⇝ CAPÍTULO 05: Fortaleza Elfica
Cavalgaram por mais alguns minutos, até que a vista estava aberta com louvor. Finalmente haviam chegado ao seu destino.
Havia um grande portão de aço, diferente de tudo que eles haviam visto antes. Principalmente Mirovus e Kora, que nunca tinham visitado a casa dos Elfos. Eskkad, por sua vez, havia vindo somente em uma ocasião, mas há longos anos atrás para uma história que não cabe a eu contar aqui.
Contudo, não havia Elfos por perto e nenhuma outra passagem era visível. Além disso, havia rochas abundantes e árvores curiosas que fechavam por completo o local, impossibilitando qualquer invasão ou espionagem por parte de outras espécies.
Uma flecha cor de latão passou como uma bala, rasgando a manga esquerda das vestes de Kora, o que levou ao trio e aos cavalos uma feição de grande susto.
Um cavalo branco saiu em disparado pelas florestas que ficavam à sua direita na direção aos homens da Água e nele havia alguém. Trajado por uma roupa longa e castanha, com um lenço dourado tampando seu rosto. De seu corpo, somente seus olhos puros eram visíveis e o indivíduo parou frente aos outros.
— O que fazem aqui?
Eskkad saltou de seu cavalo.
— Viemos para ver o Rei Elfo.
— Vocês não possuem permissão para tal encontro. Devem se retirar de imediato. Passar bem.
O grande portão estalou, e se abriu repentinamente, como num passe de mágica para que o arqueiro entrasse.
— Por favor, viemos de muito longe. Somos do Reino da Água. Precisamos conversar sobre algo de sumo importância. – implorou Eskkad.
— Elementalistas da Água por aqui? Por favor, me sigam. – a figura rapidamente mudou de opinião. Não era comum um visitante da Água. Caminhou com seu cavalo à dentro e fora seguida pelo restante. A grande entrada se fechou.
A Fortaleza Elfica era um mundo a parte. Do lado de fora, não se ouvia, sentia nada. Era como se nada existisse atrás do portão prateado ou da parte rochosa.
Agora que estavam na parte interna, seus olhos corriam de um lado para o outro, como bolas de pingue-pongue.
Era como um Vale e vários riachos desaguavam pelo local. Haviam rochas colossais por toda a parte, árvores absolutamente graciosas que se esticavam pelo local e o Sol parecia brilhar ainda mais visto daquele ambiente.
Havia vigas entalhadas e milimetricamente postas em cada centímetro. Um cheiro doce estava impregnado no ar e bastava alguns segundos para que notassem que a morada Elfica era um lugar de paz, beleza e harmonia.
Os três se deslumbraram com a paisagem e ainda conseguiam ouvir o prazeroso som de cachoeiras que escorriam pelo desfiladeiro que ficava ao fundo.
Um homem alto e esguio desceu as escadarias brancas que ficavam centralizadas sob o chão brilhante e iluminado pelos raios de sol.
Vestia verde-musgo em longas roupas e um xale branco em seus ombros. Hieróglifos que só o povo Elfico entedia estavam catalogados em braceletes prateados em seus punhos, quase que invisível a olho nu. Suas orelhas pontiagudas, olhos tranquilos e vestimentas elegantes entregavam quem ele era.
— Eu estava esperando por vocês. – sua voz grossa e seu olhar fixo em Eskkad, como se o fosse comer vivo.
Eskkad, Mirovus e Kora prestaram reverências ao homem.
— Sou Galathar, Governante e Elfo Mestre de Thresgriel.
O trio respirou fundo e continuaram encurvados.
— Vejo que conheceram minha filha, Winglion. E por favor, levantem-se. Devem estar exaustos demais e não precisam prestar tanto respeito.
Kora olhou de relance para os outros dois, que se ergueram novamente.
— Nós viemos brevemente, Senhor. Não tomaremos seu sagrado tempo.
— Deixem de conversa. – Galathar acenou com suas mãos e um grupo de Elfos conduziram as montarias para o Jardim de Cima.
— Seus cavalos ficarão bem. Estarão sob nossos cuidados. Nos acompanhem, por favor.
Winglion mudou a trajetória, e os três seguiram o Governante. Kora, por sua vez, não pôde ficar em silêncio quando passaram por uma grande estátua de uma mulher. Possuía pouco mais de três metros. Uma imagem angelical, gloriosa e emponderada. Além dos longos cabelos, utilizava um grande véu.
