01 | Boy meets evil
Seulgi Grimhilde acordou com a cabeça pesada. Não era incomum ela ter crises de enxaqueca, ainda mais quando assumiu o trono, sozinha, desde que seu marido se fora.
A mulher massageou as têmporas, enquanto observava o vai e vem de serviçais a sua porta. Algumas criadas faziam fila para descarregar a agua quente na tina de madeira, no comodo ao lado. As copeiras já começavam a trocar os lençóis, outras traziam o espartilho e o vestido preto, costurado com pedras de ônix, especialmente para aquela ocasião.
Seulgi sempre gostou de usar preto. E depois que se tornara rainha, tinha a desculpa oficial do luto para poder usar aquela cor sóbria, que ressaltava ainda mais seu olhar felino e sua expressão sórdida.
Expressão essa que Seulgi conseguiu observar no reflexo da agua da tina, assim que o entrou no banho.
— Deseja mais alguma coisa, majestade? – Uma das criadas perguntou.
— Ah, eu gostaria de um chá de camomila. – Estou com dor de cabeça e isso pode dificultar eu usar a coroa hoje.
— Claro, majestade. – A mulher falou antes de ir. – Vou trazer agora mesmo.
Todo aquele empenho e dedicação era apenas uma obrigação. Seulgi tinha a plena consciência de que todos ali desejavam seu bem não por preocupar—se de fato com ela, mas sim porque era obrigação de uma criada agradar a rainha.
Não era de hoje que sentia-se sozinha naquele palácio, mas a morte de Kei deixou tudo mais difícil. Principalmente porque tinha que ser aparentar força também apara apoiar sua enteada, Winter. Fruto do primeiro casamento de Kei com Taeyeon.
Não era como se odiasse Winter. Até tinha um bom relacionamento com a garota, mas tudo ali parecia encenado demais. Em partes, o medo da princesa de tornar mais popular que ela, tornava o maior empecilho.
— Majestade, aqui está o chá. – Sentiu um cutucão de leve, que a tirou de seus devaneios.
— Obrigada. – Ela se ajeitou na tina e um pouco de agua vou enquanto ela pegava a xicara pela asa. – Sabe me informar se Winter já acordou?
— Já, majestade. Está terminou seu desjejum e esta esperando um sinal pra sair pra carreata.
— ótimo. – Ela sorveu mais um gole. – e quanto aos guardas?
— O Heeseung já montou toda a cavalaria, alteza. Só estão esperando um sinal seu.
Seulgi deixou a xicara de lado.
— Só preciso de ajuda com o vestido e estarei pronta.
Assim que saiu da tina, a criada ajudou a enxugar seu corpo e as pontas molhadas de seus cabelos.
A dor de cabeça passou para as costelas, que latejavam sob a pressão do espartilho. A rainha tentou fazer alguns exercícios leves de respiração.
Todos em vão.
[...]
Com a ajuda de Heeseung, seu principal guarda, Seulgi entrou na carruagem. Da janela do veiculo podia ver alguns súditos acenando pra ela.
A rainha forçou um sorriso enquanto se acomodava na carruagem. Logo depois, o guarda ajudou Winter a entrar no veículo.
A garota estava deslumbrante e na flor da idade. Seus lábios vermelhos eram ressaltados pelo cabelo tão negro que chegava ser um pouco azulado, quando tocava o reflexo do sol, como naquele exato momento.
— Winter... Está cada dia mais parecida com sua mãe. – Elogiou Heeseung.
– Não é a primeira vez que ouço isso, mas fico muito feliz. – Ela desviou o olhar.
— É mesmo? – Seulgi incentivou.
— Sim, os criados vivem me falando isso. Dizem que sentem menos saudade dela quando olham pra mim.
Seulgi olhou na direção da multidão de fora. Todos ali gritavam o nome de Winter.
O som foi se intensificando ao ponto da rainha não ouvir nada mais além do nome de sua enteada.
Não importava o quanto se esforçasse para governar o povo, todos ali pareciam rendidos a beleza e inocência de uma jovem que teve uma infância dramática.
E por mais que também tivesse apego a Winter, Seulgi sentiu que deveria agir rápido para não poder perder seu trono.
Seulgi Grimhilde colocou sua melhor camisola. Passou sua melhor essência enquanto aguardava ansiosamente a chegada de seu marido.
Ao vê-lo pelo reflexo do espelho da penteadeira, a morena soltou os longos cabelos e foi ao seu encontro.
— Meu amor... — ela tocou no rosto dele, torcendo para que ele não notasse seu nervosismo.
Seulgi nunca fora boa no quesito sedução. Mas estava desesperada por um filho, de preferência um menino.
Queria descansar a cabeça no travesseiro com a certeza de um herdeiro. E de que seu legado estaria a salvo.
A mulher abriu um pouco a camisola, para mostra a curva do seio.
Kei percorreu a mão até a nuca da esposa e deu um beijo. A princípio, foi casto, até se intensificar como uma chama, lenta.
Contudo, quando deitaram até a cama, um choro no quarto ao lado fez com que o fogo de dissipasse
— Winter... — ele sentiu—se culpado.
— ah, pode ir.
— foi minha culpa. Sai sem dar um beijo de boa noite. — Kei procurou sei roupão jogado no chão. — já volto para continuar onde paramos.
Seulgi deitou—se na cama e involuntariamente pegou no sono. Acordou por sentir uma enorme sede em sua boca.
Ao levantar para tomar um pouco de água fresca, percebeu que Kei ainda não tinha voltado.
