos famintos, sorrisos esperançosos. Parecia errado que Asgard prosperasse, mas não para eles. Eles eram escravos que caíram em batalha e viver daquele modo era um castigo, eles acreditavam que era melhor morrer lutando do que morrer prisioneiros. Então quando Odin precisasse, eles seriam os primeiros a aceitar a guerra, afinal todo guerreiro ansiava por Valhalla - o paraíso.
Uma mulher segurava seu bebê nos braços e olhava ansiosa para Freya, assim que a princesa captou o seu olhar ela se aproximou com um passo inseguro se colocando entre as crianças. Freya sorriu para ela para a estimular a se aproximar mais.
— Olá. — Freya disse tocando o braço da mulher. Ela se inclinou descobrindo a cabeça do bebê. Era tão pequeno, era visível que havia nascido há poucas semanas. — Que lindo.
— É um menino. — A mulher contou sorrindo. — Se chama Bjorn, em homenagem ao meu marido. Ele faleceu no cerco de Fjerda.
— Eu sinto muito. — A princesa afagou o braço da mulher.
— Lady Freya, eu poderia levar um dos sacos de comida? Sei que sou ninguém, mas falam da sua bondade e bravura por todo lugar e eu quero que meu bebê cresça bem. — A mãe disse com a voz trêmula e insegura.
Freya apertou-a a carinhosamente e a olhou nos olhos.
— Pegue quantos sacos precisar. Informe a um dos guardas qual é sua casa e eu me certificarei de que receba suprimentos a todo solstício até que a criança atinja a idade adulta. — Ela disse vendo a expressão emocionada da mulher.
— Obrigada, Lady Freya! Obrigada! — A mulher disse sorrindo e chorando ao mesmo tempo. Freya enxugou o rosto dela e a deixou com um dos guardas para ajudá-la com o saco de comida.
Ela se virou para a praça que estava muito mais cheia do que antes.
— Povo do feudo de Asgard, é com honra e alegria que estou no meio de vós. Eu sei que como eternos servos, a vida de vocês não tem sido fácil e só posso imaginar como é difícil ver o resto do povo prosperar e ainda assim faltar em sua casa. — Freua disse erguendo a voz. — Hoje trago a vocês alimento e consolo. A Rainha Frigga abriu os salões do castelo para aconselhamento e auxílio a todo aquele que precisar. — Ela olhou para os rostos atentos, famintos e ansiosos. — Quero que saibam que em meu coração o alvorecer deve ser para todos nós, estou aqui para conhecer suas necessidades.
Algumas crianças se aproximaram para abraçá-la e então corriam para os guardas que estavam distribuindo os sacos. Mulheres iam até ela para agradecê-la, outras tocavam seu cabelo, seu vestido. Uma criança pequena e ruiva a olhava com seus olhos verdes e puxou a saia de seu vestido para chamar-lhe a atenção. Freya se abaixou na altura da garotinha que a abraçou e pediu:
— Você pode trazer a mamãe de volta?
A pergunga pesou no seu coração enquanto olhava para os olhos verdes da menina, ela parecia ter entre seis e sete anos. Um menino de cabelo castanho claro e os mesmos olhos verdes exclamou:
— Não seja boba, Margreth. — Ele disse para a menor, era mais alto do que a menina. — Desculpe, Lady Freya. Nossa mãe faleceu há alguns meses.
Freya segurou a mão do menino e o puxou para o seus braços o colocando junto com a irmã.
— Eu sinto muito. Não consigo trazer or mortos de volta para esse mundo, talvez ninguém consiga. — Ela murmurou tocando o rosto dos dois. — Mas há outra coisa que eu possa fazer?
Os dois irmãos se olharam e então Margreth perguntou:
— Pode fazer nosso irmão não se machucar na guerra?
— Se houver guerra... — Completou o menino.
A princesa olhou pensativa para os dois e então abriu um sorriso:
— Onde encontro o irmão de vocês?
No fim da tarde, Freya e alguns de seus guardas seguiram Margreth e seu irmão Frodo para o pequeno casebre da família. A maioria das crianças e do restante do povo haviam voltado para suas casas com os sacos de comida, mas algumas dezenas os acompanharam pela rua. O casebre era pequeno e estreito, estava entre duas casinhas coladas e muito parecidas, eram como moradias improvisadas.
Margreth e o irmão abriram a porta gritando de alegria.
