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⏳. Os remédios estão fazendo efeito (extra)

🕙 Namjoon.

Não faça isso. — A voz dela me parou no meio do caminho. — Não faz isso, Nam.

— Só queria te dizer para pegar seu cobertor. Você girou até ele cair no chão. A noite está muito fria para ficar destampada.

Sonolenta, ela se sentou na cama e acendeu o abajur. Seus olhos quase se fecharam no primeiro instante. Suas mãos subiram aos cachos bagunçados e fizeram um coque desengonçado, e em seguida ela coçou os olhos e me encarou por alguns segundos. Deu um suspiro profundo antes de voltar a falar.

— Te pedi pra ficar no outro quarto.

— Eu estava no outro quarto. — Expliquei, andando para mais perto, enquanto ela pegava o edredom caído no chão. — Mas achei que você pudesse ficar refriada.

— Não sei porquê esse edredom fica caindo. Nunca fui de me destampar a noite... — Eu sorri.

— Quando eu dormia do seu lado não deixava você ficar desconfortável de maneira alguma. Mas, você sabe como a vida é... — Dei de ombros, checando se o cobertor estava cobrindo todo o corpo dela outra vez. — Me colocaram para dormir no outro quarto.

— Sabe o motivo pelo qual eu te pedi para fazer isso.

— Eu sei, mas não precisamos falar disso agora. Durma, amor. — Meus lábios encostaram em sua cabeça por alguns instantes, e ela se deitou em seguida. — Eu vou ficar de olho, só caso o edredom caía outra vez.

— Vai pro outro quarto, Nam. Deixa isso pra lá...

— Por quê? — Estava frustrado. Não queria vê-la se afastando cada dia mais. Não conseguia ver isso. — Eu compreendo que não me queira mais tocando em você, nem que eu durma do seu lado. Mas pelo menos, nem que seja de longe, me deixa cuidar de você...

— Não posso. — Seu corpo se virou de bruços e ela afundou o rosto no travesseiro. — Não consigo mais olhar pra você, minha cabeça dói tanto...

— Você sabe que dá tempo de parar com isso.

— Logo agora? — Deitou o rosto de lado para que eu a ouvisse melhor. — Não posso parar agora.

— Claro que pode.

— Não dá, Nam.

— As vozes já sumiram. Você sabe disso. Logo, logo, nem meu toque você vai sentir mais.

— Me desculpe, anjo. — A luz ainda acesa do abajur me permitiu ver uma lágrima dela molhando o lençol. — Me desculpe.

— Tá tudo bem. — Me sentei do seu lado. — Tá tudo bem.

— Não tá, não. — Falou baixinho. — Vou te perder. Eu não quero isso, mas eu preciso. Entende? Eu preciso, preciso...

Shh, não diga mais nada.

Entrei debaixo dos lençóis, ouvindo seus soluços baixinhos. Me perguntei qual seria a dor que ela estava sentindo no momento: se era culpa, se era medo, se eram as duas coisas. Acomodei-a mais para perto, sentindo seu cheiro e seu corpo.

Precisava daquele corpo.

Precisava sentir os movimentos de perto, ouvir as batidas do coração, sentir suas mãos junto das minhas; precisava dela cada vez mais. Precisava de qualquer detalhe do seu ser que me mostrasse que eu ainda não a havia perdido.

— Minha cabeça dói quando você tá perto, Nam.

— Eu sei. Sinto muito. — Segurei a respiração por alguns segundos.

— Vai estar aqui quando eu acordar?

— Você quer que eu esteja aqui? — A encarei.

— Não.

— Tudo bem.

— Minha cabeça dói...

— Durma, amor. Durma. — Encontrei lugar no vão de sua clavícula e seu ombro, e morei ali por alguns instantes.

Ouvia as batidas do seu coração se acalmando devagar, e aos poucos ela caiu no sono. Mas antes de me levantar e ir embora dali, ela sussurrou bem devagar uns segundos antes de dormir completamente:

A doutora disse que os remédios estão fazendo efeito.

