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LADY FREYA
EM ALGUM LUGAR NO ESPAÇO
ASSISTIR A DEVASTAÇÃO DO PRÓPRIO PLANETA AFETOU A TODOS, mas de algum forma o povo parecia grato. Um grupo de pessoas se colocou à frente para ter uma comunicação mais efetiva com Freya e Thor, primeiro se mobilizaram para cuidar dos feridos e depois começaram a reunir uma estimativa de alimentos que possuíam. Um grupo de reconhecimento foi formado para buscar pela nave qualquer coisa que pudesse ser útil e para fazer um mapeamento dos compartimentos, aquilo ajudaria a organizar o local até que chegasse em seu destino.
A nave estava em constante movimento, mas o ritmo dentro dela era de pura organização e adaptação. Enquanto Loki, Hulk e a Valquíria se encarregavam da alimentação e da disposição dos refugiados, Freya e Thor dirigiram-se a uma das salas de comando para uma reunião urgente. Heimdall e Balor já estavam lá, aguardando com expressões graves, refletindo o peso do momento.
Freya entrou com postura firme, mas os traços de cansaço eram visíveis em seus olhos. Thor veio logo atrás, os ombros largos abaixados, como se sentisse o peso da destruição de Asgard em cada passo. O silêncio na sala era cortante até que Heimdall falou, sua voz carregada de sabedoria e compaixão.
— Nosso povo precisa de liderança clara, agora mais do que nunca.
Freya assentiu, sentando-se à mesa improvisada feita de partes desmontadas da nave.
— Concordo, mas não podemos nos precipitar. Estamos no meio do espaço, vulneráveis. A prioridade é garantir a sobrevivência até encontrarmos um refúgio seguro.
— A sobrevivência é vital, mas os símbolos importam, Freya. O povo precisa de algo mais do que ordens para seguir em frente; eles precisam de esperança. De alguém que represente tudo o que perdemos e o que ainda podemos construir. — Balor inclinou-se para a frente, as mãos cruzadas sobre a mesa.
— Balor está certo. Você já é vista como uma líder, Freya. Eles se ajoelharam diante de você, acreditando que você é a nossa força. Não é apenas Álfheim que precisa de uma rainha. É todo o nosso povo. — Thor cruzou os braços, seu semblante sombrio suavizando levemente.
Freya apertou os punhos sobre a mesa, o peso das palavras deles recaindo sobre ela como uma nova responsabilidade.
— Eu os liderarei, é claro. Já decidi isso. Mas ser coroada rainha... Isso me parece uma formalidade desnecessária neste momento. — Freya suspirou e então prosseguiu tentando explicar sua perspectiva. — Eu sempre quis ser rainha, almejava esse poder. Agora depois de tantas vidas vividas, eu entendo qual é o peso de uma coroa. E por mais que eu esteja disposta a me sacrificar pelo meu povo, me parece que há questões mais urgentes do que estabelecer o meu poder de governo agora.
Heimdall observou-a atentamente, seus olhos eram como janelas para os caminhos futuros, como se ele enxergasse mais do que ela conseguia no momento.
— Não é apenas uma formalidade. É uma declaração para o universo de que Álfheim e Asgard ainda existem, que não fomos apagados. Sua coroação representará isso.
Thor colocou uma mão firme no ombro de Freya.
— Você não está sozinha. Eu estarei ao seu lado, assim como Heimdall, Balor, e todos os outros que acreditam em você.
Ela olhou para cada um deles sentindo a força da confiança que depositavam nela. Um nó se formou em sua garganta, mas Freya não recuou. Endireitou-se na cadeira, permitindo que a luz dourada que sempre a acompanhava brilhasse levemente ao seu redor. Seus dedos percorreram a mesa de forma sutil enquanto ela considerava a situação.