"Talvez ele tivesse pegado no sono enquanto cuidava de Winter" pensou a rainha—consorte. "Talvez esteja até em uma posição desconfortável".
Temendo por Kei, a Grimhilde foi a procura de seu marido. Contudo, não o achou no quarto de Winter, mas sim o antigo quarto da sua ex esposa, Taeyeon.
Kei de fato estava em uma posição desconfortável. Tinha adormecido segurando um dos vestidos da antiga consorte, enquanto estava esparramado no divã.
Seulgi, com muita gentileza, procurou um cobertor no armário, sem procurar fazer barulho.
Ela cobriu Kei, enquanto utilizou a beirada do mesmo lençol para enxugar suas lágrimas.
Que ela jamais seria Taeyeon, ela já sabia. Mas saber que o seu amor seria unilateral, para sempre, a cortava por dentro.
Felizmente, aquilo só era uma lembrança ruim. E a rainha deu—se por conta que era apenas a sua imaginação, quando alguém bateu na porta da sala de reuniões.
— Vossa Majestade... mandou me chamar?
A rainha secou rapidamente as lagrimas antes de virar de frente ao comandante
— Sim, Hesung... pode entrar.
— Vim o mais rápido que pude. Não foi fácil desmontar a cavalaria.
— observei sua estratégia hoje. E fiquei impressionada. Por isso tenho uma proposta a te fazer.
— vou ser promovido?
— Sim — Um sorriso diabólico saiu de seus lábios vermelhos. — mas vai ser uma condição.
— qual?
— quero que você dê fim a vida de uma pessoa...
— A Winter?
— sim.
— Mas...não acho que a princesa seja uma ameaça seria ao seu reinado. Todos falam bem do seu governo.
— Acontece que Winter está cada vez mais parecida com a mãe. E isso abala a minha popularidade.
— Não acredito que ela tenha interesse em governar... — Heeseung sentiu a cor sumir de seu rosto.
— Acha que não vi hoje seus olhares pra ela? — Ela aproximou-se do rapaz e ergueu o queixo dele com as mãos. — Acha que eu não percebi que gosta dela?
— sinto muito...
— E é por isso que você é que vai mata-la. Quero sua prova de que é realmente fiel ao governo e pode passar por cima de seus sentimentos.
— e o que eu tenho que fazer?
— leve ela pra bem longe. Acredito que ela retribua os sentimentos, então vai ser fácil. — Ela pegou uma caixa. — Ao chegar à floresta, coloque o coração dela nesta caixa, como prova de sua lealdade.
— E se eu não quiser fazer?
— posso mandar te matar por traição.
— sim, majestade.
[...]
Seulgi forçou uma missão que deveria ser cumprida pela princesa, para poder tirar Winter de circulação.
Era bom sair pelo palácio e ter reverência dos súditos. Sorrisos e beijos lançados de longe.
A rainha não costumava caminhar pelas redondezas do palácio, e por não ter a presença de sua enteada, sentiu-se mais livre para monopolizar toda a atenção dos súditos.
A mulher tomou seu desjejum habitual – que lhe pareceu mais apetitoso naquela manhã - e pediu a companhia da cavalaria, para poder passear um pouco pelo bosque.
Queria andar pela floresta comunal, e verificar como estava sua popularidade entre os camponeses.
Contudo, ao chegar ao aras, percebeu logo de cara que os cavalos estavam agitados.
— O que foi?
— Não sabemos... mas teve uma movimentação nas folhagens agora a pouco.
O coração de Seulgi disparou.
— Acredita que foi alguém caçando?
— Provavelmente, majestade. — O homem alertou.— não acho uma boa ideia ir lá agora.
— tudo bem, posso dar uma volta aqui mesmo.
— vai levar a Tempestade junto?
— vou sim.
— não acho que seja adequado montar nessa situação...
— Vou andar lado a lado com Tempestade. Vai ser bom acalmar minha égua.
— Como quiser, Majestade. — Curvou-se
Seulgi dispensou o cavalariço, mas resolveu continuar com sua roupa de montaria.
Puxou a rédea da égua com muita delicadeza, pois tinha um apreço especial por aquele que tinha sido seu presente de casamento de sua mãe, uma burguesa humilde.
Quando Seulgi percebeu que o rei procurava uma nova esposa, e que não precisava ter origem nobre, ela agarrou aquela oportunidade com as duas mãos.
Tinha conquistado Kei com seu charme e beleza, sabia disso. Não se orgulhava do que teria que fazer pra se manter ali, mas não deixaria sua maior conquista escapar.
Contudo, um puxão forte da égua a fez vacilar.
— Tempestade! — ela voltou a atenção pro animal. — O que foi?
A égua começou a firmar sua ferradura no chão e Seulgi percebeu que havia um rastro de sangue seco por entre a grama.
Um rastro que levava em direção a masmorra do castelo.
A masmorra era prisão temporária, mas ultimamente era utilizada pelos guardas do palácio para limpar os animais de caça.
Seulgi amarrou o cavalo no cocho mais próximo, e se aproximou da entrada da masmorra.
Surpreendeu—se em ver que a grade principal estava aberta.
— Heeseung? — ela murmurou. — já voltou?
Um gemido masculino ecoou do fundo de uma cela.
A rainha se aproximou e viu um rapaz acorrentado. A blusa branca estava praticamente de tanto suor, e havia um pouco de sangue na altura da coxa.
ro perceber que não é estava mais sozinho, o homem estreitou os olhos, e ao percebeu que era uma silhueta feminina, abriu os lábios com dificuldade.
— P-por favor, me ajude!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro