Olhos
— Ouvi a vossa conversa. Creio que não posso esconder mais nada. — Maahes pediu com as mãos outra rodada de cerveja — Para explicar, tenho de contar uma história.
O título de melhor gladiador estava nas mãos de uma pessoa antes de eu sustentá-lo. Uma mulher chamada Dávila. Ela era prodígio em fluxo de magia, conseguindo ser campeã aos vinte.
A admirava, e idolatrava o poder e excelência dela. Eu possuía cento e vinte anos quando trocamos nossos primeiros olhares, mas a disparidade do avanço de nossos corpos machucava nossos sentimentos. Ela temia que a velhice tornasse-a obsoleta.
Não tinha como perder a paixão perante Dávila, tão poderosa, naquela pele negra que brilhava ao sol. Mas Korr e humanos aqui são colegas, nada mais.
Ela prometeu casar comigo se a derrotasse. Nosso placar ficou cem a um, a primeira e única vitória que tive sobre ela. Naquela casa moramos juntos, e lá ela deu à luz ao meu primeiro filho.
Quem diria? Um Korr e uma mulher gerando vida a uma criança humana, de sangue leônico.
O rei não havia gostado, Dávila era a maior atração de Desanth, além de ser a mulher que ele desejava para si. Ele mandou os soldados irem a nossa casa, com a ordem de ser o único filho que poderíamos ter. Seu maior erro era pensar que dominava Dávila, ninguém controlava aquela mulher a não ser ela mesma.
Quebramos sua ordem seis anos após, tendo outro menino. Assim que o nascimento ocorrera os gladiadores a mando do rei tiraram de nós a segunda criança, nos espancaram enquanto tentávamos tomar de volta nosso filho. Tive de ver minha mulher apanhando sem conseguir fazer nada. Ele vendeu nosso filho a viajantes.
A terceira e última, quatro anos após, uma menina. A imagem da própria mãe. Aquela gravidez foi arriscada, e Dávila nunca conseguiu dar amor a própria filha. Ela morreu durante o parto.
Com os cantis de leite que ela havia deixado, alimentava aquele bebê comilão. Mal cabia em minha mão. O rei foi pessoalmente em minha casa com seu exército.
O monarca vendeu a criança, e tomou para sua guarda meu filho mais velho. Por última ordem me exilou de Desanth, estando a mando de morte caso me encontrasse.
— Quando ele tirou meus filhos de mim, apenas pedi para que meu sobrenome fosse mantido vivo neles, no desejo que os encontrasse algum dia.
— Maahes — Rubi tocou em sua garra, vendo o choro do leão — Qual era o sobrenome?
— Alexanderer.
Ela sentiu um palpitar forte, sua boca balbuciava após a pronúncia do albino. Uma única lágrima escorreu no canto de seu rosto, deixando-a atordoada.
— Pai? — Rubi e Rodrigo disseram em uníssono.
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