É inerente ao ser humano querer ser lembrado. É inevitável sonhar em fazer algo tão grandioso que acaba por ficar nos livros de história. A ideia de ter seu nome na mente de outras pessoas, mesmo que estas saibam não saibam nem um milésimo do que você fez e pensou enquanto não fora engolido pelas areias da ampulheta que rege todos nós tem um grande apelo.

Há muito iniciamos a batalha contra o tempo, a ideia de que, se não formos lembrados, podemos muito bem nunca termos sequer existido. E esse sentimento íntimo e profundo de desolamento nos acompanha em cada passo de nossa procura pelo grande feito que mudará não nossa vida, mas nossa morte.

Por isso, muitas vezes nos forçamos a criar o máximo que podemos, todos os dias, sem parar. Afinal, com tantos tiros, um deles tem que acertar o alvo.

Espero partir não pela busca de um grande talvez, mas com a certeza de que terei minha história contada, afinal, a vida pós morte mais concreta é aquela onde temos nossa existência prolongada através de nossos feitos.

Este texto, que pode ser ambos minha bala da sorte ou só mais uma tentativa pretenciosa de sê-lo, é apenas um de muitos, e todos, contudo são a mesma coisa. Um pedido por piedade perante os efeitos do tempo, perante as engrenagens desse lugar misterioso que chamamos de universo.

Quero gritar que estou aqui. Quero gritar que fui alguém, que vivi, que amei, sorri, chorei e dancei. Quero deixar uma marca para assegurar-me de que não fui só uma ilusão, uma chama que se apagará tão rapidamente que poderia nunca ter existido.