Ainda era cedo. O sol havia acabado de nascer quando ela se levantou. Estava estranha, seus olhos não tinham brilho nenhum. Cheguei no quarto a tempo de vê-la colocando a pílula na boca, mas não cheguei rápido o suficiente para impedi-la de fazer isso.

— Ei... — Ela me olhou e sorriu triste. Se desfez das cobertas enroladas dentre suas pernas e se levantou de uma vez da cama. Andou passo a passo segurando na parede, e pude imaginar o quanto seu cérebro estava rodando mais devagar naqueles dias, por culpa dos efeitos colaterais das medicações. Quando chegou bem perto, as costas de sua mão subiram ao meu rosto e fizeram-me um agrado na bochecha, então desceram até meu queixo e o apertou devagar, como ela sempre fazia quando estávamos bem.

Mas nós não estamos bem. Nós estamos morrendo.

— Eu tenho alguns minutos antes de você sumir.

— A gente podia tomar um café juntos, pelo menos... — Tentei dar a ideia, mas ela negou.

Não dá tempo. O tempo nos impede de muita coisa... — Ela retirou as mãos do meu rosto. — Preciso te esquecer. Mas é que eu não sei o que faço para conseguir...

Suspirei, e olhei nos seus olhos, tentando me conectar uma outra vez com seus planetas.

— Então não me esqueça. Fica comigo. — Segurei-a pela cintura e voltei a trazer seu corpo pra perto uma outra vez. — Fica comigo, amor.

Nossas testas se encostaram, e eu senti sua respiração em meu rosto. Pensei que talvez ela gostaria que eu fosse real para poder sentir minha respiração também. Suas mãos estavam sob meu peito, e logo ela encostou o rosto ali, fechando os olhos. Meu nariz se afundou dentre os fios negros, e eu senti vontade de dizer alguma coisa. Não sabia o que era, mas eu queria falar. Porém, antes que eu continuasse alimentando aquele silêncio indesejado, sua voz apareceu pelo cômodo:

— Não quero que pense que te odeio. — Me encarou. — Não te odeio. Eu te amo. Mas, por favor, para de insistir nisso...

— Quer que eu esqueça que você me ama?

— Quero.

— Por quê? Nada está fazendo mais sentido, Ágape. Nada.

— Vai doer. Acredite em mim, Joon. Vai doer. Daqui uns dias já não vou mais ver você. Nem por dez minutos. Então eu te imploro um espaço. Eu te imploro que me dê espaço, para que eu possa me preparar pra esse dia. Tenho que me acostumar sem você.

— Não. Não dá, não posso desistir de você assim. Ágape, não dá. Posso não ser real lá fora...

— Joon.

— Mas sou real dentro de você, não sou? Isso que tem que importar. Se você está me vendo, se está me sentindo. — Eu andava pelo quarto tentando colocar para fora todo o tipo de sentimento esquisito que eu não fui criado para ter. — Eu vou lutar, e não espere menos de mim. Não vou te deixar, não assim...

— Eu estou implorando, Nam. — Ela se aproximou de novo. — Eu estou implorando para parar de lutar. Para de tornar isso mais difícil, droga. — Suas mãos agarraram alguns fios de seu cabelo, e ela os puxou com força. — Só para, por favor.

Meu peito doía. Minha garganta ardia e eu queria gritar. Ela deixou uma lágrima escorrer, e automaticamente minhas mãos subiram de volta para seu rosto enxugando sua lágrima, ao passo que me aproximava mais.

— Não consigo, não dá pra deixar você.

— Eu amo você, Joon. Eu amo você. — Sorriu. — Mas doutora disse...

— Não diga isso. Não diga...

— A doutora disse que os remédios estão fazendo efeito.

Ela me beijou. De novo e de novo, levando as mãos para meu cabelo. Nossos mundos se colidindo, o real e o não real juntos como um só. Senti tanto a falta dela que me perdi ali. Me perdi em cada maldita célula verdadeira que ela tinha em seu corpo. Mas então, um vazio se fez. Cerca de dois dedos de distância separavam seus lábios dos meus, e eu sentia que iria explodir se não voltasse a beijá-la.