— Um dos guardas vem comigo, o restante espere aqui fora. — Ela disse ao entrar e obedientemente um dos guardas a seguiu e fechou a porta atrás de si.
Era uma casinha com um cômodo só atrelado a a pequena cozinha. Na salinha havia duas redes e uma esteira no chão que era onde os irmãos dormiam, na cozinha havia um fogareiro, uma mesa e quatro velhas cadeiras.
No fogareiro havia um homem muito jovem, porém alto e quando ele se virou em direção a ela, Freya pode perceber o quanto era bonito. Ele tinha a barba por fazer e o cabelo preso em uma trança comprida, o tom dos fios era de um castanho acobreado e os olhos tão verdes quanto os dos irmãos.
— Trouxemos a princesa. — Margreth sorriu cutucando o rapaz.
— Ela pediu para te conhecer, irmão. — Frodo murmurou se colocando no canto da cozinha.
O rapaz olhou para Freya como se não estivesse acreditando naquilo e então imediatamente se colocou sobre um joelho diante dela.
— Lady Freya! — Ele exclamou sem levantar o olhar para ela. — Espero que meus irmãos não tenham causado problemas, perdoe a inocência das crianças.
— Por favor, levante-se e me diga o seu nome. — Freya disse gentilmente, qualquer homem que se colocasse de joelhos em sua frente já atraía sua atenção pela demonstração de respeito. — Seus irmãos se preocupam a ponto de pedir minha ajuda.
Ele se colocou de pé e Freya se aproximou.
— Qual o seu nome?
— Balor Lothbrok. — Ele disse e algo acdndeu na mente de Freya.
— Filho de Brokstorm, ex Senhor de Fjerda?
O rapaz assentiu com a cabeça e em seguida acrescentou:
— Peço desculpas, não tenho nenhum aliemento digno de uma princesa para oferecer. Mas temos ovos e uma fruta. — Balor falava com todo respeito possível. — Por favor, sente-se Lady Freya.
Ele indicou uma das cadeiras e Freya se sentou indicando a outra para ele.
Margreth e Frodo observavam quietos.
— Há uma coisa que pode oferecer a esta princesa. — Ela disse observando o jovem com os olhos ansiosos em si.
— E o que seria, minha senhora?
— Sua história. — Ela olhou gentilmente para as crianças curiosa com a coragem delas de trazê-la até o irmão.
— Meu pai morreu no cerco de Fjerda e eu deveria ter partido para Valhalla junto dele. — Balor disse tentando controlar o pesar na voz. — Odin e seu exército nos trouxe, minha mãe esperava um recomeço. Mas há alguns meses ela adoeceu e não havia remédio para curá-la, hoje cuido dos meus irmãos.
— Imagino que algumas situações sejam como uma guerra fora do campo de batalha. — A princesa comentou sentindo a perda refletida nos olhos de Balor. — Seus irmãos temem perdê-lo.
Balor olhou para os irmãos com certo afeto no olhar.
— Expliquei a eles que um guerreiro morre em combate com a arma na mão, prometi Odin minha fidelidade em troca do futuro deles. — Ele disse e havia algo em seu tom, a prontidão do sacrifício por aqueles que amava. — Se eu morrer na batalha, irei para Valhalla.
Freya se levantou sentindo seu braço se arrepiar ao encontrar a esperança naquela fala dele. Ela se aproximou de Balor e se inclinou para ele aproximando-se do rosto. Ele paralisou com os olhos verdes vidrados nela.
A princesa de Álfheim beijou-lhe a testa e murmurou:
— Eu lhe dou a minha benção, Balor filho do Senhor de Fjerda. Que sua arma transpasse todo inimigo e seu escudo seja tão forte quanto a sua bravura, assim nunca cairá como os outros homens. — Ela sussurrou as palavras soprando seu hálito em sua pele como se o cobrisse com um cobertor invisível e protetor. — Volte para seus irmãos e recupere a honra de sua casa.
Ele fechou os olhos por um instante sentindo seu corpo aquecer e se arrepiar. Quando ele os abriu, jurou para si mesmo que nunca se esqueceria daquilo.
— Obrigado, Lady Freya. — Ele curvou a cabeça em respeito.
Margreth correu para Freya e agarrou sua cintura em um abraço, enquanto Frodo ia para o colo do irmão. A princesa afagou o cabelo da menina e disse para eles:
— Eventualmente voltarei para me certificar de que estejam bem.