— Elloran, a Mãe de Todos os Elfos. – comentou Galathar.
O trio prestou gestos de respeito à figura e voltaram a caminho natural do destino.
Subiram as escadarias centrais, passando por cômodos e mais cômodos reais, todos trancados.
— Por que vossa filha estava com aquelas vestes? Se me permite a pergunta, claro. Não me parece apropriada para a filha de um Elfo Mestre.
— Senhor Eskkad, já pedi que pare com tantas reverências a minha pessoa. – respondeu em alto e bom som. — Sobre minha filha, estava apenas vigiando as regiões próximas. Mas se lhe interessa, fique tranquilo, nenhum registro de criaturas malignas por perto.
Subiram por mais um lance de escadas, desta vez, revestidas. Havia quadros com imagens antigas e gravuras históricas pelos cômodos que se seguiam.
— Onde está nos levando, Senhor? – indagou Kora.
— Para se alimentarem, é óbvio. Uma viagem longa merece ao menos uma refeição para se sentirem bem.
Agora, havia mais quatro corredores e duas escadarias, uma à esquerda e outra à direita. Galathar os guiou pela esquerda, e assim, subiram ao topo do local. Um enorme tapete verde, o Jardim Espiral. Um breve chão de pedras os levavam até o centro e ao lado, pequenos lagos com vida ficavam.
Kora sentiu seu coração palpitar mais forte. Isso é o paraíso.
Haviam longas mesas prateadas e um banquete a espera.
— Não há mais ninguém aqui? – perguntou Mirovus, passando os olhos por todo o lugar.
— Como estava ciente da visita de vocês, ordenei que ficássemos a sós.
— E como sabia que viríamos exatamente? – atropelou sua fala Eskkad.
— Há dias vinha conversando com vosso Rei. Já estou à par de toda a situação.
Se deliciaram e ainda gozaram da sobremesa que viria depois. E isso era somente uma refeição de boas vindas.
O tempo corria, e agora as nuvens se fechavam. A noite se aproximava e o grupo se levantou, agradeceu à refeição, mas Galathar os decepcionou em não levá-los até a resposta que queriam.
— Vocês são grandes convidados. Peço que durmam e sejam meus hóspedes esta noite. Amanhã cedo, teremos um novo banquete e assim poderei lhe falar o que quiser. Principalmente à você, Eskkad.
Eles foram conduzidos à um quarto de tamanho descomunal, no qual havia inúmeras camas e janelas triangulares. Mas antes disso, passaram por uma pequena ponte que cortava o Vale de Thresgriel, no qual Mirovus ficou espantado ao ver as criaturas brancas e de orelhas pontiagudas lá de cima. Por um momento, acreditou que estavam brilhando, de tão claras eram.
— Que vocês tenham uma boa noite de sono e sintam-se confortáveis. – disse Galathar.
Mas antes, Eskkad segurou a porta.
— Por que não pediu nossas armas?
— Não havia necessidade. Vocês são bons amigos.
O quarto era estupendo, as camas, portas e de mais objetos eram trabalhados de tal forma que somente Elfos habilidosos poderiam fazer e compreender. Tons claros, detalhes finos e dourados.
Os três despejaram suas armas ao canto do cômodo e tiraram as roupas mais grossas do corpo. Exaustos, Kora e Mirovus deitaram-se de imediato. A cama era impressionantemente macia.
Eskkad se debruçou na maior das janelas e observou um dos pátios. Uma grande fonte d'água ao centro sob um piso engenhoso.
Antes de se deitar, pensou uma vez mais se sua esposa e filho também estariam dormindo, e em segundos, foi a cama e desabou num sono mágico e prazeroso como há muito tempo não o tinha.
No dia seguinte, acordaram logo cedo. Mais vivos do que nunca, estalaram seus ossos, esticaram suas entranhas e se puseram de pé com o brilho arrebatador do sol.
Galathar estava na porta.
— Tomem um banho nas Águas Termais, por favor. Nossas toalhas já estão por lá. Desçam a escadaria à direita do primeiro corredor e cuidado com as pedras.
Se lhe dissessem que uma simples visita a casa dos Elfos poderia ser tão vantajosa assim, não acreditariam.