— Quero tempo. — Sussurrou.

Aquela palavra.

— Preciso de tempo, Namjoon.

— Tempo? Você não gosta do tempo.

— Um dia terei de encará-lo, e preciso disso agora. É a única vez que te peço isso, Nam. Única vez. Me dê tempo.

Doeu, muito. E então, pela dor, me obriguei a acenar que sim. Duramente, a prometi uma parte da minha própria morte.

— Obrigada. — Falou bem baixinho, beijando meu rosto uma outra vez.

Se afastou de passos em passos até sumir pela entrada do banheiro. Trancou a porta, e logo eu escutei o barulho do chuveiro. Aguardei até sua saída de lá, porém, quando pisou porta a fora, ela já não era ela mais.

— Ei, a gente pode rever as coisas uma outra vez... — Tentei falar, mas ela passou reto.

A toalha enrolada em seu corpo molhado, o cabelo pingando água pelo chão. Os olhos aéreos com tudo ao seu redor, como se mais ninguém além dela estivesse ali. Ela andou até as gavetas e tirou de lá alguma roupa que gostasse. O mesmo vestido de sempre, de quase todas as vezes nas quais ela não queria fazer nada.

— Ágape? — Tentei uma outra vez, mas a única coisa que ela fez foi sair dali, como se nada importasse.

Andou até a cozinha e procurou alguma tigela nos armários, fazendo a típica bagunça que ela não sabia evitar. Ligou o fogão, e quando quebrou um ovo sobre a frigideira, eu tentei me aproximar. Cheguei a tocar seu ombro, mas a pele dela não se arrepiou. E então eu compreendi que meu mundo e o mundo dela já não eram os mesmos, não mais.

Tentei digerir aquilo. De diversas formas, eu tentei. Mas a vida não parecia ser vida no momento em que eu pensava nesse apartamento sem um "nós". Nada parecia ser alguma coisa importante.

Meus olhos se pararam em seu corpo uma outra vez. Ela é tão bonita. Os olhos não tão pequenos expandiam o brilho de dentro dela, trazendo tudo de bom para fora. Lábios bonitos, bem contornados até certo ponto, mas logo se perdia no canto direito por culpa de uma falha que só fui conhecer depois que a beijei pela primeira vez. O cabelo cacheado — quase sempre bagunçado — leve como uma pluma; cada curva do fio era uma batida forte de frente com um caminhão. As unhas geralmente eram pintadas com algum vermelho vivo, mas dessa vez não tinham cor. E no fim, sua pele, abençoada com o brilho da noite, refletindo por seus poros a escuridão da madrugada, respiração de alguma deusa grega exótica. Cada cicatriz em suas pernas até as estrias, que subiam pelas coxas como os formatos das ondas do mar. E sem esquecer a tatuagem de relógio bem desenhada e perdida pela sua cintura. Cada detalhe dela que eu conhecia como as pontas dos meus dedos...

Cada detalhe que ia embora de mim à cada pílula que ela ingeria.

O tempo doía. Lacerava. Arranhava meu corpo inteiro por dentro, e eu sentia que iria me afundar no chão por culpa do peso de carregar seus segundos. Talvez seja algum tipo de castigo. Eu conseguia sentir o gosto da angústia na ponta da minha língua. Conseguia sentir minhas mãos tremerem e meu mundo cair bem devagar; pedacinho por pedacinho. Naquele instante, cada um dos cantos do apartamento grande gritavam um silêncio ensurdecedor, e eu não conseguia lidar com aquilo. Não conseguia olhar para os lado e ver que eu estava sozinho.