Balor e as crianças a viram sair com o guarda pela porta da frente. O mais velho dos três apertou os dois menores em seu abraço, grato por eles serem a coisa mais preciosa em sua vida.
c r o w n
As previsões de Odin estavam corretas mais uma vez, os elfos sombrios promoveram uma rebelião para tomar os nove reinos. Antes que eles pudessem chegar a Asgard com suas tropas, o Pai de Todos optou por reunir o seu exército e ir de encontro a eles tomando a vantagem que tinha em poder e número. As tropas haviam sido divididas, a maior parte seguiu Odin para o ataque e a outra parte ficou em Asgard para garantir a segurança do povo caso a batalha se desdobrasse de maneira inesperada.
Freya conhecia as ruas e as passagens de Asgard como ninguém no castelo conhecia. Enquanto Thor e Loki seguiram o pai, com a permissão da rainha Freya tomou a frente da organização da defesa e proteção do povo. Felizmente a batalha acabou sem que os elfos sombrios conseguissem avançar para Asgard e no fim do solstício, Odin retornaria com o exército.
Diziam que não fora uma batalha fácil, os elfos sombrios possuíam uma arma nunca vista antes. A magia deles era densa e cruel, apesar de terem sido derrotados haviam conseguido dizimar parte do batalhão. Freya ouvia todas as notícias que levavam até Frigga, ela ficava na base do trono observando os mensageiros correrem de um lado para o outro para ajudar a preparar o castelo para a chegada dol soldados. Como de costume haveria um banquete de comemoração e um momento para relembrar e homenagear os guerreiros que haviam alcançado Valhalla naquele dia.
Por mais que Freya tentasse saber quem havia sobrevivido, era impossível que os mensageiros soubessem de todos os nomes. O que eles traziam era apenas o principal: Odin estava voltando com seus filhos. Mas em seu íntimo, Freya pensava naqueles que haviam se sacrificado naquela vitória e como suas famílias ficariam. Ela pensava em Balor e seus irmãos.
Ao pôr-do-sol deram início ao banquete. Freya já estava à mesa em seu lugar, era uma cadeira mais baixa ao lado esquerdo, um lembrete de que por mais que sentasse na mesa de Odin e fosse criada como filha ainda era uma moeda de troca. Odin entrou no salão sendo seguido de Thor e Loki, eles ainda estavam com as roupas de batalhas, sujos de lama, curativos improvisados e rostos cobertos de suor. Mas nada os fazia sorrir mais do que uma batalha ganha, comida e cerveja.
Frigga e Freya se levantaram para recebê-los. Odin beijou a mão da esposa e então se virou para Freya e colocou uma das mãos sobre o ombro dela. Ele nada disse, mas ela jurava ter visto seu único olho azul demonstrar orgulho. Uma expressão dada a ela com tão raridade qie por um segundo ela acreditou que ele a tivesse confundido com Thor.
Odin se sentou ao lado da esposa e Loki se aproximou, passou por ela devagar e os ombros se tocaram enquanto ele deslizava os dedos pelos dela entrelaçando as mãos por um rápido segundo e a soltou para continuar até sua cadeira se sentar. Freya só percebeu que Thor estava em sua frente falando quando ele a chamou pelo nome.
— Freya?! — Ele disse tocando seu ombro e quando ela o olhou ele sorriu continuando o assunto qualquer que fosse. — Você devia ter visto, esmagamos ele.
Ela balançou a cabeça concordando, mas seus olhos foram de encontro ao salão e todas as mesas compridas que o exército preenchia. Via rostos familiares que conseguia reconhecer apesar da sujeira que os cobria. Avistou o grupo de mulheres que havia a seguido durante a guarda da cidade, mas não conseguia dizer quantos haviam sido perdidos.
Ela se sentou em seu lugar e Odin se levantou. Os guerreiros se calaram e todos se viraram para ouvir a declaração dele.
— Enfrentamos inimigos antigos e impedimos que roubassem a nossa paz. — Ele disse, sua voz ecoava pelo grande salão. — Muitos se sacrificaram, mas essas vidas hoje alcançaram Valhalla e nós sempre o lembraremos como guerreiros de nossa casa.