— Se é isso que o povo precisa, então eu aceito. — Sua voz era firme, mas carregava uma emoção contida. — Mas quero que saibam que esta coroação não será apenas um símbolo. Será um pacto. Não descansaremos até encontrar um novo lar, até reconstruir o que foi perdido. E precisarei de todos vocês ao meu lado para que isso aconteça.
Balor sorriu de lado, algo raro em seu semblante geralmente sério. — Você sempre terá a mim, minha rainha.
Heimdall assentiu com gravidade. — E a mim.
Thor sorriu amplamente, pela primeira vez em dias parecendo aliviado. — E eu, é claro. Juntos, faremos isso acontecer.
Freya respirou fundo e se levantou, sentindo uma nova força percorrer seu corpo.
— Então é hora de começar. Organizem tudo. Quando estivermos prontos, faremos a cerimônia, mesmo que simples. Que o universo saiba que ainda estamos aqui.
O conselho improvisado concordou e ao sair da sala Freya olhou para a vasta imensidão do espaço pela janela. Ela ainda sentia a perda de Asgard e Freyr como se fossem feridas abertas e temia que seriam assim para sempre, mas algo dentro dela se inflamava novamente. Era uma certeza, a certeza de que eles iriam sobreviver. Eles iriam renascer, de alguma forma encontrariam um jeito.
A cerimônia foi organizada no maior compartimento da nave, um espaço amplo do tamanho de um grande salão, mas ainda marcado pela improvisação. Caixas e peças de metal haviam sido afastadas para abrir caminho, enquanto tochas improvisadas lançavam uma luz cálida que dançava nas paredes escuras. O povo de Asgard e Álfheim se reuniu, enchendo o local com murmúrios e suspiros emocionados.
A nave se tornara um espaço de dualidade entre a estética remanescente de Asgard representada pelos objetos e roupas que o povo levará consigo, essa identidade cultural era um intenso contraste à tecnologia e estrutura da nave.
Freya estava no centro, em pé sobre uma plataforma montada às pressas. Vestia uma capa prateada, ornamentada com bordados que lembravam as estrelas de Álfheim, uma das poucas relíquias que haviam sobrevivido à destruição. Balor havia se assegurado de guardar aquilo, mas a maneira que ele fez isso não revelou para ela. “Considere um presente, majestade”, ele pediu e ela aceitou. Seu cabelo estava trançado de forma elaborada, mas não era sua aparência que mais chamava atenção. Era a presença que emanava dela, uma mistura de força e serenidade, como se tivesse finalmente aceitado o papel que o destino lhe reservava.
Thor estava ao lado, segurando um martelo forjado às pressas, símbolo da continuidade de suas tradições. Heimdall se posicionava à frente dela e Balor permanecia próximo, ambos como dois guardiões silenciosos.
Quando o silêncio finalmente tomou o ambiente, Heimdall começou a falar, sua voz ecoando com gravidade.
— Hoje declaramos ao universo que ainda estamos aqui. Asgard foi destruída, mas sua essência permanece em cada um de nós. Álfheim foi atacada, mas sua luz ainda brilha através de sua guardiã.
— Ele fez uma pausa, seus olhos dourados percorrendo a multidão. — E hoje, reconhecemos Freya não apenas como nossa salvadora, mas como nossa rainha.
Balor avançou carregando um diadema simples, mas elegante, forjado com pedaços de metal encontrados na nave. Ele se ajoelhou diante de Freya, segurando o objeto com reverência.
— Minha rainha… — Ele falou de forma quase afetuosa, a voz carregada de emoção contida. — Este diadema é humilde, mas representa a devoção de todos nós. Que ele sirva como símbolo de sua força, de sua coragem, e de sua promessa de guiar nosso povo.
A deusa se inclinou levemente permitindo que ele colocasse o diadema em sua cabeça. O momento foi solene - quase sagrado. Quando se levantou, Balor deu um passo para trás ajoelhando-se novamente, seguido por toda a multidão.