Era como se eu houvesse comido um relógio no café da manhã. O barulho do tique-taque batia na minha cabeça tão forte que eu poderia jurar não estar raciocinando direito. Sentia o tempo passar tão rápido que meu estômago gelava. Mas, ao mesmo tempo, estava tudo devagar. Os segundos se arrastavam com dureza, como se uma hora fosse um minuto. Eu queria gritar, mas me faltava voz. Queria ter coragem para levantar a postura e lutar contra todos os relógios que me fosse possível, mas o tempo me batia antes disso.

Eu caía. Caía e me deitava sobre um tapete lotado de ponteiros, e todos diziam que meus segundo de respirações falsas acabariam antes que eu pudesse contar as horas.

Estava sozinho. Meus olhos rodavam pela sala e eu não via meus quadros mais lá. Não via meus diários, não via meus registros. E então tudo me veio à tona; eu não existia mais ali. Pelo menos meus registros não existiam. Nada que dissesse que um dia eu fui real, nada que relembrasse Ágape de todos os segundos não tão infinitos que tivemos juntos. Nada. De repente eu não era nada mais do que mero fruto de imaginação. E isso nunca doeu tanto quanto agora.

E então, quando achei que me afogaria naquele bando de sentimentos estranhos, ouvi o barulho da porta se abrindo. Silêncio. O tique-taque não estava mais lá; as dores desapareceram como quem corre do medo. E quando olhei para a entrada da sala, vi um tênis azul que ela gostava e aquela blusa branca que usou um dia antes da sua formatura. O cabelo estava bonito, até uma fita vermelha estava amarrada ali.

"Onde você estava?" — Eu queria perguntar. — "você está me vendo? Pode me beijar, por favor? É que eu quase morro de tanto doer o vazio do abraço que você não me dá mais." — Mas não posso pedir nada.

Ela não escuta. Ela não vê. Ela não sente. Isso tem acontecido direto há quatro dias. Sua respiração não é mais compassada com a minha, seus olhos não brilham mais pra mim. E a cada dia, a cada segundo, me sento sozinho na cadeira da sala de jantar e me alimento de alguma brincadeira que faço comigo mesmo, só pra tentar suprir a falta das risadas dela enquanto ela cozinhava alguma coisa.

Me pergunto se ela tem estado bem. Me pergunto se ela sente saudades da época em que dançávamos na varanda. Me pergunto se ela se vê num vazio tanto quanto eu. E me pergunto se ela está em um universo alternativo onde ela é feliz de verdade. Ela deixa as chaves em cima da mesa de centro e vai até a cozinha. Enche um copo com água e bebe cada gota, lavando o copo e as mãos em seguida. Na volta para sala, se sentou no sofá, bem do meu lado. Não tão perto, eu estava em uma ponta e ela em outra, mas não tão longe o suficiente para me impedir de sentir o cheiro de algum creme que ela passou no cabelo.

Ligou a televisão e surfou de canal em canal. Os olhos não prendiam interesse em nada, então ela suspirou e deixou em alguma coisa qualquer. Se acomodou mais, quase se deitando ali. Fechou os olhos e chorou. Foi tudo tão rápido que não consegui entender. Queria ter alguma ideia do que aquelas duas lágrimas silenciosas significavam, mas eu não podia chegar muito perto. Prometi tempo, prometi espaço. E mesmo que quisesse descumprir isso, os remédios não deixariam que ela me vesse uma outra vez.

Sabendo que ela não me sentia, sentei do seu lado, mas não disse uma palavra. Eu podia jurar sentir seu coração implorando para que ela cedesse. Eu podia jurar sentir nas pontas dos dedos ela voltando, deixando de lado todas aquelas cartelas com nomes difíceis. Mas ela nunca cedia.

Porém, mesmo que não parasse com os comprimidos, eu sabia que ela não estava bem. No instante em que a olhei, pude ver que ela estava tão vazia quanto eu. Enganava bem esse seu lado feliz, andando por aí com fitas coloridas no cabelo, seu sorriso encantando as esquinas. Mas ali, encolhida, chorando no sofá, eu sabia que ela já não era mais a mesma pessoa. Sussurros saiam de sua boca, e começaram a ficar altos. Logo percebi que ela conversava com o vento, e então escutei com clareza as sílabas saindo de sua boca.