Mais revigorados do que nunca, os três passaram quase uma hora nas águas. Ainda puderam matar a saudade e controlá-la à seu bel-prazer, no qual Kora passou boa parte esticando a água como cordas e fazendo cócegas para irritar Mirovus.
Além das toalhas brancas, haviam também três longas vestes transparentes para o trio. Em suas costas, o símbolo de Thresgriel, um trevo esverdeado ao centro.
Com grande respeito, eles se secaram e dobraram seus novos pertences para utilizar no retorno ao Reino.
Antes não puderam voltar ao seus quartos, pois Galathar os interrompeu novamente.
— Vamos tomar um café da manhã, senhores. Venham comigo.
Os três trocaram longos sorrisos e seguiram o Governante. Passaram por um corredor repleto de espelhos e armas élficas nas paredes e chegaram à um salão prateado que daria para familiares morarem.
No centro, uma mesa entalhada à ouro. Aos dois lados, haviam grupos de Elfos tocando harpas, na qual produziam deliciosos sons. Na mesa, um banquete mais recheado que o da noite passada.
— Quero lhes apresentar minha estimada família.
Três moças se puseram ao lado de Galathar. Winglion, eles já conheciam, mas agora estava trajando vestes normais e iguais as de suas irmãs.
— Vocês já conhecem a primeira, mas Analion e Solalion são estas.
Eram belas elfas de aspectos físicos semelhantes, exceto pela cor dos cabelos. Se Winglion possuía cabelos negros, Analion e Solalion eram loiras. Contudo, não estranhe, pois somente Winglion havia herdado a cor dos cabelos de sua mãe.
As três garotas sentaram-se à mesa, e uma linda senhora agora estava ao lado do Rei Elfo.
— Esta é Arien, Senhora de Thresgriel e minha mulher.
Um grande sorriso partiu dela para os visitantes e suas vestes brilhantes reluziram por todo o salão.
— Por último, gostaria de apresentar à vocês o meu irmão, Galathor.
Este, contudo, estava sentado em grande estilo em uma árvore, frente à uma das grandes janelas do Salão.
Galathor não era muito diferente de seu irmão mais velho. Ele saltou da árvore como uma criatura de asas e os cumprimentou.
Um homem ereto, viril e de aspecto doce e sereno. Sua pele aparentava ser ainda mais lisa que a de todos os outros Elfos. Cabelos louros e esvoaçantes. Jovem, cheio de energia. Um olhar sábio e seguro de si mesmo. Vestia uma longa capa branca, que cobria visivelmente uma armadura dourada. Na sua cintura, uma espada embainhada estava.
— Estes são membros do Reino da Água, irmão. E por mais que você não saiba, estão aqui desde a noite passada.
Galathor assentiu e se retirou em silêncio.
Todos se sentaram à mesa. Mirovus se remoeu por dentro. Que Elfo grosseiro, sequer ficou para a refeição com os familiares e a visita.
As harpas continuaram seu doce som e todos voltaram a atenção a refeição naquele belo dia.
— Seu irmão. – comentou Eskkad. — Por que vestia um uniforme de combate? Perdoe-me reparar, mas ele é o único que trajava algo pesado por esses lados.
— Não se preocupe. Meu irmão é muito responsável e cuidadoso, e tem o costume de vigiar nossa casa e as florestas sempre que pode.
O sol se escondia atrás de nuvens acinzentadas quando terminaram.
— Se me permite, meu caro Eskkad. Gostaria de lhe dar as respostas pela qual busca em sua jornada.
Sua mulher e suas filhas se retiraram do Salão. Galathar acenou para que um Elfo chamasse Galathor de imediato.
Os quatro agora caminharam por uma escadaria circular e desceram mais um lance de escadas, até que estavam no pátio central.
— Sigam-me.
Galathar os guiou até um espaço destinado à natureza, onde havia muitos pássaros, rochas e uma enorme árvore. A maior árvore de todo o local.
O Governante passou seus dedos em pontos específicos da árvore imensa.
— É a Árvore-Mãe dos Elfos. Está conosco há Eras. – explicou.
Um clarão emergiu de onde o mesmo havia tocado e agora, havia uma passagem no centro do tronco, no qual cabia uma pessoa de cada vez.
— Mirovus, Kora, esperem aqui fora. Eu volto em instantes.
Galathar entrou e Eskkad o seguiu. A árvore se fechou.