Thor foi o próximo a falar, ele pigarreou disfarçadamente como se não soubesse o que dizer em um momento como aquele. Odin era quem cuidava das coisas sérias, Thor resolvia tudo com os seus punhos e depois se retirava para comemorar e beber com os amigos. Mas quando ele ergueu os olhos para olhar para Freya ali diante dele, Thor sentiu seu coração estremecer.
E pelo brilho refletido nos olhos dela, ele pode perceber que ela também. Ele havia a admirado a vida inteira, ousaria até pensar que fora a primeira mulher que esperava impressionar. Quando crianças, ele e Loki competiam para ver quem impressionaria a princesa. Ele sabia que um dia poderiam unir alianças através do casamento, e por parte de sua adolescência até tentou se moldar à visão de um bom guerreiro para impressioná-la. Mas Thor logo percebeu que Freya nunca seria o que os outros esperavam dela ou para ela, se um dia ela julgasse que ele seria o detentor de seu amor, seria única e exclusivamente decisão dela.
— Freya, você é mais do que uma rainha. Você é a chama que nos guia na escuridão. Mesmo diante da destruição, você permaneceu firme. Nós acreditamos em você. Não há outra pessoa melhor para governar Álfheim, e eu e toda Asgard apoiaremos você e o seu povo. — Ele declarou e por um instante enquanto os olhos dele encontravam os dela, havia tanto um do outro que só eles sabiam. E por isso as palavras de Thor se tornaram tão preciosas para Freya.
Freya olhava para Thor com seus olhos brilhando com algo entre gratidão e determinação. E então ela se virou para a multidão ajoelhada e ergueu as mãos.
— Levantem-se. — Ela disse com a voz firme e clara. — Hoje, não é sobre mim. É sobre nós como parte de um todo, como um povo. Perdemos nossos lares, nossas famílias e até nossas esperanças. Mas sobrevivemos. E enquanto estivermos vivos, enquanto estivermos juntos, Asgard e Álfheim viverão.
A luz que emanava dela cresceu, envolvendo a sala com um brilho cálido e reconfortante. Seus poderes, tão conectados à vida e à luz, pareciam pulsar com cada palavra.
— Prometo a vocês … — continuou ela. — que não descansarei até encontrarmos um novo lar. Até que cada um de vocês esteja seguro. Não sou apenas sua rainha. Sou sua serva, sua protetora.
A multidão explodiu em aplausos e gritos de celebração. Freya respirou fundo sentindo o peso da responsabilidade em seus ombros, mas também um alívio. Ela olhou para Thor, Heimdall e Balor, e então para o povo.
Ela não estava sozinha.
E com essa certeza a cerimônia terminou, não como um encerramento, mas como o início de uma nova era.
O silêncio na nave era raro, mas Freya encontrou um canto isolado próximo à observação das estrelas, um lugar onde o brilho das constelações parecia menos distante. Loki apareceu sem anúncio, como sempre fazia, sua presença marcada pelo leve tilintar de suas botas contra o chão metálico.
— Você quer falar comigo, rainha? — Sua voz carregava o tom característico de ironia, mas os olhos denunciavam algo mais, um resquício de curiosidade ou talvez cautela. Quem sabe, inveja? Freya pensou.
A deusa se virou lentamente com suas mãos cruzadas diante de si. O diadema em sua cabeça reluzia sob a luz tênue do compartimento, mas não era isso que capturava a atenção de Loki. Era a firmeza em seu olhar, a clareza de alguém que carregava uma resolução há muito tempo amadurecida.
— Sim, quero. — Sua voz foi direta, mas não hostil ou grosseira. — É hora de deixar o passado onde pertence.
Ele arqueou uma sobrancelha, o leve sorriso surgindo em seus lábios ao dizer:
— Ah, o passado. Um tema fascinante. Qual parte dele, exatamente, você deseja exorcizar esta noite?
Freya ignorou a provocação.