— Sinto sua falta. — Fungou. — Não sei onde você está, mas eu sinto sua falta. Não era pra ser assim, Nam, não era pra ser assim... A doutora disse que ia ficar mais fácil com o tempo, mas a ideia de estar matando você torna tudo tão difícil... — Ela tremia.

Eu cheguei a abraçá-la. Eu cheguei a sussurrar em seu ouvido que a estava escutando e que eu não tinha sumido ainda. Mas ela não sentia, nem escutava. Ela nem sequer tinha ideia de que eu ainda a amava mais do que os segundos podiam me impedir, e eu não fazia ideia do que fazer para que ela ficasse sabendo disso.

Cheguei a conclusão mais tarde que essa escolha vinha dela. Observei seus passos pela casa, pensativa. Enxugava uma ou outra lágrima que voltava a tentar cair. De repente, foi dormir. Mas não a vi tomando o comprimido branco e pequenininho que a fazia não acordar de madrugada. Apesar disso, ela dormiu bem. E quando acordou, não a vi tomar nem a pílula branca de 20 miligramas, nem a outra metade branca e metade azul que a fazia parar de tremer. E mesmo sem elas, ela não tremeu naquele dia. Mais tarde, a pílula azul que a impedia de ouvir as vozes também não foi ingerida. E durante várias horas, não a vi implorando para que nenhuma voz calasse a boca ou a deixasse em paz. Depois, a pílula vermelha com laranja. A que eu mais odiava. A que não a deixava me ver, nem me sentir. A maldita pílula que a enchia de dor de cabeça e náuseas no começo do tratamento. Ela não tomou a pílula vermelha com laranja. E como todas as outras coisas, ela também não me viu.

Mas me sentiu.

E eu sei disso porque minhas mãos estão segurando as suas agora. Ela me sente, e isso é o suficiente.

— Joon? Joon-ah?

— Eu estou aqui.

— Não te vejo.

— Ah, eu vejo você. — Sorri. — E você está linda.

— Eu sinto a sua falta... eu sinto...

— Eu sei, amor. Eu sei.

— Sinto seu cheiro.

— Sente? — Me aproximei e toquei sua bochecha, ela fechou os olhos.

— Cheiro de chuva. Cheiro do ar. Cheiro das árvores lá fora. Céus, Joon.

— Sinto seu cheiro também. — Cheguei mais perto. — Por quê você não tomou os remédios?

— Eu tô com medo, Nam.

— Medo do quê?

Ela não respondeu.

— O que acontece com você quando eu não te vejo? — Sua voz era curiosa, enquanto seus olhos me procuravam no vácuo espaço daquele quarto.

— Às vezes eu não vejo nada. E às vezes eu vejo coisa demais. É estranho.

— Dói? — Ela olhava para as próprias unhas, com jeito de quem já sabe a resposta.

— Muito.

— Me desculpa, Nam. Me desculpa.

— Tá tudo bem, amor. Tá tudo bem.

— Para de dizer isso, Joon. Para. Nada tá bem, tá tudo voando pelos ares. E é culpa minha. — Soltou minha mão e andou para mais longe.

— Se você sente tanto pesar, por quê não para com isso?

— Não dá, não agora. — Engoliu seco. — Nós mudamos demais...

— Mudamos? — A encarei, mesmo que ela não soubesse. — Nós não mudamos.

— Mudamos sim, Joon. — Sua voz começava a se alterar. — Nada é mais igual a antes, e mesmo que eu parasse com os remédios, nada voltaria a ser a mesma coisa.

— Não entendo o motivo pelo qual seria assim.

Já nem sinto seus beijos mais, Nam. O quanto de nós ainda vai se desgastar até que não sobre nada?

— O que você quer? Se queria me evitar, porquê não tomou os malditos comprimidos coloridos, droga?

— Eu estava com medo...

— De quê, Ágape? Medo de quê? Eu não posso te ajudar se você não me falar o que há.