Todos ergueram suas canecas cheias de cerveja, de rum e hidromel para homenagear e comemorar. Para eles a morte não era só tristeza, era a passagem para uma vida melhor.
Odin se virou para Freya e todos os olhos do salão estavam sobre ela.
— Soube que cuidou de toda estratégia de proteção, e o povo tem falado seu nome com gratidão. — Odim disse a ela. — Obrigado, filha. Sou feliz por ter comigo uma família como essa. Acho que está mais do que na hora de anunciarmos seu novo título.
Odin estendeu a mão na direção da princesa, Thor e Frigga observavam cheios de expectativa, Loki observou atento e com a postura rígida enquanto Freya se levantava e tomava a mão da Odin. Ele ele caminhou alguns passos até o centro na frente de todo o salão. Um servo se aproximou carregando o que parecia ser uma bandeja adornada, nela havia um objeto brilhante.
Odin pegou o objeto e quando ele o prendeu em suas vestes, Freya pode ver que era um broche do desenho de um cavalo alado.
— Freya, princesa de Álfheim, mas filha de Asgard. Devido à sua fidelidade e obediência, declaro-a Senhora das Valkyrias e líder das guerreiras do reino. Que nossos portões sempre estejam a salvo, que sua sabedoria sempre guie nosso povo e que a morte tema o seu nome.
— LADY FREYA! — Gritou o exército levantando suas canecas.
Thor bateu na mesa e gritou junto com os outros. Odin sorriu para Freya, ela sentia todo o seu corpo arrepiar com todos aqueles rostos olhando para ela e gritando seu nome. Poder era um achado que parecia doce aos seus lábios, como uma dose de adrenalina no coração e era uma sensação tão forte e emancipadora que ela já estava consciente de que sempre buscaria aquela sensação outra vez.
Uma voz se sobressaiu sobre todas as outras cantando no meio do salão:
" Amor e ternura está em sua voz,
A princesa de Álfheim está entre nós."
Aos poucos os guerreiros pararam os gritos para ouvir a voz. Todas as cabeças no salão se viraram para ver quem estava cantando, conforme o burburinho de vozes diminuíam, a voz da canção ecoava mais alto.
" Com sabedoria e força ela nos guia,
Livrando Asgard daquilo que nos afligia "
Todos começaram a se sentar conforme o homem que cantava avançava caminhando até Freya. Sua voz era bonita e fazia todo o corpo se arrepiar, era a primeira vez que alguém demonstrava gratidão de uma maneira tão profundo. Era como um louvor em uma língua antiga tomando forma. O homem mancava levemente, mas ainda carregava consigo parte da armadura da batalha. Seu rosto estava escuro devido a sangue e lama, mas seus olhos verdes brilhavam intensamente.
Balor parou de frente para Freya e Odin, ele se ajoelhou diante deles e com uma mão apontou o machado para a deusa.
Por onde você for, eu irei.
Onde morares, ali morarei.
Em suas batalhas eu lutarei,
E em suas derrotas, eu sangrarei,
Minha gratidão será eterna,
E minha fidelidade inabalável.
Minha honra é defender a sua,
Até que a morte me leve com a sua permissão.
Todos permaneceram em silêncio em respeito ao momento, por um instante só era possível ouvir o crepitar da fogueira. Ser um guerreiro juramentado era muito significativo, era abrir mão da própria vida para batalhar por alguém. Era comum que guerreiros fizessem isso a deuses confiando que alcançariam Valhalla, significava que ele iria na frente na batalha, que abriria mão de sua família e de seu futuro. Significava que abriria mão da morte e do descanso, porque seu espírito só teria paz com o consentimento de sua senhora.
Era perigoso, porque significava que se um dia todos estivessem contra Freya, Balor estaria ao lado dela. Ela podia sentir o olhar avaliativo de Odin. Nem mesmo Thor ou Loki tinham guerreiros juramentados. Aquilo a colocava no mesmo patamar de respeito que Frigga possuía. Mas Freya poderia recusar e se o fizesse Balor seria sacrificado em um ritual se entregasse sua existência a alguém que o recusasse.
Ela sabia o que era feito em situações assim, ela deveria beijar sua arma e aceitá-lo ou virar o rosyo e rejeitá-lo. Mas ela soltou a mão de Odin e não se preocupou em verificar no olhar dele e se ele permitiria aquilo, nem Odin poderia interferir na entrega da existência de um guerreiro. Freya tomou o machado com sua mão esquerda, se inclinou segurando o queixo de Balor entre seus dedos e lhe beijou na testa pela alma dele, na bochecha direita pelo seu corpo e na esquerda pelo coração.