— Você sabe exatamente do que estou falando, Loki.— Ela deu um passo à frente, os olhos fixos nos dele. — O que aconteceu entre nós foi... passageiro. Uma aventura. Eu entendi isso desde o início.
— Uma aventura?— Ele repetiu a palavra como se a estivesse saboreando, mas o sorriso sumiu. — Você sempre foi mais sábia do que eu gostaria.
— Não tente me lisonjear. — Ela ergueu o queixo. — Você nunca me enganou, Loki. Nem quando usou palavras doces, nem quando se escondeu atrás de sua ironia. Eu sabia que era um jogo para você. Uma distração. Talvez até uma estratégia.
Loki não tentou negar. Em vez disso, inclinou-se contra a parede, cruzando os braços com um ar de resignação.
— E se fosse? Você era poderosa, fascinante. Uma aliada interessante para se manter por perto. Ou um obstáculo a ser conquistado.
Freya deu uma risada seca, sem humor.
— Eu sabia. Sempre soube. E ainda assim, por um momento, eu quis acreditar que havia algo mais. Que talvez você não fosse apenas...— Ela hesitou, mas completou. — Você.
Ele estreitou os olhos, mas não havia raiva ali. Apenas uma tristeza discreta.
— Eu nunca consegui enganá-la, Freya. Com ninguém mais isso seria um problema. Mas com você... era insuportável.
— Por quê?
Loki ficou em silêncio por um instante, antes de dar de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
— Porque você me viu como eu sou, não como eu finjo ser. Não houve máscara que funcionasse com você. Isso era... desconcertante.
Freya inclinou a cabeça, avaliando-o.
— Você tem algum afeto por mim, Loki? Ou foi tudo teatro?
Ele hesitou, algo raro vindo dele.
— Afeto? Talvez. Mas amar... amar de verdade? Freya, no final das contas, eu só consigo amar uma pessoa.
— Você mesmo. — Ela concluiu.
Ele não contestou, mas o olhar em seus olhos parecia um pedido de desculpas.
Freya respirou fundo, sentindo um peso se dissipar.
— Então estamos de acordo. Foi o que foi. E acabou. Não há mágoa. Só a certeza de que não faz parte do futuro.
Loki inclinou a cabeça, algo quase respeitoso no gesto.
— Você realmente mudou, Freya. Antes, eu teria esperado gritos, lágrimas, talvez até uma maldição ou duas.
Ela sorriu de leve, um sorriso de aceitação, não de alegria ao dizer:
— Você me ensinou a não esperar demais. A lição foi útil, devo admitir.
Ele se endireitou, afastando-se da parede. — E quanto a nós agora?
— Agora somos aliados. Pelo povo. Pela sobrevivência. Nada mais.
Loki assentiu lentamente e por um momento pareceu quase vulnerável.
— Pelo menos você não tentou me matar. Eu chamaria isso de progresso.
Ela deixou um riso baixo e contido escapar, algo raro nos últimos dias.
— Não me tente, Loki.
Ele abriu um sorriso genuíno, o primeiro em muito tempo.
— Considerarei isso um aviso.
Com isso ele se virou e saiu, deixando Freya sozinha novamente. Mas desta vez, ela não sentiu o peso do passado pendurado em seus ombros.
Freya olhou para as estrelas e murmurou para si mesma, com um alívio silencioso:
— Finalmente.
Os dias passaram como um borrão, cheios de trabalho e incertezas. Dentro da nave a adaptação entre os refugiados de Asgard e Álfheim começava a tomar forma. A estrutura improvisada de comando de Thor e Freya aparentava set eficiente, mas era inegável que o peso das decisões recaía sobre ambos.
No entanto, naquela manhã específica algo parecia diferente. Uma discussão eclodiu na sala de reuniões improvisada que acontecia em um compartimento amplo onde o povo apresentava suas preocupações e ideias. Os asgardianos e os álferes, ainda tentando se ajustar à convivência, debatiam calorosamente sobre os possíveis destinos. Alguns sugeriam tentar localizar outros mundos aliados, enquanto outros defendiam encontrar um planeta desabitado e recomeçar do zero.
