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Presente do Rei

O leão sorriu para ela, posicionando-se em combate novamente. Seu olhar não mais despejava desprezo, apenas respeito pela mulher na sua frente, podia ser sentido através de sua íris afiada o desejo do combate.

A dor de seu braço destroçado não era sentida pelo sangue quente. Ela adaptou-se para combate de mão única, pondo sua força na ponta dos pés. Ambos moviam-se em círculos. Podia se sentir o ar ao redor do leão ficando pesado.

Meus treinos de esgrima terão de servir.

O gladiador executou um corte vertical. Instintivamente Rubi virou sua espada de ponta cabeça, fazendo a lâmina de seu adversário deslizar sobre a sua em direção ao chão. Ela se afastou, voltando ao posicionamento original;

Ao sentir algo melado descendo pelo focinho levou sua garra a viscosidade, vendo seu sangue escorrer. Aquele corte ardia do canto da boca à orelha. — Garota.

O leão deu um salto para cima dela. Rubi deu uma cambalhota, ao erguer digladiou outra estocada do adversário. O Korr tentava acertá-la de qualquer forma, todavia os desvios dela eram precisos. Vendo o abdômen dele exposto desferiu um soco com a base de sua espada.

Ele se mantém forte e rápido, mas sua base está desequilibrada, seus golpes estão abertos. Está ficando sem fôlego.

— O queee eeela está fazeeendo? — Skraz questionou ao albino.

— Quer cansá-lo, ela ta batendo no abdômen para dificultar a respiração dele. Mal sabe, mas a falta de ritmo na respiração afeta diretamente o controle de Ki.

O grito da plateia desconcentrou Maahes, ele olhou a arena. Rubi sangrava pelo braço direito. Era possível ver o filete de seus músculos naquela abertura. Ela havia quebrado sua espada no confronto, e sem a mobilidade dos membros, a boca era o único lugar onde conseguia segurar.

É a minha chance.

Ela continuava a desviar dos ataques disformes do oponente. Vendo sua estratégia surtir efeito, sorriu. Um sentimento de alívio que enfureceu o gladiador, ele avançou vorazmente.

Ele está fraco. Só preciso desviar deste ataque. Faça isso por si Rubi! Faça pela Aurora!

A lutadora saltou para trás, mas tropeçou na cratera feita pelos ataques do leão. Ela apenas assistia o leão indo em sua direção com a espada apontada para seu peito. Caindo no buraco, apenas sentiu a lâmina rasgando a carne do canto direito de seu úbere. Ele a enfiou até que o cabo fosse a única coisa exposta.

Ao sentir a dor, os olhos dela fecharam-se sem esforço.

Rubi despertou desesperada, a pele da garganta afundou tentando puxar o ar que faltava em seus pulmões. A respiração acelerada aqueceu seus músculos, mas o corpo não se movia com facilidade.

Ela notou não estar mais no coliseu, o teto daquela casa parecia-lhe familiar. As cenas da luta permaneciam vivas em sua mente, assim como o medo delas. Ouviu um barulho constante de algo socando a madeira, ao esticar seu pescoço para o lado, pode ver Rodrigo fazendo uma pomada nas cumbucas do albino.

Vendo seus braços enfaixados tentou mover seus dedos com receio de não haver resposta, assim que conseguiu, uma lágrima escorreu.

— Foi uma luta incrível — Rodrigo tirou a faixa do braço cortado para passar a loção

— Eu não me recordo de nada após tropeçar. — O líquido ardeu em sua pele, ela fez careta.

— O gladiador gritou na sua cara assim que você caiu, a face dele estava próxima demais. Como a espada quebrada ainda estava na sua boca, não foi difícil cortar a jugular dele. O resto foi um banho de sangue.

— E a sua luta? Não está com ferimentos.

— Foi entediante. — Rodrigo sorriu — Depois da sua, todas foram chatas.

— Esse é o quarto do Maahes?

— Sim, ele fez os primeiros socorros. — A voz do azulado desanimou. — Skraz é um animália, quando ele se assimila a sombra de alguém também absorve emoções e pensamentos do possuído — Ele bufou — Num momento durante seu combate, ele olhou para o altar do rei, com tanta raiva que até o cão sentiu medo.

— Por que Maahes possuiria raiva do rei?

— Por que ele raptou meu filho. — Maahes apareceu na porta, com um semblante sério e olhar semicerrado. A presença arrepiou os humanos — Preciso arrumar algumas coisas aqui, se puderem me deixar só.

Rodrigo ajudou Rubi a se levantar, e a passos lentos saíram do quarto. Ela direcionava seus passos para o sofá, mas o andejar do soldado indicava outro caminho. A frente da casa um bar indicava ser o destino.

Ao entrarem os bêbados saúdam os dois gladiadores com gritos e canecas hasteadas, a ato tira um sorriso tímido de Rubi. O barman leva a eles duas canecas de cerveja — É por conta da casa — Diz o Korr.

Rubi se esforça com o braço direito para conseguir tomar um gole. — Aurora me disse uma vez, que quando se conheceram você a enganou.

— Eu precisava fazer meu trabalho, mas certamente menti para ela. Sou órfão.

— Não é o único. Julgo que nenhum pai deixaria sua filha viajando por continentes atrás de batalhas. — Ela deu mais um gole. — Upo disse que meu passado poderia estar aqui.

— Que nome estranho. Upo. — Maahes assustou, numa entrada sorrateira.

— Porra Maahes! Poderia não dar tantos sustos?

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