— Eu... — A voz falhava, e logo ela parava de falar.

— Você... ?

— Eu conheci alguém. — Silêncio. — E sei que ele é real porque, pela primeira vez, tive certeza da respiração dele.

— Conheceu alguém? — Eu não sabia falar. De repente, era como se todos meus sentidos mais básicos fossem roubados de mim.

— Conheci. Por isso queria falar contigo. Eu preciso...

— Conheceu alguém?

— Ai, Joon...

Se permitiu cair naquele colchão duro e tapou o rosto com as mãos.

Eu não sentia nada. Nada. E isso era assustador. Há anos eu vivia só pra ver seus olhos brilharem quando eu a abraçava, e no instante, nada daquilo fez mais sentido. Talvez porque algum motivo da minha existência tenha sido quebrado na minha frente, ou talvez porque eu nunca senti nada na realidade. Talvez tudo seja falso pra mim também. E quando olhei para ela e vi seu corpo jogado a cama, olhando pro teto enquanto uma ou outra lágrima desciam pelo seu rosto bonito, não quis abraçá-la. Pela primeira vez eu quis sumir. Pela primeira vez, não entendi o que eu estava fazendo ali.

— Eu amo você. — Ela sussurrou, e então me senti mal. — Amo você, Joon. Mas quando você sumir, não vou remoer sua falta pra sempre.

Você não me ama, Ágape. Não me ama. Se me amasse, entenderia que preciso de você pra ficar aqui, e você ficaria comigo. Se me amasse, não tomaria pílula nenhuma. Se me amasse...

— Me poupe disso. — Ríspida. — Me poupe dessa merda toda. Tá falando tanto para eu pensar em você, mas desde que tomei o primeiro comprimido, você não abriu a boca pra falar de mim.

— Você?

— É, eu. Não entende? Preciso deixar você ir. Preciso te tirar de perto de mim, ou vou me condenar a morrer por mentiras, Nam. Eu mereço mais que isso.

— Você não me criou pra te deixar...

— Eu já te pedi tanto, Nam. Não consigo mais. Talvez, se você fosse por conta própria, nada disso doeria tanto assim em você.

— Pare de me pedir isso.

— Joon, eu preciso...

— Para de me pedir isso. Para, porque eu te amo, droga. Eu te amo. E se você me pedir outra vez pra ir embora, eu vou. Se me pedir pra parar de te impedir de engolir aquelas pílulas, eu vou parar. E se quiser que eu pare de te cobrir com a porcaria do cobertor, eu passo longe do seu quarto. Eu sou fraco, Ágape. Sou fraco. Então eu junto a pouca coragem que tenho e te peço pra parar, porque se você me olhar outra vez e me pedir pra morrer, eu vou morrer por você. Basta pedir. Então eu te imploro, Ágape. Pare.

O ar condicionado gelava o quarto. Eu não sentia isso, mas o barulho dele ligado era o único barulho por ali, então imaginei que estivesse gelado. A pele dela estava arrepiada. Seus olhos estavam fechados, mas ela não ficou muito tempo na mesma posição.

Se levantou da cama ainda sem dizer nada, andou até a gaveta da prateleira e puxou de lá o Olanzapina*. Ela ia me esquecer uma outra vez. Tirou ele da cartela e pegou uma garrafa d'água que também estava por ali.

— Eu preciso te deixar ir. Vai doer, Nam. Mas eu não posso fazer nada.

— Se um dia eu for, Ágape, não sei se vou voltar.

— Você vai voltar. De alguma forma. Como voz, como alucinação, como sonho... — Ela fechou a garrafa e puxou da prateleira seus fones de ouvido. — Você significou muito, Nam. Você significou tudo. Mas as coisas já não são mais assim.

— Me ver é um dom, amor. — Se afundou no meio das cobertas. — É um dom tão bonito.

— Passar por isso não é um dom. É uma dor, Namjoon. Passar por isso é triste.

— Quando me criou... — Eu podia ouvir minha voz em algum segundo plano, enquanto perdia meus sentidos aos poucos. — Me prometeu amor.