— Recomeçar seria loucura! Não temos recursos suficientes para sustentar nosso povo em um planeta inóspito. — Vociferou um guerreiro asgardiano.
— Recorrer a aliados pode ser igualmente perigoso. Não sabemos quem ainda pode nos considerar amigos. — Retrucou uma álfere de cabelos prateados, sua voz firme e impaciente.
Thor se inclinou sobre a mesa, os punhos cerrados.
— Já basta! — Sua voz trovejou, silenciando os presentes. Até mesmo ele que levava tudo como piada ou brincadeira estava ficando farto e preocupado. — Essa divisão não nos levará a lugar nenhum.
Freya ergueu uma mão sinalizando que assumiria a palavra. Seus olhos percorreram o grupo reunido, a tranquilidade em sua expressão era um contraste com a intensidade do deus do trovão.
— Ele está certo. Agora não é hora de disputas. — Sua voz era suave, mas carregava uma seriedade que obrigava todos a ouvir. — Somos um só povo agora. Divididos, jamais sobreviveremos. Mas juntos… — Ela pausou deixando as palavras pairarem no ar. — Juntos, não há força no universo capaz de nos deter. Mas precisamos ter paciência, esse tipo de decisão requer tempo, estudo e iremos considerar a opinião do povo.
Thor olhou para ela com um brilho de aprovação nos olhos. Freya percebendo o momento, fez um gesto indicando que ele deveria continuar.
— O que Freya está dizendo… — Thor retomou com sua voz mais calma. — É que precisamos de um plano que funcione para todos. Vamos começar analisando o que temos e o que sabemos. Depois, decidimos juntos o próximo passo.
O grupo murmurou em concordância e Freya aproveitou a deixa.
— Vou formar uma equipe para explorar as opções de destino. Procurar informações nos registros da nave e elaborar mapas. Quem tiver conhecimento técnico, me procure depois desta reunião.
A tensão na sala diminuiu e a multidão começou a se dispersar. Quando os dois ficaram sozinhos, Thor soltou um suspiro, encostando-se à parede.
— Você tem uma habilidade impressionante para acalmar multidões, sabia?
Freya arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.
— E você tem um talento para chamar a atenção, mesmo que seja aos gritos.
Ele riu, um som breve, porém genuíno.
— Acho que funcionamos bem juntos. Você resolve as coisas com a cabeça, eu com os músculos.
Freya revirou os olhos, mas havia um sorriso contido em seus lábios.
— Digamos que suas explosões ajudam a destacar minha diplomacia.
Thor ficou sério por um momento, olhando para ela com um respeito e admiração.
— Eu realmente não conseguiria fazer isso sem você, Freya. Obrigado por estar aqui.
Ela inclinou a cabeça, o olhar sincero.
— Não é questão de escolha, Thor. É nossa responsabilidade.
Enquanto saíam da sala, lado a lado, a conexão entre os dois parecia mais forte do que nunca. Ali, entre as estrelas e no caos do êxodo, eles começavam a entender que não eram apenas líderes, mas duas metades de uma solução que o povo precisava desesperadamente. E talvez pela primeira vez em muito tempo, ambos estavam dispostos a aprender um com o outro.
A nave estava silenciosa, envolta em uma calmaria estranha que contrastava com os dias agitados que haviam passado. Freya caminhava pelos corredores escuros, os passos ecoavam fracamente no chão de metal enquanto lutava contra o peso dos pensamentos. A responsabilidade, as escolhas, a sobrevivência do povo – tudo parecia se empilhar sobre seus ombros, esmagando qualquer possibilidade de descanso.
