— Heiko. — Rex mantinha sua bochecha recostada no pomo de seu amado, enquanto o mesmo fazia carinho sobre seu cabelo sedoso. Envoltos em um apaziguamento na cama. — O que vai acontecer agora?

— Eu não sei Rex — O homem lhe cedeu um beijo na testa como afeto. — Você está com medo, mas também estou. Sem Abigail, Driihey desaparecido e agora esta garota. Parece que tudo beira ao caótico.

— Ela pode ser o fim de tudo Heiko. A garota pode ser uma catástrofe.

Heiko alçou o queixo de seu namorado, forçando seus olhares a se contrapor. — Você não está com medo do que pode acontecer com Bastia, seu temor é sobre ela.

Rex sentou na cama em que conversavam.

— Queria proteger essa garota. — Rex deu uma pausa para respirar profundamente. — Nem nasceu, mas sinto-a como uma filha.

— Então a protegeremos — Heiko o abraçou pelas costas — como uma filha.

Como uma filha.

O rei abatido ao chão sorriu levemente naquele solo destruído abaixo de sua faceta, o golpe que lhe atingiu fora mais violento do que o esperado. Ou, na verdade, como esperado. Seu braço e parte do ombro haviam sido arrancados e dizimados pela magia estridente da Aberrante, a músculo e ossos lutavam para não cair da abertura violenta causada em parte de seu corpo.

Não ficou muito tempo parado para que o poder da Fênix começasse a fazer efeito sobre seu corpo, queimando em um fogo poderoso até que reconstruísse por completo seu lado danificado. Restaurado, moveu seu torso num alongamento simplório, fazendo ossos estalarem com fervor.

Hyung desamparado caçava sobre os escombros, sua colega, usando dos poderes de aceleração para conseguir mover a maior quantidade de pedras possíveis em menor tempo, até alcançá-la pelos olhos. Seu estado não podia ser pior.

Kim mantinha-se viva pela força dos braços que sustentavam uma coluna de parede que tentava esmagar seu tronco, enquanto uma estaca de madeira perfurava sua bacia, causando um grande rasgo sobre sua carne. O amigo de olhos puxados correu para auxiliá-la na retirada da coluna sobre seus braços. Com facilidade conseguiu jogar o cascalho e concreto para trás.

— Kim! Você está bem? — O medo fazia-o evitar encostar em sua amiga. — Consegue sentir sua perna?

— Consigo. — A garota respirava ofegante. — Me ajuda a retirar isto de cima de mim.

Hyung assentiu, e logo arqueou seus joelhos pondo todo seu corpo abaixo daquele fragmento de estrutura, com gritos e gemidos de esforço começou a sublevar ela, tornando sua tentativa e a dor de sua amiga, sons em uníssono. Kim podia sentir aquele pedaço de pau lentamente rasgando sua carne como uma tortura milenar.

O último esbravejar foi o fim do ato, com seus joelhos retos e o barulho da pedra caindo sobre mais escombros sua amiga sentiu-se liberta daquela prisão. Kim arrastou-se de costas até o travesseiro de destroços e comodou seu corpo sentado sobre ele.

— Kim! — Hyung desesperadamente começou a mexer em seu bolso, tirando um gomo de atadura para poder envolver o ferimento de sua colega. — Precisamos te levar até Aurora, ela pode te curar!

— Hyung. — A fala acalmada de sua colega tirou a tensão e a ansiedade exalada por pelo garoto viajante. — Você sabe que não podemos pará-la. — O barulho e estrondos de magias colidindo ressoou aos ares causando iluminações vermelhas e verdes aos céus. — Se ela desconcentrar, pode acabar morrendo. Tudo que podemos fazer agora é ajudar.

— Não Kim... — Hyung caiu para trás, sentando-se sobre o pó — Você lutou contra Dominick, agora contra Rex, no estado que está vai acabar morrendo.

A gladiadora o olhou com admiração enquanto o garoto apenas coçava sua cabeça em desamparo. Ela sorriu ao ver a cena.

— Você é a segunda pessoa que se preocupa com a minha vida — Ela estendeu sua mão. Ele a segurou, e com dificuldade ambos se auxiliaram a levantar. — Tem que me prometer de nunca falhar comigo.

Hyung limpou a lágrima que escorria em seu rosto, forçando uma cara de bravura que não condizia com seu estado de espírito. — Que falhar contigo, vou te seguir por toda vida.

Era tudo que Kim precisava ouvir. A única motivação que acalmou seu coração e assentiu suas decisões. Ambos conectaram seus fluxos novamente, de uma maneira mais íntima, a gladiadora podia sentir uma carga de fluxo maior advindo de Hyung.

— Trate de ficar vivo, você me deve vinte e cinco moedas de prata. — O toque em seu ombro foi sua última ação de despedida.

Mesmo com dores sobre seu corpo, a gladiadora fazia o possível para manter uma forma condizente em sua corrida, enquanto avançava para auxiliar sua amiga.

Aberrante e Filho lançavam um contra o outro, cargas místicas de poder que colidiam e explodiam em larga escala. Os danos diretos faziam mais estruturas e até mesmo o que restava delas, explodirem.