Bom, dentro de uma árvore realmente não é um lugar espaçoso ou prazeroso de se morar, mas aqui, trata-se de magia elfica. E não se tratava apenas da Árvore-Mãe.
Estavam dentro de um Santuário. As paredes rochosas, espaço curto e gotas d'água escorriam por elas. Havia velas erguidas nas paredes e depois de caminharem reto, chegaram ao local.
Era como o subsolo, mas como se fosse um local de rituais e feitiçarias.
Havia duas tábuas de madeira, uma à esquerda e outra à direita. No centro, erguido na parede, havia um painel sujo de terra e lama. Algo escrito por baixo de tanta sujeira.
Estava escuro e a única coisa que se tornou visível, foi quando Galathor apareceu das sombras com uma tocha em mãos.
— Irmão. – disse o caçula. — Tem certeza disto?
— Sim. Este homem precisa saber a verdade sobre seu filho. O destino de Valerian pode estar em risco.
Os três fecharam seus olhos, como se fosse fazer uma prece, e abriram em seguida. O som, apenas de gotas caindo calmamente e escorregadias pelas paredes rochosas.
Galathor aproximou as chamas da parede central e proferiu palavras de cunho Elfico, e só Galathar entendeu.
Agora, a espécie de painel estava limpa, apenas com resquícios de sujeira. E nele, havia uma escritura antiga em runas, as quais somente os Elfos podem ler.
— O que está escrito? Não consigo ler. – interpelou Eskkad, nitidamente nervoso.
Galathar e Galathor se entreolharam.
— Traduza de forma simples e direta para o visitante, irmão.
— "Quando o Filho Perdido se encontrar e retornar
aquele nascido do Fogo e da Água pronto deve estar
sob a Tempestade Rubra a Grande Guerra acontecerá
e o Dia do Fim chegará"
Essas foram as palavras do Governante dos Elfos. Eskkad respirou fundo e fechou os olhos. Era como se o seu mundo tivesse desabado. Então era verdade, caberia a seu filho o destino de Valerian.
Os irmãos permaneceram eretos e rígidos. Sem reações.
— Quem é o Filho Perdido?
— Aquele cujo nome não deve ser mencionado. Aquele que carrega ódio, tristeza, amargura e solidão. Excluído do Reino do Céu pelo Criador, Irmão Renegado e jogado ao Nada e ao Vazio. Pai das criaturas malignas, feiticeiro das trevas e ganancioso. – Galathor disparou alcunhas em sequencia, mas fora interrompido rispidamente por Galathar.
— Ele é o Inimigo. É o que precisa saber.
Neste momento, Eskkad se encontrava de joelhos, com os mesmos emaranhados em lama e terra.
— Explique o resto. Eu não entendo. – sua voz travada, olhos pesados.
— Será o Dia do Juízo Final para Valerian. A Data-Limite, onde espécies escolherão seus lados e guerrearam de uma vez por todas.
— E o que é a Tempestade Rubra?
— É dito nas Histórias Antigas que neste dia, o céu se tornará vermelho como sangue. Representando o fim da vida como conhecemos.
Eskkad se levantou decidido.
— E onde está o Inimigo?
— Ele está banido das Terras Vivas. Preso no Vazio. Mas será resgatado por alguém tão pútrido quanto o mesmo e precisará de um corpo novo.
— E quanto tempo tempos?
— Não se tem resposta sobre isso. Mas tenho vigias pelas Florestas e Reinos de Valerian, estou encarregado de cobrir qualquer passo. Lembre-se de que ele também é nosso Inimigo.
Eskkad deu um último suspiro e recuperou sua vitalidade de outrora. Foi acompanhado pelos irmãos até a saída e se despediram graciosamente pela hospedagem dos Elfos.
Antes de baterem em retirada, o trio vestiu suas vestes Elficas que obtiveram, e Kora decidiu colocar para fora pergunta que muitos haviam esquecido.
— Senhor, conhece alguém com Cabeça de Tartaruga e que vaga pelas Florestas?
Galathar cerrou o cenho e olhou para os Elfos a sua volta. Alguns esboçaram uma mera risada.
— Está delirando. Não existem espécies com cabeça de tartaruga.
Eles dispararam pelo grande portão em aceno e agradecimento ao povo Elfico.
* Caso necessário, o alfabeto será explicado ao fim do livro. O mesmo foi criado e desenvolvido pelo próprio autor.
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