Ela encontrou refúgio em uma pequena sacada próxima à sala de comando, um dos poucos lugares onde era possível ver o infinito do espaço através das janelas. O brilho das estrelas deveria ser reconfortante, mas naquela noite parecia frio e distante. Eles respirou fundo, mas era como se o ar não encontrasse o caminho para os seus pulmões.
Freya abraçou os próprios braços, um gesto involuntário para afastar o desconforto. Mas o vazio não era apenas ao redor – estava dentro dela também.
— Não consegue dormir?
A voz de Thor interrompeu o silêncio, grave e familiar. A deusa se virou e o encontrou encostado no batente da porta, os braços cruzados e uma expressão de preocupação em seu rosto. Parado ali, era possível ver a imensidão das estrelas refletidas nos olhos azuis dele, e por um instante a visão da imensidão deixou de ser tão assustadora para Freya.
— Não. — Ela admitiu voltando o olhar para as estrelas. — Parece que minha mente não quer parar.
Ele entrou na sala, seus passos pesados contrastavam com a leveza de seu tom.
— Conheço bem essa sensação. Quando parece que o peso de tudo está sobre você, é impossível desligar. Quando eu estava lutando com os Vingadores, meu amigo Tony me explicou que isso se chama ansiedade.
Freya soltou um suspiro, um sorriso cansado se formando em seus lábios.
— Sempre foi assim? Desde que assumiu o martelo, fica ansioso?
Thor riu baixinho.
— Desde antes disso, na verdade. Mas você sempre lidou com isso melhor do que eu.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.
— Eu? Thor, você era quem sempre encontrava coragem, mesmo nos momentos mais difíceis. Estava sempre brincando e festejando e caindo nas graças de seu querido pai.
Ele se aproximou, parando ao lado dela para contemplar o vazio do espaço.
— Talvez. Mas você... Você sempre tinha uma forma de trazer calma. De transformar o caos em algo manejável. De se colocar à prova e mostrar que sempre conseguiria mais do que esperavam de você.
Por um momento nenhum dos dois falou. Apenas o som distante do funcionamento da nave preenchia o ar.
— Você sabia… — Freya começou, hesitante. — Que quando cheguei ao castelo de Odin, eu tinha medo de tempestades?
Thor a olhou com curiosidade e então com uma expressão de quem segurava a risada.
— Você? A grande Freya, temendo algumas nuvens? Nunca que eu iria imaginar. Achava que você se escondia debaixo da cama por outro motivo. — Ele falou em tom de ironia.
Ela riu suavemente sacudindo a cabeça.
— Eu era só uma garota perdida. Tudo parecia tão grande, tão assustador. Mas você sempre aparecia quando as tempestades começavam. Sentava ao meu lado e me fazia esquecer o medo. Como fazia isso?
Ele deu de ombros com um sorriso calmo nos lábios.
— Acho que só queria que você soubesse que não estava sozinha. E que as tempestades... bem, elas passam.
Freya sentiu uma onda de calor preencher seu peito. Por mais caótico e desconcertante que Thor pudesse ser às vezes, ele tinha uma maneira única de encontrar o cerne das coisas.
— Obrigada. — Ela disse com sua voz quase um sussurro.
— Por nada. — Ele respondeu encostando na parede ao lado dela. — Se quiser, posso ficar aqui. Só para o caso de uma tempestade aparecer.
Ela sorriu, sentindo, pela primeira vez em muito tempo, um vislumbre de tranquilidade.
— Eu gostaria disso.
E assim os dois permaneceram lado a lado e em silêncio, observando o universo lá fora, enquanto no interior algo inegavelmente forte e inquebrável começava a se estabelecia entre eles.
— Mas é sério, tempestades no espaço são terríveis.
— Thor, não. Pelo amor de Deus, cale a boca. — Freya pediu com um leve receio passando pelos seus olhos.
Ele riu e passou um dos braços ao redor dos ombros dela.
— Não se preocupe, nenhuma tempestade pode te alcançar aqui.
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