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A minha Primeira Tentativa de Entrar na RDC

A minha primeira tentativa de entrar no Congo!

Era um domingo soalheiro. Por ser muito cedo resolvi ir até à fronteira entre Angola e a Republica Democrática do Congo. Os Domingos aqui são como o nosso antigamente. Cada um veste a sua melhor roupa para ir à missa ou ao culto envagélico.

Porém, como dizia a minha saudosa Mãe, «Deus não dorme!», tive uma das peripécias mais engraçadas desta minha curta estadia.

Estando a cerca de 10km da fronteira do Congo, lá vou eu estrada a fora. Até chegar à famosa linha existem dois postos fronteiriços. O primeiro é da Policia Fiscal e o segundo da Guarda Nacional.

A situação social no Congo sempre foi tumultuosa, principalmente nas zonas de fronteira, para não falar das doenças mortais que de lá chegam. Mas o «risco» sempre foi um aliciante para mim e porque não tentar.

Como era Domingo ia efectivamente todo janota. Para além do cabelo, levava uma camisa branca e um lenço azul a substituir a gravata, que detesto. Até nas calças sobressia a cor clara o que me esbranquiçava totalmente.

Cheguei então ao primeiro Posto. A Policia Fiscal. A cancela só ocupava metade da via, mas estava um cone vermelho e branco mesmo à minha frente. Não se encontrava ninguém. Podia ter desviado o cone e prosseguir. Mas achei mais prudente buzinar.

Apareceu-me uma jovem policia, com jeans e polo. Era Domingo, dia de descanso. Perguntou-me onde queria ir. Ficou com uma expressão apreensiva:«Não acho boa ideia. Tem mesmo a certeza?»

Obviamente que sim. Era mais um país que riscava na minha lista. Enquanto a sensatez da Sra Policia me fazia pensar, o borbolhar da adrenalina só queria mesmo avançar. Pede-me então para revistar a viatura. Entreguei-lhe as chaves e deixa-a ver o que pretendia.

A famosa garrafa de litro e meio geladinha, que aprendi com os meus ex-colegas da Internacional, é sempre uma forma atenciosa de agradar os policias, nestas bandas. E efectivamente não hesitou:«Posso levar?»

Uma garrafa destas para quem está no mato é um luxo. Normalmente usam os rios e lagos para se abastecerem, apanhando por vezes doenças tropicais graves.

Mas não ficou por aqui. Era mesmo melhor falar com o chefe.

Então lá fui. Entrei no posto que muito provavelmente foi feito no tempo da nossa administração. Tinha uma zona de camaratas, um django, messe e uma parada com a Bandeira da Républica de Angola hasteada. O chefe era um homem com cerca de 50 anos. A subordinada apenas me o apresentou e que lhe explicasse o que pretendia.

Repeti a lenga lenga, e a sua expressão foi identica à da rapariga: «Não acho boa ideia!». No seguimento da minha insistência relectia que aquilo não tinha nada de interesse.

«Vou apenas tirar umas fotos. Nada mais que isso.»

Isso é que nem pensar. Fotos naqueles sitios é petisco para crocodilos.

Mas ia tentando até que me pede o passaporte:

«O passaporte fica comigo. No regresso devolvo!»

Ora este aviso, sensato, fez-me cair na realidade. Nunca se anda sem passaporte nestas zonas. Provavelmente nem haveria regresso. Vendo a minha cara de desconsolo informou-me que há dois dias na semana que podemos ir até à linha de fronteira a uma feira onde angolanos e congoleses trocam produtos, sendo o mais famoso a banana-pão. E, sugeriu-me para vir acompanhado. Mas atenção às fotos!

Tive de lhe agradecer. Efectivamente o insensato do europeu esbarrou no pensamento do «Tchokué». Voltei ao carro, onde por baixo do django já estava pronto a servir o «mata bicho» com a água fresca engarrafada. Disse adeus à guarnição e voltei.

A lição a tirar desta aventura é que a experiência aprende-se de quem menos esperamos. E a ideia de que andar em terras remotas onde não há principios e só existem cobras e crocodilos não passa de um mito.

Avistando o Congo, 1 de dezembro de 2019

António José Alçada

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