⇝ CAPÍTULO 01: Um novo parceiro
Oliver havia ficado desleixado desde o sumiço de sua mãe, e tampouco se preocupava com coisas banais. Seu quarto, agora já estava bagunçado, e sua aparência já ganhava alguma diferença. Seu cabelo, por exemplo, já havia crescido alguns centímetros, e ele possuía uma pequena espécie de franja.
Mas de qualquer modo, ele ainda tinha noção de certas coisas. Havia acordado cedo e já estava preparado para deixar sua modesta casa rumo a Academia, após as férias pouco prolongadas devido aos acontecimentos passados.
Eskkad sentava-se frente à janela, como se esperasse pelo retorno de Luna a qualquer momento, como num passe de mágica, mas não aconteceria assim. Não era assim, e ele sabia.
— Já está indo?
— Sim. – respondeu Oliver secamente, sem sequer olhar para seu pai, que agora cortejava um início de barba grossa no rosto claro.
Oliver bateu a porta, sem remediar, para ir embora, mas ainda pôde ouvir seu pai resmungar em voz baixa. Estou cansado disso, disse o homem, de forma solitária, sentindo-se culpado.
O garoto suspirou fundo do outro lado da porta. Estava mais cedo que o de costume, portanto, caminhou por áreas até então desconhecidas por ele, fazendo com que o tempo passasse. Endereços desconhecidos, como a Praça do Peixeiro, e o Portão de Pedra foram descobertos por ele, e no primeiro, um senhor de cabelos longos acenou, como se o conhecesse.
Era de se esperar que a história em que o mesmo foi envolvido já estivesse na boca de muitos, e assim foi. Mesmo com as ruas não estando lotadas, muitos cidadãos o olhavam curiosos, mas ele preferiu não dar atenção, olhando reto e tomando a direção definitiva para a Academia dessa vez.
Por incrível que pareça não fazia frio naquele momento, e quando Oliver apontou próximo a entrada do local de destino, o inspetor o esperava, com suas vestes cinzas.
— Bem vindo. – disse com um sorriso curioso. — De volta, claro. – concluiu.
Oliver acenou com a cabeça, e Salazar o acompanhou lado a lado até o interior. A Academia praticamente não havia mudado. A grande estátua permanecia por aquelas bandas, ambos os recipientes com água, também, mas o chão eu tenho que admitir que estava bem mais limpo que das últimas vezes.
— Ignore os idiotas que estiverem o olhando. Faça assim, não dê atenção a eles. Muitas pessoas não aguentam com o sucesso alheio. – comentou com um tom raivoso, mas em voz baixa, e Oliver o olhou de rabo de olho, sem entender bem.
De fato, o que aconteceu foi exatamente o que o companheiro havia salientado. Muitos alunos o olhavam, assim como os civis na ocasião anterior. Os professores, educadamente, cumprimentaram-no, sem dar detalhes ou deixar rastros de curiosidades.
Desses alunos, alguns o encaravam com um sorriso amigável, e outros com certo desprezo. Afinal, a fama traz certas coisas, para o bem ou para o mal.
— Houve uma reunião antes. – abriu a boca novamente. — Digo, no retorno oficial as aulas, uma semana atrás. O diretor pediu que absolutamente ninguém mudasse o comportamento diante de você, e que certos assuntos não devem ser abordados. – disse com seriedade. — Mas acho que será difícil, afinal, os jovens gostam muito de falar. Peço que tenha muita paciência a partir de agora.
Oliver concordou, mas em silêncio, e o inspetor o entregou para o diretor, que o abraçou carinhosamente.
— Seja muito bem vindo de volta, Olie. Estaremos aqui para o que precisar. E todo o corpo de professores.
Oliver, agora com certa reputação, se dirigiu a sua sala de aula, pois teria que aguentar as Runas que Virgil lecionava.
O local permanecia do mesmo modo de antes, sem nenhuma mudança, mas é claro que o cheiro de madeira, tinta e até mesmo o ar era prazeroso para quem passou maus bocados em florestas terríveis e outros acontecimentos medonhos.
Quando Oliver entrou, praticamente todos os alunos já estavam sentados, o que fez com que todos virassem seus pequenos pescoços para olharem, mas quando foram retrucados pelo mesmo, logo retornaram, mas ainda continuaram cochichando sobre o companheiro de classe, que se sentou ao lado do silencioso e diferenciado Hazael.
Minutos depois, Mya adentrou a sala, sentando-se na mesma fileira, como de costume. Estava com a mesma aparência de sempre. Seu cabelo negro e curto permanecia lindo, e sua feição destemida, intacta. É verdade que o grupelho não encarava Mya como fazia com Oliver, mas é porque a maioria dos alunos tinham um pé atrás com ela, graças a fama impiedosa de sua família.
