Feridas
Imersa na banheira com água morna, seus cachos desembaralham sobre a superfície, criando um piso de fios. Sua mente pensou na aula da tarde. A expressão no rosto de Rex era fixa, o momento que saiu da parede. Aurora não imaginava sentir tanto medo.
Ela emergiu, respirando ofegante, retirou os fios que tapavam sua visão. Decidiu se levantar para que pudesse pegar a toalha e se secar. Não dá para vencê-lo sem intenção de matá-lo... A fala de Alladin, continuava a martelar.
Delicadamente apertou seu cabelo próximo a banheira, fazendo cair o excesso de água. Ela vestiu um enroupado níveo, dado por suas tias há muito tempo. Alladin. Sua mente foi de encontro a seu colega, e todo o desprezo ofertado só lhe causou dor.
Tenho de saber o porquê...
Determinada, saiu do banheiro a procura de seu objetivo. O quarto vazio indicava que não seria tão fácil. Após abrir a porta ela fechou seus olhos rapidamente, assustada com uma presença a frente. A guria recebeu três toques na cabeça.
— Cruzes Hyung! — Kim deu um tapa no braço dele.
— Desculpa Aurora! — Pensei que estava batendo na porta.
— HYUNG! — Kim deu um soco no ombro do garoto.
Aurora riu — Tudo bem. Vocês viram Alladin?
Ambos deram de ombros.
— Na verdade, viemos aqui encontrar vocês. — Hyung falou — Hoje a cozinha está de folga, queria cozinhar para todos.
— Legal! — Aurora assentiu. — Todavia, queria falar com ele.
— Ele ali. — Kim apontou da sacada, mostrando o albino lendo embaixo da árvore.
— Vou lá — A aberrante abraçou seus amigos — Preciso falar a sós. — Ela tomou a dianteira.
Ao atravessar os largos portões para adentrar o jardim, uma brisa fez Aurora recuar seus braços, cruzando-os sobre seu úbere. Ela olhou a suavidade do ranzinza, e a beleza com que o vento batia em seus cabelos. A garota andejava amedrontada e ansiosa. Querendo fugir daquela situação.
— Alladin? — Ela o chamou.
O garoto pôs uma fita de marcação na página de seu livro e o fechou.
— Aurora... — Nada mais disse, apenas a fitou semicerrado.
— V-Você, desde que cheguei aqui... — A saliva descia seca, então respirou fundo para não errar novamente. — Por que tem tanta raiva de mim? Não é de hoje sua hostilidade.
Ele olha para copa, vislumbrando a queda de uma folha. O folículo pairou na palma aberta do menino, que a trouxe para o peito.
— O que sabe de seus avós, Aurora? — Alladin questionou calmamente.
— Bem, eles eram praticamente minha vida, sempre ajudaram o vilarejo onde vivíamos e salvaram as pessoas. São os seres mais bondosos que conheço.
Alladin riu sarcasticamente, esmagando a folha.
— Nunca te disseram que eram assassinos? — A íris intensa dele perfurava a alma da garota.
— A-Assassinos? — Aurora ficou quebrada — Como assim?
— Pessoas que matam Aurora. — Alladin se levantou, pondo seus rostos próximos. — A-s-s-a-s-s-i-n-o-s. Durante a guerra dos magos, antes da ascensão de Abigail. Meu avô, um dos sobreviventes da guerra, me contou sobre as barbáries, sobre um grupo liderado por Sophia Ba-ry, e seu carrasco conhecido como Lobo Preto. — Alladin percebeu um soluçar na voz de Aurora — Pelo visto, você deve saber um pouco. Tropas eram comandadas a mando de seus avós, para ataques suicidas. Meu avô atualmente possui uma única perna, olho, e está vivendo em estado vegetativo. Minha avó morreu de causas naturais, mas havia ficado retardada pós-guerra. — Alladin olhou ao chão, buscando forças para continuar — Sabe qual o amparo que os aristocratas concederam? Nenhum, passamos fome. Meus pais nunca usaram magia a pedido de meu avô. Sobrevivemos com auxílio de vizinhos. Como julga que eu me sinto quando você me diz que eles passaram a vida ajudando as pessoas? — Uma lágrima caiu — Guerras possuem mais do que consequências diretas, Aurora.
Ela não soube o que dizer. Não tinha forças para contra-argumentar nada. Todas as palavras ditas eram socos fúnebres em seu estômago, e mesmo que não fossem amigos, tudo parecia doer. Alladin a ultrapassou a passos lentos.
— O ódio corrompeu meu amigo. — Ela disse, ambos não se olhavam naquele momento. — Ele me salvou de tudo, da morte, do vazio da solidão. Meus avós morreram e nunca me falaram sobre o passado, mas quando acompanhei meu amigo, descobri que o próprio pregresso o moldou a ser quem ele é... Também destruindo quem poderia ser...
Alladin sentiu-se abalado, ouvindo naquela voz, alguém que não conseguia odiar de verdade.
— Ouvi um rumor sobre um antigo mago Escolhido, que após a morte da esposa se isolou numa árvore gigantesca a oeste de Myan. — Quando ele falou, seus olhos se cruzaram pela primeira vez sem rancor.
Não pode ser... Se ele estiver certo, provavelmente está falando...
— É impossível viver do passado — Ele estendeu sua mão — Contudo, sem ele não há como ver um futuro. É a última ponta que preciso resolver sobre meu passado, me ajuda?
Do meu pai...
— Vamos esta noite! — Ela apertou a mão dele fortemente.
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