— Aceito sua oferta e recebo essa responsabilidade, Balor herdeiro de Fjerda. Que sua arma esteja sempre afiada e seu escudo preparado. Que você não se dê em casamento ou tenha filhos, que minha vida seja para sempre a sua. — Ela murmurou o olhando nos olhos, geralmente o guerreiro deveria ficar de cabeça baixa, aquele contato de Freya selava um pacto muito mais profundo.
Balor suspirou e se levantou, ele inclinou a cabeça em uma mesura na direção de Odin que olhou para os dois como se pressentisse algo no modo como os guerreiros e o povo estavam valorizando Freya.
Lagertha Freya
Asgard, Atualmente
A multidão de asgardianos começou a se aglomerar ao redor para ver o que estava acontecendo. Thor, Loki e Freya estavam no canto do palco improvisado na praça e sob o olhar das duas figuras mitológicas, ela se perguntava o que veria a seguir. Precisou de um momento para olhar ao redor e se perguntar por quê de repente havia aceitado a proposta de um estranho que dizia a conhecer, por quê não estava assustada em um lugar como aqueles e sem saber se havia a possibilidade de voltar para casa. Casa. Era um estranho sentimento, mas olhando para a multidão, o céu e os portões da cidade ao longe, ela sentia que havia chegado ao seu destino. A necessidade de voltar para o lugar de onde havia vindo - de voltar para Midgard, não estava dentro dela.
— Loki, o que fez com nosso pai? — Thor perguntou, a mão firme no cabo do martelo era uma ameaça silenciosa.
— Eu o deixei em Midgard. — Loki confessou a contragosto, tirou os olhos de Lagertha para encarar o irmão. — Eu cuidei de Asgard na ausência dele.
— Acho que cuidou só dos seus prazeres. — Thor disse em um tom mais grave.
Lagertha observou como o loiro conseguia ser intenso em suas expressões. Quando o viu pela primeira vez, ele parecia estar em uma inocente empolgação e agora parecia ameaçador como o céu antes de uma tempestade. Apesar disso Loki não parecia preocupado, sua expressão era de uma segurança irritante.
— Olha, sem querer interromper a reunião em família, mas... — Lagertha se aproximou dos dois e cruzou os braços observando a multidão e as ruas de Asgard ao redor. — Eu estava contando com o dinheiro que você prometeu, Thor. Riquezas, reinos, onde eu entro nisso tudo?
— Hum, saiu para encontrar a princesa e na verdade o que temos é uma trambiqueira. — Loki sorriu olhando de Lagertha para Thor. — Isso não parece dar certo. A profecia não dizia que ela só poderia voltar quando fosse merecedora?
— Eu também fiquei surpreso. Achei que alguém que roubasse dos outros não seria merecedor. — Thor murmurou enquanto os dois a analisavam com olhos curiosos. — Mas ela segurou mjolnir.
— Merecedora? — Lagertha repetiu. — Trambiqueira? Isso é usado para ladrões.
— E você é...? — Loki perguntou.
— Golpista de alto nível. Pense em mim como Robin Wood. — Ela sorriu.
— Esse Robin Wood é um bravo guerreiro? — Thor perguntou interessado.
— É uma história. — Ela balançou a cabeça. — São todos idiotas por aqui?
— Thor é o mais idiota de todos. — Loki assegurou se aproximando dela. Segurou a mão direita da mulher e a levou até seus lábios, inclinou a cabeça e beijou-lhe a mão. — É uma honra tê-la de volta, nos meus piores pesadelos achava que não conseguiria viver para ver esse dia.
Thor suspirou impaciente.
Algo nos olhos de Loki prendeu Lagertha, como se ela já tivesse visto eles antes ou até mesmo conhecesse o gosto daqueles lábios. O toque foi como uma lembrança inalcançável, como um sonho que se esquecesse que foi sonhado logo ao acordar.
— Precisamos levá-la para o castelo e encontrar nosso pai. — Thor passou entre os dois os afastando e batendo o ombro em Loki propositalmente.
— Discordo em partes. — Loki disse se virando para o seguir. — Acho que seria bom revisarmos a profecia, você sabe que há algumas complicações imediatas. Há toda a burocracia com as Valkyrias, sem falar na inimizade de Freyr.