Ela via-se ofegante e relaxada, cansada da execução de tantos feitiços para tentar derrotar seu adversário, enquanto o mesmo mantinha uma aparência impecável e postura irresolutas. A cura sobre os machucados não deixavam cicatrizes ou cansaço sobre seu corpo. A cada momento e ataque alcançado ele mantinha-se renovado.

— É isso que você quis para Myan!? — Aurora contestou incrédula — Olhe ao seu redor, Rex! Está tudo destruído! — Ela viu acima de uma das casas uma movimentação estranha, até poder denotar que era sua colega. Enquanto por canto de olho também percebeu uma locomoção de Alladin. — Seu plano de sociedade justa é seletiva Rex!

O líder deu uma leve risada. Aquela expressão emocional começou a se atenuar até virar numa gargalhada maquiavélica e enlouquecida. — Aurora, você é magnífica e hipócrita. Soube de sua viagem até Iamune, ajudando um certo príncipe. Não percebeu que para onde você se move, causa guerra?

As falas bateram em seu peito de modo entristecido.

— Agora Aurora! — Alladin e Kim gritaram numa só voz.

O albino muniu de seu braço uma magia de ar combinada com a elementalidade da natureza ao seu redor, enquanto Kim saltou para um último soco carregado com todo o poder que lhe restara.

Aurora hesitou.

Quando tomou atitude de atacar sua movimentação estava retardada perante os demais. Rex pegou Kim pelo braço e hasteou a garota na direção da magia de Alladin, fazendo-a de escudo, o impacto a fez gritar desacreditando seu colega. Quando a rajada de magia parou de ser lançada ele arremessou a gladiadora sobre o corpo de Alladin. Nocauteando os dois.

Aurora não conseguia interromper seus movimentos, a magia que pulsava na palma saiu em linha reta, enquanto o vil oponente apenas desviou com um deslocar do corpo.

Era o fim do contra-ataque falho e mal articulado. Onde tudo culminou no último momento, na derradeira ânsia da Fênix. Rex suspendeu Aurora do chão segurando-na pelo pescoço, apertando sua traqueia com firmeza.

— Adeus, Aurora.

Um fogo fervoroso começou a descer sobre o braço do rei até chegar em seu punho. A garota fechou seus olhos esperando o terror abrasado daquele final entristecido, com o perigo vindo a vida de seus amigos e a falha por não conseguir proteger aqueles de quem gosta.

Adeus.

Algo destruiu os planos assertivos de execução do rei. Rex foi pego de surpresa, seus olhos não podiam crer em seu antebraço que caia distante ao chão após ter sido decepado com um corpo rápido e letal. A aberrante pode apenas sentir o locomover de seu corpo e os toques diferenciados sobre seu tronco.

— Pode abrir os olhos, amor, eu disse que não deixaria você. — Aquela voz melada e os cabelos encaracolados, além do sentimento de paz que abarrotou sua cabeça conturbada.

Aurora via-se nos colos de Rubi, que apenas sorria em alívio.

— Rubi! — Ela ficou pé e a abraçou forte, retirando o peso e o medo de tudo que estava por acontecer.

Aurora deitou o rosto sobre o couro da vestimenta leve e puxou com as unhas o tecido vermelho. Um beijo acomodado cheio de saudades selou o fim daquele momento de paz durante o transtorno, os lábios secos eram regados pelo movimentar das línguas, enquanto o abraço ficava mais apertado. Tentando nele matar a saudade que parecia não morrer.

Um enorme brilho vermelho começou a incomodar os olhos semicerrados de Aurora, recordando-a do estado atual. A garota desesperou-se para agir pondo-se na frente de Rubi, pronta para iniciar a magia de proteção.

Au!

Um latido se foi ouvido, e um pequeno peso sentido sobre os ombros da maga que perdeu a concentração devido ao cachorro. Uma barreira dourada ficou envolta de todos os jovens ali presentes impedindo com que o fogo agredisse seus corpos. O esquisito ser babava com sua língua pequena sobre o vestido de Aurora.

Aquela redoma mágica soltava pequenas partículas do próprio fluxo mágico, e ao toque na pele dos seres ali presentes, revitalizavam e cicatrizavam as feridas. Despertando da exaustão Kim e Alladin.

— Que cachorro é esse? — Aurora questionou fazendo-o carinho sobre sua cabeça esquisita e raivosa.

— Não é um cachorro! — Um grito infantil surgiu do fundo. — É um Komainu!

Aurora tentou esticar sua visão ao poder olhar ao horizonte o caminhar de uma criança com aspectos diferentes. — Aquele é o Suna? — A maga questionou.

Então algo preto carregado de um fluxo de magia obscura e opaca saltou aos olhos da maga, Rubi, e Rex. Indo em direção ao rei com voracidade e angústia de batalha, com um olhar vermelho e um jeito animalesco em busca de sangue.

A investida o levou contra o muramento nas costas, afundando-a no concreto. O ser engatilhou seu pulso sobre o pescoço do líder, enquanto o pressionava contra a estrutura.

— Rei contra rei, o que acha? Rex.

O homem sorriu — Então você veio... Baal.