A única coisa diferente que se podia notar – e foi notada por Oliver, era uma fita negra em seu peito direito, mas o amigo após olhar pensou bem, e não era necessário perguntar. Era um sinal claro de luto a Dumas, falecido semanas atrás.
— Olá! – um grito se fez presente. — Olá, queridos e queridas!
O homem cuidadosamente colocou sua maleta cor marrom acima da mesa. Possuía um largo sorriso no rosto, além de um cabelo escuro e espetado, e claro, vestes exuberantes e coloridas.
Ele, na verdade, parecia um homem bem confuso e bitolado, mas não devemos julgar alguém sem conhecer a pessoa.
Os alunos se entreolharam, e o camarada bateu palma uma vez. De forma suave, e de repente, surgiram em formas d'água, seis runas acima de sua cabeça.
Alguns alunos de fato não sabiam traduzir, mas diria que de cinco a oito, conseguiriam, até porque muito de seus pais ensinavam também em casa, um fator preponderante.
Assim, o professor moveu seu braço esquerdo rapidamente, e a palavra em runas se desfez em um formato de ponto de interrogação.
O silêncio permaneceu, e ele repetiu o gesto, mas arremessando a água pela janela.
— Espero que não tenha ninguém lá fora, se não, tomou um bom banho.
A frase serviu para que alguns alunos rissem, e o clima se tornou ameno.
— Caso alguém não tenha entendido, era o meu nome escrito em runas! – gritou novamente. — Mas tudo bem, vamos prosseguir.
Depois de toda essa bobajada inicial, o professor entregou seu nome originalmente, em que pese que alguns bons alunos já sabiam – a aula foi definitivamente iniciada.
Primeiro, Oliver errou absolutamente tudo que lhe foi dado. Virgil entregou quatro pedras com registros, ele foi incapaz de concluir uma.
Entendendo a situação, o mestre solicitou que Mya o ajudasse, e só assim ele desencalhou. Juntos, conseguiram acertar a tradução de três das quatros – bem, é verdade que Mya praticamente fez tudo sozinha.
Ao lado, Hazael já havia concluído as quatro, o que fez com que os lábios de Virgil ganhassem um largo sorriso.
Depois de quase duas horas, Virgil teve ainda mais tempo dado pela direção para ensinar, e levou Oliver consigo para a sua própria mesa, e detalhou muito da matéria para que o mesmo entendesse o básico, enquanto o restante da classe se debruçava sobre outros exercícios.
Além da dificuldade no estudo, Oliver ainda dividia seus pensamentos com o desaparecimento de sua mãe, o que obviamente não era fácil, de modo que, se perdia facilmente durante a aula.
Ao término, Virgil impediu que os alunos saíssem.
— Esperem. O diretor tem uma palavra a dar.
Foram longos dez minutos em que todos os jovens queriam sair de imediato e retornarem as suas casas, mas logo o querido Godric se fez presente, sempre simpático, mas viril e esbanjando seriedade – o máximo que ele conseguia, convenhamos.
— Por favor, sentem-se. – pediu educadamente. — Venho comunicá-los a respeito da formação de times para o restante do ano letivo.
Alguns alunos mudaram de expressão, mas todos assentiram ao diretor.
— Como vocês sabem, os trabalhos em trios só se iniciam no próximo ano, mas devido a acontecimentos recentes, adiantamos. Quero lhes dizer que vocês formarão trios com seus amigos de classe, mas não pensem que vocês mesmos escolherão, até porque, eu mesmo já tenho os nomes separados.
Foram muitos nomes citados, do rechonchudo Nevyl, ao louro de cabelo espetado que Oliver já havia conversado outrora. Chamava-se Nazuki. Foi da estudiosa Ravena ao baderneiro Galek. Trios e mais trios citados, até que o dono do mais alto cargo na Academia mencionou Oliver.
— Oliver, Mya e Hazael. – disse por último.
A garota olhou levemente para o amigo. Hazael permaneceu em sua quietude, com o olhar cansado e como se não ligasse para toda aquela burocracia.
— Vocês não precisam comer juntos, viverem juntos, morarem juntos... Vocês serão companheiros de time e realizarão tarefas e até missões juntos. Em breve nós daremos mais detalhes a vocês. Qualquer dúvida, entrem em contato com o corpo docente, não tenham vergonha. – bradou severamente, e se virou para ir embora. — E muito obrigado por me chamar, professor Virgil. Tenha uma boa semana.
— Igualmente, senhor. – respondeu o estudioso das Runas, que sorriu e finalmente gesticulou para a turma a saída. Estavam dispensados.
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