— Por isso vamos precisar de Odin. — Thor enfatizou. — Vamos a guarda real, vamos para o castelo.
Ele então se virou para Lagertha.
— Prefere ir a cavalo ou voando?
Ela limpou a garganta disfarçando o estranhamento.
— Acho que cavalgando é mais seguro.
— Certo, depois pediremos para preparem seu cavalo alado, Freya. Creio que está com saudade dele. — Loki disse de uma maneira quase afetiva pouco rara para o deus da trapaça.
Ela olhou para Thor indicando que não havia entendido muito bem, mas ele apenas sorriu encorajador e de alguma maneira ela confiava nos olhos azuis do deus do trovão.
c r o w n
Durante o caminho, ela podia sentir os olhos de Thor e Loki sobre si como se a observassem com curiosidade. Em um momento ela se virou para encarar Loki sobre seu cavalo preto, mas os olhos dele estavam no horizonte observando o castelo. Thor não desviava o olhar quando ela o encarava também, ele confiante e um tanto entusiasmado.
— Está vendo as colinas ao norte? — Ele disse enquanto os cavalos avançavam pelos portões do castelo. — É nosso local favorito para caçar.
E ele continuava explicando as paisagens conforme entravam no castelo. Ao passar pelas grandes portas e entrar no grande Salão, Thor solicitou a um dos guardas que os acompanhavam:
— Convoque o cavaleiro de Freya. — E então ele Se tudo der certo hoje, vamos levá-la para a encosta. Você vai amar as praias de Asgard.
Loki comentou irônico:
— Pare de a tratar como turista, irmão. Freya conhece melhor os caminhos de Asgard do que você.
Eles param diante do trono. Freya observou a escadaria que levava até o assento mais poderoso do reino, seus olhos focaram no brilho que o metal dourado refletia sobre a luz.
— Ela não lembra de nada, talvez ela quisesse conhecer tudo de novo. — Thor resmungou provavelmente constrangido por Loki ter cortado seu entusiasmo.
— Eu ainda lembro como socar a cara de alguém. — Ela murmurou para eles. — Portanto, acho bom que cumpram o acordo.
— Eu não me lembro de ter feiro acordo algum, princesa. — Loki disse em um tom exasperado.
— Você não, mas seu irmão sim. E se ele não me pegar, vou cobrar de você.
— Que ótimo. — Loki lançou um olhar desacreditado a Thor. — Isso por quê eu sou adotado...
Thor abriu a boca para responder, mas desistiu ao ouvir passos firmes e bem ritmados ecoando pelo salão. O homem se aproximou e encarou a figura da mulher na base do trono observando a luz do sol sobre o trono vazio. Ele até mesmo esqueceu de cumprimentar Thor e Loki, seus olhos viam apenas ela.
Quando ela se virou para ele e ele viu seus olhos, seu cabelo e todas suas feições que estavam diferentes de como ele se lembrava e ainda assim tão semelhante que não poderia ser outra pessoa, Balor se ajoelhou diante dela e inclinou a cabeça com um suspiro de alívio e gratidão.
— Lady Freya, seja bem-vinda de volta. — Ele murmurou como se tivesse acabado de voltar a respirar e quando ele ergueu a cabeça, os olhos verdes brilhavam. — Enfim, depois de séculos está aqui.
Lagertha deu um meio sorriso como se tivesse acabado de descobrir algo extremamente prazeroso. Ela olhou para os três e então disse:
— Eu amo quando homens se ajoelham.
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notas: espero que tenham gostado, tentei caprichar demais no capítulo e trazer mais dos meus personagens originais. algumas coisas aconteceram essa semana e uma situação me desanimou em relação à plataforma, é tanta gente indo embora. mas eu sempre tenho a meta de concluir todas as minhas publicações e não posso parar. vou mudar o nome da personagem, porque se não ela vai ter dois lados com o mesmo nome. pensei de deixar da seguinte forma:
— Lagertha, primeira encarnação mortal, era viking
— Private Lorraine, segunda vida mortal, segunda guerra mundial
— Astrid, terceira vida mortal, golpista e ilusionista, ragnarok
O que acham? Deixem suas opiniões e reações. Muito obrigada por ler, de verdade. Se eu continuo, é por vocês. ❤
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