Na nova casa de móveis detalhados pelo fino de poeira do deserto de Desanth, Rubi mexia seus braços facilmente mesmo enfaixados, ela girava seus ombros em busca de estalos ou dores.

— Como se sente? — Maahes a questionou, enquanto esperava Rodrigo fazer o próximo movimento de cartas.

Os masculinos estavam atentos, sentados perante a mesa. Duelando num jogo de baralho com mais voracidade do que uma batalha de espadas. Maahes admirava a fúria e a sede de ganância através dos olhos azuis.

— Bem, P... — A sua fala travou — P-pai... — manteve tímida.

O leão a encarou emocionado, com um sorriso naquele rosto felino lacrimejante.

— Há! — Rodrigo riu pausadamente, de maneira maquiavélica — Bati velhote!

Naquela fala, o azulado, antes desconfiado por Rubi, agora parecia mais frágil do que ela sentimentalmente. Maahes olhou para as cartas na mesa, pasmo, enquanto o garoto pegava um punhado de ouro apostado.

— Espera, espera, espera! — O leão articulou os braços — Você roubou!

O agito da casa acordou Skraz.

— Não roubei. — Ele segurou o saco de ouro forte contra seu peito Incrédulo com a acusação.

— Roubou sim! — Maahes pôs a mão no punhado — Não tinha como pôr essa carta sem ter pegado no descarte.

— Isso se chama... — Rodrigo conseguiu desgarrar o leão, levantando da cadeira brutalmente. O ranger da madeira inquietou-se no piso de calcário — Sorte! — Logo olhou seriamente para Maahes, mas bufou logo em seguida — Do que adianta, o dinheiro é nosso mesmo. — Com soberba, jogou o pacote na mesa.

Com o término do jogo, Rodrigo caminhou em direção a entrada. Pegando no canto da parede sua cinta, e saindo de casa. Enquanto o leão e a garota desconheceram o trilhar do soldado, Skraz o seguiu fielmente. — Quem consegue entender Rodrigo afinal?

— Desde que ele descobriu sobre você ser nosso p-pai... — A palavra não saia com a naturalidade que Rubi desejava — Está mais... Alegre.

Maahes sorriu, ficava bobo com o dito pai a cada conversa. — Ah! Dávila. Se pudesse ver como ela é a sua imagem — Ele devaneava em seus próprios pensamentos.

— Você quer mesmo voltar para o coliseu? — O leão se preocupou.

— Quero me tornar mais forte. — Ela não hesitou, quando se encararam o olhar singelo e voraz fez ele se recordar de que também era sua filha. — Tem alguém que busco defender, e se parar agora, talvez não consiga.

Maahes se levantou da cadeira, e caminhou em direção a um jarro de barro deixado na pia.

— Deve ser uma pessoa de sorte aquela que lhe espera — Serviu dois copos, ofertando-lhe um deles.

Rubi sentia seu músculo enrijecendo a cada fechar forte de mão. Ficando aliviada devido à recuperação.

— Maahes... P-pai... Pode me explicar sobre o Ki novamente?

— O Ki é como a veia da nossa alma. Não posso explicar a origem, mas digo que tudo neste mundo possui o seu. Animálias normalmente não utilizam de "magia" como vocês humanos, por que o Ki está intrinsecamente ligado a tudo em seu corpo.

— Verdade, não me recordo de ver animálias usando magia. Então os gladiadores? Por que não é instintivo como normalmente é?

— Abrir os canais vitais do fluxo, localizados no diafragma, pescoço, ombros, é o principal treinamento do gladiador. A diferenciação é a ampliação da passagem de energia pelo corpo.

— Porque esse fluxo não se apropria de um elemento ou do poder de um Deus? Como os magos?

— Você me disse que em seu continente houve uma guerra entre magos, certo?

— Mesmo que tenha sido antes da minha ida, mas sim.

Maahes deu um gole na água, em seguida, puxou do bolso um cachimbo junto a um saco contendo tabaco, e um utensílio interessante moldado por um jarro pequeno de vidro arredondado. Dentro daquele frasco, uma pequena quantidade de chama dançava. Ao abrir a tampa, o fogo subiu, acendendo o cachimbo de Maahes. Ele soltou a fumaça com delicadeza, deixando-a bagunçar no ambiente.

— Os magos atualmente são definidos pela genealogia, basicamente, um elemental possui entes em sua família com afinidade ao mesmo, enquanto os...

— Escolhidos.

— Escolhidos, são definidos da mesma forma. Os seres humanos forçaram continuamente uma linha de uso de fluxo, que causou uma desnaturalização da pureza mágica que podia nascer em cada um. Atualmente quem possui fluxo limpo são pessoas que não usam de magia na família, ou nós. Quanto mais limpo, mas livre és para usar qualquer magia, ou até combiná-la.

Rubi agraciou-se com a explicação.

— Posso lhe questionar uma última coisa antes de irmos para o coliseu? — Eles se entreolharam, até o momento que o leão permitiu com a afirmação da cabeça — E sobre meu olho?