Danagor
Rex observava na janela da carroça o vidro sendo embaçado pelos pingos fortes da chuva. Nuvens nubladas molduravam a cidade cinzenta, de aspecto hostil, mas familiar ao rei. Seus alunos dormiam, com exceção de Aurora que acabara de acordar, ela analisava de maneira turva a beleza do professor enquanto ambos ouviam o som das gotículas em defronte ao chão.
— Professor? — Ela sussurrou cautelosa para não acordar seus colegas. — Professor Rex?
— Aurora? Por que não dorme mais? Logo chegaremos.
— Estou sem sono. — A aprendiza sorriu de boca fechada.
— Essa cidade causa isso... A falta de sono...
— O senhor veio daqui? Deve ter sido muito importante.
Rex a sorriu, mas mantinha-se olhando para a chuva — Os aristocratas de Myan me conheceram no pós-guerra, mas não sou um nobre.
O rei fez a discípula adentrar nas memórias dele.
A primeira vez que questionei sobre minha mãe a alguém me disseram que era uma prostituta. Quando engravidou foi caçada pelo seu "dono" até não poder fugir mais, no trabalho de parto. O agressor a estrangulou enquanto ela me dava a luz.
Meu primeiro contato não foi com suas mãos, mas sim com o chão duro num dia de chuva como este.
Me recordo, quando criança, de correr pelas ruas, roubando comida para sobreviver. Sendo perseguido por soldados e sempre levando surra nos becos.
Fui salvo e criado por um homem. Dele possui a compreensão daquilo que chamamos de confiança.
Minha primeira morada foi nos esgotos de Danagor. Onde o musgo era o cobertor e baratas, lacraias e outros bichos compunham meus amigos. Não sabia se era pior viver em meio aquilo ou apanhar toda noite para aquele bêbado.
Além das inúmeras tentativas de abuso.
Ele me salvou da morte, mas preferia morrer a estar com ele.
O último dia que nos vimos eu lutei para não ser abusado por aquele porco, meus gritos foram ouvidos. Não por alguém, mas pela fênix, pelo meu poder. Me recordo das chamas alastrarem ao redor e queimarem o corpo daquele nojento. Eu o soquei desesperadamente, vendo o carbono de sua pele sujar meus punhos.
— Senhor... Perdão por recordá-lo de tantas dores.
— Despreocupe-se criança. Precisava me abrir com alguém — Rex doou um sorriso — Bom ter sido você.
Aurora retribuiu o gesto.
A carroça parou, atiçando a curiosidade do monarca, o freio suave acordou os demais, exceto Kim, que continuava a roncar. Em seguida a porta foi aberta pelo servo de Myan, que reverenciou os viajantes. Em suas costas, soldados de Danagor, com suas armaduras em detalhes roxeados, guardavam o palácio.
Todos saíram da carroça, sendo Kim a última por demorar a acordar. A aberrante observou os arredores, amedrontada, vendo alguns magos que saiam e entravam no palácio, com olhares desagradáveis e preconceituosos.
Rex a envolveu em seu braço. — A guerra pode ter acabado, mas algumas pessoas de mente arcaica temem avançar no tempo. — O rei segurou no rosto dela direcionando-o suavemente para si — Eu to aqui. Não os tema.
Distinta do carmesim que compunha os aposentos do palacete de Myan. Danagor usava do violeta que se alastrava pelas paredes, enquanto a prata detalhava recantos menores.
Quadro de magas históricas compunham o salão, Rex percebeu que sua aluna fixava o olhar — A rainha lutou contra o desmerecimento das mulheres, além de dar obrigatoriedade a metade das vagas parlamentares para elas, também moldurou as magas mais importantes de Danagor — Falou, deixando-a fascinada. Aurora agraciou-se, sorrindo.
O andejar dentro do palacete os levou até o centro do saguão, onde Dominick os aguardava. A escudeira os reverenciou.
— Senhor, Majestade Morgiana lhe aguarda. — A amazona olhou de canto para os alunos — Presumo que ela não imaginou haver uma visita mais abrangente.
— Morgiana falará apenas comigo, fique despreocupada. — O professor virou-se para seus discípulos — Trouxe-os aqui para estudarem sobre a historicidade dos Escolhidos. Alladin, a biblioteca encontra-se ao corredor na esquerda, guie-os.
As crianças seguiram a liderança do albino, enquanto seu mestre acompanhava a amazona pela escadaria. Dominick encaminhou-o sobre o segundo andar em direção ao salão de reuniões. O ferro maciço da entrada fora facilmente aberto pelas mãos da cavaleira.
Os altos gemidos femininos semicerraram a visão do feiticeiro enquanto ele caia em descontentamento. Sentada ao trono, a régia arranhava as costas de um homem desconhecido. Ela corava e babava de prazer. O suor melava seus cabelos, que grudavam próximo aos cílios, ao mesmo tempo que o homem esbaforido continuava a mover seus quadris constantemente.
— Desculpe por... isso. — Dominick ficou constrangida.
Rex ignorou a guerreira, e andejou em direção a majestade. O ecoar de suas botas ritmizam com o cume dos orgasmos daqueles amantes. — Vou gozar — dizia o cônjuge.
No momento que ele chegou ao ápice do prazer sentiu também dedos violentos apertando sua cabeça. O gozo o fez fechar suas pálpebras em delírio, ele sentia um ardor e quentura naquele deleite íntimo, mas a quentura não diminuíra, pelo contrário. O desconhecido se viu arder em chamas, o fogo cobria todo seu corpo, fazendo seus gemidos tornarem-se gritos desesperados de socorro.
Rex esmagou o crânio carbonizado do falecido, fazendo-a virar pó. Os olhares dos monarcas se cruzaram. Ele a subjugava, enquanto ela ajeitava seu vestido, com um sorriso maldoso estampado.
— Obrigada Rex, devia fazer isso com todos que não me fazem gozar.
— Lhe disse que não precisa de nenhum outro homem. Já sou o suficiente.
— É por isso que preciso de sua ajuda. — Ela se ergueu, olhando seu convidado com o rosto próximo.
— Ajuda? — Rex viu a taça de vinho no braço do trono, e a pegou para beber —Logo você que repudia homens.
— É para isso mesmo que estou pedindo. Quero destruir Saluem, e matar Heiko.
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