— Quando eu te criei, — Se deitou na cama uma outra vez, desenrolando o fio branco. — Não sabia que doeria tanto.

— Teria mudado de ideia se fizesse tudo outra vez?

— Não. De alguma forma, eu te amei em cada detalhe falso que tá no seu corpo. Eu te amei e te criei, te contornei enquanto escutava as músicas mais bonitas pra não ver o tempo passar, te senti da forma mais segura que já senti alguém. Foi tudo lindo, Nam. Foi lindo. Mas o tempo acabou...

— Ágape? — Minha voz sumia dali.

Os remédios estão fazendo efeito.

Uma vez eu disse pra ela que ela poderia ser tão infinita quanto quisesse ser. Eu contornei cada detalhe do seu corpo em seguida, assistindo ela se tornar uma junção de coisas inexplicáveis, tão inexplicáveis que ler sua pele já não era mais uma simples leitura poética; agora era uma arte desvendar mistérios que dançavam no meio do vendaval de sua alma. Ágape se tornou uma palavra indefinida, um átomo pequeno na Terra que ainda não pôde ser estudado. Ágape brilhou mais que todas as estrelas no céu, mas então, eu a perdi.

Escapou das minhas mãos como areia do mar.

Um dia, há muito tempo, eu fui um livro. E ela me leu da forma mais bela que eu sei que poderia ser lido. Ágape me mostrou que os segundos fogem da gente, e que se ligarmos muitos para o que eles dizem, deixamo-nos ser levados por horas sem que a gente veja. Um dia, eu fui um livro. Um dia, Ágape me escreveu.

Mas agora, ela está na frente do espelho. No celular toca alguma música que não me foi apresentada, mas minha garota dança ao som daquela voz desconhecida como se o mundo fosse a coisa mais feliz na qual ela já viveu. Suas mãos ajeitam os fios cacheados, separando-os, encolhendo-os, cacheando-os ainda mais. É uma completa obra prima. Enfeitiçada naquele sentimento, a música se acaba. Ela sai dali, e começa a andar. Passa do meu lado, mas não nota minha presença ali.

Ela já mal sabia quem eu era.

Eu já mal sabia quem eu era.

Éramos fantasmas agora. Pelo menos, eu era. Ela ainda tinha a pele negra, o sorriso na boca e nos olhos. O coração dela ainda batia, seu batom favorito ainda estava no rosto. O vestido florido e o tênis preto, as meias confortáveis. Ela ainda era ela. E eu, ainda era eu. Mas agora, provando o sabor da morte, mesmo que eu nunca vá morrer de verdade. Minhas mãos ainda suavam, mas não era mais pelo mesmo motivo bom de dormir ao lado dela. Meu corpo ainda tremia e meus lábios ainda pediam um beijo seu, mas me meti em um mundo onde os beijos dela não são tocáveis.

Eu era só um espectro andando por um quarto onde uma alma bonita não me via.

A sensação de estar se perdendo de si mesmo é esquisita. Tem um gosto estranho. Eu não sentia mais meus pés. Nem sentia mais minhas mãos. O relógio parou de rodar. Uma chuva molhava meu rosto, e então eu chorei por ela. Chorei por ela, quem não me sentia mais. Chorei por ela, quem não me via mais. Chorei por ela, a quem não pedia mais meus beijos, nem me perguntava se o real e o irreal eram tão errados assim. Chorei por ela, porque ela tomou a última pílula da cartela. Seu telefone tocou, e então eu chorei porque ela atendeu a chamada.

— Oi! — Sorriu bem grande, andando até a janela. — Eu estou vendo seu carro. — Fez silêncio um instante, pegando a bolsa no sofá. — Claro, amo comida Italiana!

Chorei por ela porque os remédios fizeram efeito...

— Tudo bem, te vejo em cinco minutos, Mat.

... E o tempo não fez nada pra impedir isso.

*Olanzapina: Medicamento antipsicótico para pacientes com Esquizofrenia.

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